Tomorrow Will Be Kinder escrita por RafaelaJ


Capítulo 6
Some Terrible Nights


Notas iniciais do capítulo

Gente, como prometido esse capítulo chegou na data certa! Espero que gostem do capítulo eu escrevi sobre algo que eu sempre imaginei, mas nunca encontrei em fanfic alguma. E, como sempre, o titulo é inspirado num trecho da musica Some Nights.
Quero agradecer a tetegs12 que está acompanhando a fanfic, e ao comentário de Justalover!
Nos vemos lá em baixo!



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Querida Katniss,

Sinto muito me comunicar com você através de Johanna, mas temo que não poderia sair do Distrito 4 nem se quisesse. Afinal, você sabe tão bem como eu como são as regras.

As coisas estão bem por aqui. A calma domina minha vida e Paylor me garantiu que continuará assim. Sou obrigada a tomar alguns remédios para que possa ter a guarda de meu filho, mas é um preço pequeno a se pagar para ter a maior alegria da minha vida junto a mim.

Mas não é para falar de mim que lhe escrevo. Na verdade tenho um pedido a lhe fazer. Soube que você e Peeta se casaram então o pedido é para vocês dois. Finn está para completar cinco anos. E eu gostaria muito que vocês estivessem presentes. Sei que estou fora de meu direito ao pedir para que ambos saiam de sua casa, mas eu espero que você considere que isso não é por mim e sim por meu filho. É importante para mim que ele possa conhecer um pouco sobre seu pai, e vocês dois fizeram parte da história dele.

Espero que você considere e caso concorde em vir o aniversário de Finn é daqui a uma semana.

Com amor,

Annie.

Tudo o que consigo ver pela janela são borrões verde e marrom do que eu considero que seriam arvores e, que pela alta velocidade se desconfiguram. Minhas mãos tremem enquanto, pela centésima vez, eu analiso a foto de um pequeno garoto com os cabelos claros e um sorriso enorme. Um sorriso cuja única diferença com o do pai são alguns pequenos dentes faltando. Na foto Finn faz uma posse para quem eu imagino ser Annie e olhando para o garoto se torna impossível negar sua semelhança com o pai. Creio que a única coisa que deve ter herdado de Annie são as sardas que ele tem espalhadas pela bochecha.

Eu me forço a desviar o olhar e guardo a carta, já um tanto amassada por tantas vezes que eu li, no envelope. O enjoo que me acompanhou o dia todo só piora quando eu reflito se realmente tomei a decisão certa.

— Katniss? – Peeta me chama, desviando-me de meus devaneios.

— Sim?

— Você não vem jantar?

— Não – eu respondo e, quando uma feição contrariada ameaça assumir seu rosto, eu me justifico – Eu estou um pouco enjoada.

— Mas você está bem? Quer que eu te traga alguma coisa?

— Não – eu esboço um sorriso para tranquilizá-lo. – Acho que é só a viagem que não está me fazendo bem.

Realmente a alta velocidade do trem não está me fazendo muito bem, e não quero preocupar Peeta dizendo-lhe meus verdadeiros motivos para estar me sentindo mal.

— Certo, se precisar de alguma coisa é só me chamar. – ele vem até mim e me dá um beijo na testa antes de sair – Vá se deitar um pouco, talvez te ajude a melhorar.

Eu assinto mesmo sabendo que o sono, essa noite, não me trará nada mais do que pesadelos, e provavelmente com um garotinho.

Eu me aconchego na poltrona, como Buttercup costuma fazer, enquanto meus pensamentos vagam para o momento em que esse trem parar. Quando li a carta de Annie eu não soube o que pensar. Nosso contato durante esses anos foi escasso por isso me surpreendi com seu pedido. Peeta se alegrou instantaneamente, enquanto tudo o que esbocei foi inquietação. Durante dias Peeta teve que argumentar comigo a fim de me convencer a aceitar o pedido. E, finalmente, na noite de ontem eu cedi.

Mas não importa quantos argumentos Peeta foi capaz de dar, nenhum deles foi de me tranquilizar. E até agora pesa em mim esse nervosismo. Em toda maldita noite minhas vítimas aparecem para me atormentar, pessoas cuja morte é minha culpa. Eu não as culpo como poderia quando eu fui a responsável pela sua miséria. E Finnick está entre elas. E, se somente por encarar os olhos de seu filho por uma fotografia já me inquieta, imagino como será quando eu encontrá-lo pessoalmente. Uma criança inocente cujo estado de órfão pesa sobre as minhas costas.

Posso ouvir algumas risadas vindas do vagão restaurante. Para a minha surpresa nosso partido não consiste somente em Peeta e eu. Johanna está nos acompanhando e Haymitch também. Imagino que este tenha vindo com a intenção de me conter caso eu tenha alguma crise. Algumas vezes é bom que Haymitch me conheça como eu realmente sou, e não como Peeta que acaba por vezes me idealizando. Meu mentor, diferente de meu marido, sabe que eu provavelmente terei uma recaída com essa viagem. E é bom ter a certeza que terei quem me controle se eu tiver um lapso de loucura.

No entanto, se tem algo que me deixa ainda pior é ter consciência do fato de que Gale também está aqui. Obviamente ele não está no mesmo vagão que nós, mesmo ele sabe que se Peeta ou eu o encontrarmos não será uma situação nem um pouco civilizada. Ele justificou algo a Johanna como alguns negócios que ele tinha para resolver no Distrito 4. Eu não sei se isso é verdade, mas, mesmo se não for, eu não me importo. Tudo o que eu quero é que ele tenha a decência de manter distancia de mim. É um fato que eu já ouvi coisas cruéis sobre mim, e a maioria verdadeira eu não nego, mas nunca doeu tanto quanto ouvir da boca dele. De quem um dia foi o meu melhor amigo. Eu não sei se o que ele disse é verdade, mas me abalou e isso foi o suficiente para que Peeta me apoiasse na decisão de mantê-lo longe.

Zangada por ter deixado meus pensamentos seguirem por esse rumo eu me levanto da poltrona. Pensar em Gale é a última coisa na qual eu preciso, ainda mais com tanto rodando em minha cabeça, mas parece que quanto mais eu tento evitar mais ele volta a minha mente. Como um ciclo.

Eu saio do vagão e ando a esmo pelos corredores. Eu passo disfarçadamente pela frente do vagão onde se encontram Peeta e os outros. Perto da entrada eu posso vê-los. Sorrisos e risadas. Como eu queria que fosse fácil assim para mim também. Mas eu sei que não possuo o direito de querer algo do tipo, pois não foram eles os responsáveis por tantos desastres e sim eu. E por fim, acredito já ter mais do que mereço.

Eu continuo andando e só paro quando chego ao meu quarto. Vejo pela janela que a escuridão já tomou o céu. Portanto decido seguir o conselho de Peeta e me deitar. E mesmo que os pesadelos me assaltem ao menos meus pensamentos cessaram.

Eu troco de roupa e coloco um pijama confortável. Sigo até a cama e me deito no mesmo lado que sempre faço quando estamos em casa. E antes de fechar os olhos rezo para que Peeta não demore, para que quando eu acordar assustada seus braços estejam aqui para me reconfortar.

Ele corre pela praia. O belo garoto com seus cabelos louros levados pelo vento, sua pele bronzeada, e sua boca esboça o mais lindo sorriso mostrando todos os dentes possíveis. Ele corre e cai sucessivas vezes, mas parece não se importar, pois a felicidade que parece sentir é maior do que qualquer outra coisa. Ele brinca com a areia focando toda a sua atenção no castelo que tenta construir. Mas em algum momento seus olhos se desviam. Ele foca seu olhar na água onde agora está um homem, uma perfeita versão mais velha do garoto. É Finnick. O garoto grita seu nome e corre até ele. Mas a cada vez que se aproxima Finnick se afasta, e é assim continuamente. As ondas agora batem fortes contra o peito do garoto ameaçando derrubá-lo. Eu tento ir até ele e ajudar, mas meus pés parecem presos a areia. E sou obrigada a ver o garoto em sua luta impossível de tentar alcançar o pai. O garoto grita diversas vezes, mas de nada serve além de aumentar sua frustração.

Minha atenção é desviada da eterna luta do garoto para a mulher que agora está ao meu lado. Annie veste um vestido que um dia deveria ter sido branco, mas agora está manchado por sangue. As lágrimas cobrem seu rosto ao visualizar aquela cena e quando ela se vira para mim sua voz está repleta de tristeza e raiva.

— A culpa é sua.

E ao voltar os olhos para o garoto que agora se afoga no mar, sem chance de salvação, eu sei que é verdade.

 

Braços fortes me sacodem fazendo com que eu acorde. Meus olhos se abrem em desespero buscando uma confirmação de que tudo não passou de um sonho. E quando consigo situar o lugar onde estou permito-me me acalmar. Eu me sento e passo a mão pela testa. Abraço meus joelhos e desvio os olhos do ponto que eu encarava fixamente a procura de Peeta. Porém, os olhos que eu acabo encarando não são os azuis costumeiros e sim um par cinza.

Gale está parado a minha frente e seu demonstra como ele está assustado com o meu estado. E se não fosse o desespero que eu sinto eu teria vontade de rir disso. Essa é mais uma parte que Gale não deve reconhecer em mim, ele nunca presenciou um de meus pesadelos.

— Katniss – ele me chama cauteloso. Gale estende a mão, mas logo a retorna ao corpo sem saber como agir. E eu agradeço por, pois não sei como eu reagiria caso ele me tocasse.

— Peeta – eu o chamo desesperada. Onde ele está?

— Katniss – Gale volta a me chamar e quando eu continuo a ignorá-lo ele puxa meu rosto. – Katniss está tudo bem. Você está segura.

Gale fala mais algumas coisas que eu não me dou o trabalho de entender. Eu não quero saber o que ele diz, nem mesmo sei por que ele está aqui, eu só quero que ele saia e chame o Peeta. Gale tenta puxar meu rosto novamente, mas dessa vez eu o impeço com um tapa.

— Peeta. – eu grito - Chama o Peeta.

Minha voz está embargada e eu luto com as lagrimas que insistem em se formar em meus olhos. Gale olha para mim sobressaltado e depois de alguns segundos se levanta e sai do quarto.

Meus olhos vagam desesperadamente pelo quarto a procura de lago que possa me acalmar, mas eu já sei antecipadamente que não encontrarei nada. Porque nesses momentos a única coisa que consegue por algum sentido em minha mente é Peeta. Seus braços, suas palavras, seus beijos. Eu me tornei dependente dele.

Eu passo as mãos pelos cabelos em um movimento frenético. Ouço passos apressados pelos corredores e levanto meus olhos para a porta para encontrar sua figura. Peeta passa pela porta e a única coisa que me impede de correr até ele é o fato de que eu talvez não tivesse forças para isso. Mas eu não preciso me levantar porque Peeta corre até mim. Seu rosto está preocupado como sempre fica em noites como essa.

Assim que ele se aproxima da cama eu pulo em seus braços. Ele nos senta na cama e me embala passando a mão pelos meus cabelos. E, finalmente, eu deixo que as lágrimas corram livremente. Vagamente percebo a figura de Gale na porta, mas não dou atenção a isso.

— Ele estava lá, Peeta... – eu murmuro algumas palavras desconexas, interrompida vez ou outra por um soluço.

— Está tudo bem – Peeta sussurra contra meus cabelos – Tudo bem.

— Eu o matei.

— Katniss, olha para mim – ele puxa meu rosto de modo com que eu encaro seus confortantes olhos azuis – Você não matou ninguém. Não é culpa sua.

Ele volta a me enterrar em seus braços e continua sussurrando, e eu me deixo confortar por suas palavras. E tento a todo custo tirar a imagem do garotinho da minha mente. Aos poucos o choro começa a cessar. E Peeta me encara visando ver se eu estou bem. Depois de um tempo ele me deita na cama ainda fazendo carinho em meus cabelos. E quando ele ameaça se afastar, eu pergunto.

— Fica comigo?

— Sempre.

Eu passo a mão por seu rosto e o puxo para meus lábios. O beijo é repleto de necessidade, mas principalmente de ternura. Ele se senta ao meu lado e continua me acariciando até que eu pego no sono novamente.

Depois de um tempo, em que Peeta deve imaginar que eu estou dormindo, ele fala.

—Você vai continuar ai a noite inteira? – eu me assusto ao ouvir a voz de Peeta, e ainda mais ao sentir o tom frio que ele usa. Eu me pergunto com quem ele está falando e considero abrir os olhos para verificar, mas me detenho ao ouvir a resposta.

— Não – é Gale quem responde, eu vi que quando Peeta chegou ele continuou no quarto, mas me pergunto o que ele ainda está fazendo aqui – Eu só quero ter certeza que ela está bem.

O tom de Gale apesar de desafiador é preocupado. Peeta solta um suspiro que eu considero de resignação.

— Sente-se, então.

Posso ouvir os passos de Gale e imagino que ele se sentou em uma das poltronas na parede oposta da cama. Um silencio se instaurou por alguns minutos até que Peeta o quebrou.

— Obrigado por me chamar – Peeta diz e posso ouvir sinceridade em sua voz.

Demora alguns minutos até que Gale responde.

— Foi a primeira vez que eu a vi assim.

— Tendo um pesadelo?

Gale faz um barulho que identifico como um suspiro.

— Eu já a vi tendo algumas crises antes, mas nada tão forte. – ele continua – Eu tentei acalmá-la, mas não adiantou.

Peeta se mexe na cama e eu tenho que conter o impulso de não agarrá-lo para impedir que ele se afaste.

— Não iria adiantar. – ele estende a coberta de modo com que ela me cubra e retorna para seu lugar ao meu lado. – Katniss fica muito arisca depois de um pesadelo. Até eu tenho que ter cuidado às vezes.

Eu queria levantar e dizer que não era verdade, eu nunca fiz nada contra Peeta, mas continuei quieta a espera da resposta.

— Eu nunca a vi tão desesperada. É assim sempre? – Gele pergunta e percebo em sua voz sofrimento. Só não consigo saber se isso seria por mim.

— Quase todas as noites. Mas vem melhorando com o tempo.

Ouço um barulho e penso que seja Gale se remexendo na poltrona. Provavelmente incomodado por estar tratando de um assunto tão pessoal com Peeta.

— E você está sempre com ela? – o duvidoso de Gale me incomoda. É claro que Peeta está sempre ao meu lado, não é visível?

— Todas as noites.

— Deve ser difícil.

A atitude de Gale me faz pensar que se eu o tivesse escolhido talvez ele não suportasse isso, não suportasse minhas crises e pesadelos. Gale está acostumado a ver a Katniss forte e corajosa, aquela que não se abate por pouco, e me pergunto como seria se ele tivesse que conviver com a Katniss frágil e quebrada.

— É sim – Peeta responde – Mas é assim que nós somos, nós ajudamos um ao outro.

Um sorriso imperceptível se forma em meus lábios ao ouvir a frase que eu tanto uso para nos descrever.

— E você ainda tem os seus... flashes?

— Às vezes – Peeta responde e vejo seu incomodo pelo modo como sua mão começa a passar rapidamente pelos meus cabelos. – Mas eu consigo controlá-los. E eu não tento mais matá-la se é isso que você quer saber.

O silencio prevalece até que um pequeno ruído se espalha pelo quarto.

— É melhor eu ir. – Gale diz.

Ouço seus passos e em seguida a voz de Peeta.

— Você não deveria ter dito aquelas coisas para ela.

— Você ouviu?

— Ela me contou. – ele continua – Você a magoou.

Eu queria que Peeta não tivesse dito isso. Eu não quero que Gale saiba que ele ainda tem o poder de me afetar.

— Foram coisas ditas de cabeça quente – a voz de Gale é afetada e por um segundo me gosto pensar que as palavras doeram tanto nele quanto em mim. E depois de um suspiro ele continua. – Eu me arrependo. E é por isso que eu estou aqui, para me desculpar.

Surpreendo-me com suas palavras, mas não me deixo levar. Dessa vez não vou deixar que ele me convença facilmente para depois tornar a me magoar.

A conversa parece se encerrar e imagino que Gale já tenha saído quando ele se pronuncia novamente.

— Sabe – ele parece lutar consigo mesmo para dizer as palavras – Pela primeira vez eu acho que tenha sido melhor que você tenha ficado com ela.

E depois disso só há silencio.

Peeta solta a respiração depois do que eu imagino seja a saída de Gale. Imagino que ele esteja tão surpreso quanto eu. Definitivamente isso é algo que eu nunca imaginei Gale admitindo, até mesmo por seu orgulho não permitir, e fazer isso frente à Peeta é mais surpreendente ainda.

Peeta se ajeita na cama e me puxa cuidadosamente para perto de si. E assim eu me permito adormecer novamente, nos braços de Peeta e com as palavras de Gale ainda em minha mente.


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Notas finais do capítulo

Gente eu sempre pensei como Gale reagiria a um pesadelo da Katniss e espero que vocês tenham gostado da minha visão. Espero que tenham gostado e cometem!! Quero saber a opinião de vocês.
Fantasminhas deixem um olá!
Beijos e até mais!
Rafa.