Tomorrow Will Be Kinder escrita por RafaelaJ


Capítulo 4
Turning Page


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou postando cedo que milagre hahaha.
Esse é o capítulo tão esperado do encontro da Katniss com o Gale e espero não decepciona-los!
Quero agradecer a Andrômeda que favoritou e comentou no capítulo anterior.
Espero que gostem e nos vemos lá em baixo!



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Debruçada sobre a privada eu despejo todo o conteúdo do meu almoço violentamente. A ânsia percorre todo o meu corpo causando pequenos tremores. E instantaneamente posso sentir um par de mãos me segurando, impedindo minha queda.

— É tudo culpa sua! – eu acusava Peeta repetidas vezes.

Uma última onda de náusea me atinge antes que eu possa, enfim, tentar recuperar o controle do meu corpo. Com minha cabeça girando eu nem mesmo cogito a possibilidade de me levantar, então me sento ali mesmo no chão frio. Peeta, atrás de mim, passa carinhosamente uma de suas mãos em movimentos circulares sobre minhas costas, enquanto a outra afaga meus cabelos. Cenas como essa não estavam mais sendo tão raras em minha vida...

— Melhor? – ele perguntou, e quando eu assento em um fio de voz, ele continua – Você sabe que não pode me culpar sempre, não é?

— Posso sim – eu respondo marrenta, arrancando uma risada dele – Afinal, foi você quem fez isso.

— Que eu me lembre, eu não fiz isso sozinho.
Dou um olhar raivoso para ele, mas isso não causa nenhum efeito além de impulsionar ainda mais sua diversão. Discussões como essa vem se tornando cada vez mais frequentes em nossas vidas. A cada vez que eu sinto um sintoma desagradável da gravidez eu faço questão que a culpa recaia em Peeta. E mesmo que ele não seja culpado em absoluto ele aceita meus comentários com honra. E eu não posso deixar de sorrir ao pensar que ele sempre tenta tornar as coisas melhores para mim, mesmo se isso acarretar em alguns gritos e ofensas minhas.

Com calma Peeta me ajuda a me levantar e, primeiro testando a força das minhas pernas, eu ando até a pia. Lavo meu rosto e escovo meus dentes e depois de alguns minutos eu já me sinto bem. Peeta e eu voltamos para a cozinha e ele faz a delicadeza de retirar toda a comida de cima da mesa. Eu me sento ainda um pouco tonta enquanto Peeta segue para a pia para lavar a louça. Durante vários minutos um silêncio agradável nos envolve, até que Peeta resolve quebrá-lo.

— Katniss – ele fala calmamente como faria com uma criança, e eu instintivamente sei que ele tocará em um assunto que tento a todo custo evitar. – Você sabe que não pode esconder isso dela para sempre, não é? Quer dizer, uma hora ela vai perceber.

Eu abaixo os olhos focando em meus dedos que tamborilam na mesa. Desde o dia anterior quando A visita de minha mãe foi oficializada que Peeta tenta me convencer a contar a ela sobre a gravidez. Eu sei que ele tem a razão em cada argumento que dá, afinal, realmente uma hora ela perceberá. Mas será que é pedir demais que essa hora não seja agora?

— Peeta, não é que eu não queira contar, é só que...

— Você quer mais tempo. – Peeta completa a minha frase, porem sua voz não está mais calma e sim frustrada. E novamente voltamos a esse ponto.

Faz pouco mais de duas semanas que eu descobri a gravidez e para mim é tudo tão recente. Tudo o que pedi a Peeta foi um tempo para processar a idéia antes de contar a alguém. No entanto ele levou isso para um lado completamente diferente. Eu não sei realmente o que ele pensa, mas creio que ele ache que minha relutância em ter esse bebe tenha algo a ver com isso. O que não tem sentido algum.

— Eu não vou discutir isso novamente – eu falo já me levantando.

— Aonde você vai?

— Caçar – eu respondo simplesmente.

Sem que Peeta tenha a mínima chance de retrucar algo eu vou até a porta de casa, e quando estou pegando minha bolsa de caça ele aparece.

— Tenha cuidado – a preocupação e o carinho voltam a sua voz.

— Sempre – eu respondo com um sorriso.

Abro a porta e saio de casa. Diferente de ontem hoje não está nevando por isso o caminho até a floresta é bastante agradável. Eu sigo até a campina onde agora não reside mais um cemitério e sim um belo campo repleto de flores. E apesar de haver entradas para a floresta eu passo como usualmente faço, pela cerca. Velhos hábitos não mudam.

Eu ando sobre a vegetação densa pelo caminho, já marcado por tantas vezes que passei aqui, até a pedra onde eu costumava me encontrar com Gale. Durante todo o caminho vários animais passam por mim, mas eu nem mesmo penso em tentar caçá-los. Há tempos que não faço isso, afinal agora não é mais necessário, tenho mais comida e dinheiro do que preciso. Muito diferente do que a época em que caçar era à base da sobrevivência da minha família.

Apesar de não precisar eu ando com passos leves e silenciosos e por isso ele não me vê. No mesmo segundo eu me escondo em um emaranhado de folhas. Os pensamentos fluem em minha mente e meu primeiro instinto é querer voltar antes que possa ser notada. Infelizmente, antes que possa começar o meu plano, ele se vira. Seus olhos focam diretamente em mim e um sorriso surge em sua face.

— Imaginei que a encontraria aqui Catnip

Eu saio do meu esconderijo, segura, como se aquele como meu plano o tempo todo. Que de fato estava indo encontrá-lo quando meus pensamentos ainda migravam para a possibilidade de uma fuga.

— Gale – eu o comprimento. E agradeço quando vejo que minha voz não esboçou nada mais do que indiferença.

Não importa quanto tempo se passe eu poderia reconhecer Gale em qualquer lugar. Eu sabia que era ele aqui mesmo quando a única visão que tinha era a de suas costas. Entretanto eu estaria mentindo se dissesse que ele não havia mudado. Discretamente eu passo meus olhos por todo ele. Desde que eu me lembro, ele sempre foi um homem bonito e forte, e parece que com o passar dos anos essas características somente se acentuaram nele. Seus músculos estão maiores e, se isso for possível, ele parece mais lato também. Seus cabelos estão mais curtos, como o de um soldado, e por um segundo me pergunto se é isso o que ele está fazendo no Distrito 2. Suas feições estão mais sérias, demonstrando maturidade. E aquele garoto com quem eu caçava na floresta parecia uma pessoa completamente diferente do Gale que se apresentava a minha frente. E pela primeira vez eu via sentido em dizer a uma pessoa que os anos lhe fizeram bem.

Ele, assim como eu, passa seus olhos sobre mim me avaliando. Porém ao invés de me sentir incomodada eu gosto disso. Quero que ele possa ver que eu também cresci.

— Você não mudos nada, Katniss.

— Diferente de você – eu respondo um pouco petulante, mas isso é uma vitória comparado com como eu poderia estar me comportando.

— Sente-se – ele oferece meu antigo lugar naquela pedra.

Lentamente eu me sento, não sei se pelo tom de voz autoritário dele, ou se pela minha própria vontade de demonstrar que ele não me afeta. Uma vontade estúpida já que qualquer um que me conhecesse bem saberia que calma é a ultima coisa que sinto no momento. E Gale é esperto demais para não notar.

— Eu cheguei hoje – ele diz e eu sinto uma vontade de continuar a conversa.

— Você estava no Distrito 2? – uma pergunta normal, um território seguro.

— Sim, eu estou trabalhando lá agora. – ele continua depois de uma pausa – Sou comandante no exército.

— Ótimo. Combina com você – respondo sinceramente. Autoridade e força de vontade sempre foram coisas que Gale possuía de sobra.
Um silencio paira. Eu começo a arrancar pequenos pedaços da grama nervosamente, e meus olhos continuam encarando a frente, nunca os seus olhos.

— Katniss... – ele me chama depois de algum tempo e eu sei o que vem a seguir. Tudo o que eu queria evitar.

— Eu não quero falar sobre isso.

E não quero porque não consigo. No mesmo momento eu me levanto pronta para ir quando Gale agarra meu braço.

— Você precisa me ouvir – ele pede. E posso ver em Gale algo antes inédito; desespero.

Eu volto a me sentar relutante. Eu não quero ter essa conversa. Desde o momento em que soube que galé viria meu maior propósito era evitar esse momento. O momento em que com certeza eu me quebraria.

— Katniss, você precisa entender que eu não matei a Prim...

— Eu sei – eu o interrompo – Eu sei, eu não sou boba Gale. Eu não penso que você sabia do plano. Que você sabia que sua arma seria usada para matar crianças inocentes. Eu sei que não.

Ele me olha surpreso e eu fico imaginado o que teria pensado de mim todos esses anos. Será que ele achava que eu continuaria guardando rancor não importasse quantos anos se passasse? Ele imaginava que eu viveria relembrando o passado sempre? Por um momento sinto raiva por ele sequer pensar assim de mim. Mas então compreendo, ele só estava supondo o que eu faria alguns anos atrás. E eu não posso culpá-lo, porque, realmente, eu teria agido assim.

A vontade de sorrir surge em mim por eu ter mostrado a Gale que não sou mais a mesma, que eu também amadureci.

— Então porque você nunca me procurou? – Gale pergunta, já esperançoso de que tivéssemos acabado de resolver nosso maior problema. Mas com certeza não estamos nem perto disso.

— Você não entende, não é? – minha voz falha – Você me abandonou.
E eu tenho plena certeza que essas três palavras doeram tanto em Gale quanto em mim. Seu rosto fica sério novamente e ele parece lutar consigo mesmo para responder.

— Você não sabe quantas vezes nesses anos eu quis voltar, Katniss – ele diz – Eu senti muita saudade.

A mascara de indiferença que já havia se quebrado a muito agora desaparece completamente. E finalmente Gale pode ver como eu estou. Quebrada.

— E por que nunca voltou?

A verdade é que em todos esses anos em que eu cultivei raiva de Gale, eu também guardei saudades. E por mais que eu pudesse negar, eu queria um contato seu. Como agora.

— Porque eu queria ver você bem. Feliz. E eu sabia que para te proteger eu deveria manter distancia. Na minha cabeça era o melhor para você. Para nós dois.

— Então por que está aqui agora?

— Por que eu não aguentava mais.

E me assusto ao ver os olhos de Gale lacrimejarem. É óbvio que essa vinda de Gale e suas palavras não eram o suficiente para que eu o perdoasse. Para que eu esquecesse tudo e todos os sentimentos que eu tive por ele durante todos esses anos. Não era e talvez nunca nada fosse o suficiente. Mas por hora, era o bastante para que tentássemos um recomeço. Nossa amizade, claro, nunca seria a mesma. Mas nós também não éramos.

— Vocês deveriam passar o natal conosco. Você, Hazelle e as crianças. – eu comento depois de um longo silencio. E sei que Gale entendeu as entrelinhas.
Ele assente com a cabeça e voltamos ao silencio.

— Você acha, que se eu tivesse ficado você teria me escolhido? – ele pergunta com os olhos fixos no horizonte.

Eu deveria informar a Gale que essa pergunta veio tarde demais. Talvez, se ele tivesse me perguntado isso seis anos atrás eu não saberia responder, mas agora havia uma única resposta em minha mente.

— Não.

— Como pode ter tanta certeza? – ele pergunta e vejo que há um pouco de raiva nele.

— Sabe, – eu começo sem me afetar por seu olhar – eu ouvi a conversa que você teve com Peeta uma vez. “Ela escolherá aquele sem o qual não consegue sobreviver”. Essa frase ficou na minha cabeça por anos. No final, você estava realmente certo, mas não da maneira como pensava. Não escolhi Peeta sendo calculista ou fria. Escolhi porque não consigo viver sem ele.

— Você realmente o ama – é uma afirmação. Gale me olha resignado esperando por uma resposta que ele já sabe. E por mais que eu não goste de me expor sinto que devo essa resposta a ele.

— Sim.

Eu encaro Gale contente por finalmente termos dado um fim a esse assunto. E, depois de alguma hesitação, Gale levanta meu rosto e o afaga.
— Só me diga uma última coisa. Você está feliz?

Gale é muito parecido comigo. Ambos somos egoístas. Porém, nos contentamos com a felicidade daqueles que amamos. Então, sorrio para ele antes de responder.

— Mais do que um dia imaginei ser capaz.
Eu me levanto pronta para partir quando Gale solta uma última frase.

— Eu estava errado. Você mudou muito, Catnip.

. . .

Bato as botas na entrada de casa para não levar a sujeira para dentro. Deixo-as próxima ao batente e entro. O sol já está se pondo então presumo que Peeta já deve ter voltado da padaria. E logo que adentro a sala posso vê-lo sentado no sofá.

— Peeta.

Eu o chamo e assim que seu olhar paira sobre mim percebo que há algo errado. No primeiro momento penso que ele ainda pode estar zangado por mais cedo, mas essa hipótese cai por terra assim que o observo melhor. Suas mãos estão pousadas perfeitamente sobre seu colo, como se ele tentasse controlá-las. E suas unhas quase perfuram a palma. E tenho certeza de que somente algo muito sério teria deixado-o assim.

— Peeta o que foi? – eu corro até ele preocupada. Eu me agacho perto dele e noto seus olhos inconstantes. Viajando entre o azul e o preto.

— Por que você não me contou? – ele pergunta tentando se conter.

— Contar o que?

— Sobre ele.

Gale. Essa é a única possibilidade que vem a mente que poderia deixar Peeta tão abalado. Ele soube do nosso encontro. E agora é impossível saber o quanto isso o afetou. Quantas lembranças modificadas pela capital isso pode ter ativado. E me orgulho ao pensar que Peeta é forte o bastante para não deixar que isso o tenha controlado.

— Não aconteceu nada. – eu afirmo desesperada.

— Katniss, saía daqui – sua voz é tão baixa que não passa de um sussurro. – Sai!

E Peeta me conhece tão bem que antes que eu possa dizer não irei deixá-lo ele se levanta e corre escada acima para um lugar que eu conheço muito bem. O quarto do pânico.

Assim que Peeta resolveu se mudar definitivamente para cá ele me fez prometer que o deixaria caso ele tivesse um ataque. E para que ele tivesse essa segurança ele criou o que apelidou de quarto do pânico. Um lugar para onde ele pudesse correr sempre que os lapsos de insanidade o atingissem.

Eu subo correndo atrás dele, mas quando encontro o quarto no fim do corredor ele está trancado. Eu me encosto contra a batente deslizando até alcançar o chão. E com a cabeça apoiada na madeira posso ouvir os barulhos do lado de dentro. Os gritos de raiva e o som das coisas quebrando.

E para tentar acalmar Peeta faço algo que ele diz que sempre o ajuda. Começo a cantar. Repito a canção da Campina, que ele diz ser sua favorita, diversas vezes. E depois de vários minutos posso finalmente ouvir os barulhos diminuindo a intensidade até não sobrar mais nada além do som da sua respiração.

— Você quer brincar de real ou não real? – eu pergunto.

No primeiro momento não há resposta e quando em desistir, ele responde.

— Você e Gale transaram. Real ou não real? – posso sentir sua voz próxima a porta, e a tristeza a domina.

— Não real. Claro que não. Peeta me escute – eu peço desesperada – Você foi o meu primeiro e único homem e você sabe disso.
Novamente depois de um longo período ele responde.

— Sim, eu sei.

Eu suspiro aliviada por saber que está voltando a si. Que as lembranças, por mais intensas que forem, não o controlarão. O que Snow jamais poderá tirá-lo de mim outra vez.

— Abre para mim. – eu peço e logo posso ouvir o som do trinco.

Eu me contenho para não abrir a porta rápido demais. E quando entro vejo-o encolhido ao lado da porta.

— Me desculpe – ele pede assim que me aproximo – Eu perdi o controle.

— Está tudo bem – eu me sento ao seu lado – Vai ficar tudo bem.

Aos poucos ele deixa que eu me aproxime. Eu o abraço e ponho sua cabeça em meu peito assegurando diversas vezes que está tudo bem. Em um momento eu tento explicar a ele o que aconteceu em meu encontro com Gale, mas ele não permite.

— Eu não quero saber – ele diz – Não agora.

E quando já está mais calmo, ele me pergunta.

— Você me ama. Real ou não real?

E com um beijo na testa eu lhe respondo.

— Completamente real.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo, e vou confessar a vocês que deu um trabalho danado hahaha. Cometem para que eu saiba se estou indo na direção certa! E se acharem algum erro me avisem. E leitores fantasminhas deem um olá, uma única palavra vai me deixar muito feliz.
Beijos e até mais!