Divided escrita por Pat Black


Capítulo 1
Alone


Notas iniciais do capítulo

Geralmente, como escritores de fanfics, criamos várias OCs para interagir ou se apaixonar por aquele personagem que amamos além da conta. Nessa fic peguei as minhas duas OCs, que já fizeram par romântico com Rick (quem leu deve lembrar) e as coloquei em um UA em que elas irão interagir em um mesmo momento com o Rick, e onde suas histórias estarão levemente modificadas por acontecimentos diversos.
A fic em questão não altera os fatos de In Road, Riders on the storm e You set me free, que considero histórias finalizadas, mas sim brincam com possibilidades que podemos nos dar ao luxo quando escrevemos fanfics.



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“Ainda há energia.” A voz saiu em um sussurro, calma e preocupada, porque, no mundo atual, cautela era a regra, mesmo que nenhuma daquelas coisas, daqueles errantes, tivesse aparecido nos dois andares que percorreram da entrada até ali.

“Hospitais tem geradores de emergência.” Outra voz feminina, mais dura, lhe respondeu. “Acho que, pelo tempo, já deveria ter parado”, ela raciocinou dando uma olhada para a amiga.

Linn ergueu levemente as sobrancelhas entendendo o que estava implícito em sua observação. O gerador ainda estar funcionando só poderia ser explicado se alguém ainda estivesse ali. Alguém vivo, raciocinou fazendo um gesto a amiga para que esperasse, enquanto ela seguia à frente e avaliava aquele canto do corredor.

Nada.

Linn acenou para que ela continuasse e a amiga tentou não arrastar a perna; em vão.

“A farmácia deve estar nesse andar”, murmurou mais para si mesma, enquanto transpunha as portas que levavam de uma ala a outra, evitando a bagunça de fios que caíam do forro do teto em colapso.

Quando Linn a ultrapassou, sua boca se tornou uma linha fina de tensão ao notar um rasgão no macacão que a mais velha sempre envergava. Algo a altura do ombro, onde um retornado se agarrara quando invadiram a lanchonete mais cedo. E aquele medo que a gelara naquele momento, quando achou que Linn tivesse sido infectada, o que não acontecera, ainda lhe perseguia.

Linn era tudo o que lhe restava de um grupo com mais de quarenta pessoas que seu pai salvara e reunira na divisa entre Millesbury e Cyntiana. Contudo, tudo ruíra quando uma horda avançara pelas suas parcas defesas e destruíram tudo e todos.

Balançou a cabeça e tentou afastar as imagens de morte de sua mente, mesmo que nunca as esquecesse. Seu pai, seu irmão e amigos se foram. Pelo que sabia, apenas ela e Linn escaparam.

“Merda”, xingou baixinho, sentindo a pontada na perna esquerda doer mais forte.,

“Você está bem?” Linn perguntou se aproximando, tocando-a no braço quando a viu se escorar à parede em busca de apoio e um momento de descanso.

Em resposta, moveu apenas à cabeça sinalizando que tudo estava bem, enquanto sufocava um gemido. Não queria preocupar Linn mais do que o necessário naquela situação.

“Deveríamos verificar os quartos, talvez encontremos algo, antes de achar a farmácia”, aconselhou quando se sentiu bem o bastante para falar e voltar a andar.

“Pelo que vimos dos dois pisos anteriores, esse lugar já foi saqueado muitas vezes.” Linn abanara a cabeça já prevendo a decepção.

“Algo sempre fica para trás”, rebateu confiante.

Das duas, ela sempre seria a mais otimista, mesmo que Linn fosse a mais disposta a confiar.

Olhou para frente, o corredor era uma desordem, mas sem corpos ou errantes, o que, em si, já era um avanço, considerando o que viram nos dois pisos anteriores.

Com Linn a sua frente, começaram a vasculhar o local. Não encontraram nada nos dois primeiros quartos. No segundo e terceiro conseguiram um frasco com alguns comprimidos de oxicodona, além  de curativos e antisséptico

Sentando na cama, deixou que Linn limpasse o feio corte na sua perna e colocasse alguns dos curativos. Sorriu. Apesar de ter algum treinamento médico, Linn já estivera nas forças armadas e possuía um melhor conhecimento de primeiros socorros.

“Tome um destes.” Linn lhe ofereceu o frasco da oxi e um copo d’água.

“Não.” Abanou a cabeça de um lado para o outro para dar mais força a negativa. “Vai me deixar lenta.”

“Prefiro você lenta, a arrastando essa perna e cheia de dor”, Linn  contrapôs.

“Depois que sairmos daqui”, prometeu notando toda a preocupação no olhar da amiga.

“Ok.” Linn balançou a cabeça e riu. “Sei que não adianta argumentar com você.”

“Meu pai dizia o mesmo.” Sorriu também, um sorriso triste e saudoso, de um coração jovem e tão duramente maltratado pela vida.

Linn olhou para a amiga, viu seus olhos marejados e desviou as vistas; depois se ergueu, correndo ao banheiro, para fugir da dor desta, pois sabia que ela odiava demonstrações de piedade. Abriu a torneira, onde a água corria forte e inexplicavelmente limpa. Encheu duas garrafas, guardando-as na mochila. Olhou para sua imagem no espelho, reconhecendo muito pouco de si mesma na figura que lhe encarou de volta, demorando um pouco mais só para dar privacidade a amiga.

Quando voltou ao quarto, Sam enxugava uma última lágrima teimosa e já caminhava decidida em direção à porta, parando a lhe esperar.

“Limpo”, ela sussurrou e saíram pelo amplo corredor novamente.

Seguiram para o quarto seguinte pulando um em que uma maca estava encostada a porta, como uma frágil barricada.

“Deveríamos nos dividir. Eu olho esse aqui”, Linn propôs, voltando dois passos, colocando a mão na maca e a afastando da porta.

“Não.” Sam foi contra, retornando para junto da amiga e abrindo a porta com cautela, o facão sempre à mão, invadindo o quarto para se deparar com um homem semidespido e deitado no único leito.

“Deus!”, Linn deixou escapar erguendo o arpão por reflexo, sendo detida por um gesto de Sam.

Ficaram alguns segundos encarando a pessoa sobre a cama, receosas de como agir, temendo que ele estivesse fingindo de alguma forma, ou que não fosse fingimento e ele se erguesse e as atacasse, vivo ou morto, não importava; até que Sam se decidiu e deu dois passos à frente.

Rápida, Linn puxou a maca para o lugar em que estava antes e fechou a porta às suas costas, enquanto Sam se aproximava do leito para avaliar melhor o desconhecido, atenta a qualquer eventualidade.

Seus olhos estavam um pouco abertos, mas ele parecia alheio ao que acontecia ao seu redor. Levava um curativo no torso, o soro seco ligado ao acesso na mão, imóvel como uma pedra e magro, tão magro que Linn se apiedou completamente de sua figura quando o viu mais de perto, mesmo que não tenha notado a mesma disposição em Sam.

“Ele está respirando”, Sam constatou. A voz traía sua preocupação, não com o homem em si, mas com o inesperado da situação. “Se estiver fingindo...”, ela falou ao desconhecido, encostando o facão em seu pescoço. Mas ele não piscou, nem mesmo estremeceu; Sam sim. Não saberia dizer por que, mas havia algo de muito familiar nele.

Percebendo que ele ainda levava a pulseira de identificação, inclinou-se um pouco e pôde, sem nem mesmo tocá-lo, ler o nome nela: Grimes, Rick.

Voltando à beira da cama, pegou o prontuário e viu que ali o nome do paciente era o mesmo.

“Ferimento à bala”, falou quando Linn se aproximou. “Olhe a data.” Mostrou à ruiva, que lhe ultrapassava poucos cinco centímetros em altura.

“Mas isso foi há dois meses”, Linn falou chocada, olhando a figura em estado catatônico sobre a cama. “Abandonaram ele aqui.”

“Aqui diz que ele é sub-xerife.” Sam balançou a cabeça. “Talvez a família tenha sido morta pela praga ou pelos errantes.”

Linn balançou a cabeça sem tirar os olhos do homem, sentindo-se aflita por sua situação. Enquanto isso, Sam agarrou a colcha que se amontoava sob os pés dele e o cobriu até a cintura, sentido, não sabia por qual motivo, que ele não gostaria de estar quase nu e tão indefeso diante de estranhos.

“Como ele sobreviveu esse tempo todo?”, Sam questionou baixo, tocando a testa dele e notando que, mesmo que a atadura precisasse ser trocada, ele não estava com febre.

Quando se virou para Linn, notou que ela exibia boa parte de seus questionamentos, entretanto, algo mais se estampava em sua face bonita, algo que Sam não estava disposta e nem poderia deixá-la fazer.

“Não podemos, Linn”, Sam explicou, ainda que a outra nada tivesse dito.

Linn se assemelhava a Sam, mas não em aparência. Duas pessoas não poderiam ser mais diferentes fisicamente e em tantos outros aspectos. Linn era luz, uma linda fotografia colorida; Sam era escuridão, como uma foto em preto e branco. Contudo, de muitos jeitos, em suas personalidades, elas tendiam a ser quase idênticas: estavam sempre dispostas a lutar pelos amigos, não possuíam medos que não estivessem dispostas a enfrentar e podiam ser generosas quando você menos esperasse isso de qualquer outra pessoa.

Mas, enquanto Linn chegara ao seu acampamento sem conhecer muito daquele primeiro mês de loucura, caindo do céu, literalmente, Sam estivera com os pés firmemente plantados na Terra e conhecera o pior dos humanos: vivos ou mortos.

Linn nunca fora machucada por pessoas em que confiasse, mesmo que o tenha sido por estranhos. Mas Sam sabia o que era confiar, abrir o coração e deixar as pessoas entrarem nele para ser traída logo após, de forma que sempre estaria com o pé atrás.

Sam lutaria e morreria por Linn, mas o homem na maca era-lhe um completo estranho. E Sam sabia que o tempo para ajudar estranhos já passara há muito.

“Não podemos deixá-lo”, Linn contrapôs. Dura. O olhar de jade brilhando com determinação e incompreensão.

“Não podemos levá-lo tão pouco.” Sam estava calma, a voz baixa e impregnada de determinação. “Olhe para ele”, pediu.

Linn olhou e viu um homem em coma, mais morto que vivo se considerasse as regras do mundo atual. Alguém que precisava de cuidados que elas não poderiam oferecer.

Alguém cuidara dele, isso era óbvio. Talvez alguém de sua família, ou quem sabe um estranho. No entanto, pelo aspecto do quarto, das bandagens em sua ferida e do soro vazio, quem quer que fosse tal samaritano, há muito tempo não se aproximava daquele quarto e, provavelmente, nunca mais voltaria.

“Não podemos ajudar todo mundo, Linn”, Sam disse decidida. “Viemos aqui apenas por suprimentos.”

“Não vou deixar alguém que precisa de ajuda para trás”, Linn foi taxativa.

Sam olhou para o rosto dela e se deu conta de que era a primeira vez que discutiam a respeito de qualquer coisa. Nunca antes estiveram em desacordo ou brigaram. Apesar de ser mais nova, e de Linn ter treinamento militar, ela sempre encarara a garota, de apenas vinte anos, como igual. De certa forma, muitas vezes quando estavam no grupo de seu pai, Sam sempre estava à frente, liderando, e Linn nunca ficara melindrada sobre isso. Mas agora, ali naquele quarto, e diante de um completo estranho entravam em desacordo e suas vontades batiam de frente.

Sam suspirou, cansada daquela discussão sem sentindo e muito mais porque estava em pé tempo o suficiente para a perna latejar, fazendo-a desejar ter aceitado tomar a oxi, dez minutos atrás.

Ficaram em silêncio por alguns segundos até que Sam comentou em um sussurro:

“Podemos lhe dar misericórdia”, disse por fim, externando uma decisão que concebera desde que vira o homem naquele estado e imaginou, ou pressentiu, que seria algo que ele talvez preferisse, algo mais digno, melhor do que morrer lentamente, quem sabe com dores.

Linn e Sam olharam para o tal de Rick ao mesmo tempo e por um longo momento, enquanto a ideia de Sam pairava no ar, pesada, maldita de certa forma, um pouco desumana e, mesmo assim, ainda muito humana de várias maneiras em vista da situação.

“Só estamos aqui há quinze minutos e você já quer matar alguém.” Linn sorriu, apesar da tensão. “Um novo recorde.”

“Você sabe como sou: atire primeiro, pergunte depois.” Sam sorriu também, mas o riso não chegou aos seus olhos.

“Talvez possamos ficar aqui por enquanto”, Linn insinuou. “Não temos para onde ir mesmo.”

“Se ficarmos agora, não iremos depois”, Sam pontuou. “Você parece ter um fraco por pessoas indefesas e feridas.”

“Isso não é verdade.” Linn sorriu ao notar um pequeno brilho de humor nos olhos champanhes de Sam, mas a faísca se extinguiu rápido.

“Ele pode ser alguém que não mereça nossa ajuda”, Sam advertiu.

“Ele é um policial”, Linn lembrou.

“Vi policiais fazerem coisas horríveis”, Sam sussurrou. “Nem todos são como meu pai.”

A lembrança de algo que ocorrera logo no começo daquela epidemia, bailou na face da amiga e o desgosto desfigurou, por um breve momento, sua bela figura, onde alguns machucados na face deveriam deixá-la com um ar mais frágil, mas que causavam um efeito totalmente contrário.

“Façamos assim...”, Sam começou. “Vamos varrer o hospital. Procurar sinais de que alguém ainda está acampado aqui ou não. Todas aquelas portas travadas para que os errantes não entrem, parecem ser algo recente.” Linn estava cética, o olhar no homem. “Verificar se não há errantes no prédio, se o local está realmente seguro.”

“Não há muitos do lado de fora”, Linn falou esperançosa.

“Não, e isso é bom”, Sam aquiesceu. “Mas não será nada bom se o fato de um exterior vazio indicar que eles já estão aqui dentro.”

“Eles sempre estão em todo o lugar, Sam.” Linn disse com pesar.

“Eu sei.” Apontou para o comatoso. “Ele não vai a lugar algum.” Falou convincente.

“Depois retornaremos.” Linn foi firme.

Sam olhou para o tal Rick e sentiu uma pontada no coração ao encarar-lhe a face encovada. A compaixão de Linn por ele parecia começar a contaminá-la, porque apenas pensou que, sim, retornar para ajudá-lo estava se tornando algo que faria de bom grado, agora e sempre.  


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Notas finais do capítulo

Alone - Sozinho
.
O terceiro Webepisódio de TWD mostra claramente que uma médica chamada Gail permaneceu no hospital de Rick, provavelmente cuidou dele; mas, para mim, ela foi morta pelo loiro que pichou a porta da cafeteria, por isso Rick estava com o curativo precisando trocar, sem soro e seu corpo o forçou a acordar. Teorias.