Entre seda e veludo escrita por lobinha


Capítulo 7
7




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Ele abriu-me a porta do carro importado. Fiquei sem jeito, fazia tanto tempo que ninguém fazia isso para mim, deste modo tão cortes e educado. Entrei no caro da forma mais elegante que eu consegui. E ao olhar o interior do carro eu me surpreendi. Era muito organizado. O que me deu bastante inveja, por que nem de longe eu era assim.

Sempre tinha tudo bagunçado, jogado em cada canto. Meu guarda-roupa era a própria visão do pandemônio. Acho que se eu entrasse nele encontraria Narnia, mas o carro dele era incrivelmente arrumado, cada coisa em seu devido lugar. Isso me surpreendeu também, por que pensei sinceramente que ele seria como o irmão. Jack não conseguia encontrar uma coisa nem se ele se empenhasse bastante.

O carro tinha aquele ar de serenidade e segurança, tipo colo de mãe, que me deu vontade de relaxar e deixar todas aquelas cargas acumuladas saírem dos ombros e se evaporarem em algum lugar distante.

— Você está bem?

O som de sua voz me fez pular, como uma criança no dia das bruxas, não percebi que ele tinha entrado no carro. Estava tanto no meu mundinho que não reparei nada. Olhei para ele de cabeça baixa e maçã do rosto vermelho, ele estava com um sorriso debochado no rosto como quem sabe as respostas do universo. Ele inclinou a sobrancelha e lembrei que ele fez uma pergunta.

— Siiim.

Balbuciei a resposta com a voz tremula. Respirei fundo. Tenho que me controlar, não posso ficar assim só porque ele me olhou diferente.

— Para onde você vai?

Ele me pergunta sorrindo.

— Empresa SaniCleme.

Ele agora olha-me surpreso, interrogativo. Olho pela janela, para a paisagem de Londres.

— Faço estagio lá, com a senhorita Katherine.

Ele rio ao ouvir o nome dela, tenho certeza que ela já lhe jogou seus charmes. Eu sorrio com o pensamento. Katherine é sempre tão ela, sempre tão autentica, mesmo sendo genérica. Deve ser bom poder ser apenas uma pessoa, ao invés de um retalho.

Ele pegou o caminho tão conhecido em direção a empresa. Ficamos calados durante todo o resto do caminho. Senti-me muito consciente dele durante todo o trajeto. Era como se ele emanasse uma aura que modulava o seu redor. Ele parou bem em frente a empresa. Peguei minha bolsa e ia me virar para agradecer, mas sem nem perceber ele já havia saído e abria a porta para mim.

De modo educado ele me estendeu a mão. Eu fiquei surpresa, mas lhe segurei a mão do melhor modo possível e sai elegantemente do carro.

— Obrigado, por tudo.

Sorri para ele e me virei para entrar na empresa. E gingados quadris, pela primeira vez em tanto tempo, eu entro na empresa em direção a mais um dia do estágio.

Por onde eu ando eu chamo a atenção. Todos me olham, ficam instigados a procura por suas mentes de quem eu sou. Chego na minha sala e Katherine já está lá, vestida para matar em um vestido colado de couro vermelho. Coitado de benjamim.

— Morgana, você chegou atrasada hoje, por favor me ajuda na...

Ela se virá e me olha. Ela fica boquiaberta, me olha da cabeça aos pés enquanto coloco a bolsa na minha mesa.

— Quem é você?

Eu gargalho com o seu comentário. E sem responder arrumo as coisas de modo que eu possa continuar o meu trabalho, que afinal meio que atrasou um pouco, pela minha pequena demora.

— Bom, não me importa muito. Tenho que sair, resolver algumas coisas com o chefe.

Ela pega na sua bolsa um de seus muitos batons vermelhos e de forma provocativa ela o espalha nos lábios. Depois sai rebolando da sala. Enquanto gargalho com Katherine, eu prendo o meu cabelo em um coque nada elaborado e me ponho a trabalhar.

O tempo passa como qualquer outro dia. Rapidamente o meu tempo se vai, enquanto arrumo os projetos. Muitas coisas precisam de toques finais e pequenos detalhes a serem arrumados. Tem de estar tudo no seu devido lugar para a última inspeção no fim do mês. Que não estava muito longe. E além de ser parte do trabalho essa inspeção vai me valer uma nota para o curso.

Kelly aparece no fim do expediente. Ela me olha de cima a baixo e levanta uma das suas belas sobrancelhas.

— Quer explicar?

Eu arrumo minhas coisas na bolsa e coloco tudo que eu tenho que levar. Saio do local junto dela.

— Agora não. Explico quando eu mesma souber o que é.

Saímos da empresa em direção ao carro de Kelly. Rindo e colocando as fofocas da empresa em dia. As meninas ainda estão loucas pelo chefe e não sabem falar de outra coisa. Elas vivem conclamando o quanto ele é perfeito e coisa e tal. Eu ri com as fofocas locais e me deixei levar, deixei com que todas as cargas saíssem de meu ombro.

— Boa noite meninas.

Ok, todas as toneladas voltaram, me deixando consciente de tudo, novamente. Principalmente daquela estranha sensação de que eu já ouvir essa voz em algum lugar. Fiquei com as bochechas vermelhas. Agradeço por estar escuro.

— Boa.

Minha voz sai um pouco tremula. Benjamim me lança um sorrisinho de canto. Kelly ao meu lado ficou incrivelmente vermelha e sem jeito. Ela se segurou-me o braço com as mãos tremulas.

— Bo..Boa.

Benjamim lhe dá um sorriso amigável e Jonathan atrás dele lhe presentei com um belo sorriso radiante e com sua voz rouca fala:

— Muito boa.

Sinto que Kelly vai desmaiar ali. É tão engraçado ver a supermulher desmoronar. A mulher altiva e superconfiante que nunca precisa de ninguém e der repente fica de perna bamba por um cara de terno sobre medida.

Depois do cumprimento nós prosseguimos até o carro. Ao entramos nele nos olhamos e então caímos na gargalhada. Como duas adolescentes, ficamos apenas rindo da situação que acabamos de passar. Demorou um tempo para nos acalmar, depois vagamos pela cidade até o apartamento de Kelly onde a pequena Nicolle brinca de super-herói com as barbies.

Quando entramos no ap a pequena se joga nos meus braços e me aperta o pescoço, beijando-me o rosto várias vezes de modo que eu fiquei toda babada. Eu gargalho com a pequena e faço cócegas na sua barriga. Rindo ela corre para abraçar a mãe.

Pego na bolsa o celular tocando. É uma ligação de Carlos. Tinha esqueci deles.

— Alo?

— Amor. Onde você está?

Carlos está com uma voz agoniada.

— Na casa da Kelly. Car o que aconteceu?

Minha voz está um pouco aflita. Kelly percebeu, ela me olha do outro lado do ap desconfiada.

— Nada de mais. Posso passar ai? Que tal, eu, você e Jack no cinema?

Ele continua estranho, porem tenta fazer uma voz animada.

— Cinema não. Tive um dia e tanto quero dormir não muito tarde, e amanhã tem aula. E essa professora é uma vertente da peste negra, ela é horrível.

Ele rir. E de forma mais feliz responde.

— Vou passar ai, vamos toma pelo menos um sorvete.

E desliga, sem me deixar alternativa, mas já estou acostumada a isso tendo os amigos que tenho.

— O que aconteceu?

Kelly pergunta colocando Nick no chão, para voltar a brincar com suas barbies.

— Nada de mais. Carlos vai passar aqui para irmos tomar um sorvete, acho que ele só precisa desabafar.

Ela apenas concorda com a cabeça, como quem diz “quando quiser falar, tu fala”, e logo depois estamos brincando com a pequena Nick e dizendo adeus a sua babá. É tão fácil extravasar a mente quando ela está cheia, mas logo meu tempo acaba e Carlos me liga, avisando que já está lá embaixo. Me despeço das duas e desço até ele.

— Nossa. Que deusa é essa?

É como sempre a primeira pergunta de todo mundo ao me ver hoje, “quem é você?”. E como todas as respostas que eu dei hoje, eu apenas sorrir. Ele dirige o carro calmamente pela cidade belamente iluminada.

— Como você está?

Pergunto da forma mais doce que consigo. Ele respira fundo, bem lentamente. Pensando no que responder, imagino.

— Lidar com Jack é difícil, você sabe disso. As vezes ele irrita mais que criança, noutras ele age como o ser humano mais doce da terra. É difícil conseguir ligar com ele, e lidar com ele perto da família é pior. E com benjamim aqui ele parece pronto a explodir toda vez que o vê, ouve ou se quer pensa nele.

Ele deixa falar rapidamente, abrindo aquela pequena porta da represa.

— Hoje ele estava tão estranho quando o encontrei. Sabe eu imaginei ver ele tristonho por causa da família, sabe sei lá, triste por causa deles, mas o encontrei com tanta raiva que pensei que ele fosse me bater. E ele não quis contar o porquê de tamanha raiva. Era como se uma fera, daqueles desenhos infantis estivesse se apossado de seu corpo. Ele pediu que eu o deixasse só, e eu não sabia o que fazer, então o deixei.

Ele respirou fundo e estacionou o carro, no fim nosso passeio de carro não era tão longo. Estávamos em frente a uma grande sorveteria. Carlos e eu descemos do carro e antes de entrar e encontrar Jack, sentado em umas das mesas da janela, Carlos comenta.

— E então quando eu o vi novamente, ele era outra pessoa. Simplesmente uma das mais calmas pessoas do mundo. E isso me assusta mor. É como se ele não fosse ele, entende?

Concordei com ele antes de entrar na sorveteria. Mas na verdade eu não entendia. Depois de ver Jack e conversar com ele, ele me aparentava ser o mesmo. Em tudo, nada diferente. Ele parecia apenas um pouco mais calmo, o que era ótimo, já que o Jack que eu estava convivendo esses últimos dois dias era uma pessoa muito irritável.

Tomamos nosso sorvete sorrindo. Jack e eu como crianças. Carlos no começo estava um pouco com o pé atrás, mas logo ele se deixou levar, gargalhando conosco no fim da noite. Peguei um taxi e deixei os dois a sós, acho que eles merecem um descanso. Quando chego em casa também me permito descansar e dormir de forma aconchegante em minha cama.

E assim o resto da minha semana se passou. Eu me vesti da forma mais elegante possível, tentando imitar o que Q fez na terça-feira, não tive sucesso algum, mas tentei. Afinal eu gostei do modo que as pessoas me olharam diferente. Eu encontrei benjamim algumas vezes e nos cumprimentamos de modo cortes. Kelly tinha um ataque cardíaco toda vez que via Jonathan, o que me fazia rir genuinamente. Jack estava um amor de pessoa e me tratou da melhor forma possível. Carlos ainda estava desconfiado, mas estava deixando isso de lado.

O tempo, esse deus perverso, passa tão depressa que me deixa atordoada, sem mais saber onde eu deveria estar...

E então, sem que eu percebesse já eram sete horas da tarde da sexta-feira mais alucinada da minha vida, até agora.

O dia começou da forma mais normal possível e se seguiu assim. Até o badalar das sete horas no relógio de pulso de Kelly que acabou de adentrar minha sala, dizendo que o turno acabou. O dela sim, mas e o meu?


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