Entre seda e veludo escrita por lobinha


Capítulo 2
2




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Ele poderia me explicar quantas vezes ele quisesse eu seguiria sem entender.

— Mor, você só precisa fingir ser a minha namorada, te apresento para minha família e tudo certo. Nada de mais.

— Jack é o Carlos, já imaginou como ele vai se sentir?

Como ele pode ser tão egoísta, ele só está pensando no que é melhor para ele, sem se importar com o que os outros podem ou não sofrer.

— Já falei com ele, ele não se importa. Vamos lá, por favor, você sabe o quanto me irrita ela ficar falando a todo instante.

Ele me lança aquele olhar de cachorrinho pidão que deve encantar qualquer pessoa que ele conhece, por que ele sempre apela para ele. Respiro fundo e penso em tudo que ele já fez por mim, o quanto ele já me ajudou.

— Tudo bem, eu aceito.

Ele sorri de orelha a orelha. Acho muito errado isso que ele está fazendo, mas ele é meu amigo, não tenho nada a falar, a não ser ajudar. Descemos do carro no estacionamento da faculdade e rumamos para o prédio do último ano de arquitetura. Ele está planejando cada momento do nosso falso namoro, para que tudo saia perfeito segundo ele.

Encontramos Carlos depois da aula. Ele não parece ele mesmo, está com um ar tristonho, eu também ficaria. Eu o abraço e tento confortar, enquanto ouvimos Jack falar sem parar no plano infalível dele, meu deus ele está pior que o cebolinha.

Não aquento ouvir ele comentando a roupa perfeita para ir, e coisa e tal, eu me despeço com a desculpa de precisar ir trabalhar mais cedo. Carlos como eu previa me oferece uma carona. Nos despedimos de Jack e rumamos para o caro esportivo de Carlos.

Na primeira curva do nosso caminho eu não aquento e falo.

— Carlo me desculpa, eu não consegui dizer não para ele, você sabe como ele é, e também ele já fez muito por mim.

Ele continua com os olhos para frente e as mãos grudadas no volante.

— Não se preocupe, eu sei como ele é. Não é nada de mais, eu juro. Não é nada de mais.

Ele fala com a voz forte, segurando com ainda mais força o volante.

— Ca, não deixa isso te importunar, ele vai enxergar a razão. Ele vai ver que isso é idiotice e vai te assumir, eu sei que vai.

Ele para o carro em frente ao meu trabalho.

— Pronto, chegamos, acho melhor você ir se não vai se atrasar.

Eu sorrio, meio que me desculpando.

— Vamos, tem uma lanchonete bem ali, vamos comer alguma coisa. Eu menti, não preciso chegar mais cedo.

Carlos me olha pela primeira vez que entramos no caro, ele está sério. Depois ele revira os olhos e sorrir. 

A lanchonete está quentinha e é tão bom está lá dentro. Retiramos os casacos e cachecóis e pedimos dois sorvetes caprichados. Não falamos nada por um tempo. Até que ele quebra o silêncio.

— É que é frustrante, sabe. Estamos juntos faz três anos e ele ainda tem medo da mãe dele descobrir, pelo amor, já temos 23 anos, não somos mais crianças. Ele não consegue aprender isso e continua escondendo nosso amor de todo mundo.

Fico calada, não tenho o que responder, ele está certo. Jack está agindo como uma adolescente que não quer que seus pais descubram que não é mais uma criancinha.

— E sim, isso me irrita, por que todo mundo fica falando e com toda razão. É ridículo ficar namorado escondido assim. As vezes tenho serias dúvidas se é a mãe ou ele que tem preconceito.

Carlos fala com sentimento e com o seu coração partido. Ele deve se sentir horrível por causa desta negação de Jack. E seu modo de falar transmite tanto, que até eu estou sentindo isso com ele. Eu saio de meu lugar e o abraço, não sou boa com palavras, prefiro não piorar as coisas.

— É tão... sei lá, entende? Sei que ele quer se proteger e de certa forma me proteger, mas é difícil, é ruim de engolir tudo que ele faz. Sabe, ele é sempre tão estremo, nunca vai na mais óbvia escolha, tem sempre que ter um plano bem elaborado. E é isso que me aborrece.

Sei como ele se sente, as vezes me irrito com isso dele também, mas afinal de contas é isso que torna ele um arquiteto tão diferente, é a sua excessiva criatividade.

— Chega mor. Você tem de trabalhar e eu também. Te amo lindinha. Vou ver se te busco de noite, para a gente dá uma volta no shopping antes de fechar.

Eu concordo sorrindo. Ele merece um pouco de descanso e eu amo andar por aí.

Coloco o casaco e o cachecol e rumo para a empresa. Katherine esta vestida toda de vermelho hoje. Katherine é a minha chefe, ela é uma senhora excêntrica que nunca se casou e não cria gatos. Ela é uma mulher boemia que gosta de viver a vida adoidado e gosta de namorar mais que uma jovem como eu. Ela me sorrir com seu batom chamativo e sua mancha nos dentes.

— Morgana, você chegou mais cedo hoje. Ainda bem, o chefe está aqui e precisamos impressionar ele com o nosso trabalho.

Diz ela ajeitando o sutiã. Entendi o grande decote agora. Coitado de benjamim. Não que Katherine seja feia, por que não é, porem ela não é nenhuma top que ele costuma sair, só que ela é muito persistente e chamativa de mais.

— Claro, vamos trabalhar duro. E dona Katherine, tem batom nos seus dentes.

Coloco o casaco e o cachecol na minha mesa e pego no meu armário a planta que mandaram para que examinarmos sexta feira. Não foi feito por Katherine, que é arquiteta, foi feita por outro arquiteto local, mas parece que não foi aprovada e como o trabalho de Katherine é de ajeitar o que é aparentemente não ajeitável, veio parar aqui.

— Obrigada por dizer, e já disse que você pode me chamar de Kathy.

Ela sai logo depois para o banheiro, para se arrumar novamente. Arrumo o projeto na mesa e meu deus. Parece que alguém tentou fazer um disco voador, com lanças enfiadas por ele. Ok, criatividade de cada um.

Do projeto original não vou poder aproveitar muito, não há nada que há empresa considere ali. E devagar, com um pouco de esforço, um novo lugar vai sendo projetado.

— Tenta um teto um pouco mais curado, como resquício do projeto original, fica um pouco pré-histórico, mas no fim a moda antiga sempre volta.

Me assusto com Katherine bem atrás de mim. Não ouvir o barulho estrondoso de seus saltos enquanto estava distraída. Ela rir e se vai para seu computados terminar de ajeitar os últimos retoques de um dos projetos da semana passada. Eu fico um pouco distraída antes de voltar para o projeto e curvar o teto um pouco mais. E ela estava certa, ficou perfeito, de um modo muito bonito e ainda sim futurístico.

— Vá comer um pouco, não quero que você passe mal.

Sorriu e pego minha carteira. No meio do caminho paro na mesa de Kelly, ela está terminando um telefonema. Ela sorrir ao me ver, o que me faz lembrar minha mãe mais ainda.

— Fome?

Ela pergunta como quem fala com uma criança, o que eu sou para ela. Eu concordo. Ela se levanta e vamos. Kelly chama atenção dos homens que passam, apesar de ser mais velha ela ainda é muito bonita e sempre se arruma muito bem, ela gostaria que eu me arrumasse mais, mas eu não sou fã disso, a nãos ser no trabalho, mas lá, não sou eu.

Apesar de todos os homens da empresa serem louco por ela Kelly e apaixonada só por um. Jonathan F.T. é o diretor executivo da empresa. Algo como o tio de Jack, Jack adora ele desde criança, trata ele como um pai, apesar dele ter no máximo uns 40 anos, mas foi ele a única figura masculina que ele e o irmão tiveram após a morte do pai.

Saímos do prédio e andamos rapidamente até a lanchonete, esquecemos o casaco e está mais frio do que quando chegamos. A lanchonete se encontra ainda quentinha. Pedimos dois chocolates.

— Aquela empresa está no maior bafafá. Aquelas meninas não param de fofocar. Por isso é melhor mesmo ficarmos por aqui.

Eu sorrir, Kelly não suporta fofocas.

— Do que elas tanto falam?

Ela revira os olhos e agradecemos a senhora que acabou de nos servir.

— De benjamim, do que mais significaria? O gato “chefinho” delas.

Eu rio. Kelly novamente revira os olhos.

— Ele é tão bonito assim? Para que elas falem tanto.

Eu pergunto sorridente, Kelly não suporta que fofoquem, mas adora falar das pessoas que fofocam.

— É bonito sim, muito bonito, mas sabe como é, não faz meu tipo, mas deixou todas as garotas abaixo de trinta anos de quatro por ele, sei lá, ele tem um chame que atrai as mulheres sem paixões.

Ela fala filosofando, como se defendesse uma das teses de Marx ou weber.

— Ele não lhe encantou nem um pouco?

— Não. Ele é bonito claro, mas só encanta aquelas que não amam.

— Quer dizer que Jon estava do lado dele.

Kelly fica vermelha até a raiz dos cabelos.

— Cla... cla... claro que estava, ele é diretor executivo, tem que mostra para ele como anda a filial.

É tão engraçado vela gaguejar. Eu queria continuar a brincadeira, mas alguém me ligou, tomei um basta susto, tinha esquecido que coloquei meu celular na cintura hoje de manhã. Puxo o telefone e olho o número. Droga. Acho que fiz uma cara meio assustada, por que der repente Kelly ficou me olhando curiosa.

— Um minuto.

Me levanto e saio para a frente fria da lanchonete, mesmo sem casaco, prefiro isso a Kelly ouvir essa conversa.

— Morgana.

Falo de modo profissional.

— Olá, bruxinha. Tivemos um imprevisto e gostaria de saber se você pode trabalhar hoje.

Ele está com aquela voz risonha de cara que vive em festa.

— Hoje J.? Você sabe que amanhã tenho faculdade.

Como assim? Ele sabe disso já conversamos mil vezes sobre isso.

— De 10 até as 1 da manhã. Período pequeno. Vai, você e a melhor, o povo clama por você.

Ele suplica um pouquinho. Imagino j, um quarentão de cabelos grisalhos, de joelhos implorando da forma mais ridícula possível.

— J eu não sei.

— Vou te pagar 23 mil por esse período curto. Vai por mim bruxinha.

Bom, não por você. Nenhum sei quem é você, um psicopata que me paga fortunas para cantar vendada, mas sim por 23mil.

— OK, OK. Mas nem um segundo a mais.

— OK. Te vejo mais tarde bruxinha.

Ele me manda um beijo pelo telefone.

— Até j.

Desligo o telefone e entro na lanchonete. Meu deus estou tremendo. Kelly me olha interrogativa.

— Meu professor tá cobrando meu TCC. Sabe como é. Tenho que estudar, e trabalhar e ainda fazer esse projeto.

Sua feição muda de interrogativa para preocupada.

— Morgana, se o trabalho te prejudica larga ele.

Fala segura minha mão, tão preocupada, que me dá um aperto no coração de mentir para ela.

— Não se preocupa. Eu vou conseguir, não falta muito para terminar e eu preciso do estágio. É bom para mim.

Ela me olha com os olhos franzidos. Como faz minha mãe.

— Vamos, estamos tempo de mais aqui. Precisamos trabalhar.

Eu paguei a conta e fui andando. Kelly veio atrás de mim, andamos em silencio até a sua mesa.

— Boa sorte.

Ela me desejou antes deu ir embora. Quando cheguei Katherine não estava mais na sala. Melhor para mim. Leguei o computador e comecei a trabalhar na computadorizarão da casa. Fechei os olhos como faço antes de colocar à venda e deixei a mente fluir.

Coloquei bastante cinza e marrom na casa, juntos ficaram com uma perfeita combinação de antigo e novo. Em toques de madeira e aço de modo trabalhado e rustico. A ideia de Katherine é simplesmente perfeita, acho que por isso eu ela é uma das mais renomadas arquitetas daqui. Ouço passos forra da sala, mas não me importo muito. Continuo a trabalhar, depois de um tempo tudo ao meu redor fica em silencio. Estou tão concentrada no trabalho que me assusto quando Katherine toca no meu ombro.

— Vamos já tá tarde.

Eu arregalo os olhos e olho ao redor. No visor do computador são nove e dez. Puta merda. “Olhe as horas, estou atrasada”.  Salvo e arrumo tudo correndo. Fecho o casaco e coloco o cachecol.

— Seu celular princesa.

Katherine fala me jogando o aparelho. Desbloqueio ele e encontro uma mensagem.

De: Carlos D.N.

Anjo eu não vou poder te levar no shopping. Eu e Jack vamos sair.

Desculpa anjo. Nós saímos amanhã.

:*

Eu sorrio com a notícia, pelo menos eles estão se dando bem. Chamo um taxi e peço que chegue o mais rápido em casa. Mesmo assim só chego lá as nove e meia. Pego a mochila, jogos as chaves e o celular lá dentro e vou na moto em alta velocidade até o trabalho.

Paro na frente de uma porta negra, com um x vermelho marcando. Bato três vezes, J abre a porta e me puxa para dentro.

E então começa a primeira vez que eu trabalhei fora de turno.  


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