Entre seda e veludo escrita por lobinha


Capítulo 1
1


Notas iniciais do capítulo

se não entender pn, é só deixar no comentário, eu vou tentar melhorar.



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Fecho meus olhos e deixo a seda acariciar minha pele, é estranha a sensação de não poder mais ver. Parece que todos os sentidos se aguçam, qualquer barulhinho se torna um estrondo, qualquer toque lança um misto de sensações. É estranho perceber como somos movidos pelos nossos olhos, só importa aquilo que vemos, e nada mais.

Trabalhar de olhos vendados é uma experiência das mais perfeitas, principalmente para quem é cantora, como eu sou nas noites dos fins de semana. Aprumo meu corpo, seguro o microfone e depois de uma determinada pausa acompanho o piano em mais uma bela noite de trabalho, deixo as notas vibrarem pelo meu corpo e deixo a música entrar na minha alma. Posso senti-la em cada pequeno pedaço de mim e faço isso refletir na minha voz.

O tempo não é nada e quando vejo, ou melhor volto a ver parece que foram apenas alguns segundos, mas já se passaram horas e eu corro, como o coelho da Alice atrás de tudo, por que “olhe as horas, já estou atrasada”. Corro com a moto na rua deserta, com a mochila nas costas. Chegar em casa é a melhor parte do meu dia, poder tomar um caprichado banho e me jogar na minha cama quentinha, me enrolar nos cobertores e dormir.

Minha vida é sempre corrida, de segunda a sexta eu estudo em uma renomada faculdade de arquitetura na Inglaterra e faço estagio em um famoso grupo de empresas de construção. Seu nome já atingiu todo o globo e é um dos melhores, o dono, um engenheiro muito renomado, trabalha em parceria com seu irmão, que é o mais perfeito e cavalheiro companheiro de curso que eu já tive. Ambos estamos no último ano, somos grandes amigos e foi ele que me conseguiu o estágio.

Meu grupo de amigos aqui não é muito grande, pois não sou de falar muito. Ele se resume a Jack, o meu grande amigo que me arrumou o estágio, Carlos, o namorado de Jack, e Kelly, uma mulher muito legal que é secretaria na empresa. Jack e Carlos forma um belo casal, Jack é um espanhol de pele morena e de cabelos bem curtos, com os olhos negros e o corpo bem magro, ao contrário de Carlos que é um argentino de pele bem clara, cabelos castanhos e olhos cor de mel. Eles formam um contraste tão belo e significativo que é de encantar quem vê. Os dois são como carne e unha e são tão fofos juntos que dá até inveja deste amor. E eles meio que me adotaram como cachorro de casal, Jack sempre passa para ver como estou indo no estágio na filial da empresa de seu irmão e Carlos vive comigo de cima a baixo por onde quer que eu saia, menos no meu trabalho, mas esse é um caso especial.

Bom, e temos Kelly. Kelly é uma mulher de 35 anos, que tem uma filhinha de 5 e é muito dedicada ao trabalho e a filha. Ela é um doce de pessoa e parece minha mãe. Não estou brincando, parece mesmo a minha mãe. Tem os mesmos cabelos curtos e cacheados e o mesmo olhar franzido, como se quisesse descobrir uma mentira sua.  Ela vive reclamando que estou magra demais, ou que trabalho de mais e sempre questiona para onde vai todo o dinheiro do estágio já que eu ganho bolsa para estudar e que ela sabe que a bolsa é mais que suficiente para me manter e pagar o aluguel.

 Bom ela está certa. O dinheiro da bolsa é o suficiente e até sobra. Fora o dinheiro do estágio e o do trabalho. Bom, o trabalho... eu sempre tive o sonho de ser cantora e numa das minhas andanças eu descobri um local que estava contratado. Era uma boate, o dono foi com a minha cara, mas ele ficou chocado com minha pouca idade. Eu fiz um drama e consegui o trabalho, mas ele me deu uma condição, cantar vendada. Primeiro eu me assustei, por que eu teria de cantar vendada? Umas boas quantidades de coisas estranhas passaram pela minha cabeça, eu verdadeiramente até hoje não entendo a venda, mas então eu aceitei, não sei se por capricho ou essa louca mania de curiosidade. E faz um ano que eu não sei como é meu trabalho e nem o seu nome, mas eu sei que canto lá todos os sábados e domingos, como uma diva, cheia de paetês e plumas. E eles me pagam muuuuito bem para isso. E respondendo à pergunta de Kelly para vocês, eu guardo, tenho uma conta onde guardo todo o meu dinheiro. E bem, é bastante dinheiro. Não tenho média de quando, mas deve ser bastante.

E antes de voltar para minha história principal devo dizer quem sou. Eu me chamo Morgana S.R., sou brasileira e batalhei muito para sair de minha terra no norte do brasil e chegar até onde estou. Hoje em dia tenho 18 anos recém completados e moro na Inglaterra a dois por intermédio de uma boa bolsa estudantil. Sempre fui muito esforçada e tive o sonho de ajudar minha mãe. Minha mãe é uma mulher muito boa que me criou sozinha e me incentivou de todas as formas para que eu viesse estudar aqui. Minha mãe é minha deusa maior e todo que eu tenho é dela. Eu sou... bem, sou eu. Uma brasileira fora do padrão chamativo brasileiro. Tenho os traços indígenas de meu pai e europeu de minha mãe. Como assim? É simples, sou brasileira. Uma mistura de raças e de culturas. Tenho os cabelos lisos, com as pontas cacheadas e muito negros, tenho a pele muito branca, principalmente agora que não pego mais sol e os olhos, bem meus olhos são simples e castanhos.

E agora, chega de pensar sozinha. Preciso levantar, a faculdade me espera. Vamos que o sol raiou e eu preciso ganhar a vida neste país frio. Tomo meu banho e me visto da maneira mais aquecida possível, o que faz meu corpo se tornar um pouco sem forma. Prendo o cabelo meu numa longa trança, pego meu casaco e cachecol e let’s go. Jack está na frente do meu apartamento para irmos juntos. Pela cara, meu tempo de descanso e silencio acabaram.

— Morg você não vai acreditar no que aconteceu!

Ele diz ranzinza. Entramos no seu carro e eu olho interrogativa.

— Meu irmão está aqui. Chegou ontem à tarde e não larga do meu pé.

Ele bufa e balança as mãos, significados de que ele está bastante irritado.

— O que ele fez desta vez?

Pergunto solicita. Apesar de nunca ter conhecido seu irmão, todas as vezes que eles se encontram é tanta reclamação que sinto como se o conhecesse.

— Ele está zangado como sempre. Terminou com aquela magrela sem sal e fica descontando em todo mundo, como se alguém tivesse culpa dela ser sem graça e chata.

Benjamim namora... namorava uma famosa modelo francesa, que nunca caiu nas graças de Jack. E Benjamim é meu chefe e irmão do meu melhor amigo. E pelo que eu sei, ele não ficará muito tempo solteiro, sempre tem outra para ocupar o lugar.

—... ele tá me enchendo e a mamãe não faz nada, afinal ele é o favorito, o mais velho, O HERDEIRO. Você sabe o quanto isso me irrita nela, isso e o fato dela ser tão preconceituosa. Gostaria tanto não ter medo dela descobrir.

Jack e Carlos namoram escondidos, tipo colegiais, por que a mãe de Jack não aceitaria que ele fosse gay.

— Sabe eu já estou de saco cheio dela jogando indiretas, eu já sei o que eu vou fazer.

Ele fala com uma determinação, que me anima.

— Finalmente assumir seu namoro?

Perguntei toda animada. Carlos ia ficar muito feliz, ele sempre quis isso. Ele odeia mentiras.

— Não.

Jack corta minhas esperanças, e do Carlos todo feliz em minha cabeça.

— Eu vou namorar você.

Ele fala com naturalidade, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— O QUE????

Me engasgo e acho que minha voz na pergunta saio alta de mais, mas foda-se, O QUE ELE DISSE? 


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