Uma Odisséia em Outra Terra escrita por Curupira


Capítulo 7
Dois acadêmicos e vários trogloditas ou um destinado encontro - parte 2.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677502/chapter/7

 

Olhávamos ao redor, qualquer hesitação nossa no momento oportuno significaria nossa morte. 

— Temos que aproveitar enquanto eles estão distraídos e seguimos com meu plano – comentei revirando as páginas do meu caderno.

 -Como quiser, não acho que tenha outra opção – respondeu Óneiros apreensivo.

Acariciei a pelugem do ‘Coisa Horrenda’. Se você me ajudar nessa eu perdoo toda sua fealdade. Me ajeitei na sela, segurei a rédea e dei o indicativo para nossa ação. 

— Vamos! - gritei.

Nossos insetos bateram as asas o suficiente para transpassarmos uma pequena abertura entre alguns dos inimigos. Começamos a nos deslocar rapidamente, nossos animais estavam descansados e ameaçados. Atrás de nós, uma nuvem verde nos perseguia. A ação de seu bater de asas forma uma forte ventania que afetava tanto a eles quanto a nós.

—Virar à esquerda!  Recolha todas as folhas que encontrar na próxima fileira de arbustos – instrui meu companheiro de fuga.

Recolhemos as folhas e colocamos em nossos alforjes. Nossos predadores continuaram se aproximando, porém seus números já haviam decaído. Uma luta interna iniciara e o canibalismo satisfazia os mais impacientes.

—Esfregue essa planta por todo seu corpo, se puder cole-as em você e segure sua respiração.

—O cheiro é muito forte, vou desmaiar se o fizer – choramingou o astrônomo.

—Cala a boca e feche esse seu nariz.

Espetei algumas asas a minha esquerda e chutei um abdômen a minha direita, estava utilizando tendões que nunca pensei possuir.  

Os insetos não mais continuaram a perseguição. Descemos de nossas montarias e descansamos. As folhas que estavam grudadas em meu corpo começaram a cair, o meu cuspe era o suficiente apenas para emergências.

—Você tem sorte de ter essa pele grudenta - reclamei enquanto tirava parte da saliva de meu calcanhar - falta muito até a casa de seus pais?

—Algumas horas. Como você sabia sobre esse truque?

—Repelentes.

—Como?

—Nós chamamos de repelentes em meu planeta. Nosso corpo libera dezenas de substancias químicas através dos poros, o CO2 de nossa respiração também os atrai, o cheiro dessas plantas os confunde, juntamente com a brisa que eles mesmo causaram todo nosso rastro foi disperso – expliquei com um olhar sério.

—Não entendo muito que disse, mas obrigado.

Até a casa o trajeto foi tranquilo,  apenas fizemos mais uma parada em que recolocamos as folhas em nosso corpos. E assim, depois de nos acostumarmos com o odor, conseguimos percorrer todo caminho em segurança.

O pequeno reino estava no topo de um planalto. Comparando com a cidade anterior, esta parecia uma vila. Batemos na porta de uma das casas, uma senhora abriu um largo sorriso assim que nos viu. Dentro da casa, além da senhora, um idoso ficava o dia todo em uma cadeira isolada no canto da sala, parecia observar o pôr do sol pela janela. Quando o jantar foi preparado comemos juntos em uma mesa de jantar.

—Pai, por que você não vem aqui conosco? – perguntou o filho com um sorriso triste.

—Ele não sai daquela cadeira enquanto o sol estiver no céu – respondeu a mãe com a voz fraca.

A senhora de cabelo acinzentado e pele opaca entregou um prato de sopa para o marido.

—Coma, meu homem – dizia enquanto acariciava seu rosto – Você é um amigo do meu filho? Ele nunca me falou sobre amigos – continuou.

—Bom, nos conhecemos a pouco tempo. Temos morado juntos nos últimos meses e ele tem me ajudado bastante.

Óneiporos ficou envergonhado, tentou mudar de assunto e resolveu contar sobre nossa viagem.

Pelo o que disse, demoraríamos 3 meses para retornar e como o perigo era grande, existia grandes chances de não voltarmos. De início tentou convence-lo do contrário, porém após explicarmos que era uma missão envolvendo o alto escalão da OVP, ela se sentiu orgulhosa de seu filho e não insistiu na sua permanência. No dia seguinte nos despedimos de seus pais.

—Meu pai é um veterano de guerra, ele não fala muito sobre, na verdade ele raramente fala algo.

—Eu sei, ele não poderia ter perdido o braço enquanto cozinhava. Quando você voltar, a OVP vai te dar dinheiro suficiente para morar com sua família e montar seu próprio centro educacional aqui. Qual será que é a recompensa por capturar um alienígena? – provoquei.

—Não brinque com isso, você não é meu prisioneiro – manifestou-se inquieto.

Descemos o planalto e encontramos uma rota estreita que recortava por uma outra floresta. O caminho estava sendo encoberto pela vegetação isso dificultava nossa visão do caminho, provavelmente foi abandonada há algum tempo. Por aqui devemos ser mais rápidos, mas o abandono de uma trilha deve ser um mal sinal.

—Entendo sua cara de preocupação, antigamente as caravanas passavam por aqui, era o jeito mais seguro de ligar minha cidade ao porto. Contudo, com o tempo os bandidos viram isso como uma grande oportunidade e conforme os assaltos foram crescendo, as caravanas mudaram de caminho, aumentaram a contratação de mercenários e atualmente fazem um caminho direto.

—E por que viemos por aqui? – perguntei surpreso.

Óneiporos começou a rir maliciosamente.

—Se as caravanas mudaram sua rota, por que os bandidos continuariam aqui? Estamos muito mais seguros e ainda visitei meus pais.

—Perfeito.

Assim como dito, a viagem foi tranquila, como a rota foi feita por caçadores e mercadores experientes, nenhum perigo se encontrava na proximidade. Em algumas horas chegamos no porto. Era tão grande quanto a cidade de onde partimos originalmente, talvez ainda maior.

— Impressionante, não? Os portos são escassos, mas muito bem fortificados e lucrativos, navegar é um taboo imposto pela OVP, eu só não serei considerado um herege pela natureza de minha jornada. A usura é um crime e o porto é a troca direta de dinheiro por vidas. A ganancia é uma lástima.

Óneiporos claramente se sentia culpado pelo seu pecado. Ignorei suas justificativas restantes e continuei me dirigindo as docas. A cidade estava a 50 metros do mar, os navios, para minha surpresa, não estavam atracados nos cais, mas diretamente ancorados no mar. Os píeres estavam submersos e os barcos pareciam abandonados à deriva.

Entramos em uma taverna lotada, vidros estavam sendo quebrados e a conversa era dita a gritos, senti saudades do zumbido dos insetos gigantes. Ao fundo, uma mulher amarrotada socava na mesa, batia com os pés no chão e falava embriagada.

—Um... um brinde a nossa vi... da. *hic*              

Todos a acompanhavam e não pareciam se importar com seu gênero. Pedimos nossas bebidas e sentamos na mesa ao lado.

—Vamos dormir juntos antes da maré abaixar – insinuou um dos bebuns.

—Vo... você esqueceu que so... so... *hic* sou sua capitã – gaguejou irritada durante um soco que dava em seu queixo.

—Um brinde a nossa capitã! Viva Kardia! – brindavam todos em meio a risadas.

Estávamos deslocados, dois acadêmicos em meio a trogloditas.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fim do primeiro arco.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Odisséia em Outra Terra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.