Paris Doll escrita por Nárriman


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo não deveria ter um terço do qye esta ai, mas eu me empolguei tanto escrevendo ele que terminou saindo fora do planejado. Espero que não se torne uma leitura cansativa.
Boa leitura meus amores.



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Pov’s Austin

A lua já estava em alta no céu tarde da noite em meio às estrelas quando aparentemente Kira teve a brilhante idéia de que todos nós deveríamos ir a uma boate para aproveitar a presença de todos os amigos e ser algo mais intimo. Cassidy obviamente me obrigou a vir e ainda mais ser o motorista de todos. Parece até que sou o único daqui que sabe dirigir.

Quando parei o carro no estacionamento os primeiros a saírem foram Dallas e Piper que estavam mais sorridentes do que nunca. Eu não estava mais agüentando os dois se agarrando no banco de trás do meu carro.

Desliguei o automóvel e sai dele sendo seguido por minha noiva. Ela logo tratou de colar no meu braço.

—Onde estão os outros?-Indaguei me referindo a Kira, Dez, Trish e Elliot que em minha opinião é o amigo mais agradável de Cassidy.

Esse último ficou responsável por trazer a outra parte do grupo.

—Acho que estão nos esperando lá dentro. -Encostou sua cabeça no meu ombro e revirei os olhos sem que percebesse.

Comecei a caminhar com ela em direção a boate quando a morena brotou do esgoto da rua.

—Desculpa interromper os pombinhos, mas já quero ir avisando que eu talvez não volte pra casa com vocês. -Ally apareceu do meu lado esquerdo.

Ela imitou Cassidy e logo tratou de entrelaçar o seu braço direito com o meu braço esquerdo.

De um lado minha atual noiva e do outro minha ex noiva que eu tive um pequeno caso de um dia enquanto eu já estava noivo de sua melhor amiga. Não tem como isso melhorar.

Apressei os passos e logo adentrei o salão com a morena e a loira. A música eletrônica e as luzes coloridas por algum motivo me fizeram sorrir. Talvez porque há muito tempo não ponho os pés em uma balada.

De relance eu podia perceber o olhar de minha ex em cima dos homens da boate e tive que rir disso. Esse jeito atrevido da Ally foi um dos motivos por eu ter me apaixonado por ela na faculdade.

—Esta a procura de diversão?-Perguntei um pouco baixo para que apenas ela escutasse mesmo que o som fizesse o favor de impedir que qualquer um o mais próximo possível ouvisse nossa conversa.

Ela me lançou um olhar desconfiado e continuou apenas ouvindo.

—Aquele cara ali parece estar precisando disso. -Apontei com o queixo para um moreno que estava sozinho no bar.

Quando eu e Ally decidimos parar com as brigas nós não estávamos brincando. Não que agora sejamos amigos, até porque nunca fomos e creio que nunca seremos, mas agora depois de um mês convivendo com ela chegamos a uma fase em que nos aturamos.

—Acha ele bom o suficiente para mim?-Perguntou pensativa.

Olhei para Cassidy que procurava algo em sua bolsa distraidamente e aproveitei para aproximar o rosto do ouvido de Ally.

—Ninguém é bom o suficiente para você. -Pisquei para ela e desenlacei nossos braços.

Ela endireitou a postura, jogou os cabelos para trás e sumiu do meu campo de visão.

—Seus pais irão ficar na cidade até quando?Quero marcar um jantar apenas com os nossos pais. -Cassidy enlaçou seu braço no meu e seguimos para uma das mesas onde Trish e Dez conversavam animadamente.

—Acho que irão passar mais uma semana. Eles gostaram de você a propósito. -Peguei a garrafa de vodka que estava em cima da mesa e a virei de vez.

—Vai com calma Austin. -Cassidy me repreendeu.

Ela nunca foi muito fã de bebidas e tenta me mudar em relação ao álcool mesmo que todos ao redor dela bebam e não morram no dia seguinte.

—Eu estou bem, amor. Depois de uma semana cansativa como essa acho que mereço um desconto e você também deveria fazer o mesmo. -Arrastei um copo para ela que apenas o afastou com as mãos.

—Você sabe que eu não bebo Austin. Aliás, sabe como isso pode destruir seu fígado?-Sua expressão perplexa me fez virar o copo intocável de Dez de uma só vez também. Apenas para provocar.

—Ei cara. -Ouvi o ruivo me repreender.

—Foi mal.-Dei de ombros. —Mas se for compensar posso comprar esse estabelecimento apenas pra você. -Falei animado. Uma parte de mim estava só brincando com ele, mas a outra não negaria a compra se ele pedisse.

—Você esta zoando. -Debochou sem esperanças.

—Tudo bem se não acredita, mas amanhã passo na sua casa para que assine os termos de venda. -Comecei então a brincar com o copo na minha mão.

—O que?-Cassidy e Trish praticamente gritaram.

—Quer matá-lo?-A loira me fuzilou com os olhos.

—Não começa com esse papinho de médica não Cassy. Vamos apenas aproveitar a noite, por favor. -Pedi fazendo um biquinho.

Ela nunca resiste quando eu faço isso. Parece até que é uma forma de hipnose.

E então passaram apenas segundos para que ela desmanchasse a cara fechada e me desse um selinho. Tudo em paz de novo.

Olhei por cima dos seus ombros e vi um grupo de amigos fumando e bebendo animadamente.

Em meio a eles pude ver um casal se beijar loucamente e por um momento senti inveja deles. Uma parte de mim também sentiu saudades da época da faculdade.

Eu e Ally éramos exatamente assim. Dois jovens que apenas queriam que o mundo acabasse depois de uma longa festa. Éramos livres.

Olhei para Cassidy e só então me dei conta do porque de eu estar com ela. Olhei para suas mãos sem bebida alguma. Seus cabelos loiros. Suas roupas de princesa e seu sorriso doce demais.

Eu estava com ela apenas por ser o completo oposto de Ally. Alguém que eu podia cuidar e adorar pelo resto da vida, mas não alguém com quem eu poderia dividir um litro de bebida barata e desejar por uma noite inteira.

Ela era apenas a amnésia de um acidente que deixou cicatrizes e eu procurava esquecer.

Bebi mais um pouco de vodka e lembrei o dia em que conheci Ally.

Flashback on

—Hoje é o primeiro dia na faculdade senhor Moon caso não tenha notado. -O diretor voltou a encher o meu saco.

Continuei a por o gelo na minha bochecha enquanto era obrigado a estar no parque de diversões. Segundo ele isso é uma tradição que todos os anos os alunos do Campus fazem. Sinceramente eu preferiria estar sendo enforcado por um náilon.

—E como primeiro dia não aceito suas atitudes. Uma briga daquelas?-Perguntou com desprezo.

Negou com a cabeça freneticamente e revirei os olhos.

—Conheço muito bem o seu currículo escolar filho. Seus pais não iriam gostar de saber que o filho deixou um colega de classe com o olho roxo e outro sem os dentes da frente. -Cuspiu na minha cara.

Respirei fundo e tentei tirar a cara de deboche do meu rosto.

—E eu acho que você não iria gostar de perder milhões apenas por conta de um incidente, não é mesmo?-Perguntei me aproximando dele.

Por mais que fosse rígido o pude ver engolir seco e sorri com isso.

—Irei me afastar de encrencas. -Coloquei o gelo dentro do seu bolso do paletó. —Por hoje. -O adverti e dei tapinhas nas suas costas.

Ele já estava mais vermelho do que um tomate nesse momento.

—Estou de olho em você Moon. -Apontou seus dedos para os olhos e depois para mim.

Sorri para ele, coloquei as mãos dentro dos bolsos da minha jaqueta e dei as costas para ele.

Se eu quiser continuar aqui preciso ao menos me comportar na frente desse idiota o que vai ser difícil agora que ele sabe do meu histórico nos outros colégios.

Vi os universitários com seus casacos de times de futebol e prendi o riso com isso. Eles realmente acham que um casaco irá lhe trazer um diploma no futuro. Um deles inclusive é um dos caras com quem briguei hoje mais cedo. Ele parecia querer avançar em mim a qualquer instante e tirei proveito da situação.

—Deveria me agradecer pelo olho roxo. Ele realmente desviou a atenção dos seus chifres pro rosto. -Zombei enquanto passava por eles.

Ainda sem encará-los pude ouvir o som de resistência e soube na hora que ele estava sendo segurado pelos amiguinhos o que me fez gargalhar alto.

Continuei a caminhar até encontrar um cara vendendo algodão doce. Comprei um e encostei-me em seu carrinho apenas para aproveitar o açúcar derreter em minha boca.

Pude ouvir tiros vindos de uma barraquinha de tiro ao alvo logo atrás de mim.

—Merda. -Foi o que quem quer que estivesse jogando disse.

Ouvi mais cinco disparos e então o silencio tomou conta da barraquinha. Paguei ao homem pelo algodão doce e fui até a tenda de tiro ao alvo.

Uma morena que provavelmente devia ter a minha idade estava parada no balcão apoiada na arma a sua mão. Ela já devia estar na ultima bala disponível e não queria perder a ultima oportunidade.

Estava tão concentrada que não percebeu quando peguei uma arma de porte igual a sua e mirei em um dos patinhos. Antes que ela puxasse o gatilho fui mais rápido e disparei acertando a bala em cheio na barriga de um dos patos onde continha um alvo vermelho.

Ela levantou os olhos um pouco desconfiada e então se deu conta de não havia acertado o patinho, mas eu sim.

—Você tem que ser precisa ao usar uma arma. Não pode sair atirando para todos os lados. –Falei estalando o pescoço.

—Se eu quisesse aulas de como atirar teria me inscrito em um exercito militar. -Atirou a ultima bala nos patinhos já parados.

Por ironia do destino acertou o alvo e tive que rir disso.

—Aquele. -Olhei para o dono da barraquinha e apontei para um dos brindes. Mais especificadamente para a cobra de pelúcia no canto. Ela era negra e tinha os olhos flamejantes. Era linda.

A morena colocou a arma no balcão e saiu dali. Provavelmente estressada por ter perdido.

Já com a cobra em mãos eu podia simplesmente sair dali e voltar para o meu quarto ou até pegar o primeiro vôo para o outro lado do mundo, mas ao ver pelo canto do olho o diretor encostando-se a um dos brinquedos me observando todas as minhas idéias foi por água abaixo me deixando apenas com a opção de fazer algo na merda de um parque de diversão que não tem absolutamente nada de divertido.

Respirei fundo e olhei para a morena já um pouco distante do meu alcance. Ainda não fiz amigos aqui e pra ser sincero nem pretendo. Ou me misturo com os idiotas dos jogadores do time, ou com os nerds, ou com os drogados. A última opção é a mais provável, mas não hoje com o diretor na minha cola o que faz da morena minha única escolha.

Apressei meus passos e fui atrás dela. A desconhecida estava comprando um pacote de pipoca que parecia não ser o necessário para esconder a sua cara de tédio.

—Acho que isso aqui pertence a você. -Coloquei a cobra na frente do seu rosto no intuito de assustá-la ou derrubar a pipoca, mas de qualquer forma não funcionou.

Ela apenas colocou mais uma pipoca na boca e a mastigou com desprezo. Jogou os cabelos para trás e cruzou os braços. Um oculto sinal para me mandar pra puta que pariu.

—Só veio se exibir com a cobrinha?Perda de tempo. -Falou dando as costas para mim.

—Olha eu não sou muito de insistir então apenas pegue logo a droga dessa cobra que eu sei que quer. -A alcancei.

—Eu nem te conheço. -Parou no meio do parque revirando os olhos.

Isso a esta deixando irritada. Perfeito.

—Eu também não te conheço, mas nem por isso estou dizendo que você esta quase tão entediada quanto eu aqui. -Me atrevi a colocar a cobra em volta do seu pescoço e pelo canto do olho a vi amassar o pacote de pipoca com as unhas bem feitas.

Sinto que ela vai me enforcar com a cobra a qualquer momento.

—Sabe essa coisa que você esta tentando fazer?Então. –Deu um sorriso amarelo pra mim. —Não vai funcionar. -Tentou por um ponto final na conversa.

Peguei um pouco de pipoca do saquinho na sua mão e pus na boca. Ela me olhou com nojo e afastou o saquinho de perto de mim.

—Estou tentando fazer o que?-Perguntei com a boca cheia.

A morena voltou a revirar os olhos e respirou fundo. Ela não parece ser muito simpática.

—Essa coisa de acertar o patinho que eu iria atirar, vir atrás de mim pra se esbanjar com a cobra de pelúcia só pra depois que eu lhe rejeitar dizer que sou mimada e assim começarmos uma briga até nos odiarmos mortalmente. Não vai rolar, desculpa. –Sua voz não negava o cansaço que estava sentindo.

Ao menos temos algo em comum.

Segurei-me muito para não engasgar com a pipoca de tanto que eu ri. Cuspi alguns milhos no chão e arqueei a sobrancelha para ela descaradamente.

—Na verdade você esta mais pra neurótica do que pra mimada. -A olhei de cima a baixo.

Essa garota tem problemas sérios e não estou brincando. Talvez as pessoas ao seu redor não percebam, mas pessoas normais não agem assim.

—Não tente me enganar. Sei que apenas acabou de falar isso para que brigássemos, mas eu já disse...

—Já arrumei encrencas demais para um dia. Se eu ao menos tocar em você, você gritar e algum dos responsáveis da faculdade verem isso serei expulso. -Sorri e peguei mais pipoca.

—Andou brigando?-Deu um sorriso de canto.

—Vejo que já começou a andar com aqueles idiotinhas ali. -Apontou para alguns dos novatos que estavam rindo de uma menina nerd que passava por eles.

—Andar com aqueles caras?Sangue por todo o corredor foi nosso aperto de mão. - Joguei uma pipoca para o ar e a peguei com a boca.

—E o que aconteceu?Algum deles roubou a menina que você estava pegando?-Sorriu vitoriosa.

—Na verdade foi o contrário. -Falei orgulhoso de mim mesmo.

—Deixa eu adivinhar,Avery?-Disse na lata.

Não me recordo muito bem o nome da garota, ela apenas estava me dando mole e eu tinha acabado de chegar. Precisava que alguém me mostrasse o quarto.

—Deve ser esse o nome dela. -Estreitei os olhos tentando recordar os acontecimentos de hoje à tarde.

—Parabéns, deve se orgulhar mesmo disso. Talvez até seja o seu ponto alto do dia. -Deu leves tapinhas em meu braço. Percebi que ela tinha se perdido com alguns músculos meus, mas deixei isso passar e apenas ri balançando a cabeça.

—Veio pra cá com quem?-Puxei a cobra do seu pescoço e a coloquei no meu.

—Esta vendo aqueles dois ali no carrinho do túnel do amor que estão praticamente transando em cima do coração?-Apontou na direção de uma garota que se não me engano o nome é Julie e de Max.

—Então você esta no grupo do Max. -Dei um meio sorriso. —Bom saber.

—O conhece?-Perguntou ainda observando os dois.

—Te falei que já me envolvi em problemas demais.

Ela me olhou com desgosto e voltou a revirar os olhos. Deve ser algum habito a julgar que desde que começamos a conversar ela fez isso quatro vezes.

—Então. -Deu de ombros. —São eles.

—Parece que você virou vela. –Zombei.

Os olhos da morena transpareciam espanto o que me fez rir. Ela é muito melhor do que os babacas do time de futebol, e mais gostosa também.

—Estou mais pra camisinha ambulante. -Segui seus olhos e fiz uma careta.

Aquilo não vai acabar bem.

—Esta mesmo. -Disse ainda assustado.

—Mas isso fazia parte do meu plano, assim pelo menos consegui me livrar deles. -Falou voltando a andar.

—Você não é muito amigável, não é mesmo?-Perguntei voltando a segui-la.

Ela já deve estar achando que sou grudento demais, mas ela que pense o que quiser. Eu só preciso continuar nesse maldito parque até o diretor dar o primeiro deslize.

—Não, mas e você?Arrumou confusão com os novatos populares da faculdade, não esta se agarrando com nenhuma garota e não vejo nenhum amigo aqui com você. Estamos no mesmo barco loirinho.

—Tenho que admitir algo para você morena. Não gosto das pessoas daqui. Elas não vivem. -Falei com nojo.

—Já fui expulsa de dois colégios. Acho que é por isso que não sou daqui. –Ela pegou a cobra do meu pescoço e começou a alisar seu pelo negro.

—Sério?De onde você é?-Me animei com a idéia de encontrar alguém que não é daqui. Talvez já seja um começo.

—Miami.

—Eu sou de Chicago. –Analisei os brinquedos ao nosso redor.

Uma idéia insana se passou pala minha cabeça.

—O que estava planejando fazer quando chegou aqui?-Perguntei interrompendo qualquer coisa que fosse sair da sua boca.

—Qualquer coisa que tirasse o meu tédio, mas nem os meus colegas, as barraquinhas, a pipoca ou você estão fazendo isso. –Admirei a sua sinceridade. Muitas garotas não teriam essa mesma coragem.

—Topa sair escondido daqui comigo?-Perguntei de uma só vez.

—Não. -fez uma careta.

Isso a deixava estranhamente sexy.

—E é por isso que você não é acessível. -Apontei para seus amigos que ainda se comiam publicamente.   

—Eu tento, mas se isso não te agrada apenas guarde suas opiniões sobre mim para si mesma porque se eu precisar de alguém para falar dos meus defeitos vou a um psicólogo. -Disse curta e grossa.

—Por acaso sabe com quem esta falando?-Me aproximei ainda mais dela, a desafiando.

Ela ao invés de recuar que era o que constava no meu roteiro preferiu se aproximar ainda mais.

—A partir do momento em que você insiste em conversar com uma pessoa que não liga a mínima para você acho que se sabe exatamente com quem esta falando. -Fixou seus olhos nos meus e eu pude ver faíscas ferventes saírem de suas orbitas.

Começou a acariciar a cobra de pelúcia e percebi que ela queria que eu apenas calasse a boca e fosse embora. Até iria, mas quanto tempo eu passar o mais longe possível daqueles idiotas de merda, do diretor, das drogas e do Max acho que consigo sobreviver à primeira noite aqui.

—Quer ir à roda gigante comigo?-Perguntei na maior cara de pau.

Eu só preciso de alguém para fingir ser meu amigo, é tão difícil assim?

Ela levantou os olhos como se eu fosse um maluco. Acho que já esgotei toda a sua paciência comigo.

—Aceito, mas quando chegarmos ao topo quero que me jogue de lá de cima para eu não ter que lembrar isso depois. -Voltou a caminhar e eu a segui mais uma vez.

—Qual é?Acha mesmo que eu queria estar aqui com você?-Debochei.

—Tem milhares de pessoas aqui e você esta justamente com uma que deseja apenas que você engasgue com o milho de pipoca, o que acha?-Disse brincando com a cobra.

Ela parece ser aquele tipo de pessoa que mata alguém e logo em seguida comparece ao enterro. É das minhas.

—Eu só preciso fingir que estou me enturmando e longe de encrencas ou o diretor me manda de volta pra Chicago. Ele não gosta de mim. -Cacei o diabo com os olhos e ele estava de olho em mim perto de uma tenda. Aquele cara não cansa.

—O que vou ganhar em troca?-Perguntou fazendo pouco caso.

Minhas esperanças acabaram ali. Ela nunca ia aceitar ainda mais quando não tenho nada pra dar a ela no momento, bom não que a agrade.

—A única coisa que eu tenho no momento é uma garrafa de uísque dentro da jaqueta e cigarros dentro do bolso esquerdo da calça.

Eu podia apostar que ela iria correr naquele mesmo instante pra contar ao diretor tudo isso ou até mesmo me manipular, mas não. Ela não fez absolutamente nada.

Virei-me para ir embora e ela puxou a minha jaqueta. Quase senti o couro do tecido rasgar com as unhas bem feitas da morena mortal.

—Uma volta na montanha russa. -Disse em tom de ameaça.

No primeiro instante não acreditei no que eu estava ouvindo. Eu realmente a havia subestimado.

Uma caixinha de surpresas talvez fosse seu real nome.

Prendi um sorriso e seguimos até a fila da montanha russa.

—Estou sem dinheiro pra ingressos então acho que vamos ter que fazer do meu jeito. -Falei a parando antes de se dispor em meio a uma fila com dezenas de pessoas.

—Venha comigo. -Caminhei em direção a lateral da montanha russa. Tinha poucas pessoas conversando ali além dos trilhos coloridos.

Passei por debaixo de alguns deles e ela fez o mesmo. O carrinho estava estacionado a alguns metros da gente e o homem que recebia os ingressos logo a sua frente. Sua cara de tédio seria muito útil no momento.

Esperei ele se distrair com alguns adolescentes de aparentemente doze anos que provavelmente deviam estar tentando entrar no brinquedo. Era a hora perfeita.

—Corre. -Falei para ela e assim corremos em disparada até o carrinho que já estava lotado.

—Tudo bem, podem ir saindo daqui. -A morena foi ríspida ao falar com as pessoas que estavam à frente do carrinho.

Eram dois nerds que provavelmente devem ser namorados. Eles se merecem por agüentar essa vida baseada em estudos o tempo todo.

A jovem de óculos olhou pro namorado assustada e eu apenas revirei os olhos. Pensei que pessoas assim fossem mais rápidas em raciocínios.

—Nós chegamos aqui primeiro. -O garoto com óculos fundo de garrafa disse com a voz tremula.

Ele realmente se atreveu a dizer algo?Essa faculdade é de cabeça pra baixo mesmo.

—Vocês não ouviram o que ela disse?Saiam logo. -O puxei pelo moletom cinza o obrigando a sair do carrinho.

Fui mais cavalheiro com a garota e lhe dei a mão para ajudar a sair.

—Voltem pra fila, tenho certeza que irão encontrar algum assunto sem sal para discutirem enquanto esperam a vez de vocês. -A morena sugou toda a classe do mundo no exato momento em que se sentou no carrinho.

Pulei no carrinho ao seu lado e dei tchau para os dois enquanto o homem que controlava o brinquedo puxava uma alavanca vermelha para baixo.

O carrinho começou a se mover lentamente e eu tirei a garrafa de uísque da jaqueta.

—Se ficarmos bêbados na montanha russa garanto que será mais divertido ainda. -Bebi um terço da garrafa de uma única vez.

Senti minha garganta ser cortada ao meio quando o liquido passou por ali.

Pensei que ela iria se surpreender com isso, mas apenas tomou a garrafa da minha mão e bebeu quase a metade do uísque. Parece que é mais difícil do que eu pensava surpreendê-la.

Arregalei os olhos e tomei a garrafa dela.

—Chega. -Dei um sorriso forçado pra ela.

—Quero não me lembrar dessa noite quando tudo isso acabar. -Disse prendendo o corpo ao cinto de segurança.

Fiz o mesmo e guardei a garrafa embaixo do banco do carrinho. Ele então começou a subir os trilhos e um sorriso se formou no meu rosto.

—O teor alcoólico desse uísque provavelmente é um dos maiores que você irá ingerir em toda sua vida então sem querer te deixar nervosa, mas tem grandes chances de quando chegarmos ao topo dos trilhos de já estarmos bêbados. -Falei animado.

—Me deixar nervosa?Cara você não me conhece mesmo. -Riu ajeitando o cabelo por conta do vento.

Ele ficava mais lindo ainda quando voava.

—Se você diz. -Dei de ombros. —Só não vomite em mim, essa jaqueta foi cara. -Senti o carrinho acelerar.

Já estávamos quase na metade.

—Da pra calar a boca?Apenas aproveite a montanha russa e a bebida pra esquecer tudo o que aconteceu hoje. Quando estivermos de cabeça pra baixo acho que não iremos conseguir pensar em nada, apenas gritar e é por isso que aceitei estar aqui.

—Esquecer até você?A morena psicopata que queria me matar com um milho de pipoca?-Arqueei a sobrancelha fingindo estar magoado.

—Você não pode se esquecer de algo que nunca se lembrou loiro. -Apontou animada para o uísque embaixo do banco.

—Você é estranha. -Falei rindo dela.

—Vou levar como elogio. -Disse se juntando aos risos comigo. Acho que já não estamos tão sóbrios assim.

Desviei os olhos dela e notei que estávamos quase no topo da montanha russa.

—Tudo bem, é agora. –Foi inevitável o frio na barriga quando ouvi os trilhos rangerem abaixo da gente.

—Só espero que... -A frase da morena foi interrompida por ela mesma quando gritou aos quatro ventos.

Nem pude pensar em uma resposta quando o carrinho desceu sem aviso nem prévia e todos que estavam atrás de nós a acompanharam com os gritos.

Pude ouvir a garrafa quebrar embaixo do banco e mesmo assim apenas continuei gritando. Há muito tempo eu não fazia isso.

Quando pensei que iríamos subir mais trilhos o carrinho fez uma curva veloz jogando à morena praticamente no meu colo e se não fosse pelo cinto de segurança creio que ela não estaria mais viva, mas parecia que ela não estava nem ai. Apenas continuou rindo e se ajeitou no banco.

O carrinho subiu mais um pouco e depois de pegar o impulso necessário virou de cabeça pra baixo me fazendo gritar pela primeira vez e pude ouvir a garrafa se quebrar em mil pedaços em alguns trilhos abaixo de nós.

Olhei para a universitária ao meu lado e ela estava com os olhos brilhando. Ocupada demais gritando para lembrar-se da garrafa.

Quando o carrinho voltou ao normal ela sem perceber pegou em minha mão e a apertou com toda a força possível quando descemos os trilhos com o carrinho ainda mais veloz. Nem tive tempo de sentir dor. Aquele momento havia sido um dos melhores da minha vida com bebida ou não.

***

—Eu nem devia estar te contando isso, mas fui expulso uma vez do colégio por ter transado com a professora de matemática. -Traguei meu terceiro cigarro.

Depois de quase morrermos de tanto rir ou talvez por conta de uma overdose na montanha russa percebemos que o único lugar seguro o bastante para fumarmos escondido seria na roda gigante.

—Só?Já fiz coisa pior do que isso. -Se ajeitou melhor no assento e colocou suas pernas em cima do meu colo.

Ela não poderia me culpar de nada caso em algum momento me pegasse de olho em suas coxas.

—Tipo o que?-Perguntei acendendo seu cigarro com um isqueiro.

—Tipo ter um caso com o diretor do colégio e fazê-lo me passar de ano. -Se aproximou de mim e sobrou toda a fumaça que se mantinha presa em sua boca.

—Tudo bem, você ganhou, mas só dessa vez. -Ergui as mãos em forma de rendição.

Ela riu e encostou a cabeça em um dos ferros coloridos que suportavam o nosso peso no assento. Nesse momento já estávamos quase no topo.

—Você vai sentir falta dos seus pais enquanto estiver aqui?-Perguntou depois de alguns minutos.

Seus dedos brincavam com o cigarro enquanto uma expressão indecifrável se apoderou do seu rosto.

—Saudade deles dizendo que eu nunca serei nada na vida mesmo indo para uma das melhores faculdades do mundo?Claro que irei sentir. -Ironizei.

—Bem vindo ao clube. -Ela disse de forma amarga.

—Seus pais também pensam isso de você?-Perguntei feliz. Não por ela talvez se sentir do mesmo jeito que eu, mas por que podíamos desabafar isso um com o outro.

Eu só posso estar muito bêbado mesmo porque as chances de virarmos amigos depois de hoje são quase nulas.

—Não mantenho uma boa relação com meus pais. Desde que descobriram sobre o meu caso com o diretor eles me olham de forma diferente e é por isso que eu escolhi essa faculdade. Quero ficar o mais longe possível deles.

Ela estava sendo sincera comigo e não o tipo de sinceridade cujo único intuito é te ferir. Isso era o que eu nunca pensei que ela seria. Não comigo.

—Eles sabem que você fuma?-Perguntei apontando pro cigarro em sua mão.

—Não sou uma viciada Ken. Apenas faço isso por diversão e eles nem desconfiam se quer mesmo saber. -Deu de ombros.

—Acho que temos muito mais em comum do que aparentamos ter. -Falei seco.

Ela que estava recostada no banco me olhou de cima a baixo e começou a rir.

—Já falei que não vai rolar nada loiro. -Disse voltando a tragar o cigarro que roubei de um senhor no avião quando estava vindo para cá.

—Quantas vezes vou precisar dizer que não estou dando em cima de você?-Perguntei com raiva.

—E esta fazendo o que?Temos 19 anos, já aprendi muito com caras como você. -Debochou

Se o que ela queria era me magoar falhou e muito.

—Tenho milhares de garotas aos meus pés então lhe garanto, não estou dando em cima de você.

Ela se calou e terminou seu cigarro. Não triste, magoada ou irritada. Apenas pensativa.

—Não preciso de um namorado Austin, preciso de um amigo. -Falou depois de muito tempo.

Levantei meus olhos até ela e percebi que esse era seu ponto fraco. Não a relação com seus pais ou namorados. Seu ponto fraco eram seus amigos.

Assenti vagarosamente, no entanto não comentei mais nada sobre o assunto e assim continuamos apena com os cigarros na boca, álcool na cabeça e escuridão em nossos corações.

Sem falar que a roda gigante já estava em sua ultima volta e ela ainda não tinha me dito seu nome.

—Vai embora sem se apresentar mesmo?-Tomei iniciativa.

—Porque iria querer saber meu nome?Ainda vamos nos esbarrar muito na faculdade. -

—Apenas por curiosidade. -Dei de ombros.

—Eu acredito que algo de que gostemos muito ou praticamos pode dizer mais sobre nós do que nossos próprios nomes. -Sorriu para a vista ao nosso redor.

—Então o que te definiria?-Questionei um pouco curioso demais.

—Primeiro você. -Respondeu na lata.

—Eu o que?-Prendi o riso.

—Algo que seja a chave para saber exatamente quem você é. -Disse ainda com um sorriso no rosto. Isso lhe dava um ar de leveza o que combinava muito com a morena.

—E porque eu lhe diria algo desse tipo?-Franzi a testa.

—E porque queria que eu falasse algo desse tipo?-Respondeu com a minha pergunta.

Ela tinha razão. Tínhamos que ser justos um com o outro.

—Não é um hobby, creio que esta mais para um lema. -Prendi meus olhos em qualquer lugar que não fosse nela.

—Diga. -Sua voz parecia como uma lâmina afiada.

—Se você não é meu parceiro sua namorada é solteira pra mim. -Soltei de uma única vez.

Ela tirou suas pernas de cima de mim e se aproximou ainda mais.

—Gostei. -Disse quando já estávamos prestes a sair do assento.

Que tipo de garota gosta de ouvir isso de alguém?

Distrai-me tanto com meus pensamentos que quase a deixei escapar sem dizer mais nada.

—E quanto a você?-Segurei seu braço quando ela se levantou do assento.

A morena deu um sorriso frio para mim e se aproximou.

—Você só precisa saber uma coisa sobre mim loirinho. -Se virou para ir embora.

—Louis Vuitton é meu marido.


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Notas finais do capítulo

Como eu já disse ele deu muito trabalho para ser escrito e por isso acho que mereço muitos comentários e por isso por favor comentem.



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