Expressão Psicopata escrita por AndyJu


Capítulo 11
Sacrifício




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677392/chapter/11

Sr. Melo e Andy ainda estavam assustados com o ocorrido. O garoto fica confuso, nunca tinha visto algo sobrenatural além do fantasma. Antes que Andy pudesse falar algo, Henrique diz:

—O deus Artaius é um deus urso. Ele rege a natureza, as frutas, as colheitas, aquilo que uma cidade precisa para prosperar. Quando eu era jovem, minha família era adepta de sua religião, e nosso principal deus era Artaius. Me diga uma coisa, aquele fantasma já apareceu para você alguma vez?

—Sim, ele apareceu várias vezes... Tinha parado há vários anos e voltou agora! Olha, Henrique, eu estava investigando esse suposto suicídio do meu pai, e também a morte da minha mãe, esse fantasma é o culpado de tudo isso! Você precisa me dizer o que você sabe, por favor...

Sr. Melo olha para o garoto, sentindo que precisava falar tudo o que tinha conhecimento sobre os casos da Expressão.

—Jovem, vou te contar toda a história desde o início. Talvez você entenda por que seu pai foi vítima de Edgar.

Henrique conta tudo que havia acontecido nos primeiros anos de fundação da cidade de Cerranilla. Quando Henrique tinha 20 anos, a cidade foi fundada pelas famílias ricas da sua religião, a que cultuava o deus urso Artaius. Tudo na cidade era bom, as famílias viviam felizes, as colheitas eram boas, não havia pobreza, pois todos se ajudavam. Começaram a vir mais pessoas para a cidade, que cresceu. Não eram mais apenas os religiosos de Artaius que viviam lá, e sim gente de toda fé. Ainda era uma cidade bem pequena, bem menor do que é atualmente. Tinha apenas uns 2 ou 3 bairros. Alguns poucos anos após a fundação, a cidade entrou em crise. As colheitas começaram a ficar ruins, o povo ficou doente e sem assistência médica, as coisas não vendiam mais porque as pessoas não tinham como comprar. Foi quando Henrique tinha 27 anos que fizeram o sacrifício. O sacerdote disse que havia recebido uma visão do deus Artaius. O menino mais puro do povo devia ser sacrificado, com pernas e braços de urso, para que Artaius tivesse um novo filho. Como não haviam ursos na região, usaram um de pelúcia, porque pensaram que poderia dar certo, e acertaram. O sacerdote era inimigo dos pais do garoto, e isso só foi descoberto vários anos após o sacrifício, sendo que a religião foi erradicada por causa disso. No dia do sacrifício, todos que entregassem oferendas poderiam fazer um pedido. O sacerdote, que entregou o garoto, pediu prosperidade na cidade. Esse foi o pedido mais importante. Henrique pediu para se tornar rico. A mãe de Henrique pediu para que o filho não sofresse nunca. Foi o pedido mais inteligente de todo o povo. Quando a polícia encontrou o corpo, o fantasma já tinha estava liberto. Aqueles bilhetes eram do próprio fantasma, que escrevia como se fosse outra pessoa, mas se referindo a ele mesmo. Ele acabou se transformando em um espírito vingativo e psicopata, começou matando todos que tocavam nos bilhetes. Depois Henrique percebeu que os mais velhos estavam morrendo por causa do fantasma, e só os mais novos sobreviviam. Quando eles tinham filhos, estes sobreviviam, mas os pais não. Henrique notou que apenas os pais bastante ligados aos filhos morriam, então o fantasma poderia estar matando apenas as pessoas com quem eles tinham laços. Era como se o fantasma esperasse todos daquele povo terem descendentes e então matasse os pais, e assim durante gerações.

Andy ouvia atentamente toda a história, olhando nos olhos enrugados do Sr. Melo, que gesticulava com as mãos conforme contava o que havia acontecido. O rapaz pensa um pouco e depois pergunta:

—Quer dizer que meu avô pode ter sido um dos que participaram do sacrifício? E por isso as pessoas próximas a mim morreram?

Henrique suspira, em decepção. Ele olha para Andy, triste. O garoto sentia que ele tinha algo muito importante para dizer.

—Andy, seu avô foi o sacerdote.

—C-como?? –Andy responde, incrédulo. Como seu próprio avô poderia ser o causador daquela tragédia? Andy nunca tinha conhecido os avôs, mas mesmo assim ele se sentia indignado por isso. Sr. Melo responde.

—Eu sei que pode ser difícil para você. Também foi quando descobrimos que ele havia feito isso porque tinha inimizade com a família. O resultado desse sacrifício foi um espírito vingativo... E uma religião desfeita.

Andy fica chocado com toda aquela história que Henrique havia contado. Como as pessoas podiam aceitar fazer um sacrifício humano em nome da religião? Ele não podia aceitar isso. Também não podia aceitar que seu avô era o sacerdote que ordenou esse sacrifício. O garoto percebe que está muito tarde e pergunta para Henrique se podia dormir na sua casa. Ele deixa, pede para os empregados arrumarem o quarto de visitas. Andy se deita na cama enorme, encantado com tamanho luxo presente no quarto. Ele se sente mal só por pensar que esse dinheiro veio de uma oferenda a um deus que pediu um sacrifício humano.

—Como uma religião se submete a esse tipo de sacrifício?? Será que eles não se sentiam mal por terem que oferecer um garoto inocente somente para viverem melhor?

Em meio a pensamentos de indignação, o rapaz adormece. Acorda com o despertador do celular. Era 08:45. Sr. Melo já estava tomando o café da manhã na sala de jantar, que tinha uma mesa muito comprida. Ele convida Andy para se servir. O garoto ainda está um pouco atônito com a história que Henrique contou.

—Henrique, por acaso você saberia me dizer ou escrever todos os que participaram do sacrifício?

—Eu sinto muito... Eu não conhecia todos, eram várias pessoas. Eu não era muito ligado à religião. Eu nem conhecia a família que entregou o garoto. A família dele também cultuava Artaius, e sem pestanejar entregaram o próprio filho... –Henrique falava com um pesar no seu tom de voz. Ele parecia arrependido de ter pedido um desejo tão egoísta. Ele continua:

—Se eu pudesse voltar naquela época, eu mesmo impediria a morte do garoto. Ou então pediria para que o garoto descansasse em paz. Eu poderia evitar a morte de muitas pessoas apenas com um pedido diferente...

Andy percebe o arrependimento no olhar do velho Sr. Melo. Os dois tomam o café trocando poucas palavras. Antes de ir embora, o rapaz faz as últimas perguntas para o Sr. Melo:

—Você teria alguma ideia de como eu poderia fazer Edgar descansar em paz?

—Eu sei como fazer isso, mas estou muito velho, e apenas outro velho tem acesso ao objeto necessário. E esse outro velho já está morto...

Andy pensou um pouco no que Henrique estava dizendo e prontamente retirou aquela antiga chave do bolso. Ele balança a chave na frente do Sr. Melo, dizendo:

—Por acaso o velho seria o Astolfo, e o objeto seria esta chave?

Sr. Melo, surpreso (e um pouco bravo), pergunta:

—Garoto, onde você conseguiu isso??

—Peguei nos arquivos da biblioteca quando eu era criança. Sempre guardei ela, achei que fosse a “chave” para resolver o mistério do suicídio do meu pai. Pelo visto eu estava certo! –Andy fala, sorrindo. Agora poderia acabar com todo esse sofrimento que várias famílias estavam passando ou iriam passar. Andy indaga:

—Mas o que essa chave abre?

Henrique o responde, com seriedade:

—Ela abre um baú antigo, onde estão os restos do urso que trocaram os membros com os do garoto. Os membros de verdade dele foram queimados. Você precisa queimar esses restos, mas estão em um lugar muito difícil de encontrar. É no meio da floresta, mas não sei a localização exata e nem um ponto de referência. Eu só sei que é como um abrigo subterrâneo, com um alçapão coberto de mato. Lá ficavam os artigos religiosos.

Andy fica feliz por saber que existe como terminar com os assassinatos, mas também sente que é um desafio encontrar um alçapão no meio da floresta.

—Por acaso esse alçapão é de madeira?

—Que eu saiba, ele é de ferro. É pesado, e também deve estar enferrujado...

O rapaz estala os dedos, tendo uma ideia em mente:

—Eu já sei o que posso fazer pra encontrar! Preciso ir, Sr. Melo! Opa, Henrique! Até mais, muito obrigado por deixar eu ficar aqui noite passada! Tchau! –Ele sai correndo com sua bicicleta. O garoto vai até a antiga casa de Jhonny, mas para ver a senhora que entregou a carta. Ela talvez tivesse algum telefone ou algo assim. Ele chama a senhora, que o atende no portão.

—Você é aquele Anderson, amigo do Jhonny, certo? Posso ajudar?

—Sim, sou eu! Eu preciso saber se você tem o telefone ou quem sabe email do Jhonny, eu quero falar com ele, mas não tenho nenhuma informação de contato.

—Claro, ele anotou o telefone dele e deixou aqui, esqueci de deixar com a carta! –A senhora fala com um grande sorriso no rosto, rindo por sua falha na memória, e volta para dentro de casa. Alguns instantes depois, ela volta com um papel e o entrega para Andy.

—Aqui está, tem o celular e o telefone fixo.

—Muito obrigada, senhora...

—Margarida. Meu nome é Maria Margarida. Até mais, jovem!

—Até! –Andy responde, subindo em sua bicicleta e indo para sua casa, onde tinha telefone. Ele liga para o número que estava no papel, e Jhonny atende.

—Alô?

—Oi Jhonny, sou eu, Andy! Como você está?

—Caraca, quanto tempo! Estou bem, graças às tecnologias que instalei em minha casa! E você? Tudo bem com a Júlia, também?

—Mais ou menos, fui atacado duas vezes pelo fantasma depois que saí do orfanato, mas já descobri como acabar com ele. Eu e Júlia estamos namorando há alguns anos!

—Desejo felicidades a vocês! Mas espera, você disse que já sabe como acabar com ele??

—Sim, e para isso preciso de uma ajudinha sua. É uma coisa um pouco difícil de conseguir.

—E o que seria?

—Um detector de metais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Comentem! Isso inspira o autor a escrever mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Expressão Psicopata" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.