Tudo de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 33
Pior natal de todos.




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— Vocês vieram! – Tentei dar o meu melhor sorriso.

Abracei primeiro o Alex, muito desconfortável. E depois o Luiz.

— Pois é. O Luiz insistiu muito.

— Mentiroso! – Ele olhou feio para o Alex. — Você estava louco para vir também.

Opa.

Acho que eu não preciso saber desses detalhes. Mas preciso agir rapidamente e pensar no que fazer a seguir: apresenta-los ao resto do pessoal, oferecer alguma coisa para comer ou beber, mostrar a casa, manda-los embora agora mesmo?

Pensa, Luciana. Pensa.

— Alex, quanto tempo! – Eis que surgiu a minha salvação. Fabi que foi direto abraça-lo e depois cumprimentou seu irmão com um beijinho no rosto.

Logo atrás dela estava o Chris, surpreso, e um Lorenzo, sem expressão.

Pronto, agora já era. Lorenzo vai me odiar para sempre. É obvio! Uma coisa é ele tentar me entender. Outra coisa é ele aceitar eu estragar sua noite de natal. Nossa noite natal. Trazendo meu ex-namorado aqui, na casa dos seus tios, o ex-namorado que eu provavelmente ainda ame muito, sinta falta e tenha vários problemas.

Sinto-me pior do que eu esperava. Eu não deveria ser tão estupida. Não deveria feri-lo assim como se essa fosse meu principal intensão. Eu disse várias vezes, olhando nos olhos dele, que eu quero só ficar com ele nesse momento. E garanti a mãe dele que jamais o machucaria e olha só para mim agora: fazendo o inverso disso tudo.

Boa, Luciana. Parabéns.

— Fabi, você pode, por favor, acomodá-los em alguma mesa disponível?

— Oh, claro. Me acompanhem, rapazes.

Por fim, Lorenzo e eu estávamos a sós novamente.

— Mil desculpas... Lorenzo, eu não sei. Não sei o que eu tinha na cabeça...

— Luci, porque você não me contou? – Ele interrompeu, parecia chateado.

— Eu não sei! Eu só o convidei por pena.... Com todo esse negócio da mãe dele... Não esperava que ele fosse aparecer. Eu realmente não queria...

— Mas você o convidou mesmo assim. Você queria.

— Sim, mas.... Não desse jeito. Não dessa forma. Foi uma atitude estupida e muito mal pensada. Em momento algum eu tive a intensão de ferir você...

— Luci, eu só estou chateado. Só isso. Você poderia ter me dito que estava querendo convida-lo para essa noite. Eu teria entendido. Mas você não disse nada e me pegou totalmente de surpresa e desprevenido...

Ele não precisou dizer muito. Eu tinha entendido. Eu sou uma estupida incorrigível e agora não suporto a forma como ele está me olhando, com tanta magoa.

— Lorenzo...

Tentei me aproximar, mas ele simplesmente se esquivou, saiu de perto e desapareceu.

Ótimo, Luciana. Estragou a noite.

Depois disso me senti péssima todo o tempo.  E só queria que estivesse disfarçando isso muito bem para ninguém perceber e me questionar.

Foi ainda pior ter que bancar a anfitriã, sentando na mesa com eles e puxando assunto, já que eles não conheciam nem metade das pessoas ali.

Alex ficou mais calado, observando tudo com atenção, quase nem olhando para mim ou prestando atenção. Luiz falou mais. Falou sem parar. Sobre a nova escola, os novos amigos, os novos jogos, suas novas conquistas, suas series, seus filmes...

— Fala para ela da sua nova namorada. – Alex resolveu dizer.

— Eu nunca tive uma namorada! – Luiz se defendeu.

— Mas agora tem. – Alex sorriu para ele.

— Não é verdade!

— Me conta, vai. Quem é ela? – Olhei para ele, sorrindo.

— Não é ninguém. Só uma garota da rua.

— Muito gatinha, por sinal. – Alex observou.

— É mesmo? – Olhei para ele com interesse.

— É, fala para ela, Luiz!

Luiz ficou vermelho de tão sem graça, mas acabou falando da tal garota, uma tal de Tainá, porque ele provavelmente estava tendo uma paixão secreta.

Eu juro que tentei me distrair com tudo isso, mas não conseguia parar de pensar no Lorenzo, agora sentado na mesa com os pais, conversando com eles.

Será que ainda estava chateado comigo? Será que resolveríamos isso ainda essa noite? Será que ele me perdoaria algum dia? Será que ainda seriamos os mesmos? Será que ele ainda me via da mesma forma?

— Trouxe mais refrigerante. – Anunciou Fabi ao se aproximar.

Ela estava se saindo uma ótima cumplice.

Aproveitei para me levantar.

— Preciso ir ao toalete. Não demoro.

Na verdade, era só uma desculpa de sair daquela mesa.

Entrei na casa, mas antes lancei um olhar na direção do Lorenzo, meio que sugerindo para que ele viesse junto comigo, porque eu precisava dizer algo. Mas se ele captou a mensagem, preferiu fingir que não. E isso me deixou ainda pior.

— Estou causando algum problema a você? – Ouvi Alex perguntar ao se aproximar de onde eu estava tomando um pouco de água na cozinha.

— Não. – Sorri. — Está tudo certo. Não se preocupe.

— Não é o que parece. Seu namorado parece não ter gostado nem um pouco da minha presença aqui essa noite. Olha, eu não quero causar ainda mais problemas. Eu posso ir embora, se você preferir.

— Não. Não precisa se incomodar.

Alex bancando o bom moço? Uau. Fascinante!

Lá fora, a mãe do Chris bateu numa taça, chamando a atenção de todos e anunciou que o baquete estava liberado. Quando vi as horas notei que já era quase meia-noite. Já era quase natal e estava tudo uma bagunça.

Nada como eu tinha imaginado.

— O Lorenzo disse alguma coisa? – Perguntei bem próxima a Fabi, em volta da mesa, enchendo meu pratinho de tudo que via pela frente.

— Que tipo de coisa?

— Sobre o Alex!

— Não.... Porque? Vocês brigaram?

— Acho que posso dizer que sim. Ele mal olha para mim agora!

— Puta merda!

— Pois é..... Uma droga!

— Você vai dar um jeito nisso.

Eu queria que isso fosse possível.

Comi sozinha em um canto, até que.... Bum.... Muitos fogos, abraços, beijos, comemoração. Era meia-noite. Era natal. E todos em volta pareciam felizes e satisfeitos.

Exceto, euzinha aqui.

Primeiro, fui cumprimentar meus pais, depois os adultos em volta, meus amigos e por fim o Alex e o irmão. Nenhum sinal do Lorenzo. Onde foi que ele se meteu?

Não sei quem diabos teve a ideia de por uma musica romântica e abaixar as luzes. Acho que foi ideia do pai do Christian que pelo que parecia estava levemente alcoolizado. Só sei que deixou tudo ainda mais deprimente e triste. Principalmente quando os casais foram juntos dançar no meio do jardim, inclusive meus pais.

Olhei para baixo e respirei fundo, tentando não chorar.

Alguém me cutucou.

— Podemos dançar?

Era o Lorenzo. Nem podia acreditar.

Peguei a mão dele estendida e lá fomos nós.

Ele colocou a mão na minha cintura e eu coloquei minha mão em seu ombro e nós balançamos devagar para o lado e para o outro sem dizer nada.

— Me desculpe por ter agido feito um babaca.

— A culpa não foi sua. A culpa é toda minha.

— Não. Olha – Ele se afastou o bastante para poder olhar dentro dos meus olhos, mas continuamos dançando. — Tenho uma coisa importante que eu preciso te dizer faz um tempinho e que eu também deixei para lá com medo do que isso poderia causar.

Meu coração bateu em disparada.

Fechei os olhos com forças. Acho que vou chorar. Ele vai terminar comigo. Cansou de mim. Encontrou outra. Desistiu de nós. A outra é melhor e capaz de ama-lo do jeito que ele merece. A outra não tem problemas com o ex-namorado e nem o convida de surpresa para uma festa que tinha tudo para ser perfeita.

— Luci, estou de partida.

— O quê? – Abri os olhos, assustada.

— Sim, é isso. Estou indo embora.

— Não! Mas porquê? A festa nem terminou!

— Luci, não é isso.

— Então...

— Recebi uma proposta de emprego em Washington. Uma oportunidade única. Com direto a uma especialização. Eu nem tive como recusar!

— Mas.... Quando?

— Depois de amanhã. Vou embora depois de amanhã.

Eu me afastei dele, em choque.

— E porque você não me contou antes?

Eu meio que gritei nessa hora, com o rosto queimando e as lágrimas transbordado dos olhos, algumas pessoas em volta olharam para nós, curiosas.

— Luci, espere...

Eu saí correndo dali o mais rápido possível.

— Luci. Por favor. Entenda!

Infelizmente ele acabou me alcançando. Eu não tive muito para onde ir.

— Lorenzo... Eu não posso.... Eu não suporto.... Perder você.

— Eu sei, eu sei.

Ele veio até mim com os olhos vermelhos, acho que se segurando para não chorar comigo e tornar tudo ainda pior.

Ele me abraçou por um tempão enquanto eu chorava sem parar no peito dele, com o corpo todo tremendo.

Era horrível. Uma dor terrível.

Definitivamente o pior natal da minha vida.

— Eu sinto muito por não ter contado isso antes. Foi injusto, eu sei. Mas eu estava com medo. Eu quero muito ir, mas tenho receio de te deixar...

Assim que consegui me conter, nós nos sentamos na sala vazia, um de frente para o outro.

— Sinto muito.

— Não. Tudo bem. – Tentei sorrir enquanto limpava as lágrimas. — Você merece o melhor dessa vida.

Ele me abraçou de novo e quase não consegui conter as lágrimas.

— Eu te amo, Luciana. Amo de uma forma que eu nunca achei que fosse possível amar uma pessoa. E dói ter que te deixar. Mas eu sei, você sabe, meu lugar não é aqui. Não é com você. Eu ainda não encontrei meu lugar, mas posso dizer que você foi como uma luz, que me guiou todo esse tempo em que estivemos juntos por um caminho imaginável, um caminho desconhecido. Eu nunca vou te esquecer. Nunca! Sempre seremos amigos. Mas nunca seremos nada além disso: amigos que se atraem um pelo outro as vezes. Seu coração não é cem por cento meu. Seu coração nunca será cem por cento meu. Uma parte dele está em outro lugar e nós sabemos exatamente aonde.

 Ele disse tudo isso com os olhos escorrendo de lágrimas e isso deixava claro o quanto aquilo era doloroso para ele também.

Eu o beijei de leve nos lábios molhados e ele me puxou para junto dele, para um abraço que eu não queria que tivesse fim.

— Eu te amo, Lolo. Eu sempre vou te amar. – E nós nos beijamos, com o coração apertado.

~*~ 

— Você está bem? – Fabi veio até mim quando enfim me encontrei sozinha, limpando o rosto para esconder a infelicidade.

— Estou. Eu acho.

— Ele te contou, não foi? – Perguntou ela, tocando meus cabelos.

— Você sabia?

— Mais ou menos. Ele procurou eu e o Chris antes de resolver falar com você. Então, eu meio que sei. Mas sem muitos detalhes.

Então dei os detalhes a ela.

— Isso é horrível, Luci. – Ela me abraçou, antes que eu começasse a chorar de novo e de novo, sem parar. — Mas e agora? E vocês?

— Ele vai embora. Eu vou ficar. E fim.

— Não pode ser só isso.

— Não tem outro jeito, Fabi. É assim que tem que ser. É assim que vai ser. Eu o perdi.

— Não é verdade...

— É a verdade e quer saber? Eu mereço. Eu sou uma pessoa cruel e não mereço a felicidade.

Luci me deu um tapa.

— Não é verdade!

Ela me acompanhou de volta ao jardim onde a festa continuava acontecendo e os convidados pareciam cada vez mais soltos e alegres. Fui até o Lorenzo e o convidei para uma dança. Agora que sabia que ele ia embora, não ia desgrudar dele.

— Porque é tão difícil deixar você ir? – Perguntei de olhos fechados, com a cabeça apoiada em seu peito.

— Porque eu sou um cara extremamente irresistível.

Não pude deixar de sorrir.

— Sim, você é.

E ficamos calados por um bom tempo, pois tudo que eu queria dizer naquele momento parecia não caber em palavras.

— Será que eu posso...?

Alguém estava nos interrompendo. E esse alguém era o Alex.

Assim que abri os olhos e o vi ali, me afastei do Lorenzo.

— Alex, não é um bom momento...

— Não, tudo bem. – Lorenzo me soltou.

Olhei para ele chocada. Não queria que ele me soltasse. Não queria que ele me deixasse agora. Queria ficar com ele. Aproveitar o tempinho que ainda tínhamos.

— Nos vemos mais tarde. – Ele beijou minha testa e se foi.

Antes que eu tivesse a chance de olhar feio para o Alex, para deixar bem claro o quanto a culpa daquilo era todo dele, ele se aproximou e me envolveu com os braços para podermos dançarmos mais perto um do outro.

—  Você é uma babaca, sabia? – Murmurei.

— Eu sei. Me desculpe. Eu não imaginava que... Eu só queria uma dança.

— Tudo bem. – Suspirei. — Mas fique calado, pelo menos.

Como já era de se esperar: ele não ficou.

Seu silêncio deve ter durado uns dois segundos.

— Obrigado por ter me convidado para essa festa. Eu pensei em seriamente em não vir. Estava disposto a não vir. Mas aí, de repente, achei que não seria justo com o meu irmão. O natal é especial para ele e sem a nossa mãe por perto.... Parece estranho.

— Fico feliz que tenham vindo.

Em parte, sim, eu estava.

— Ele está muito feliz. Fez até alguns amigos!

— Ótimo.

Eu realmente não tinha nada mais inteligente para dizer, já que só conseguia pensar que perderia o Lorenzo em poucas horas.

— E obrigado por ainda se importar.

Resolvi olhar diretamente dentro dos olhos dele.

— É, eu me importo. Mas não com você. Você não merece. Eu me importo com o Luiz.

Apesar de tudo, Alex não se ofendeu.

— Uau. Você está bem afiada hoje...

— Pois é. – Senti-me mal por isso. — Desculpe. É só que... Tem tantas coisas acontecendo.

— Coisas ruins?

— Coisas péssimas!

— Quer conversar? – Ele me olhava com certo afeto.

— Não parece certo.... Com você.

— Como assim?

— Sei lá! Nem amigos nós somos mais.

— Eu pensei que fôssemos...

— É claro que não somos.

— Então, nós podemos ser.

— Não acho que isso vai dar muito certo.

— Podemos tentar.

Pensei um pouco.

— É. Talvez. Mas não agora. – Me soltei dele. — Se me der licença, tenho umas coisas mais importantes a fazer. Mas obrigada por ter vindo. Continue se divertindo.

E saí correndo antes que ele pudesse me impedir.

Procurei o Lorenzo por toda parte, mas não o encontrei.

Mas uma vez ele havia desaparecido.

Voltei para o jardim, para a festa, que estava esvaziando aos poucos. Já estava muito tarde. E as pessoas já estavam bêbadas e cansadas, loucas para irem embora por já terem aproveitado o bastante.

— Fabi, você viu o Lorenzo?

— Ah, sim, vi sim. Ele estava lá fora, batendo papo com o Alex.

— O quê?

— É, eles pareciam bons amigos.

— Não acredito!

— Nem eu acreditei! Mas achei fofo.

Merda, merda, merda.

O que será que eles conversaram?

Saí em disparada lá para fora, onde encontrei meus pais já de saída. Me despedi deles e disse que iria ficar mais um pouco. Eu precisava ficar. Tinha que ficar.

— Luci?

Virei-me para trás, imediatamente. E lá estava ele.

— Que bom que você me achou! – Eu o abracei. — Será que podemos ficar juntos agora? Só nós dois.

— Claro. – Ele abriu um sorriso genuíno.

Primeiro, nós saímos para caminhar, de mãos dadas. Conversando o tempo todo como se o mundo não tivesse desabado sobre nossas cabeças. Durante o trajeto nós cumprimentamos um pessoal bêbado e por fim, chegamos a uma praça vazia.

Ficamos abraçados, em um banco mais afastado, observando o céu. Sem dizer absolutamente nada um para o outro. Apenas juntos, o máximo que podíamos. E nos beijamos também. Ou ficamos olhando um para o outro com um sorrisinho.

Não era a despedida ideal que eu tinha em mente. Eu não sou muito criativa pra esse tipo de coisa. E eu meio que ainda estava perdida, sem saber o que pensar quanto a isso. Mas foi perfeito estar ali com ele, curtindo nossos últimos minutos juntos antes de tudo mudar.


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Notas finais do capítulo

Pra quem gosta do Lorenzo, é uma pena que ele esteja de partida, não é? Mas quem gosta do Alex deve ter amado isso. Afinal, essa é a chance dele. Isso se ele ainda estiver disposto a tentar algo - seja amizade ou seja uma reconciliação - com a Luci. Comentem! Me digam tudo que vocês esperam da história agora que está terminando.