A Snake's Letter escrita por Mayfair


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Carta


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem!



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Sabe? Eu nunca pensei que chegaria a esse ponto, não mesmo, eu nunca imaginei que numa noite como essa, abafada e densa eu estaria sentado no escuro do dormitório, apoiado na escrivaninha com uma garrafa de firewhisky pela metade e cogitando realmente a possibilidade de escrever uma carta para Hermione Sangue-Ruim Granger, a Irritante Sabe-Tudo mais insuportável de toda Hogwarts.

Granger, se você estiver lendo isso, eu estou louco, completamente louco, eu posso estar cogitando suicídio, chame ajuda!

Eu não faço ideia do porque continuo a escrever, é como se minha mente (agora tomada pelo efeito embriagante do firewhisky, maldito firewhisky!) estivesse perfeitamente combinada com os movimentos da minha mão ao segurar essa pena e eu não pudesse fazer nada. Não posso.

Merlin sabe que eu preferia cuspir nesse pedaço de pergaminho e rasga-lo em mil pedaços a desenhar letras que formem os adjetivos ‘linda’, ‘atraente’, ‘estranhamente sexy’ e ‘tão inteligente que me intimida’ e atribuí-los a você. Mas como eu disse antes, não faço ideia do porque estou fazendo isso.

Imagino sua expressão se ler isso, e imagino sua reação ao saber que foi escrita por mim. Seria a mesma expressão com a qual você olha para o imbecil pobretão do Weasley?

(Aliás, por que você gosta dele? Sério. Dentre todas as pessoas que existem, por que ele? O que ele tem de especial? Você tem um péssimo gosto, Granger, péssimo.).

E seria a mesma reação que teve quatro anos atrás, quando esbofeteou meu rosto? Ou ainda, quando me ameaçou em frente à Casa dos Gritos para defender o Weasley?

(Aliás, por que você gosta dele? Sério. Céus, ele é tão patético, Granger.).

A resposta dessas questões fica apenas na minha imaginação, acredito, a não ser que você leia isso na minha frente, mas não sabemos nem se você vai de fato ler isso um dia.

Ah! Eu a odeio, Hermione Granger, eu a odeio tanto que não consigo explicar, você é arrogante, prepotente, metida e assustadoramente forte para uma garota. Mas eu sou um cara legal, eu sou um cara incrível e ainda que eu a odeie, eu admito que tenha algo em você que me faz querer conhece-la por inteiro, tem uma beleza nesses gigantes olhos cor de mel que me faz ter vontade de encará-los sem parar e tem uma estranha sensualidade nesse jeito ogro e bruto como você age, que me faz querer beijá-la desesperadamente.­­

Estou bêbado, completamente bêbado, mas...

E antes que pudesse concluir seu pensamento, Draco Malfoy adormeceu sobre o pedaço de papel em cima da escrivaninha.

***­­­­­­

O clarão invadindo seus olhos e a pancada de dor na cabeça foram os pontos de ignição do dia de Draco, seu corpo inteiro doía devido a posição na qual havia dormido e após levantar abruptamente da cadeira onde se encontrava, desejou que não o tivesse feito.

— AAAAAAAH!

O grito de dor estridente ecoou pelo quarto e com um sorriso debochado a voz de Blaise Zabini surgiu vinda de uma das camas ao lado.

— Acredito que Dumbledore não tenha ouvido seu grito ainda, pode repetir?

— Por que diabos você não me acordou? Ia doer muito se você dissesse um ‘ei, Draco, a cama é por ali’?

— Perdão, mas você estava acabado, se não estivesse respirando diria que estava morto. – o tom despreocupado de Blaise era algo que Draco vezes amava e vezes detestava – Aliás, você está acabado, o que houve ontem à noite?

— Ontem à noite? Ontem... – Draco espremeu os olhos e começou a garimpar sua memória – Eu não faço ideia.

— O que?! Quer dizer que não se lembra de nada?

— Eu deveria?

— Bem, eu é que não deveria, não é? Lamento não poder ajudar, mas ontem eu passei a maior parte do meu tempo na Torre de Astronomia e quando cheguei aqui você já estava dormindo. Mas você deveria começar por aquela garrafa ali. – e apontou para a garrafa, agora com menos de sua metade vazia, de firewhisky.

— Eu bebi.

— Gênio.

— Calado!

Nenhuma ocasião especial tinha acontecido na noite anterior e, portanto, Draco não tinha bebido para comemorar nada, mas não tinha bebido sem motivo, estava certo disso. Algumas imagens desconexas vieram à sua cabeça, mas nenhuma parecia fazer sentido suficiente para formar uma memória entendível.

— Vá tomar um banho e relaxe, Draco. – Blaise disse rindo e dando tapinhas no ombro do amigo, que se desviou mal humorado.

— Tá, tá!

A água gelada foi como levar um tapa na cara e num despertar abrupto Draco se lembrou de tudo, as imagens antes desconexas agora formavam uma cronologia decente e logo seu cérebro conectou todas as informações.

Ele se lembrou de que a Grifinória tinha ganhado da Lufa-Lufa no quadribol e que teve de passar no meio da algazarra que os alunos faziam no meio do corredor em comemoração, se lembrou também que nessa hora viu Hermione Granger, e sua pele arrepiou ao visualizar o momento em que esbarrou com ela e em seguida seu sangue esquentou quando visualizou Ron Weasley puxando-a pelo pulso para perto dele e o olhando como se ele fosse uma espécie de lixo tóxico.

Aquele pobretão metido...

E se lembrou de que ao chegar a seu dormitório teve uma crise abrupta de ciúmes, raiva, mágoa, decepção e auto depreciação. Ciúmes de Hermione Granger por ela estar junto de um estúpido Weasley, raiva de si mesmo por sentir ciúmes de uma sujeitinha de sangue ruim como ela, decepção por constatar que eles jamais seriam próximos de forma alguma e auto depreciação quando se olhou no espelho e viu alguém completamente indigno, quebrado, exausto e inútil.

Por fim, a lembrança mais apavorante de todas: a carta. Ele havia escrito uma maldita carta para Granger, expondo seus mais íntimos sentimentos, aqueles que ele mesmo negava veementemente. E o pior de tudo, ele havia deixado a carta em cima de sua escrivaninha minutos atrás quando saiu do dormitório em direção ao banheiro, o mesmo dormitório onde estava seu melhor amigo, Blaise Zabini, e não importava a condição de melhor amigo, ele jamais deveria ler o conteúdo daquela carta.

Seria o meu fim! O que Blaise pensaria? Pior, o que ele poderia fazer contra mim?

Seu instinto desconfiado – ele era um Sonserino, afinal – não permitia que ele simplesmente achasse que se Blaise lesse aquela carta ele iria reagir normalmente e guardar segredo como os amigos geralmente fazem, em sua mente ele podia imaginar todo um plano de chantagem, ainda que isso não fosse do feitio do amigo.

Não pensou duas vezes e correu de volta ao dormitório. Tarde demais. Lá estava ele, sentado na cadeira onde minutos antes estava Draco e segurando em suas mãos o maior segredo do mesmo.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, os olhares de ambos encontraram-se, um desesperado e o outro abismado.

— Draco, isso é sério? – perguntou Blaise, ainda um pouco boquiaberto.

Como resposta houve um breve silêncio antes que o loiro começasse a rir compulsivamente.

— Claro que não é sério! – os risos continuaram ainda mais altos – Por favor, não me diga que acreditou numa palavra sequer do que está escrito aí.

Draco Malfoy era um ótimo ator, sabia fingir como ninguém, e sua feição debochada deixavam suas palavras ainda mais convincentes, mas Blaise Zabini o conhecia e após anos de convivência, aprendeu que a desconfiança era necessária para lidar com ele.

— Não acreditei, imagine só, você escrevendo uma carta de amor, e pior, para Hermione Granger!

Draco engoliu seco, mas aliviado, crente de que sua encenação estava sendo suficiente.

— Entretanto... – continuou Blaise – Não posso deixar de imaginar o motivo pelo qual você escreveu isso. Não acha que seria golpe baixo demais, até pra você? E até infantil demais... Quero dizer, escrever uma carta falsa para Granger.

Droga! Eu pretendia usar essa desculpa!

— Pode até ser, mas seria extremamente divertido, não acha? Imagine só a cara dela!

— Hermione Granger é a pessoa mais inteligente de toda Hogwarts e possivelmente da nossa geração, acha mesmo que ela cairia num truque barato desses, Draco?

Silêncio. Blaise tinha razão e Draco não era burro. Seria uma ideia estúpida, algo que se esperaria de Crabbe ou Goyle, mas não de um sonserino nato e astuto como ele.

— Achei que a tentativa pudesse valer de algo... – tentou soar desinteressado – Eu não ia mandar realmente, foi uma ideia momentânea para me divertir enquanto estava bêbado.

“Estou completamente bêbado, mas...”— Blaise releu as últimas palavras da carta e havia um tom sugestivamente debochado em sua voz, mas resolveu parar por ali – Bem convincente, acho que funcionaria com qualquer outra que não fosse ela.

Dizendo isso, Blaise se levantou da cadeira, largou a carta dobrada em cima da escrivaninha e andou em direção à porta, passando por Draco e deixando-o para trás em passos lentos, e foi então que a máscara frouxa do amigo caiu de vez e a encenação de antes perdeu a vez para as seguintes palavras:

— Estou apaixonado por ela.

Mais silêncio, um silêncio ainda mais pesado do que o anterior.

— O que?

— Você me ouviu, não se faça de idiota. A carta é real, não uma brincadeira estúpida.

Draco estava de costas para o amigo, com a cabeça baixa, se martirizando e já se sentindo quase arrependido de ter dito tais palavras, e Blaise estava chocado, por mais que esperasse e soubesse que toda a risada encenada antes era mentira. Afinal, ninguém no mundo, nem mesmo ele sendo seu melhor amigo, esperaria que Draco Malfoy fosse se apaixonar, quem dirá então se apaixonar pela garota Sangue Ruim Granger, a quem ele supostamente odiava tanto quanto odiava a Harry Potter, seu inimigo?

Os passos lentos de antes fizeram o caminho de volta e pararam frente a frente com o amigo.

— Eu sei. – a expressão de confusão de Draco foi impagável.

Ele sabe?! Como é que ele sabe?! Eu nunca deixei transparecer absolutamente nada, nunca! Ele não sabe de nada, está blefando!

— Eu nunca desconfiei de nada, se quer saber, mas seus teatros se tornaram extremamente previsíveis e fáceis de identificar pra mim ao longo dos anos. Sei quando está mentindo na maioria das vezes, e cá entre nós, você já foi melhor nisso. Saiu correndo do banheiro, desesperado, só para dizer que escreveu uma carta de brincadeirinha? Sem chance.

Draco xingou Blaise mentalmente de todos os nomes possíveis que conseguiu pensar.

— Apaixonado pela amiga do Potter, então? Quem diria...

— Calado! Você não pode contar isso para ninguém, está me entendendo? E nem pense em tentar me chantagear ou usar a carta contra mim, ou eu acabo com você de todas as maneiras que eu puder! Não duvide de...

Draco foi interrompido por uma risada cínica.

— Acha mesmo que eu usaria a carta contra você? Que eu te chantagearia? Conhecemo-nos há quanto tempo, Draco? Onze anos? Talvez mais! Parece que eu te conheço, mas você não chegou nem perto de saber quem eu sou.

As palavras de Blaise foram secas e havia uma pitada de decepção nelas, bem como em seu rosto. Mas o instinto de que todos ao seu redor queriam acabar com ele era algo impregnado em Draco, algo do qual ele não conseguia se livrar nem se quisesse, sentiu-se mal.

— Não vou contar a ninguém, você é meu melhor amigo.

— Obrigado.

— Não precisa agradecer. – Blaise balançou negativamente a cabeça –  Essa sua desconfiança pode acabar com você, Draco, cuidado, isso não faz bem.

E dizendo isso, Blaise Zabini saiu pela porta do dormitório sem olhar para trás, deixando um Draco Malfoy encostado na parede e um tanto aliviado, ainda que frustrado e como de costume, desconfiado também.

Merlin, eu estou perdido?


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Querem ler mais? Espero que sim! Se vocês chegaram até aqui eu agradeço.
Comentem o que acharam, por favor ♥