O teste escrita por Agbenelli


Capítulo 5
capítulo 5




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— E... Corta!

Abaixei minha faca salpicada de sangue lentamente, mantendo o olhar frio que a cena demandava. Sam continuou no personagem, passando as costas da mão sobre o lábio “machucado”.

— Isso não vai ficar assim sua vadia... – sussurrou, aproximando-se lentamente de mim. Todos no set nos encaravam divertidos. Finalmente, depois de dez horas exaustivas de gravações, havíamos concluído o episódio que seria lançado na semana seguinte.

Eu me sentia absurdamente feliz. Havia se passado quase um mês desde que fui aceita para o papel – e que também havia batido no Impala de Dean. Desde então meus dias consistiam em levantar muito cedo ou trabalhar durante as madrugadas, lendo e decorando textos, ensaiando as cenas e comendo hambúrgueres e batas-fritas a cada parada que dávamos. Eu me sentia bem ali e consegui facilmente manter uma relação amigável com todos... Exceto, obviamente, com Dean.

Depois da noite em meu apartamento, cheguei pontualmente as oito da manhã do dia seguinte, ouvindo milhares de desculpas pelo “comportamento imperdoável de Dean” através de Eric e outros produtores e um olhar aliviado e alegre de Sam e parte do elenco. Expliquei a todos o que havia acontecido, narrando de forma animada como eu havia batido no bebe de Dean e ouvindo gargalhadas e parabenizações por todos os lados. Como resposta, Dean apenas dava um sorriso forçado e completava dizendo ora ou outra “tudo resolvido” ou “foi um mal entendido”. Desde então nossa relação se limitava a breves cumprimentos e interações durante os ensaios ou gravações – acho que isso se encaixa nos termos de relações estritamente profissionais. Apenas comigo, é claro. Porque com os demais, e quando digo demais engloba todo mundo, ele está sempre sorrindo ou batendo um papo animado. Já o vi jogar cartas com os cinegrafistas, dar beijos calorosos no pessoal da limpeza, sair diversas vezes com Sam e o resto da equipe, convidar alguns para festinhas e até mesmo sair com algumas figurantes. Na verdade, a cada dia ele estava com uma mulher diferente pendurada no seu pescoço! E claro, isso não é da minha conta e eu não me importo. Não me importo! Então porque diabos meus olhos o procuravam constantemente? Porque tudo parece se encaixar apenas quando ele chega? É muitos porquês para uma cabeça tão fraca quanto a minha.

As vezes me pegava pensando em onde havia parado aquele Dean que eu havia deslumbrado brevemente em meu apartamento: um homem que era capaz de sorrir e que, por breves momentos, pareceu realmente querer a minha amizade.

Pisquei meus olhos para afastar os pensamentos intrusos quando vi Sam, em um movimento rápido, me pegar como um saco de batatas e me jogar como um troglodita sobre seus ombros, fazendo com que eu derrubasse a minha arma mortífera. Vi Eric acenar para nós com um sorrisinho misterioso, daquele tipo que você passa horas tentando decifrar, e depois ir embora assim como o restante do pessoal.

— Me solta seu cretino! – gritei entre risos, dando soquinhos nas suas costas largas. Não devia fazer nem cócegas, pensei com ironia.

— Solto com apenas um condição – disse se encaminhando ainda comigo até o camarim - caramba, você é pesada! Quantos hambúrgueres comeu só essa semana? – perguntou com a voz divertida.

—  Idiota, pelo menos não como igual a uma menininha! – rosnei sem conseguir conter uma risadinha – agora pode me por no chão?

— Descobri que gosto de segurá-la em meus braços...-disse com voz baixa e suave.

Corei absurdamente com o comentário que parecia feito mais pra ele mesmo do que pra mim. De fato, essa havia se tornado uma mania – ora ele me carregava no colo, ora me dava um abraço depois de uma cena intensa ou apenas colocava um braço sobre os meus ombros enquanto andávamos juntos. Mas devia ser coisa da minha cabeça. Sam era obviamente uma pessoa carinhosa e que apreciava contato pele a pele. Só isso.

 Quando chegamos ao camarim, ele me depositou delicadamente no chão e me encarou. Alguma coisa estava estranha naquele ambiente, sutilmente denso. Mais estranho ainda era meu coração que parecia bater no ritmo de uma escola de samba. Ok, mas não dá pra me culpar – ainda que tivéssemos nos conhecido há um mês e passássemos o dia praticamente juntos, era estranho ter aquele homem belíssimo à minha frente e não na TV no meu quarto.

Mordi meu lábio nervosamente com a intensidade daqueles olhos acinzentados. Cadê o pessoal?

— Jante comigo.

Balancei a cabeça pra ver se minha audição melhorava.

— Como...?

— Jante comigo – repetiu, afastando uma mecha que teimava em cair nos meus olhos – Pode ser até um hambúrguer bem gorduroso com fritas se você quiser – brincou, mas parecia tenso – Qualquer coisa, apenas para espairecer...estou cansado de ir para um hotel e comer sozinho. Além do mais, vai ser divertido, somos... amigos...certo?

Aquilo ficou no ar e foi impregnando em minha mente. Sair pra jantar? Com Sam Padalacki? Sem câmeras, roteiros ou pessoas entre nós?

— Tudo bem – balbuciei e quando vi a burrada estava feita.

Sam deu um sorriso que iluminou todo o seu rosto esculpido. Meu deus, será que só existem homens bonitos por aqui? Bochechas parem de corar!

— Legal! Passo pra te pegar amanhã, as oito, tudo bem?

— É melhor que eu encontre você, meu apartamento ta uma bagunça... – falei meio desesperada, não querendo que ele conhecesse o buraco em que eu me enfiava todos os dias. Em breve eu sairia de lá, mas por enquanto aquele lugar apenas reforçava o quanto eu não pertencia ao mundo deles. Eu sabia que assim como Dean, eles eram ricos. Absurdamente ricos.

— De jeito nenhum! Faço questão de buscá-la. – disse determinado – anote pra mim seu endereço...

Minha mente viajou para o meu nada-sofisticado guarda-roupa e depois para os possíveis lugares em que ele poderia me levar. Foi só quando eu ia abrir a boca pra perguntar o que eu deveria usar foi que percebi que em um canto do camarim, ao lado do frigobar, Dean assistia silenciosamente a tudo. Há quanto tempo ele deveria estar ali? Observei atônita enquanto o mesmo se levantava para sair ,e sem desviar seus olhos dos meus, levantava sua cerveja em minha direção num claro cumprimento de deboche do tipo “parabéns, conseguiu o que queria”. A resposta veio como um tapa: ele esteve ali o tempo todo.


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