O teste escrita por Agbenelli


Capítulo 1
Capítulo 1




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Senti o torpor deixar lentamente meu corpo ao abrir meus olhos e ver pela janela um céu cinzento e depressivo. Shakespeare ronronava enquanto se esfregava no meu pé descoberto.

Aos poucos a total lucidez chegou e junto a ela a sensação de que estava esquecendo alguma coisa...alguma coisa muito importante.

Tentando ignorar o frio do apartamento sem aquecedor, levantei e procurei os malditos chinelos que estavam ali na noite passada. 

Feito isso andei a passos largos até a cozinha e ao olhar para a geladeira, ou melhor, para o bilhetinho amarelo com letras grifadas, quase cai para trás

 

Dia 18, as 9:20 TESTE

 

Dia 18...é hoje caralho!

 

Hoje é o dia em que farei o teste para participar do seriado Supernatural!

 

Olhei para o relógio, rogando a Deus que não fosse tarde demais e ao ver o ponteiro parar no número 8 corri a toda velocidade, claro, não antes de bater meu dedinho na quina da mesa, em direção ao banheiro.

 

Tomei uma chuveirada fria para toda a preguiça sumisse desse corpo sonolento e como recompensa a mim mesma, passei as últimas gotinha do único perfume que eu tinha, um de meus poucos luxos desde que meus pais partiram.

 

Olhei para o espelho e  meu desespero só aumentou ao ver o ninho de passarinho que meus cabelos haviam se transformado. Passei a escova com fúria sobre os fios castanho avermelhados, para logo em seguida ver eles duas vezes mais armados. Abri o armario do banheiro e tirei de lá todos os potes e frascos que haviam para cabelo. Mousse, spray anti-frizz, fixador, gel, pomadas modeladoras...usei tudo mesmo e o resultado foi um cabelo com ondas suaves pelas costas, sem um fio fora do lugar mas fedendo como o inferno.

 

Feito isso, fui até o guarda-roupa no meu quarto, já esperando que a porta caisse a qualquer momento e parei. Não havia muitas opções, na verdade tudo se resumia a camisetas largas, jeans, duas jaquetas e um conjunto social que era da minha mãe. Eu iria fazer um teste muito importante dentro de uma hora, ou seja, deveria estar perfeita para  a ocasião.

 

Comecei a jogar as roupas para todos os lados a medida que eu procurava algo decente para aquele dia. Até que encontrei: um moletom de renda com pequenas pedrinhas bordadas na gola. Coloquei- a com pressa, junto co jeans claro e meus eternos all-stars (eterno porque eu os havia comprado em uma liquidação há 6 anos).

Já era 8:35 quando entrei na cozinha mais uma vez e me servi de um copo de leite gelado pela falta de opções naquela geladeira.

Engoli tudo de uma vez, me engasgando com violencia para depois pegar as chaves do meu carro e sair correndo porta a fora.

 

Entrei no velho cadete, soltando um gritinho quando a porta bateu com força e um pouco de ferrugem caiu do teto. Dei partida e sorri largamente ao meu xodó por não ter apagado nenhuma vez. Dirigi como em Velozes e Furiosos, os ponteiros do relógio fazendo um barulhinho irritante no pulso claramente para me lembrar que estou muito atrasada. Vasculhei no porta luvas algum cd para dar uma alegrada no meu auto-astral e coloquei o primeiro que me veio em mãos: ACDC.

 

Sorri, já imaginando que além de ser a trilha sonora do seriado seria a trilha da minha vida de agora em diante. 

 

Passei com tudo por uma assinalera e xinguei alto por não ter conseguido passar pela segunda. Motivo: Alguém dirigia um Impala idiota a 30km/h, obviamente para chamar a atenção das mulheres que caminhavam pela calçada da avenida principal - lugar cheio de lojas e cafés chiques que nunca coloquei meus pés.

 

Respirei fundo tentando me acalmar. Faltavam dez minutos para o meu teste e eu iria conseguir.

 

Encarei o semáforo quase fazendo o meu lábio sangrar com a força com que eu o mastigava. A adrenalina era alta e quando vi que a cor mudava para verde, pisei fundo no acelerador e quase bati com tudo na traseira do Impala que insistia em continuar na mesma velocidade. Obviamente era um homem pelo braço para fora da janela. Continuei no encalço, amaldiçoando o transito que não me deixava ultrapassar o carro da frente. 

 

Buzinei várias vezes e o que recebi em troca foi um dedo do meio.

 

— Desculpa mãe - roguei, vendo tudo vermelho na frente.

 

Pisei no pedal fazendo com que o pobre do Cadete cantasse pneus e fui com tudo pra cima do Impala. Vi pelo retrovisor do cara que ele viu o que eu estava tentando fazer e manobrou com rapidez incrível para aquela tartaruga para a direita, saindo da minha frente e se lançando contra um poste.Acelerei e mesmo com o desvio, acabei levando junto o farol traseiro e deixando um grande amasso  na lataria.

 

Acelerei bem consciente de que o carinha havia saido do carro, amparado por muitas pessoas, e me xingava aos quatro ventos. 

 

Ao chegar nos estúdio, estacionei de qualquer jeito o carro e sai correndo como uma louca. Suando, com os cabelos bagunçados mais uma vez, entrei na pequena sala repleta de mulheres estonteantes. Havia uma mesa com recepcionista e subitamente tímida fui a ela.

 

— Com licença - murmurei tentando chamar a atenção - Sou Isabella Swan, tenho um teste marcado para as 9:20..

 

— Está atrasada - a mulher com terno impecável e cílios postiços falou sem me olhar. Olhei para o relógio 9:21

 

— Bem eu sei, aconteceram alguns imprevistos...

 

— Que novidade, até parece que é a primeira que me diz isso - me estendeu uma folha que peguei com força - Esse é o seu texto. Tem cinco minutos para decorá-lo. Depois disso eu te levo até eles.

 

— Obrigada - falei, sentando-me em uma poltrona, sentindo o olhar das loiras, mores e ruivas sobre mim.

 

As falas eram longas, mas simples. Depois de ler duas vezes o script estava pronta para o teste. Isso era o que eu achava até a mulher do terninho - seu nome era Sonja - Me chamar e me guiar através de vários estúdios até o local do meu "sacrifício".

 

Ao chegar lá, senti meu estômago dar voltas e mais voltas quando uma das portas foram abertas e a mulher praticamente me jogou lá.

 

Meus rosto queimava e o suor havia se intensificado. Na minha frente havia uma mesa com nada mais e nada menos do que Erik Cripk - o criador do seriado- juntamente com o diretor , Produtores e Sam Padelescki, o Deus grego em carne e osso.

 

— Você deve ser a Srta. Swan - Erick disse, me analisando de cima abaixo e alternando para o curriculo. - Vejo que tem formação no curso de teatro e participou de muitos outros...já participou de algum filme ou seriado?

 

— Não senhor - respondi roucamente, entrelaçando os meus dedos. Olhei para Sam e o mesmo mantinha os olhos focados em mim, sorrindo.

 

— Sabe como funcionam?

 

— Se o Wikipedia estiver certo, então sei, sim senhor.

 

Todos na sala riram enquanto eu me chutava mentalmente pela resposta escrota.

 

— Sem mais perguntas Srta. Swan. Que tal passarmos para o teste? Sam?

 

— Claro, vamos sim - Sam respondeu animado, levantado-se da bancada e vindo em minha direção. 

 

Tentei manter a lucidez, não poderia dar uma de fã louca e pular em seu pescoço. Quando ele se aproximou confirmei os dados que afirmavam que ele tinha 1,95m e as fotos exibidas faziam jus a beleza do cara: magro, musculoso na medida certa, olhos esverdeados e sorriso bonito. 

 

Parei de seca-lo quando ficamos frente a frente.

 

— Decorou as suas falas? - ele sussurrou, inclinando-se para olhar nos meus olhos.

 

— É claro que sim, porque?

 

— Perdi a conta de quantas candidatas não conseguiram recitar nem a primeira frase.

 

Dei uma risadinha nervosa, pedindo para todos os deuses que eu não me esquecesse de nenhuma.

 

— Podem começar! - Gritou o diretor.

 

Respirei fundo e me concentrei na personagem: Neferet, uma poderosa caçadora. Nas primeiras palavras ditas sabia que não havia sido convincente. continuava a ser a  Isabella-sem-sal. Forcei as minhas mãos a pararem de tremer e as minhas bochechas a corarem. 

 

Trinquei os dentes.

 

— Porque eu deveria acreditar em você? - Sam, ou melhor, Sam Winchester perguntou.

 

— Porque você não tem outra opção, queridinho - falei altiva, minha voz saindo com escárnio.

 

Sam quase sorriu com a resposta, mas continuou com o diálogo, que fluiu com perfeição. No final, demorou até eu abandonar a personagem e voltar a realidade. Dei um risinho nervoso quando uma descarga de adrenalina veio. 

 

Era isso e que fosse o que Deus quisesse.

 

— Acho que encontramos a nossa Neferet - Erik anunciou em um tom alto e satisfeito.  - Bem vinda a família Supernatural Bella!

 

Meus olhos transbordaram em lágrimas e um sorriso bobo brincava em meus lábios. Eu havia conseguido!!!

 

— Parabéns Bella— Sam me abraçou apertado e me rodopiou como se fossemos velhos conhecidos.

 

— Obrigada - sussurrei e depois repeti em voz alta para que todos escutassem.

 

Abracei um por um, agradecendo a todos pela chance que haviam me dado. Porém ao sentar ao lado de um produtor, Mike, para ver a papelada que seria a minha contratação, um estrondo alto fez com que eu soltasse um gritinho assustado.

 

— Diabos!!! 

 

Todos viraram em direção a voz raivosa. Senti que a única coisa que impedia meu coração de sair pela boca eram os meus lábios fechados. 

Dean...Ackles. Estava a alguns metros de mim, em toda a sua glória, mesmo estando furioso. Nada fazia jus a sua beleza, bem diante dos meus olhos. Mordi meus lábios.

 

— Dean, o que aconteceu? - Mike perguntou se levantando junto com todos os outros que olhavam afoitos.

 

— Uma maluca bateu no meu neném!!! - gritou, jogando o casaco dele na mesa a minha frente. O casaco do Dean Ackles esta na minha frente, aquele acinzentado que aparecia em 90% dos episódios. Seu cheiro logo chegou as minhas narinas: menta e algum perfume caro. Meus dedos coçaram para tocá-la.

 

— Bateram no seu NENÉM? - perguntou Sam entre divertido e assustado.- Tá falando do Impala?

 

Haviam batido no carro dele? Mas que absurdo! Se eu pudesse eu mesma mataria a mulher que bateu...no... Impala...

 

O Impala que não saia da frente do meu carro...e eu bati...

 

Senti meu corpo todo formigar e minhas mãos ficarem geladas. 

 

— É obvio seu idiota, sabe que eu cuido daquele carro como se fosse um filho! - rugiu - Mas espere só até eu encontrar aquela...

 

— Calma cara, é só um carro - Erik tentou tranquilizar com um tapinha nas costas - Chamarei um guincho para levar seu carro até a oficina está bem?

 

E com isso saiu já ditando ordens pelo celular.

 

— Antes de continuar a se lamentar, deixa eu te apresentar a Neferet que o Erik procurava - Sam falou, me olhando a chamando com o dedo - Dean essa é a Bella, ela acabou de ser contratada para a nova temporada.

 

Dean pareceu sair de seus pensamento assassinos contra mim - mesmo não sabendo -  e deu um sorriso capaz de derreter geleiras ao pegar minha mãe e depositar um beijo dela.

 

— É um prazer conhece-la.

 

— É...-balbuciei, não lembrando de nenhuma palavra do dicionário. Senti minhas bochechas pegarem fogo e tentei de novo - o pra...prazer é meu.

 

Dean deu sorriso, obviamente imaginando qual era a minha deficiência mental e depois voltou-se para o Sam.

 

— Como eu ia dizendo, espero até eu encontar aquela louca e o seu Kadett idiota!

 

Mais uma vez achei que iria desmaiar ali, mas consegui me conter, fechando o ziper do casaco e marchando em direção ao meu carro.

 

— Ei, espera! - gritou Sam - Porque tanta pressa? Poderiamos sair e comemorar a sua vitória! Tem uma pizzaria aqui perto, muito boa por sinal, o que acha? Dean?

 

— Estou faminto - murmurou.

 

Eu tinha que sair logo dali e esconder o meu carro o mais rápido possivel. é claro, existem dezenas de carros como o meu, mas não podia correr o risco de Dean juntar os pontos e me incriminar!

 

— Valeu gente, mas...tenho muitas coisas para fazer em casa, sabe como é...

 

— Tem certeza? Podemos almoçar rapidinho e te deixo em casa - sugeriu Sam, o que me fez soltar um  suspiro involuntário.

 

Sam Padalaski estava me convidando para almoçar com ele! Melhor, com eles! Milhares de garotas matariam para estarem no meu ligar e eu recusando. Talvez Deus fosse bom comigo e Dean esqueceria do meu carro...

 

— Tudo bem, eu vou com vocês - respondi entre a euforia e o medo.

 

— Ótimo, vou pegar o meu casaco - disse Dean saindo e Sam sorriu para mim.

 

— Você foi ótima no teste. Quase esqueci que estavamos sendo avaliados.

 

— Obrigada , estou muito feliz por ter conseguido, você não imagina o quanto! - sorri agradecida, encarando aqueles olhos acinzentados.- Mas acho que Erick acabará se arrependendo da escolha...-murmurei de cabeça baixa

 

— Por que?

 

Voltei a encara-lo, fascinada com a expressão preocupada no rosto dele.

 

— Olhe para mim, sou absurdamente comum. Deu uma olhada para as garotas que fizeram o teste? Deslumbrantes! Todas os episódios que vi tinham mulheres bonitas e exóticas e não sou nada disso...

 

— Pare - sussurou Sam calmamente. Senti seus dedos em contato com a pele da minha bochecha, após erguendo gentilmente o meu queixo - Creio que tens sérios problemas de visão Srta. Swan. Sua beleza é delicada e muito cativante. Você não fica atrás das outras atrizes e falando das garotas que iriam fazer o teste, poderiam até serem bonitas, mas nenhuma delas tinha talento. Nenhuma. E você chegou, fez a sua parte e Erick não pensou duas vezes ao te escolher. Portanto, não quero mais ouvir esse tipo de coisa, tudo bem?

 

Meu coração deu um salto no meu peito. Se antes eu achava impossivel estar perto dele, agora com o toque de suas mãos e elogios vindo da criatura, quase tive um infarte.

 

— Obrigada - murmurei sorrindo, não sabendo bem o que dizer.

 

— Atrapalho?

 

Olhamos para a mesma direção e vimos Dean com os braços cruzados e uma expressão zombeteira.

 

— Claro que não - falou Sam tirando as mãos de mim.

 

— Ótimo, então que tal irmos logo? A confusão de hoje me deixou faminto...poderia comer a cabeça daquela...

 

— Menos - falou Sam revirando os olhos - Vamos?

 

Saimos do estúdio em direção ao pátio, porém aos colocar as mãos dentro dos bolsos senti falta de algo. Minha carteira.

 

— Preciso passar rapidinho no carro, deixei minha carteira lá.

 

— Vamos com você.

 

—NÃO! - falei desesperada, logo me chutando pela besteira - não precisa, é rapidinho!

 

Não dei tempo de eles responderem, sai em disparada ao estacionamente, tropeçando uma ou duas vezes.

 

Ao chegar no carro desliguei o som que havia deixado ligado no último volume e vasculhei o porta-luvas.

 

— Você gosta do...ACDC...

 

Bati a cabeça no teto ao sair de dentro do carro e encontrei um Dean com um expressão que foi da confusão para a fúria rapidamente.

 

— Sua maluca! Você bateu no meu carro!!!

 

Meu nervosismo e o susto levado foi tamanho, que no momento seguinte vi tudo escurecer e depois...nada.

 

 

 

CONTINUA


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