Com um café fumegante em uma mão e o script em outra, Lea sabia que a decisão estava tomada. É bem verdade que jamais atuou para as câmeras e que toda sua vida foi transitada nos palcos, esta é uma oportunidade que não pode deixar passar. Ela está consciente que a Broadway é sua segunda casa desde os 8 anos de idade, o que converte o teatro em sua zona de conforto e se tem algo que uma grande artista sempre deve fazer é ter novas aventuras, arriscar-se, lançar-se ao desconhecido com a convicção de que tudo o que quer, pode conseguir. E Lea mais que ninguém sabia que era assim.

A primeira conversa com seu agente havia sido para planejar uma audição para Grey's Anatomy, a série preferida da pequena estrela da Broadway, mas quando a mostraram esta contraproposta para um novo show, não duvidou em considerá-la.

 O feito de protagonizar uma série de televisão em uma das cadeias mais importantes do país pode representar um salto à fama internacional, uma oportunidade de abrir novas portas, a grande chance de que o mundo saiba quem é Lea Michele Sarfati, e isso é o que ela iria conseguir nesta viagem a LA...

— "Lea Michele não vai realizar teste para o papel de Rachel Berry, Lea Michele vai conseguir o papel de Rachel Berry" – disse a morena em voz alta.

Nesse momento tocou seu celular, pausando seus pensamentos.

— "Olá Lee! Como está?" – Edith, sua mãe, parecia um tanto quanto preocupada.

 - "Ei mãe, como está? Já sei que deve estar preocupada pelas três chamadas que não retornei, mas de verdade estive metida nesse script e perdi a noção do tempo." – disse Lea adiantando as reclamações que seguramente Edith faria.

— "Isso quer dizer que está decidida a realizar o teste para esse programa? Quando tem pensado em viajar, viaja?" – sua mãe tentava ocultar seu descontentamento, ao mesmo tempo que queria saber um pouco mais sobre a nova loucura de sua filha.

— "Sim mamãe, viajo amanhã, já tenho o voo reservado! Sinto que é o melhor para a minha carreira e a verdade é que só de ler o script já sinto um grande afeto por Rachel" – Lea estava muito ansiosa e concentrando todas suas energias nesse novo projeto.

— "Rachel? Quem é Rachel?" – sua mãe estava totalmente desconcertada.

— "Rachel é o personagem para o qual eu vou realizar o teste mamãe!" – disse Lea rindo, mas imediatamente recordando que jamais havia comentado a sua mãe nada sobre o personagem.

— "Oh, está bem. Então Lea ou Rachel, ou como gosta, te esperamos para jantar esta noite?"

— "Claro! Tenho toda a tarde livre, assim  vou cedo e cozinhamos juntas, está bem?"

— "Me encanta! E Lea, não se esqueça de convidar o Jonathan!"

— "Hahaha! Mamãe, vou pensar que tem mais vontade de vê-lo que a sua própria filha! Nos vemos esta noite, um beijo!"

A relação de Lea com Jonathan era um dos itens mais importantes na hora de considerar uma nova vida em LA, mas ela podia fazer funcionar, podia viajar em seus dias livres a NY e tinha certeza que Jonathan iria visita-la em LA.

A morena sacudiu a cabeça, tirando todos os pensamentos ruins e trazendo novamente o livro que estava em seu colo, mas claro, ela sabia que o papel era seu, ela simplesmente sabia, mas isso não implicava em deixar de estudar o livro. A perfeição e responsabilidade eram os lemas de sua vida, e suas armas para conquistar todos seus sonhos. Assim, sem mais, mergulhou novamente nestas páginas, as que tinham nada mais, nada menos que a vida de Rachel Berry.

No dia seguinte...

O jantar com seus pais e Jonathan havia sido ideal. Uma comida deliciosa com a companhia perfeita para que Lea pudesse relaxar e por umas horas esquecer-se de tudo.

Paradoxalmente ao oposto do que ocorria agora com a morena, seu voo acabava de pousar em LA, o teste seria em menos de 24 horas, os nervos e ansiedade começavam a tomar conta dela.

O primeiro passo foi alugar um carro e dirigir-se ao hotel, não sem antes passar por um Starbucks e conseguir um café, mesmo com o calor da cidade, Lea não podia estar sem doses da sua bebida preferida.

 A chegada ao hotel foi sem problemas. Check –in, ducha e deitar para ver televisão até adormecer. A viagem e os nervos a haviam esgotado, mas o que não foi raro é que em menos de 50 minutos estava completamente apagada.

Os raios de sol começavam a entrar pela janela e despertaram Lea antes que tocasse o alarme. A morena saltou da cama e se dirigiu ao closet buscando a roupa perfeita pra o teste, sexy porém reservado, clássico porém atual e finalmente encontrou a combinação.

Um pouco mais tarde Lea já estava no carro a caminho da reunião. No interior tocava obviamente Barbra, ninguém melhor que ela para dar confiança e segurança. Durante o trajeto observava a desconhecida paisagem, as ruas de LA não se pareciam nada com Nova York e em algum ponto ela gostava disso.

Quando só faltavam 500 metros para chegar ao destino e quando Lea estava incrivelmente calma, sofreu uma forte colisão. Seu automóvel chocou-se contra um que acabava de frear no semáforo, o impacto tirou Lea da sua bolha, 'como havia acontecido? Em que momento? Quem teve a culpa?' Lea não tinha respostas e sem saber como chegou até aí, se viu parada ao lado dos carros trocando palavras com o outro condutor e sacudindo sua roupa porque havia restos de vidro nela.

— " Desculpa-me, não te vi, esse caminhão passou no vermelho e tive que frear, está bem?" – disse preocupado o condutor do outro veículo.

— "Eh,...sim sim, estou bem" – Lea ainda estava sem entender o que havia acontecido.

— "Não se preocupe, esperamos a polícia e deixamos tudo em ordem. Tenho seguro, assim que todos os danos vão ser cobertos" – o senhor estava preocupado pela situação.

— "Está bem, sim, sim...Obrigada" – expressou Lea voltando ao seu carro.

 A polícia chegou em um instante, mesmo que para Lea pareceu uma eternidade. A audição era em alguns minutos e ela, todavia, se encontrava atrasada, firmando papéis e mais papéis.

Novamente olhou o relógio e sua impaciência pôs fim aos tramites.

— "Realmente é necessário que eu fique? Tenho uma reunião muito importante em 10 minutos."

— "Senhorita, deveria ver um médico, o golpe foi muito forte." – o homem estava sinceramente preocupado, mas Lea se sentia bem.

— "De verdade estou bem e já firmei todos os papéis." – disse Lea olhando os policiais. "Se não tem mais tramites, preferiria ir e depois ocupo-me do carro, o guindaste e tudo mais."

O policial assentiu com a cabeça e foi tudo o que a morena necessitou. Se desculpou, deixou o carro em um acostamento, retirou sua bolsa e começou a caminhar energicamente o que faltava até os estúdios. As coisas começavam a sair completamente opostas ao planejado.

Como só passa nos filmes, Lea pisou nos estúdios onde estavam realizando os testes, justo a tempo e para sua surpresa observou várias jovens, de condições similares, sentadas aguardando sua vez. Lea havia mentalizado tanto que o papel era seu, que esqueceu completamente que dentro do estúdio ela não era Lea Michele, a estrela da Broadway, e sim simplesmente Lea Michele realizando um teste para a nova série.

Com o passar dos minutos chegou sua vez, se levantou e caminhou decidida para a porta, respirou fundo, recordou quem era e entrou na sala, para apresentar-se aos produtores, a quente protagonista da série, a pessoa perfeita para interpretar Rachel Berry.

— "Olá, sou Lea Michele e vou apresentar-me para o papel de Rachel Berry." – disse Lea com uma calma que surpreendeu inclusive a ela.

— "Bem vinda Lea, que canção escolheu?" – um dos produtores foi quem falou e tratou de não demonstrar a jovem que sabiam perfeitamente quem era ela, já que a haviam a visto na Broadway.

— "Vou interpretar ‘On My Own’, do Les Miserables" – Lea conhecia esta canção com perfeição e sentia que era a escolha perfeita.

— "Adiante Lea, te escutamos." – disseram juntos os produtores.

— "On my own, pretending he's beside me (...)" – Lea começou, mas instantaneamente percebeu a falha do pianista e se deteve. "Sinto muito, temos que voltar ao segundo verso" – disse olhando o pianista, com determinação, fazendo-o notar seu erro.

A reação de Lea desatou risos de todos os que estavam no local, que a desconcertou.

— "Isto não se supõe que seja engraçado, é uma cena séria" – disse Lea, despertando ainda mais risos e nesse momento entendeu que talvez os risos não fossem tão ruins e decidiu agregar. "Vou fazer novamente e agora quero ver todos chorando" – buscando a cumplicidade com a equipe.

Estes instantes bastaram para que Rachel Berry se convertesse em uma realidade, os produtores souberam nesse preciso momento que tinham frente a eles a protagonista do novo piloto da FOX, a protagonista de Glee.

Lea abandonou os estúdios com uma grande incerteza, sabendo que estava a espera de uma chamada por parte dos produtores e tratando de decifrar se o teste anormal que havia protagonizado foi um completo êxito, ou um completo desastre.

Lea saiu do estúdio e foi a uma cafeteria, ligou pra Jon para contar como foi tudo e relaxar, agora o pior já havia passado. Logo foi solucionar a questão do carro, antes de voltar ao hotel.

Nesse mesmo dia à tarde, Lea saiu pra caminhar e conhecer LA, café nas mãos, caminhava pelas ruas que a deixava admirada. A paisagem e a tranquilidade por alguns momentos a desesperava, mas por outros a convencia que seria uma boa mudança e um charmoso lugar para viver durante os próximos meses. De repente tocou seu celular e Lea ficou imóvel ao ver a tela, não reconheceu o número e soube que esse era a chamada que estava esperando. Mas porque tão rápido? Seriam boas notícias? O teste tinha sido há apenas umas horas. Não, tem que ser boas notícias, ela soube que Rachel Berry a pertencia desde o momento em que leu a primeira linha do script. Sim, essa era a atitude... e sem mais procedeu a atender a chamada.

— "Olá, Lea Michele?" – dizia a voz de um homem.

— "Sim, sou eu." – respondeu timidamente Lea.

— "Te ligo da parte de Ryan Murphy, para dizer que você é a nova Rachel Berry. Toda a equipe de Glee te dá as boas vindas ao projeto!" – disse o homem, soando até mais entusiasmado do que Lea poderia ter imaginado.

A conversa seguiu, ficaram de enviá-la os próximos horários das reuniões e demais por email, e foi o melhor que pode passar, já que depois de ouvir a confirmação Lea perdeu o poder sobre suas ações, sobre sua mente, a felicidade a transbordava e só pensava em desligar para ligar para os seus pais e Jonathan para contá-los tudo.

Sete dias depois...

Ryan Murphy e seus colaboradores se encontravam reunidos em um lugar onde estavam levando ao fim os testes, o elenco estava quase completo, só faltava encontrar a antagonista de Rachel.

O personagem de Quinn havia sido mais difícil de encontrar do que eles imaginavam no princípio. Aos olhos dos produtores, quem a interpretar deveria ser uma jovem que não somente pudesse cantar e dançar, e não buscavam um rosto lindo, buscavam beleza, buscavam alguém que pudesse ser sensual e doce ao mesmo tempo, deveria ser a típica garota popular do colégio, queriam algo mais, queriam um plus que fizesse que as pessoas se apaixonassem por ela, o oposto ao que sempre se passa com esse tipo de personagens nas séries ou filmes. As opções estavam se esgotando e a ansiedade para voltar a ver uma jovem que tinha realizado o teste havia alguns dias crescia, no primeiro encontro não os convenceu, a jovem era linda, mas sua aparência não encaixava com a má da série, com a da garota mais popular do colégio, no dia de hoje deveria voltar, haviam pedido que mudasse um pouco o look para a prova de câmera e confiavam que a garota poderia conseguir, se assim fosse teria o papel.

A uns poucos quarteirões do lugar, Dianna Agron entrava no banheiro de uma cafeteria, tirando de sua bolsa uma prancha de cabelo e começou a arrumar o mesmo. Dianna sabia que hoje teria uma grande oportunidade e a resposta dependia muito de cumprir com os requerimentos dos produtores: uma aparência mais sensual e o cabelo liso.

Essa manhã quando saiu para realizar vários testes decidiu colocar um vestido vintage, fiel ao seu estilo, que a mostrava elegante, porém sensual ao mesmo tempo. Logo após o último teste passou por um local e comprou uma prancha de cabelo, não dava tempo para voltar ao seu apartamento e foi por isso que optou por utilizar o banheiro da Starbucks para poder terminar de arrumar-se para o último teste do dia.

Minutos mais tarde, a jovem loira estava voltando a sala onde deveria realizar o teste, não era um lugar novo para ela, nem tão pouco rostos desconhecidos e isso servia para acalmar um pouco os nervos.

—"Olá Dianna, nos alegra que tenha decidido voltar! Tudo bem se repetirmos as falas do último teste? " – disse o produtor.

— "Sim, façamos!" – disse Dianna com um tímido sorriso.

A prova de câmera foi perfeita, a jovem lembrava suas falas e se mostrou muito mais solta que no primeiro teste, só restava escutar a voz...

— "Bem, nos diga agora o que irá cantar." – disse o produtor com muita ansiedade.

— "Escolhi ‘Fly Me To The Moon’ do Frank Sinatra" – comentou a loira enquanto seu nervosismo voltava. A música a apaixonava, mas ela sabia que o canto não era seu forte, sua curta experiência sempre havia sido a atuação em frente às câmeras, a dança, já que havia praticado desde pequena.

— "Adiante" – disse o produtor quase atônito pela eleição da loira, Frank Sinatra sem dúvidas não havia sido uma constante nos testes.

 A jovem tomou ar, se imaginou no papel de Quinn Fabray e tratou de deixar o nervosismo que gerava estar realizando testes para um show que amou desde o primeiro momento em que leu o script...

— "Fly me to the moon, and let me sing among the stars..." – as notas saíam de sua boca com doçura que surpreendeu a todos na sala. Os produtores souberam nesse momento que o elenco de Glee estava completo. Sim, Dianna não tinha uma voz poderosa como a de Lea e quem sabe a doçura que irradiava da jovem era superior a que buscavam e necessitavam para a personagem, mas eles simplesmente se renderam diante o encanto da jovem, que minutos antes havia demonstrado que podia interpretar com perfeição a fria Quinn Fabray.

— "Bom Dianna isso é tudo o que necessitamos, muito obrigado." – disse o produtor com um sorriso.

— "Muito obrigada a vocês." – Dianna se sentiu um pouco decepcionada e logo deu uma meia volta e se dirigiu a porta para abandonar a sala.

— "Espera, aonde vai? Necessitamos que assine uns documentos e entregá-la os horários da próxima reunião para finalizar os detalhes."

— "Como? Não entendo, tenho que voltar a realizar teste?" – disse Dianna ainda desconcertada.

— "Não, tem que reunir-se com seus companheiros de elenco e conhecer o restante dos integrantes do projeto, para falar os detalhes antes de começar as filmagens do piloto."

 A sala se viu inundada em um silencio, Dianna ficou imóvel tentando processar o que estava acontecendo. Ela havia realizado testes mil vezes, inclusive havia trabalhado na série “Heroes”, uma das mais populares dos últimos tempos, mas jamais havia escutado uma resposta positiva ao mesmo tempo do teste.

Os produtores notaram o desconcerto da jovem e decidiram dizer as palavras mais claramente

 - "Dianna, bem vinda ao Glee, acaba de obter o papel de Quinn Fabray!".

— "Eh...Obr-obrigada, muito obrigada!" – disse Dianna implantando um sorriso que expressava a perfeição de como estava se sentindo.

A jovem aos poucos foi recuperando-se da grande surpresa e escutou todos os detalhes para a próxima reunião, que seria em pouco mais de um mês, justo antes das festas de fim de ano. O primeiro compromisso seria um jantar com os produtores e com o elenco para irem se conhecendo, o piloto seria filmado justamente depois disso, as gravações durariam pouco mais de uma semana.

Ao dia seguinte, já em Nova York, Lea recebeu por email a mesma agenda, o sonho começava a tomar forma, ia se realizando e a morena não podia estar mais feliz por tudo o que viria.

Nesse momento chamou seu melhor amigo e pais para jantar nessa noite, queria contar a eles sobre como começava a realizar um sonho, como estava imensamente feliz por ter conseguido, queria celebrar com eles o feito que Lea Michele Sarfati havia conseguido uma vez mais.