O som forte do trovão ecoou em todo o navio que se inclinou um pouco para o lado esquerdo. O mar já estava um pouco agitado. De longe, era possível ver nuvens grossas negras e ondas sacudindo-se. O sol estava se pondo e pássaros voltando para a ilha do tesouro.

— Acho que uma tempestade vai começar daqui a pouco. – No mesmo instante que Natsu disse isso, outro trovão, mais fraco, se ouviu. – É. Com certeza. Melhor ir preparar a janta.

— Eu? – Suas patinhas azuis apontaram para si mesmo. – Um pobre gato de estimação como eu? – O dono afirmou sem dar importância. – Vá você, o cozinheiro é você.

— Acho que não vou fazer seu peixe assado que tanto... – Nem mesmo terminou a frase e o animal correu para cozinha. – Sem chantagens esse daí não faz nada. – Riu e recolheu alguns gravetos que estavam no chão.

Ele e Happy treinaram mais uma vez. Natsu sempre insistia ao outro para que treinasse, para que um dia cada um pudesse se defender, todavia o gato constantemente estava com preguiça.

Faltavam mais ou menos uns três a quatro dias para voltarem à cidade. Lá, com certeza, teriam mais chances e esperanças de conseguir achar esse colar. Pois, os dois ouviam histórias que pescadores já encontraram até ouro boiando na beira do mar.

Ouviu passos atrás de si. Olhou e viu Lucy olhando para as nuvens negras. Tinha acabado de pôr os gravetos em uma caixa vermelha quando se ouviu um trovão – agora muito mais forte que os anteriores.

— Esse foi forte... – Sorriu e virou-se para a garota apreensiva. Não estava com uma cara boa. – Quer treinar um pouco? – Perguntou inocente quando soou outro trovão e ela se encolheu. – Tem que vencer esse medo, sabia? Não sei qual o problema! O que é que tem nesse som?

— Fala assim porque não viu sua única amiga morrer numa noite de tempestade. – Falou rapidamente assustando o rapaz. – Fala assim porque ainda tem sua família por perto, pelo menos sua irmã. Tem uma namorada, amigos... Sua vida está feita. – Natsu por um tempo não soube o que responder.

Respirou fundo e disse: - Tem razão, eu tenho tudo isso. Mas para mim, só meu pai e minha vida estaria completinha. Não estou reclamando, mas... Deixa pra lá, não é nada. Eu tenho certeza que você vai fazer várias amizades em Magnólia.

Ela ainda estava inconformada. Depois que achasse aquele colar e sua família, poderia – finalmente – ser feliz e cuidar de si mesma. Pegou uma espada e a tirou da bainha. Aquela com certeza era uma espada especial.

A lâmina era comprida de aço. Havia uma caveira no cabo que era coberta de couro. Outra coisa é que era bastante pesada. Lucy mal conseguia segurar, ficava um pouco cambaleando.

— É melhor você começar com uma adaga, da primeira vez que você tentou usar uma dessas não conseguia nem se concentrar. Pegue esta! – Entregou-lhe a adaga.

Essa não era tão legal igual à outra. Não havia muitos detalhes. Era uma adaga normal.

— Tá bom. – Falou sem animo nenhum. Empurrou a adaga para a cabeça do rapaz que se desviou facilmente.

Dessa vez, quase atingia a barriga dele, mas o mesmo também se esquivou. Ficaram assim por alguns minutos. Natsu já estava cansando daquilo. Lucy nem estava segurando direito. Quando a mesma ia atingir o braço, ele a parou.

— Você não está segurando direito. – Foi para trás da mesma e a ajudou a segurar. – Depois, você começar a atacar, mas tem que manter a posição certa. Primeiro, o pé direito fica na frente e o esquerdo fica um pouco para trás. – Já na posição ele voltou para o local que estava e pegou uma adaga na caixa de ferramentas. – Agora vamos lutar!

Primeiro, as duas adagas se chocaram e fizeram um barulho agudo. Natsu tentou atacar pela direita que estava sem defesa, mas ela foi mais rápida e atacou pela esquerda, arranhando um pouco a pele. Mas isso não foi nada para o rapaz que a atacou no braço, mas ela se esquivou e andou para trás. Agora Lucy estava sem defesa. Ele conseguiu derrubar sua adaga no chão e a abraçou por trás, colocando a arma no pescoço.

— Sua defesa melhorou e o ataque também, mas vai demorar um pouco para conseguir me alcançar. – Já era totalmente para Natsu.

— Você que pensa. – Chutou-o com o cotovelo e pegou sua arma que estava no chão tentando atacar na cara do rapaz que por pouco não morria. Segurou os braços da mesma que estava colocando bastante força. – Não me subestime. – Jogou a adaga no chão enquanto deixava o outro sem fôlego.

— Você ainda vai ver. – Antes que ele fizesse qualquer coisa, Happy apareceu na porta avisando que a janta estava pronta.

Quando a tempestade começou, já eram 8 horas. O gato havia caído no sono no seu pequeno quarto. Lucy ainda não estava dormindo por causa do balançado do navio. Natsu escrevia alguma coisa no seu caderno – presente dado por Lisanna.

Muita coisa tinha acontecido; achou essa garota, ensinou-lhe a lutar, encontrou o tesouro, contou sua história para ela e... Ainda tinha mais coisas, mas naquele momento queria descobrir o que estava lhe incomodando tanto. Um sentimento novo veio quando estava treinando com a loira. Não sabia se era só amizade ou era felicidade de ter mais alguém ali com ele ou... Não, não era possível! Ele sentia isso só por Lis. Mas poderia ser isso mesmo. Poderia ser amor...

***

Um pouco longe dali, em Magnólia, um homem coberto por um capuz preto andava pela praia. Tinha olhos cor de sangue e procurava alguma coisa. A maré estava subindo, mas ele não estava nem aí. Não havia ninguém por ali, seria o momento exato para fazer aquilo. Alguns minutos se passaram e com a maré, um objeto brilhoso veio. O homem pegou e ficou o observando. Era um colar de coração. Um sorriso surgiu, de repente, nos lábios daquela pessoa. Agora, já tinha o que queria, podia fazer o que o patrão mandou.