— Está demorando demais essa comida!

Estava uma correria total no Barco Dangerous. Os escravos, que a maioria era do sexo feminino, tentavam ao máximo trazer a janta para os seus patrões. Patrões não, piratas. Um dos mais temidos do mar. Eram sujos, desonestos, perigosos e sombrios. Ninguém conhecia a história deles.

Uma das escravas, chamada Lucy, derrubou alguns pratos sujos no chão do navio de propósito. Estava cansada daquela vida miserável, nunca se alimentava direito e quando conseguia, era só o resto da comida dos piratas. Ouviu mais uma reclamação dos homens atrás de si. Entrou na dispensa e encontrou a sua única amiga, Wendy. A pequena era só uma criança, não merecia estar naquele lugar.

— Calma, Lucy, um dia isso vai passar. – Tentou a azulada consolar a adolescente. – Você mesmo disse que iria arranjar um jeito de sair daqui.

— Eu sei Wendy, mas eu não consigo mais. Hoje mesmo, eu fujo desse barco e levo você comigo. Não sei como, mas eu vou. – Continuaram a servir a comida.

Depois da janta, era tradição os escravos limparem a cozinha e irem dormir, enquanto os patrões conversavam, jogavam, se embebedavam e riam alto. Ninguém conseguia dormir.

Lucy ficou caminhando pelo seu pequeno quarto enquanto ouvia as risadas dos bêbados. Tirou seu colar do pescoço e observou-o. Sabia que quem lhe dera fora sua mãe, que nunca conhecera. Alguns mais velhos, sempre comentavam que ela havia vindo de uma família muito rica e que uma mulher de cabelos loiros ondulados a tinha deixado no porto onde estava o Barco Dangerous, com apenas dois anos. Nunca acreditou nessa conversa. Só se lembrava de que quando completou dez anos, nasceu sua grande e fiel amiga, Wendy.

Agora com dezoito anos estava determinada a fugir dali, com a pequena, claro. Mas como já estava tarde resolveu dormir, seu plano de fuga estava pronto, queria sair dali quando desse uma hora da madrugada, há essa hora, todos já estariam dormindo. Logo acabou adormecendo.

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— Saiam do barco, saiam! – A garota loira acordou desesperada com os gritos de alguns escravos.

Percebeu que o navio estava balançando mais que o normal. Mais gritos agoniados vieram. Correu para abrir a porta, mas não conseguiu, pois uma enorme quantidade de água entrou no seu quarto. Nadou até a escada onde dava para a parte de cima, mas o alçapão está fechado e mais água entrava no navio, daqui a pouco não haveria nenhuma brecha para poder respirar.

Quando estava já desistindo de não conseguir abrir o alçapão, esse se abriu e uma mão lhe puxou para cima. Tossiu e esperou sua mente voltar para o mundo real. Viu que quem tinha lhe puxado era Wendy. Rapidamente olhou em sua volta e percebeu que o barco estava partido ao meio. Logo perguntou alto:

— O que está acontecendo? – Em seguida, um grande trovão soou pelo local, fazendo a estremecer. Sentiu algumas gotículas caindo pelo seu corpo.

— São aqueles caras de novo, parece que agora estão conseguindo o que queriam; destruir o barco.

A jovem loira lembrou-se do primeiro ataque que teve no barco. Eram piratas mais perigosos que seu patrão. Mas tinham a mesma personalidade; sujos, desonestos, perigosos e sombrios. Esses sempre queriam atacar Dangerous. Não sabia qual era a intriga deles e nem queria saber, só queria que essa guerra acabasse logo, junto com a chuva e as explosões – que eram os trovões.

— Agora nós temos que sair daqui. Essa é uma oportunidade da gente fugir. Pense! – A gritaria causava arrepios nas duas.

Levantaram-se, mas nem puderam dar mais um passo, pois dois homens apareceram e tamparam suas bocas. Provavelmente, os inimigos. A loira percebeu que estava começando a ficar com sono, mas antes, deu uma cotovelada no abdômen do homem atrás de si. Wendy estava já dormindo também, mas conseguiu dar um chute mesmo naquele lugar no homem.

Não conseguiram se segurar com um balançado do navio e caíram na água. A pequena azulada não sabia nadar. Já Lucy, como sempre tentava fugir do barco, sabia nadar. A loira olhou desesperada para a garota e tentou nadar até a mesma, mas uma coisa lhe impediu. Uma espada atingiu o peito de Wendy e essa fechou os olhos e segurou fortemente uma pulseira amarela que estava levando, uma pulseira que Lucy tinha lhe dado quando se conheceram.

A loira perdeu de vista a azulada e ficou se virando de um lado para o outro, até receber uma pancada forte na sua cabeça. Seus olhos começaram a se fechar, tudo estava ficando escuro, até desmaiar.