Redenção escrita por AnneAngel


Capítulo 38
Antes de Amanhã




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Num mundo onde mentir é regra, falar a verdade é provocação

Sasuke P.O.V (Point Off View)

Sua relação com seu irmão sempre foi uma coisa meio desequilibrada, nunca esteve em pé de igualdade com o outro, nem na infância, nem na adolescência. Seu irmão sempre esteve vários passos à frente de si. Mas não agora, o pequeno silencio prazeroso em torno de seu coração lhe mostrou oque aquela conversa honesta ensinou; a desamarrar os nós, desembaraçar os problemas sempre que houvesse a oportunidade, para ficar na mesma página que a outra pessoa, desfazendo-se das coisas que não serviam mais e recriando os laços. Não era fácil, claro, mas o tempo não voltava atrás, e já tinha perdido muito tempo com desavenças...

Encontrou a esposa no corredor, via em seus olhos aquela felicidade de alguém que deseja o melhor, no fim das contas ela pareceu muito feliz em saber que obtivera sucesso em conversar com o irmão. Vendo-a tão alegre por ele, fez surgir um sentimento estranho dentro de si, como se tivesse acordado para as coisas que perdeu. Tempo, ele perdeu muito tempo, sua relação com sua família atual também era muito desequilibrada, nunca estiveram em pé de igualdade uns com os outros, Sakura e Sarada eram sua família, mas não era como se ele se fosse a família delas, não quando ficou tanto tempo longe. Elas poderiam viver perfeitamente sem ele lá, e isso doía, culpa de ser ausente por muito tempo.

Desde que estivera de volta, começara a despertar para as coisas familiares que havia perdido ao longo dos muitos anos que passou vivendo só. De fato a nova realidade o assustara no começo, mas agora via todos os benefícios que um vínculo familiar podia proporcionar, dos quais tinha se afastado por questões do passado; a vontade estranha de retomar tudo de volta para si era grande, de tomar as rédeas de sua função como pai e marido que não ocupou por muitos anos. Sarada foi praticamente órfã de pai vivo boa parte de sua infância e início da adolescência, e Sakura administrou a vida pessoal e profissional ao mesmo tempo em que era praticamente mãe solteira, porque ele não estava lá ao lado dela. Quanto coisa ele tinha perdido...

Pensava agora o quanto de coisa queria recuperar naquela vida, na realidade oque queria recuperar eram as relações com sua família como um todo, com sua esposa, filha, seu irmão e todos aqueles que ele prezava. Ele há de conseguir contornar o julgamento de seu irmão, iriam destruir os Otsutsukis e ficariam bem, certo? Tinha vencido tudo e todos que se colocaram contra ele, dessa vez não deveria ser diferente... E então se entenderia com sua família de vez, seriam felizes. Queria muito acreditar nisso.

Com esse pensamento seguiu para o andar de baixo junto a esposa, porque por algum motivo a conversa tão franca com seu irmão lhe deu esperança para o futuro, o tipo de esperança que não tinha a muito tempo. Sakura segurou sua mão e sorriu para ele como se pudesse ler pensamentos, e a segurança que ela lhe passou naquele momento foi suficiente para ele levantar a cabeça e seguir erguido.

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Itachi P.O.V (Point Off View).

Pensou que aquele dia nunca chegaria, desde que veio a intimação para o Julgamento o tempo pareceu se postergar e se arrastar. Seria agora em poucas horas, e cada segundo parecia morte lenta, uma noite longa até o raiar do sol e enfim o julgamento que determinaria seu futuro. Ainda sim, o pequeno aglomerado improvável de pessoas que resolveram se juntar a ele naquela empreitada estavam ali; Todas ao seu redor, acomodadas e amontoadas em almofadas, pufes, havia edredons e colchonetes por todo o perímetro do que deveria ser a sala...

Sakura tentou fazer o possível para todos ficarem acomodados no pequeno espaço, que parecia ainda menor com tanta gente. E ele? Bem, tentava manter uma postura controlada, o clima parecia amigável até demais, mas nem tudo era tranquilo, o futuro que lhe aguardava ainda parecia turvo demais para apreciar aquela noite sem ademais preocupações.

Parecia um estranho atípico dia, e sentia que não sabia ter uma relação satisfatória com as pessoas quando envolvia habilidades sociais. Em vez de um pernoite normal, o lugar estava cheio; Seu irmão estava lá junto com a esposa e filha, Naruto insistiu em ficar e Boruto seguiu o exemplo, Kakashi parecia mais à vontade ali no meio deles doque se estivesse em qualquer outro lugar sozinho, Karin ainda permanecia na vila desde que seu irmão chamou para procura-lo e agora a ruiva estava ali— Provavelmente mais por Sasuke do que por ele—  os Shins também resolveram aparecer para lhe prestar forças para o oque enfrentaria nas próximas horas, alguns deles tão próximos de Itachi que a pele se tocava. E para completar, a amiga de Sarada, Chouchou, também se juntou como parte do desajustado grupo que eles formavam.

Particularmente, não se sentia um ser sociável o suficiente para aquele tipo de obrigação social, porém as pessoas apreciavam-no o suficiente para querer seu bem e resolveram ir lá lhe dar uma espécie de ‘força’ para oque viria em poucas horas e não podia simplesmente dar ‘boa noite’ e se enfurnar no sótão... Como se a carranca que seu irmão lhe lançou quando quase tentou isso já não fosse indicativo suficiente do quanto estaria sendo inoportuno e potencialmente mal-educado, predicados que ainda eram melhores do que pena por sua situação infeliz, que provavelmente surgiria também.

Embora tudo o que quisesse fosse desabar e enterrar cansadamente a cabeça nas mãos, manteve-se firme, tão bom quanto era nisso; perdurar mesmo quando tudo parecia difícil, fez isso a vida toda e não lhe parecia uma missão impossível naquele momento, porque estava no entorno de pessoas que o queriam bem.

Suspirou. Sempre foi do tipo que não deixava claro em suas feições e comportamentos aquilo que pensava e sentia. Seguiu sua atenção para as pessoas ao redor, ao invés de sua fatídica atividade mental....

Sasuke lhe avisara de antemão que havia mais pessoas lá para vê-lo e ajuda-lo doque ele teria esperado. Kakashi e Naruto já imaginara que ofereceriam apoio, mas ainda era uma surpresa ter outras pessoas além deles. E ali estavam eles, seu pequeno grupo de... amigos? Sua família? Estremeceu ao pensar nisso. Pensar em família ainda parecia um ser um aglomerado de espinhos ásperos e cruéis descendo por sua garganta com Flashbacks de uma Katana e sangue.

Não, não queria focar nisso agora...

...E pensar que aquilo tudo só estava acontecendo daquela forma porque ele resolveu sair. Tudo começou com aquela visita ao cemitério. Quer dizer, em sua cabeça aquilo foi demasiadamente necessário, não só porque precisava ir até os túmulos pela primeira vez e prantear pelas vidas que ceifou, mas também foi importante porque pôde conversar com Sasuke sobre a situação e como se sentia e assim conseguiu colocar algumas coisas a limpo com o irmão. Era hora de olhar para as coisas de frente, objetivamente.

As pessoas estavam ali porque sabiam o quanto ele estava frágil e precisava de apoio. E era simplesmente surreal o quanto tentavam ajuda-lo e serem amigáveis. Ele não sabia o porquê. Não merecia aquele carinho todo. Na realidade, tudo a sua volta era confortável demais, irrealístico.

Aquela paz que eles estavam tentando lhe proporcionar antes do julgamento não deveria acontecer. E era isso que incomodava tanto Itachi Uchiha.  

Na sua cabeça, não tinha nada haver aquele momento. Era como se pegassem tudo oque um dia ele foi —o ninja aos 7 anos, chunnin as 10, ANBU aos 11 e capitão aos 13, responsável por um genocídio, e vários outros assassinatos, Nukenin e membro da Akatsuki, como se ele nunca tivesse feito Sasuke sofrer, como se nunca tivesse agredido Kakashi—  jogavam tudo isso no ventilador e o elegeram como bom amigo, todos perto de si com interesse e bondade genuína. Era como receber uma recompensa por algo indevido.

Claro, o mundo era um lugar mais pacifico agora, talvez por isso o comportamento das pessoas tenha mudado tanto; O que o deixava perplexo. Antes o risco de morte era constante, ser ninja era uma profissão de risco, não havia muitas garantias, era um cenário instável e a competitividade era estimulada, e toda competição gera individualismo, por isso as pessoas buscavam ter um alto desempenho e se qualificavam sozinhas, trabalho em equipe era pouco estimulado, geralmente era um por sí. O mundo era mais cruel.

Hoje era mais simples, percebeu, os relacionamentos a longo prazo eram mais valorizados, assim como trabalho em equipe, amizade e lealdade, isso certamente dava maior segurança e mais oportunidades para colaboração e desenvolvimento de habilidades e performances conjuntas. Talvez fosse por isso que estavam todos ali com ele. Era algo natural para eles, mas não para o Uchiha de cabelos longos.

...Talvez por isso se sentisse tão deslocado, ele era de outro tempo. As coisas eram diferentes e piores antes, mas estava acostumado a elas, acostumado a ter de lidar com os problemas sozinho, a ser independente, autossuficiente. Ele não precisava daquele tipo de relação social.

Era tudo bom demais para ser verdade. E Parecia assustador se vincular aquilo e depois perder. Nunca se vinculou naquele nível com as pessoas, nunca houve grau de necessidade porque suas únicas preocupações eram com a vida Shinobi e numa profissão de risco se vincular a pessoas que você sabe que podem morrer a qualquer hora é uma péssima escolha, e as outras áreas de sua vida fora do trabalho nunca foram importantes ao longo de seu desenvolvimento, e era obvio ver agora seu prejuízo social.

O clima só era tenso porque todos sabiam oque estava por vir amanhã, fora isso, era como se todos ao redor pudessem abstrair os males do mundo e ficar ali. Tudo tão normal que dava um arrepio da espinha, daquele tipo que geralmente antecede algo ruim. Mas parecia um pensamento infundado. Todos estavam com expressões relaxadas.

Como se para creditar oque pensava, seu irmão disse comumente: ‘’Sarada e Boruto, por que demoram tanto?!’’ Sasuke de repente bradou perto de si, uma cara de poucos amigos. Como se essa fosse a maior de suas preocupações no momento. Como se não houvesse julgamento em poucas horas, como se não tivesse mais nada para estragar a vida que estavam tentando construir juntos.

Pensando bem, depois da conversa que tiveram, o outro parecia mais determinado, mais humano e focado nas coisas atuais: como se as peças de um quebra-cabeças tivesse encaixado e não houvesse mais razão para dúvidas quanto ao futuro.

Queria estar como seu irmão. Mas era estranho demais. Particularmente, Itachi não estava acostumado a estar cercado de pessoas assim, de modo que lhe deixava um tanto inquieto e disperso, queria voltar ao sótão sem alarde. Mas aquelas pessoas pareciam atentas demais em seu comportamento para que saísse sem maiores transtornos...

O loiro rapidamente conseguia trazer um clima menos pesado ao ambiente, algo mais suave: ‘’Daqui a pouco eles estão de volta. Devem ter se distraído com alguma coisa, sabe como são os jovens(Da)ttebayo!’’ Naruto murmurou.

Foi quando Sasuke rosnou e todos olharam: ‘’Nada disso. Minha filha sempre foi uma garota focada. Boruto que é todo lerdo... Também, sendo seu filho não é de se admirar, não é?!’’ Grunhiu ‘’E porque eles tinham que ir juntos? Era perfeitamente possível ir apenas uma pessoa. Era só ir na rua e trazer alguns malditos refrigerantes’’.

‘’Ah, lá vem você com isso, Teme. Somos muitos e precisamos de copos descartáveis também e...’’

‘’E não é Boruto que se gaba de fazer multi-clones como você?’’

O loiro resmungou, e desviou o assunto: ‘’Oque tem demais em passar um tempo juntos?! É bom pra eles poder compartilhar coisas da mesma idade. Eles são amigos. E nem meu filho e nem eu somos lerdos(Da)ttebayou!’’.

‘’É. Acho bom eles serem amigos mesmo!’’ Grunhiu seu irmão. ‘’Se não, tá vendo isso aqui?’’ Disse pegando um Tamagoyaki em sua mão e esmagando-o sem pudor: ‘’É isso que vai acontecer com seu amado filhinho. Eu tô de olho naquele moleque, acha que não sei qual é a dele?! Esses garotos de hoje em dia só pensam em...’’.

‘’Não é como se eles tivessem de amasso, teme! Eu acho que eles só se gostam com amigos!’’

‘’Claro que sim. Se não você teria que providenciar um enterro, Dobe!’’

Itachi olhou seu irmão de cima a baixo com olhos levemente arregalados por um instante, e depois engoliu em seco e obrigou-se a se recompor. Quer dizer, constantemente se esquecia que seu irmão crescera e era um homem de família e pai agora. E, pensando nisso, achava que era bastante normal que os pais tivessem algum receio dos filhos aparecerem com seus primeiros namorados, mas oque Sasuke estava fazendo agora lhe parecia totalmente fora de foco. Itachi nunca teria pensado que seu otouto pudesse ser tão... Ciumento?

Pensando bem, ele era um pouco assim quando Itachi passava tempo demais com Shisui...

Certo, a situação já parecia incomum demais para Itachi, era banal e estranhamente corriqueira, não estava acostumado. Entretanto ficou tão chocado com a reação repentina de seu irmão que demorou tempo demais para repreende-lo: ‘’Eles só foram buscar oque beber, Otouto. É sério que vocês estão conjecturando um suposto relacionamento com base em buscar bebidas e copos? E mesmo que tivessem um relacionamento, qual seria exatamente o problema? Parece perfeitamente normal para a idade’’ Murmurou logicamente, mas de alguma forma seu comentário parecia ter surtido o efeito contrário, e seu irmão parecia mais zangado.

‘’Aniki, você não sabe nada sobre ser pai. Então fique calado!’’ O outro Uchiha grunhiu.

Ele sentiu como se tivesse pisando em território desconhecido, quando falou de novo: ‘’Eu pensei que os pais gostassem quando suas filhas tinham namorado. Quer dizer, você teve um fanclub bem grande na infância e adolescência, maior do que o meu. E nenhum dos pais pareciam potencialmente preocupados com isso, até incentivavam. Quer dizer, ninguém queria chegar aos 30 sem estar casada...’’.

‘’Os tempos mudaram. E Sarada não precisa casar até 30, se não for oque ela quer’’ Seu irmão rosnou.

‘’É, ela vai ser Hokage’’ Naruto emendou e todos olharam para ele. ‘’Bem, é oque ela diz. E eu tenho que admirar esse senso de determinação (da)ttbayou!’’.

Todos olhavam para eles com o maior interesse. Como se fossem a coisa mais incrível para se observar, e talvez até fosse: O Hokage, o remanescente Uchiha e seu irmão meio-zumbi trazido dos mortos, com um julgamento terrível pela frente e uma ameaça Ōtsutsuki, e eles ali conversando sobre a vida amorosa e potencialmente inexistente de dois adolescentes. Realmente bizarro.

Quando ele poderia voltar ao sótão, Kami-Sama? Não queria ser ingrato, mas quando se passava parte da vida sendo indiferente a essas coisas tão comuns, era estranho voltar e tentar se encaixar...

...Era estranho ver as pessoas interagindo e fazer parte daquilo. Ficou meio minuto ouvindo atentamente a troca de farpas ente seu irmão e o loiro, quase vidrado. Ver as pessoas tão comunicativas, extrovertidas, falantes. Pensar que esse poderia ser seu futuro era ao mesmo tempo incrível e maluco.

Foi quando os jovens chegaram, finalmente, para completar o quadro. A porta bateu e entraram rapidamente: ‘’E aí, galera!? Boruto na área! Não sentiram muito minha falta não, né?!’’ Disse o loirinho brincando e roubando todo o brilho para ele, irradiando animação. Talvez ele não tenha notado a carranca feia do seu Otouto, e sequer deveria perceber o futuro tão incerto dos Uchihas.

Itachi tentou não ter pensamentos pessimistas, considerando o estado de espirito tão exuberante das pessoas ali presentes.

‘’Até parece que alguém sentiria sua falta. Você saiu não faz nem trinta e cinco minutos!’’ Sasuke rosnou, ainda ranzinza.

‘’Credo, tio Sasuke. Está quase sempre de mau humor, você tem que aprender umas técnicas pra tratar as pessoas bem mesmo em tempos de crise, em nome da boa convivência, sabe? Nós somos vizinhos afinal. Imagina eu ter que acordar e todo dia dar de cara com esse seu mal humor... Por que não segue o exemplo do seu irmão? Ele é bem mais gente boa—(Da)ttebassa!’’.

Por um instante o Uchiha de cabelos longos olhou de forma espantada. Ele era gente boa? Se ele era gente boa, com que tipo de pessoas o garoto loiro costumava andar?

Sua própria definição de si mesmo, sobre ser um tanto antissocial, não devia ser de todo real se Boruto pensasse aquilo. Mas por outro lado, o jovem mal o conhecia, e as pessoas tinham opiniões tendenciosas sobre quem não conheciam de fato.

O outro Uchiha que não gostou disso foi seu irmão por ter sido insultado, Sasuke largou os Hashis rapidamente na mesa com uma expressão possessa, como se fosse voar em Boruto a qualquer minuto.

Shintarou notou algo antes e disse: ‘’Olha, ele comprou um presente pra namorada dele no caminho!’’.

Seu irmão olhou a filha e o loirinho ceticamente, como se algo tivesse acertado ele duramente no meio da barriga: ‘’Vocês estão namorando mesmo?’’.

A menina Uchiha corou de vergonha e os olhos esbugalharam só com a perspectiva, mas não parecia tão avessa a ideia, ao que Itachi notara. Foi o outro jovem que reagiu primeiro:

‘’QUE? Dá onde você tirou essa ideia insana?’’ Boruto colocou as mãos à frente e acenou rapidamente negando tudo.

‘’Eles estavam discutindo a vida amorosa de vocês dois até ainda pouco!’’ Shingehito explicou, como se não soubesse que estava colocando mais lenha na fogueira. Às vezes Itachi achava que estava cercado de idiotas.

Ali estava mais um fator para subir ao sótão e se concentrar no que diria amanhã. Porém, quem disse que teria aquilo de volta? Brigas inconstantes sobre assuntos banais? Até onde sabia, poderia estar preso novamente depois de amanhã, ou pegar condicional, ou perpetua, talvez até pena de morte se não conseguissem argumentar e levar as provas da ordem do Massacre corretamente. Então, por mais tolos que fossem, aqueles pequenos momentos banais e idiotas pareciam-lhe preciosos demais agora. Apesar de parecerem momentos bizarros.

‘’Verdade, estavam falando disso mesmo. Eu até faço gosto, se for verdade, Sarada. O Boruto até que não se é de jogar fora’’ Chouchou disse, com olhos vidrados. Essa sim sabendo que estava acrescentando mais material para discussão.

Boruto olhou para Sasuke: ‘’Nada haver! Deus que me livre namorar a lunática da sua filha! Até parece que eu sou louco assim de querer entrar pra sua família, eu hein, gente toda problemática. Deus que me livre, cruzes!’’.

‘’Verdade, você parece se dar muito melhor com aquele seu amiguinho lá, o Mitsuki. Vai rolar Yaoi?’’ Chouchou murmurou olhando pra ele atentamente, logo em seguida comendo uma batatinha com uma expressão analítica de interrogatório.

O queixo de Boruto caiu, e por um instante ele ficou sem ação. “Qual é?! Vocês andaram fumando oque enquanto eu fui ali buscar um refri? Primeiro conjecturar que eu e a Sarada temos algo, depois eu e o Mistuki? Não sei que LSD é esse, mas da próxima vez deixa pra mim também, parece ser tão louco quanto as ilusões que eu ouvi que o Itachi pode fazer! Deve ser maneiro e muuuiito louco!’’.

Mais uma vez uma referência a sua pessoa de forma positiva? Que tipo de imagem mental e errônea aquelas pessoas estavam criando dele? Era estranho demais ouvir seu nome sair da boca das pessoas com conotação engraçada ou banal, quase aversivo. Pensava se estava tão acostumado a ouvir coisas ruins e degradantes sobre si mesmo, que se tornou excêntrico ouvir coisas agradáveis. Sim, devia ser isso, por isso estava tão desconfortável.

Sarada olhou o menino com descrença e depois olhou para Sasuke raivosa, depois corrigiu rapidamente, com uma veia pulsando ameaçadoramente em sua testa: ‘’E tem outra coisa. Não gosto de doces. Até parece que não me conhecem. Esse presente não é pra mim!’’ Rebateu.

‘’É claro que não!’’ O loiro voltou a falar para corrigir oque os Shins fizeram: ‘’Isso aqui não é pra Sarada. É pra você Itachi!’’.

Sasuke compreendeu e olhou o pacote com mais atenção: ‘’Vocês compraram Dango para Itachi?! Ah, então é isso...’’ Ele disse, parecendo realmente aliviado.

‘’Isso foi ideia do Boruto!’’ Sarada resmungou ‘’Só para deixar claro que eu não tenho nada haver com isso... Eu só comprei o refrigerante e os copos!’’.

Não parecia tão obvio para o outro Uchiha. Aquela situação era tão adversa para ele, mas parecia tão habitual para o loirinho dar um presente assim. O Uchiha de cabelos longos ainda estava levemente surpreso: ‘’Para... Mim?’’.

‘’Sim, claro. Um passarinho me contou que esse é seu tipo favorito de doce!’’ Murmurou ele, mas deu uma piscadela sugestiva na direção de Sakura ou Kakashi.

Por algum motivo seu lado mais severo se viu na posição de negar, pois parecia estranho deixar seu eu reprimido que gostava de doces aparecer assim na frente de todos: ‘’Não precisava comprar nad‘’ Foi interrompido bruscamente.

‘’E não vai começar com essa palhaçada não, nem vem de cerimonia, dizer que não tá com fome, que não gosta de doce ou sei lá oque mais pode usar como desculpa!’’.

‘’Boruto, já falou desatinado com o Sasuke. E agora... Não é assim que se fala com pessoas mais velhas. Parece até que eu não te dei educação(Da)tebayou!’’

Seu irmão atirou um olhar raivoso para Naruto: ‘’Você não deu educação a ele. Seja sincero. Estava ocupado demais com seus deveres como Hokage...’’.

‘’Claro que dei educação ao meu filho, não fala bosta não, Teme. Boruto, peça desculpas agora, Itachi não tem que aceitar seu agrado só porque você quer!’’.

‘’Nem vem, pai. Isso é porque não foi com você. Veja bem, a fila pra comprar isso estava enorme. Aí quando chegou nossa vez a porra do doce tinha acabado e a mulherzinha sem sal lá do atendimento disse que não faria mais remeças hoje porque tava tarde já. Daí tive que mandar mó caô lá, dizendo que era pra você, tá ligado? Daí só porque botei o nome do Hokage no meio que liberaram fazer mais um pouco especialmente pra essa ocasião. E eu tive que ficar esperando lá plantado eles fazerem mais sem nada de útil pra me distrair, e a Sarada reclamando feito uma velha. E ô bagulho demorado pra fazer, credo. E caro ainda, colocaram foi ouro aqui dentro?!  Fora as bajulações que tive que ouvir sobre você e seu cargo chato... Então não vem de caô não, que tú vai comer essa merda, Itachi!’’

‘’Hey, meu irmão comerá se ele quiser, moleque insolente!’’

‘’Isso mesmo, Boruto. E Itachi não é seus coleguinhas pra você falar assim...’’

‘’Como num é meu amigo? É claro que é! Né, não Itachi!? Num é meu amigo uma ova (Da)ttebasa! Itachi é parceiro, claro que é meu amigo!’’

Por um momento deixou os três reclamarem um com o outro, seus pensamentos longe. Não sabia porque momentos de seu passado surgiram como flash, a infelicidade generalizada, a insatisfação com a vida, os problemas e brigas com seu pai e seu clã. E uma imagem de Shisui lhe levando Dango, em meio ao caos.

Ficou estranhamente desconcertado, por alguns segundos. Depois Itachi suspirou querendo acabar com aquilo de uma vez: ‘’Se ele fez tanto esforço para comprar, o mínimo que eu posso fazer é aceitar. E, além disso, é indelicado rejeitar presentes’’ Disse pegando a sacola de Dango das mãos do loiro e fez uma leve inclinação com a cabeça para demonstrar seu agradecimento.

‘’Você não tem que dar voz a esse moleque, Itachi. Hey, Dobe! Seu filho fica cada vez mais insolente e você nunca faz nada. Estou começando a achar que ele é uma má influência muito grande para minha filha!’’.

‘’Você não esteve aqui por vários anos, pra saber oque era ou não uma má influência pra sua filha. E agora que dar uma de bom pai? Não enche meu saco não, Teme!’’.

‘’Eu até posso ter sido ausente. Mas e você? Que esteve do lado do seu filho esse tempo todo e não soube nem dar um pingo de educação pra ele?! Isso é pior que ser ausente. Isso é ser omisso!’’ De repente, parecia que iriam entrar numa briga épica como se no Vale do Fim...

O Uchiha de cabelos longos parou de ouvi-los quando Naruto e Sasuke entraram numa discussão boba sobre paternidade, Sakura e Kakashi interviram tentando acalmar os ânimos de ambos, enquanto o resto do grupo parecia estar muito entretido com toda aquela picuinha familiar.

Itachi tinha a teoria de que Sasuke só estava assim tão emotivo com qualquer besteira para extravasar seus medos e anseios com o futuro, seu irmão era explosivo e precisava descontar em alguma coisa ou em alguém: Então deixou-o naquela besteira com o loiro, afinal os dois eram amigos.

O Dango estava agora em suas mãos. E imagens de Shisui ainda apareciam em seu mundo interno, naquela época em que Itachi tinha sonhos, sucesso proeminente em sua carreira Shinobi, um amigo confiável, quando sua vida parecia mais adequada, antes de todo conflito, sangue, mortes e todas as lagrimas. Sentiu seus olhos marejarem, e se sentiu bobo e infantil por isso. Onde estava sua compostura perfeita?

Observou em volta, buscando olhares recriminadores. Os Shins ainda estavam focados nele, observavam-no cheios de curiosidade e dúvidas. Kakashi certamente percebera seus olhos molhados, mas não havia crítica em seu olhar, só um pesar bondoso.

Por um instante se sentiu deslocado novamente ao invés de acolhido. Não dava. Aquilo era bizarro demais. Estava apenas esperando uma oportunidade para sair dali e se resguardar por algum tempo, deixar toda aquela loucura, se concentrar no julgamento. Passara tanto tempo com pessoas que lhe odiavam, com gente falando mal dele e querendo seu mal que já estava acostumado a ser distratado. Era estranho encontrar pessoas amáveis consigo e não sabia oque fazer em situações assim, essas pessoas o faziam se sentir seguro e um pouco tímido. E sua mente estava toda bagunçada com isso.

Comer seu doce favorito enquanto esperava a oportunidade de fugir surgir parecia ótima ideia, ao invés de deixá-los ver o quanto ficara abalado com pequenas coisas banais e de cunho familiar. Abriu o pacote quase se deleitando a ver o doce favorito a mão, aquela sensação de água na boca. Ao menos, todos os holofotes da sala foram direto para seu irmão e Naruto brigando, e isso o acamou um pouco.

Digo, não todos, os Shins geralmente lhe olhavam atentamente como se fosse uma entidade a ser venerada, mas desse vez estavam com uma expressão surpresa. ‘’Que foi?’’ Perguntou suavemente, mas disse baixo para não atrair atenção indesejada do grupo para si mais uma vez.

Shingeru tomou coragem e perguntou: ‘’Você vai mesmo comer isso? Parece inadequado para alguém... da sua idade’’.

De repente um sorriso simples adornou sua face, pois nem tudo tinha mudado desde sua época. Aquela forte percepção de que os doces eram feitos para as mulheres e crianças, e não para os homens. Por isso tantos homens que odiavam comidas doces ou eram encorajados a fingir que odiavam para parecer mais maduros e masculinos.

No imaginário das pessoas, o sabor doce era para os fracos, era infantil, remetia a delicadeza. Muitos adolescentes fingiam e se doutrinavam a odiar os doces como um meio de enfatizar sua masculinidade. As vezes se perguntava se Sasuke disse tanto a si mesmo que odiava doces, até que realmente passou a acreditar nisso... Seu pai, Fugaku, secretamente adorava doces, mas claro que ninguém sabia disso, apenas ele porque durante sua infância o homem usava o fato de Itachi ser criança e gostar daquelas coisas como desculpas caso fosse pego na loja de doces ou estivesse com algum nas mãos: ‘Ah, é para Itachi. Sabe como são as crianças...’ disfarçava.

Os Shins ainda esperavam sua resposta. E ele olhou para seu doce favorito, e depois de volta para eles: ‘’Se vocês não comem doces por que acham que isso vai supostamente manchar a masculinidade ou porque vai parecer infantil, eu meio que sinto muito por vocês. Na realidade, parece o tipo de lógica ainda mais infantil do que ela realmente prega. Eu não vou deixar de comer oque gosto por conta de um boato estupido como esse!’’.

E eles assentiram como se aceitassem tudo oque dissesse, como se tudo fosse a coisa mais óbvia a dizer que nem precisassem rebater qualquer coisa que viesse dele: ‘’Você é incrível, tem razão’’ Um deles disse, e pelo olhar todos pensavam o mesmo.

Itachi quase revirou os olhos, a devoção dos Shins era tanta que desconfiava que se dissesse que o dia tinha 30 horas certamente prefeririam acreditar sem titubear, sem mostrar qualquer receio. Abriu mais o pacote, estava quase levando um a boca quando se deu conta que talvez fosse educado oferecer: ‘’Vocês vão querer?’’.

‘’Não. Agente prefere que você fique com tudo, se gosta tanto, Itachi-Sama!’’ O jovem que ele lembrava se chamar Shingeya respondeu por todos. O Uchiha queria poder rebater, mas considerando que não precisaria dividir seu doce favorito, preferiu ficar calado dessa vez, não importava o quanto egoísta lhe parecia...

...Quando o gosto atingiu seus sentidos, lhe remeteu a nostalgia. E uma onda de melancolia pareceu lhe envolver a cada vez que mastigava, era aquela saudade de coisas gravadas só na memória...

Percebeu pelo canto do olho que a mulher ruiva estava lá olhando-o intensamente, que não prestava atenção na briga de Sasuke com Naruto, daí se deu conta que ela ouviu toda a conversa com os Shins, assim como Kakashi, que lhe observava de longe com uma expressão... triste e bondosa ao mesmo tempo, como se o grisalho soubesse oque passava em sua mente.  

Mas Karin parecia deveras curiosa, apenas. E ele demorou quase tempo demais para ter a reação de perguntar-lhe o motivo: ‘’O que foi? Você quer um?’’ Disse forçando seu rosto a ficar neutro, vestindo uma máscara de desdém tranquilo. Assim estendeu-lhe uma vara de Dango com bolinhas coloridas.

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Karin P.O.V (Point Off View).

Ainda não conseguia parar de pensar sobre o irmão de Sasuke. Não só porque ele estava estranhamente vivo, mas também porque não sabia ao certo o que pensar sobre isso: Afinal Sasuke passou boa parte de sua juventude tentado a matar o temível Uchiha Itachi, que ainda era, substancialmente, um assassino em massa. Não importando a ela que tudo tivesse sido ordenado. Nada apagaria a realidade de que o outro Uchiha de cabelos longos era mesmo um grande assassino. E ainda que muitos outros Shinobis também fossem assassinos, não era o mesmo que matar a própria família... Sangue frio demais, cruel demais, sem coração e emoções.

Por mais que Sasuke tivesse supostamente perdoado o irmão por trair o próprio sangue, a Uzumaki ainda se lembrava do outro, inicialmente, como alguém a ser temido. Em todas as suas terríveis lembranças sobre o passado, Sasuke estava lá desolado e raivoso ao extremo; Uma fúria cega que só cessaria ao matar seu Aniki.

Ela não intendia muito bem como ele passou a devotar toda a sua atenção a Itachi novamente, como se nada tivesse ocorrido de ruim entre eles.

Pensou que a culpa de ter matado o próprio irmão, sem saber na realidade de todos os fatos reais e sórdidos sobre o massacre do Clã Uchiha, destroçou Sasuke e por isso ele perdoou tão rápido o irmão mais velho.

E, além disso, Karin sempre suspeitou que todo aquele ódio encarnado escondia no fundo um grande amor e admiração embutido. Sasuke sempre pareceu ciumento e possessivo quando alguém mencionava o irmão dele. E por isso queria ver mais dos dois, para tirar suas próprias conclusões...

Por isso, antes do tal julgamento, seguiu para casa dos Uchihas e ficou a observar Itachi minuciosamente. Como todos naquele lugar podiam estar com ele? Aceita-lo?

Tinha certo condoimento com a situação de homem, ela o viu naquela noite anterior quando ele sumiu e voltou todo destruído, como se tivesse chorado muito e estivesse acabado, como se nem fosse forte o suficiente para esconder a dor. E afinal ele parecia realmente desolado com o futuro que o aguardava. E ela viu ainda pouco, olhos momentaneamente cheios de água, e depois quando ele pensou que tinha neutralizado isso, ela viu aquilo nele: o olhar ermo, perdido em algo do passado.

A ruiva podia até reparar que o cara estava cabisbaixo, seus músculos frouxos, ombros tendendo para baixo enquanto comia. Ao que parecia, mesmo ter conversado francamente com Sasuke não pode remover completamente o temor e tristeza...

O clima na casa era um tanto leve mesmo com o pesado futuro incerto pela frente... Todos estavam ao redor dele com tranquilidade e amabilidade para diminuir a tensão. Mas o Uchiha não parecia captar tudo aquilo, como se estivesse assolado demais por pensamentos e lembranças ruins para fazer parte da cena familiar. Como se não fosse feito para fazer parte daquilo.

Sakura lhe orientou a não julga-lo pelo oque ela já conhecia previamente dele. E isso parecia justo, considerando o quanto o Uchiha de cabelos longos devia estar se martirizando por conta própria. E afinal de contas ela foi ali para prestar ajuda a Sasuke, Itachi deveria ser apenas um efeito colateral do toda aquela situação angustiante.

Já não caia de amores por Sasuke como antes, mas ele ainda era seu amigo e precisava de ajuda, ainda havia um caminho muito longo e difícil para a recuperação total de seu coração. O trauma de sua juventude, os efeitos causados por presenciar a morte de seus familiares, ficar sozinho e tudo o mais, mexeu claramente com sua saúde mental e isso não seria resolvido facilmente.

Sakura estava lá para ajudá-lo, era verdade. E agora ela também estava ajudando o Uchiha de cabelos longos e isso deixou a Uzumaki curiosa...

Ainda tinha certa raiva por tudo oque Itachi fez Sasuke passar, ficava estressada só de lembrar o quão insano o jovem ficara no passado. Mas, observando o outro Uchiha ali lhe oferecendo Dango como se fosse a pessoa mais normal do mundo, fazia esse sentimento quase se esvair completamente.

Ainda mais quando percebia o olhar arrasado por trás da compostura quase perfeita e indestrutível que ele tentava fingir o tempo todo. Uchihas. Como Sakura aquentava eles? Juntos assim com essas personalidades difíceis...

Desde que chegara trocava olhares com a mulher de cabelos róseos como quem quisesse conversar sobre isso, e ela lhe incentivava com o olhar a tomar alguma iniciativa, ver onde isso daria... Por isso resolveu se aproximar dele, deixa-lo perceber que estava observando.

Se até Sasuke que era o maior prejudicado pôde perdoa-lo, ela não seria estúpida o suficiente para fazer o contrário. Era visível o quanto os dois estavam muito bagunçados, mas estavam juntos e isso parecia ser oque importava. E, além disso, olhando bem: Sasuke não parecia ser o único com problemas psicológicos depois de toda a tragédia que era sua vida...

Foi assim que colocou-se a observar o outro Uchiha: Itachi estava estranhamente aéreo, tanto quanto Sasuke, ambos não queriam falar com ninguém sobre oque conversaram. Assuntos de irmãos provavelmente, e não parecia que tinham se desentendido, pelo contrário era como se tivessem chegado a algum acordo...

Bem, ao menos isso estava bem. Entretanto... Respirou profundamente. Tinha esperanças de que Sasuke ficasse melhor. Mas como sempre, ele lidava com coisas inesperadas de forma agressiva e explosiva: E se algo desse errado no julgamento ou se os Ōtsutsuki fizessem merda não seria nada bom para ninguém.

Olhou para o Uchiha de cabelos longos por segundos intermináveis: enquanto que Sasuke era explosivo e raivoso quando a merda batia no ventilador, Itachi era seu extremo oposto, percebeu. Ele parecia tão quieto e silencioso em situações tensas que chagava a ser estranho. No fundo ela sabia que Itachi devia estar apenas sendo um idiota, fingindo não ter sentimentos...

Mas então ela pensou sobre isso, e chegou à conclusão de que se o Uchiha de cabelos longos fosse tão desequilibrado quanto seu irmão, talvez eles todos não pudessem lidar com a bagunça que devia ser a mente desses dois homens.

E, quer dizer, considerando que Itachi não era um psicopata sem sentimentos, deve ter sido bem difícil seguir aquela vida de Nukenin que ele levou só cumprindo ordens. Sua mente devia ser uma grande bagunça, talvez ainda mais perturbada e destruída que a de Sasuke. Deve ter causado uma dor terrível ter tido que matar toda a sua família, abandonar sua vila natal, ser um criminoso por vários anos, ser odiado e ainda levar o fardo disto nas costas.

...Se Sasuke já era uma bagunça por causa de tudo oque aconteceu. Imagina o quão fodido o outro Uchiha deveria estar? E se ele fosse tão emotivo e desequilibrado como Sasuke seria um caos.

E só porque Itachi reagia diferente, não significava que sofria menos. Pelo contrário, talvez fosse até mais corrosivo guardar tanta coisa ruim dentro de si, sem poder se expressar, sem poder falar, fingindo ser forte. Parecia-lhe horrível e perturbador alguém se fechar dentro de si assim, se trancar com todas aquelas coisas ruins lá dentro, sem chance de escapar ou deixar oque machuca sair.

Foi quando compreendeu o porquê de Sakura não julga-lo.

A partir de então, seu olhar ficou mais atento. Começou a prestar mais atenção no outro e pode ver os sinais de depressão, em seu constante silêncio, seus sinais visíveis de dor e sofrimento escondidos atrás de um rosto neutro e vazio.

E agora, em sua mente, ele já não era mais o monstro que ela lembrava estar sempre assombrando Sasuke. Itachi era só um ser humano afinal de contas...

...E parecia ainda mais humano lhe oferecendo doces, como se aquela pessoa a sua frente não pudesse ser a mesma que assassinou o próprio clã.

Ele estava lá com a mão estendida a tempo demais, já desconfortável quando ela tomou a iniciativa de pegar oque ele lhe dava. Estendeu a mão e pegou duas das varas de Dango, mais doque ele lhe oferecera.

A adição extra na sua mão tinha uma marca de mordida que claramente era dele, mas ela não ligou. Itachi, por outro lado, por algum motivo voltou a comer oque restara no pacote tentando não parecer emburrado, e falhando miseravelmente. Por um momento ficou perplexa, um segundo depois ela sorriu de lado. Uchiha Itachi não parecia-lhe mais tão horrível depois de tudo...

Quem diria que aquele cara que todos temiam gostava de doces ao ponto de parecer ruim ter que dividi-los? E se ele era assim hoje, sendo um adulto... como deveria ser quando era apenas uma criança de 13 anos?

Depois a feição da ruiva se enrugou. Oque diabos tinham feito com aquele jovem? Como tiveram coragem de ordenar o massacre para uma criança? Oque passou pela cabeça de todos aqueles velhos do conselho?

Foi quando ela olhou-o com simpatia. Bem, já sentia empatia suficiente por Sasuke, logo não foi difícil estender isso ao irmão de cabelos longos também. Além do mais, os Uchihas sempre foram encantadores para a ruiva, não só por sua beleza. Mais ainda agora que notou também suas personalidades tão díspares e tão fascinantes...

Ela ouviu então a voz dele soar ao longe. Tirando-a de seus pensamentos...

“Porque ainda está me olhando? Você já pegou 2/5 de tudo oque tenho’’ Ela o ouviu dizer, parecendo um tanto aborrecido com a perspectiva de dividir as três varas que lhe restaram.

‘’Não posso ter tirado exatos 2/5 de tudo oque você tem quando um deles está incompleto’’ disse, apontando para o Dango já mordido.

‘’Você pode se dispor a devolver, se está tão insatisfeita’’ Informou ele, com uma voz falsamente polida.

‘’Eu nunca disse que estava insatisfeita... Então esse deve ser você’’ Respondeu, sorrindo de canto. ‘’Ahaa, te peguei Uchiha!’’

•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•

Itachi P.O.V (Point Off View).

Resolveu ignora-la depois daquilo. Não era como se ele estivesse insatisfeito, era só que não havia muito para dividir, pra começo de conversa. E ela podia perfeitamente sair em suas próprias pernas e era livre para ir e vir e comprar mais se ela quisesse. Ele não.  Tá... então talvez estivesse um pouco insatisfeito.

Karin Uzumaki ainda estava observando-o com atenção desmedida num angulo que nem dava para fingir que não, a mulher observava-o contemplativamente. Ou talvez observasse o pacote de Dango em suas mãos, vai saber?!

E aqueles olhares... Tinha que admitir que era uma coisa inquietante. Parecia ter transcorrido um minuto inteiro, talvez até dois, até que a moça percebesse que seu olhar aguçado estava incomodando-o.

A mulher parecia ter voltado a realidade, mas não sem antes lhe revelar a verdade que ele supunha que todos andavam descobrindo sobre ele: ‘’Você não é bem oque eu pensava, Itachi!’’ Disse ela depois de uma suposta análise minuciosa, e depois virou para o outro lado onde Sasuke e Naruto ainda brigavam como se o mundo girasse entorno deles.

A ruiva o deixou lá embasbacado, esperando que ao menos ele não fosse oque ela esperava para algo ainda pior...

Felizmente, parecia que todas as pessoas agora estavam concentradas na briga dos amigos sobre paternidade, que tinha se acirrado e ficado brusca demais, com Sakura e Kakashi tentando conter, porém não dava certo com Boruto e Sarada colocando seus pesares e angustias no fogo sobre os pais não terem lhes dado nenhuma atenção na infância. Um grande drama familiar surgiu, e Itachi ficou feliz por não ser o centro dele.

Apesar de tudo, agora com toda a atenção das pessoas em outro lugar, a sua própria foi para o noticiário da TV, como se o mundo ao seu redor não existisse. O eco da briga familiar e dos outros se metendo bem distante em seus ouvidos...

Os ruídos eletrônicos ainda mais altos em seus tímpanos, falas irritantes de telejornais que lhe tocavam o ouvido, não era como se desse para fugir da realidade por muito tempo: Era como previra, mesmo que seu mundo pessoal parecesse estagnado, o mundo real, lá fora, não iria parar nem por um segundo por condolências a ele. Assim era a vida.

O som denunciava os fatos, saiu de um documentário sobre pinguins para o noticiário, cujo foco era só “O Julgamento de Uchiha Itachi, o assassino de seu clã e terrorista da Akatsuki”: Os jornais do mundo todo só noticiavam aquilo, o tempo todo. Tanto na versão impressa quanto nas edições televisivas ou na Internet. Era só oque falavam em todos os cantos...

...Talvez isso explicasse porque seu irmão trocava os canais desvairadamente, quase que ensandecidamente, só para encontrar as mesmas coisas em todos e ficar ainda mais aborrecido quando sentaram lá na sala com todas aquelas pessoas horas antes, no horário do noticiário anterior(...).

A voz de todos aqueles jornalistas e as entrevistas com os habitantes para saber suas opiniões adentrara o ouvido de Itachi de forma clara, transformando-se em um zunido desagradável.

Ao parar de focar na televisão, percebeu que Karin e os Shins voltaram a observa-lo e olhavam-no por vários segundos no que parecia ser uma tentativa de verificar seu estado de humor ou de espirito, supôs.

Depois Sakura pareceu notar também e lançou um olhar significativo na direção do outro Uchiha, que ainda brigava com Naruto. Um a um, todos percebiam oque passava na TV e olhavam para ele automaticamente, ficando em silencio profundo e tensão.

E só assim Sasuke notou que o noticiário começou e desligou a Tv rapidamente, num ímpeto, e logo abandonou a postura anterior rapidamente como que por mágica.

‘’Itachi... Não tínhamos percebido!’’ Murmurou o atual Hokage, como se pedisse desculpas por estarem brigando por algo sobre quem era o pior pai enquanto passava aqueles noticiários.

...Enquanto isso sentiu que o mundo ao seu redor parecia opaco de repente, e não ficava melhor com tantos olhos atentos em sua figura. Era como se esperassem a primeira brecha, como se esperassem que ele fosse quebrar em algum momento e fosse precisar de suporte. Bem, não seria hoje pelo menos. Já havia sido emocional o suficiente lá em cima com Sasuke, e dias antes também...

Ele já havia aberto as feridas, já as havia fechado, já chorou, já expôs suas angustias. Foi só um momento ruim, não significava que as coisas iriam de mal a pior, não significava que a vida era ruim. Agora que já choveu, as nuvens tempestuosas em sua mente se dissipavam um pouco. E era uma nova oportunidade de tentar fazer as coisas darem certo. Foi quando sua postura ficou aparentemente mais tranquila e neutra.

‘’Provavelmente isso não será um decimo do que vai acontecer amanhã. Ouvir oque estão dizendo pode ser melhor para que eu me prepare para oque virá!’’  Murmurou como quem não quer nada sobre as notícias. Depois ignorou os olhares em cima de si.

‘’Para de falar merda, Aniki. Ficar ouvindo isso pra que? Pra se autodepreciar depois?’’ Sasuke rosnou, lançando olhares furtivos para seus braços escondidos sob longas mangas. E Itachi quase rosnou de volta para que ele se calasse...

...Aquelas pessoas pareciam já ter pena dele o suficiente, a última coisa que queria era que soubessem de seus episódios de mutilação. Não era como se os fizesse para chamar atenção. Esse jamais foi o objetivo, na realidade.

Todos observavam-no agora, olhares preocupados sobre ele, como se ainda esperassem que fosse quebrar e se espatifar no chão. De repente ali estava ele, cercado por olhares cheios de pena e afeição, e não sabia bem oque fazer: Sabia que Kakashi, Naruto, Karin e Sakura estavam ao redor esperando o momento em que ele (ou seu irmão) dissessem oque rendeu a conversa dos dois, o momento em que ambos fossem se despedaçar com o futuro a frente por qualquer motivo que fosse.

Mas todos aqueles olhares, e outras coisas, estavam deixando-o um pouco ensimesmado. Afinal de contas, ninguém se dava ao trabalho de se importar como ele e em como ele estava se sentindo no passado, era um Shinobi e todos costumavam acreditar que Uchiha Itachi era sempre frio e impassível como um ninja de verdade deveria ser.

Além disso, podia jurar que sua face estava completamente em branco e sem emoções aparentes. Então, como todos podiam ver tanto de seus anseios? Será que, além de Sasuke, todos já podiam ver para além de suas ilusões?

E mesmo assim... Ninguém deveria se importar com os sentimentos dele, certo? Era um ninja e por isso foi treinado para esquece-los ou esconde-los o melhor que podia. Mas agora aqueles olhares de preocupação e condoimento o faziam ficar encabulado. Como deveria agir afinal? 

Itachi sentiu-se tentado a dizer que parassem de olha-lo daquela forma. Mas não foi necessário. De repente a campainha tocou. Distraindo as pessoas na sala...

‘’Ah, devem ser as Pizzas. Finalmente, e na hora certa pra cortar esse clima chato!’’ Chouchou murmurou. ‘’Comida gostosa e barriga cheia sempre deixam as pessoas satisfeitas... E felizes!’’.

‘’Ah... Eu tava morrendo de fome mesmo, Chouchou(Da)ttebasa!’’ Disse o loiro coçando a cabeça, e feliz em ver Sakura seguir rumo à porta. Tinha gente o suficiente na sala, e do canto onde estava era improvável que notassem Itachi ali, era só o entregador, um civil...

...Mesmo assim, o Uchiha foi a passos largos para a cozinha (Seguido pelos Shins), onde ficariam mais ocultos, e de qualquer forma alguém precisaria pegar os talheres e pratos... A sala até parecia mais vazia sem todos aqueles rapazes quase idênticos lá...

Bufou enfadonhamente ao notar que eram apenas uma dupla de idiotas na porta. Pegou a conversa pela metade...

‘’Não podemos entrar?’’

‘’É, o vento está gelando meu lombo aqui, filha!’’ Um homem falou.

‘’Não tá frio, pai!’’ Sakura rebateu.

‘’Mas oque isso interessa? Não podemos entrar?!’’ O suposto pai de Sakura continuou ‘’Vou começar a achar que está escondendo algo aí!’’ Disse tentando ver a casa por entre a filha, mal sabendo ele que estava mais certo do que podia imaginar. Todos na casa ficaram tensos, mas como eram só os pais de Sakura não parecia tão ameaçadora aquela visita inesperada.

Itachi sabia que não havia como a rosada manda-los embora sem ofende-los grandemente, então já estava pensando em uma forma de sair dali sem ser visto, voltar para o Sotão de onde não deveria ter saído. Tal vez aquela fosse a brecha que estava procurando...

‘’Sasuke está em casa ou está trabalhando ainda assim tão tarde? Oque? Você está escondendo um amante aí?! Não é de se admirar... Com aquele seu marido que some pelo mundo por meses... Às vezes anos.’’ O cara concluiu.

Certo, por essa nem Itachi esperava, mal conseguiu se mexer com a ousadia e cara de pau daqueles dois. E dali dava para ver que a boca de Sakura quase caiu em choque com aquela suposição. Porem logo a expressão da mulher se tornou mais séria, como se a resposta a tivesse obrigado a tomar uma atitude imediata: ‘’Hoje não poderei recebe-los!’’

‘’Por que? Que falta de cortesia, somos seus pais!’’

Sasuke se aproximou da porta com um ar de autoridade, sua expressão séria fez os dois olharem-no tensos: ‘’Vocês dois, retirem-se. Hoje eu quero ficar sozinho com minha família e as pessoas que nos apreciam. E vocês não são bem-vindos!’’ Rosnou.

‘’Mas que isso?! Você tem que ter um pouco mais de trato conosco. Somos seus sogros, rapaz. Sempre te tratamos bem...’’ O homem rebateu.

‘’Ele deve estar tenso e com razão, esse comportamento deve ser por causa do julgamento daquele assassino amanhã, né?!’’ Cochichou-lhes a mulher velha, com uma expressão séria. ‘’Você nem sabe!? Hoje de manhã uns paparazzi foram lá em casa, tentaram fazer perguntas. E nem estamos no centro dessa bagunça. Imagina? Fico pensando no que vocês estão passando. E minha neta?! Ela não merece isso...’’.

‘’Nós estamos bem, mãe, não se preocupe!’’ A rosada quase disse aquilo com raiva demais, como se quisesse enxota-los de uma vez. ‘’E depois doque aconteceu com nossa casa anterior, ninguém ousou chegar perto de nós para atazanar!’’.

‘’Ah, que bom. Fico feliz que estejam em paz! Já basta oque tá acontecendo, né? De virar a cabeça de qualquer um. Né, Sasuke? Seu próprio irmão, assassino do seu clã, voltou dos mortos assim pra perturbar tudo... Eu sei que deve estar sendo difícil pra você, filho. Mas você é forte. Vocês são. Vão passar por isso. Ah, e pensar que vocês tem que passar por tudo isso por causa daquele nukenin... Como pode?! Depois de tudo oque fez, ainda tem direito a julgamento!’’ A mulher continuou.

Teria sido um ótimo consolo se Sasuke ainda lhe odiasse, mas como não era assim o clima de repente ficou ameaçador. E Itachi percebeu que isso se devia a intenção assassina que emanava de seu Otouto.

Karin ficou tensa, Naruto e Kakashi se aproximaram da porta como se para impedi-lo de bater nos próprios sogros. Itachi estava quase batendo em si mesmo, considerando o quão inesperadamente idiota era aquela situação. Previsível até. Afinal, é claro que alguém que não era do meio deles apareceria ali para acabar com a paz...

‘’Mãe, eu já disse que estamos muito bem, obrigada!’’ Rosnou a rosada, e por algum motivo Itachi se perguntou porque ela parecia mais irritada com eles doque ele próprio estava.

‘’Que isso, menina. Eu vim te dar uma força. Sei que a casa deve estar uma bagunça, você sempre foi meio desvairada, ainda mais agora com esse problema que surgiu pra abater sua família!’’

‘’Não precisamos de ajuda, tá bem?! Falo com vocês num horário mais oportuno, Shannaro!’’ Disse batendo a porta na cara deles e bufando de raiva, batendo os pés no chão.

Kakashi e Naruto se aproximaram da Sasuke tocando-lhe ambos os braços, como se soubessem que ele provavelmente pensava em abrir a porta e caçar os dois, para lhes dar uma morte dolorosa e cruel. Pelo menos era isso oque o Chakra ameaçador dele parecia querer dizer. Felizmente os pais de Sakura se foram realmente, como se sentissem a intenção de matar de seu irmãozinho tolo...

Itachi caminhou até a sala, mais pleno do que qualquer um ali: ‘’Você não pode culpa-los por estarem reafirmando e repetindo exatamente oque todo mundo lá fora está pensando e dizendo sobre mim, Otouto. Eles não sabem de nada, e não é como se eu não tivesse convivido com coisas assim a vida toda...’’ Disse racionalmente.

‘’Eu sei’’ Sasuke rosnou, parecendo lembrar de algo desagradável. Talvez alguém no passado se maldizendo dele na frente de Sasuke, depois que descobrira a verdade. Depois a expressão do Uchiha mudou. ‘’Mas isso vai mudar. Amanha’’.

E dessa vez foi a vez do Uchiha de cabelos longos de fazer uma careta: ‘’É. Amanha’’.

Depois o clima amigável voltou até eles lentamente, com todas aquelas pessoas queridas lá em sua volta. A Pizza chegou e tudo voltou ao que era.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Suas visitas se foram, os Shins e Chouchou para suas próprias residências, e Sarada fora ficar na casa de Boruto. Karin também partiu depois de lhe lançar um olhar intenso e desejar sorte. Tinha que admitir que foi ótimo tê-los por perto, mesmo que não estivesse acostumado a tanto afeto.

Agora encarava a janela observando a escura noite sem luar, não havia ninguém nas ruas de qualquer maneira e por isso olhava contemplativamente...

‘’Está na hora, Itachi’’ Um Sasuke muito irritado e com um trincar de dentes predadores afirmou. Sim, é claro que estava na hora. A noite caiu, era de madrugada e assim teriam que partir. Assim se findava sua estadia na casa de seu irmão, foi uma noite realmente ótima e agora teria de voltar a sede da DIIA para o julgamento em poucas horas.s

Saiu de perto da janela. De repente, Itachi tornou a se sentir claustrofóbico, só com a perspectiva de ficar preso num cômodo desconhecido, mesmo que a DIIA fosse bastante confortável não era o mesmo que a casa de seu Otouto. Então, logo alguém bateu na porta e soube de imediato que provavelmente eram os guardas que o escoltaram até lá. Era hora de enfrentar o mundo real. Sua vida provavelmente iria mudar para sempre, seja pra bom ou ruim.

Pelo menos Sasuke e Sakura ficariam lá com ele até o julgamento...

As pessoas que entraram pela porta não era bem quem esperava, reconheceria a menina facilmente dado sua semelhança com Shisui: Mirai Sarutobi. E o outro que lhe acompanhava era ninguém menos que Shikamaru Nara. Por um instante Itachi pensou nessa escolha e porque não era o próprio Hokage e Kakashi que o acompanhariam até a DIIA, antes de tudo se desenrolar frente a seus olhos.

Quando os olhos afiados do Nara colidiram com Uchiha Itachi bem ali na sala, o homem ficou sobressaltado de imediato, dava até para ver seu coração acelerado frente presença de um homem que julgava ser seu inimigo, entrou em postura de combate na mesma hora. Mirai fez exatamente a mesma coisa quase que instantaneamente, um punhado de medo brilhando em seus olhos temendo que a briga iminente pudesse ferir algum inocente nas proximidades.

‘’Oque? Oque diabos ele está fazendo aqui?’’ O Nara tentou manter o foco no Uchiha inimigo, mas ao mesmo tempo correu para encontrar os olhos azuis do Hokage, a procura de explicações.

‘’Esse é ... Esse é o...’’ A menina não se atreveu a dizer o nome, como se Itachi fosse uma assombração, como se dizer seu nome fosse torná-lo real e não apenas sua imaginação.

‘’Shikamaru. Eu posso explicar, escolhi você para vir aqui porque eu não queria que fosse o último a saber pelo menos parte das coisas. Eu não quero olhares atravessados. Só saiba que Sasuke teve bons motivos para ter recebido Itachi aqui na casa dele, e eu fui conivente com isso porque era o certo a se fazer. Você entenderá amanhã, então... Apenas vamos leva-lo para DIIA, certo?’’

‘’Ninguém aqui vai reagir ou ataca-lo então, não precisam dessa postura de ataque’’ Kakashi apenas informou. A menina Sarutobi olhou para ele avaliativamente. E depois de transcorrer vários minutos, ela não obedeceu. Já o Nara ainda estava friamente calculando a situação. Se por acaso optasse por um confronto, tinha altas chances de perder porque entre ele e seu alvo que era Itachi, tinha Kakashi, Naruto Sakura e Sasuke como escudo.

‘’Ele é perigoso, um psicopata desprezível!’’ Mirai rebateu ‘’Como está aqui? Porque está solto? É um assassino... E pode nos matar, nos enganar, fazer uma nova chacina, podia ter cometido um novo genocídio aqui hoje... E fugir’’ Disse a jovem caindo em todas as ilusões que um dia Itachi criou sobre si mesmo. Ela não conseguia ver por entre suas ilusões, e era como se ele fosse a personificação do mau e do medo.

Por algum motivo Itachi não se sentiu mal por pensarem assim dele. Era como previra, já estava acostumado com isso, era como pisar em território conhecido. Aquilo não lhe deixava com baixa autoestima ou algo assim, nem mesmo sentia raiva: era como interpretar um personagem, um vilão, e o público em geral sempre caia nessa ilusão.

Enquanto Shikamaru e a menina ficaram lá tentando controlar a própria frustração e entender o que estava acontecendo, o Uchiha de cabelos longos simplesmente lhes deu a cortesia de fingir que a presença deles não existia. Aguardou pacientemente a hora de ir.

Era quase reconfortante saber que ainda existiam pessoas que não podiam ver por entre sua fachada de aparências. Pessoas que não iriam ver o horror em seus olhos, a dor e o sofrimento. Pessoas que não sentiriam pena. Para essas pessoas ele era simplesmente assustador e repugnante, e pronto. Podia viver com isso, interpretar e ignorar ou fingir desdém como fizera durante anos.

‘’Oque ele faz aqui? E porque estão protegendo-o?’’.

‘’Você veio aqui para cumprir uma missão. Não pra fazer perguntas’’ Sasuke rosnou alto em um tom que sugeria sangue e violência caso o outro continuasse a insistir naquilo.

Ao que parecia, a viagem até seu destino não seria tão pacifica. Uma pena porque pensava em poder desfrutar da paisagem no caminho sem ter que prestar a atenção na tensão de todas as pessoas a sua volta. Lá fora estava uma noite adorável, percebeu quando espiou pela janela. E era tão arriscado pra ele pisar lá fora e ser visto, que queria poder aproveitar dessa vez porque talvez fosse até a última, considerando que poderia sair do tribunal como culpado por seus crimes.

Ele parecia o único animado quanto a sair, respirar o ar do lado de fora. Só alguém enclausurado por muito tempo entenderia. Enquanto todos ali dentro focados em desavença por conta de sua presença.

‘’Shikamaru, vamos. Tudo vai se esclarecer em breve, apenas vamos. Tudo vai se endireitar(Da)ttebayou!’’.

‘’Mas isso não faz o menor sentido. Todos sabem seu nome e história muito bem. Ele é um genocida, membro da Akatsuki. Não faz sentido... A menos que saibam de algo que eu não sei...’’

O Nara olhava de forma analítica e gelada, desconfiado como se Itachi tivesse colocado todos os outros numa ilusão e estivesse manipulando-os. O homem realmente estava calculando ativamente as chances disso ser verdade e de como iria combate-lo se fosse o caso. Olhando para o Uchiha de cabelos longos como se fosse o ser mais maldito da face do planeta terra; o maldito traidor de sua vila de origem e de sua família.

‘’Naruto, me conte agora oque está acontecendo. Uma boa explicação para toda essa situação estapafúrdia. Ou terei que tomar atitudes drásticas’’ Disse Shikamaru muito, muito sério. Os braços cruzados sob o corpo tenso, expressão dura.

O Hokage piscou e por vários segundos intermináveis se manteve calado. Itachi disparou seu olhar para o Uzumaki e percebeu que o loiro tentava buscar uma resposta que não atrapalhasse sua relação amistosa com o Nara. Itachi realmente não sabia que a amizade deles era tão frágil assim e não queria ser ele o responsável por destruí-la.

‘’Kakashi-Sama, não pensei que teria trazido ele para cá. Ele está aqui desde aquele dia que nos esbarramos? Disse que levaria ele, não achei que seria para cá...’’ A menina que parecia com Shisui acusou.

‘’Como assim?’’ O Nara trotou imediatamente. ‘’Alguém aqui pode explicar oque está acontecendo?’’.

‘’Itachi fugiu, e eu o encontrei. Mas Kakashi-Sama interviu e o levou...’’.

Agora mesmo é que o cara acreditaria que os colocou numa ilusão, a começar por Kakashi. As chances de Naruto e os demais para tentar explicar oque ele estava fazendo ali sem dizer a verdade caiu ainda mais fundo, rumo ao inferno. O clima ficou ruim perigosamente, a tensão se elevando entre todos, a intensão de matar de Sasuke a tomar o ambiente.

Itachi suspirou, decidido a acabar com aquilo de uma vez sem que houvesse uma briga desnecessária: ‘’Você quer saber oque estou fazendo aqui?’’ Perguntou com um toque de desdém na voz, frio impassível como costumava ser antes, um papel fácil de interpretar.  ‘’Posso lhes contar tudo...’’.

‘’Você não precisa lhes dizer tudo...’’ Naruto sussurrou-lhe.

‘’E porque outro motivo você escolheu justo eles para virem aqui?’’ Itachi diz em um tom baixo que sugere algo secreto e sugestivo. ‘’Você os escolheu porque não queria ter que lidar com a culpa de não ter contado a Shikamaru a verdade antes. Então vamos logo acabar com isso sem precisar de violência desnecessária. Há muitas mentiras na minha vida. Então agora, sejamos honestos. Todos’’.

‘’Do que ele está falando?’’ A voz do Nara saiu num rosnado, como se a mera presença de Uchiha Itachi ali, vivo, fosse uma fonte constante de dor e fúria. ‘’Ele é um assassino, é da Akatsuki... Vocês por acaso esqueceram oque ele fez? Não vai me dizer que ele jurou ser bonzinho e vocês resolveram perdoa-lo e dar asilo exatamente como fizeram com um punhado de criminosos por aí? Que porra é essa, seus idiotas, expliquem. Esse cara fez da vida de Sasuke um inferno, NÃO FOI? Oque ele faz justo aqui?’’. 

‘’Não tem explicação pra isso...’’ A menina resmungou, ainda mais perplexa que o homem.

Os punhos do Nara se fecham com mais força: "Não é ruim o suficiente você ter voltado e roubado meu amigo e agora tá enfiando coisas na cabeça dele, Uchiha?’’ Ele disse em direção a Sasuke como se ele fosse o responsável por Naruto ter ficado tão mole quanto a Itachi. Possivelmente o Nara era o mais enfurecido que qualquer um naquele lugar, mas o ódio que Sasuke começou a transmitir de repente em seu chakra quase podia competir.

‘’Pare com isso. Você está apenas tornando tudo pior’’ Sakura resmungou. Mas não deu pra entender para quem realmente foi aquela frase.

A carapuça serviu no Shikamaru, que rebateu: ‘’E quais são as minhas opções? Eu chego aqui e encontro ele. Oque queriam que eu pensasse? Esse cara é detestável... temível. Não há possibilidades de conceder perdão. Ele é odiável’’

Com um sussurro tímido, pouco mais que um suspiro, Itachi concorda: ‘’Não se preocupe. Eu também me odeio. Apesar de tudo, ao que parece eles acham que eu mereço um julgamento justo, considerando que o Massacre dos Uchihas foi ordenado por Konoha. Assim como entrar na Akatsuki para espiona-los de dentro’’ Dizer a verdade foi assustadoramente fácil, e isso quase o deixou aliviado, se não fosse a pontada de dor lancinante em sua alma.

‘’Mas... Oque disse?’’ O Nara pareceu em choque, olhos levemente arregalados, maxilar levemente mais frouxo com a revelação, paralisado olhando Itachi como se tentasse assimilar oque foi dito. A boca da menina realmente caiu, suas sobrancelhas arquearam em dúvida. Era quase como se Itachi tivesse lhes alfinetado duramente, como se tivesse dito a coisa mais absurda possível.

‘’Está insinuando que Konoha foi quem ordenou a chacina contra os Uchihas. E que sua presença na Akatsuki era autorizada por nossos superiores?’’.

‘’Exato’’ Disse o Uchiha de cabelos longos simplesmente.

‘’Isso não é meramente possível’’ Trincou os dentes ‘’Nenhuma autoridade dessa vila seria conivente com um ato desses. Eu posso ferrar sua vida ainda mais no tribunal com sete alegações diferentes contra você só por ter proferido essa mentira, seu merda!’’  

‘’Hey, NÃO OUSE falar com meu irmão NESSE TOM, seu babaca!’’ Sasuke deu um passo a frente, mas Sakura e Naruto o seguraram provavelmente para que não pulasse no pescoço de Shikamaru.

‘’Eu pensei que você queria saber a verdade. Os detalhes não são muito importantes para a história agora, vocês saberão tudo em poucas horas’’ Itachi rebateu, sua voz um pouco provocadora, porque se fosse pra enfrentar a realidade enfrentaria de cabeça erguida, ainda que seu coração estivesse em frangalhos. ‘’Podemos ir agora? Eu quero acabar logo com isso.’’ Resmungou com um humor azedando.

‘’Você terá oque merece’’ O Nara rosnou encarando o Uchiha de cabelos longos com pura raiva.

‘’Pode apostar que ele vai ter, e não vai ser através do resultado que você está esperando’’ Seu Otouto grunhiu antes de passar em direção a porta para sair, não sem antes dar um leve encontrão no ombro de Shikamaru rudemente. E lá foram eles rumo ao futuro incerto, pelo menos todas as pessoas que estavam ao seu lado e lhe queriam bem estavam confiantes que tudo daria certo, e isso já lhe bastava.

De certo que muitas coisas mudariam dali para frente


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Notas finais do capítulo

É isso. Se alguém ainda le isso aqui, eu agradeço imensamente.
Pode levar o tempo que for, mas não desistirei de escrever essa trama e concluir essa história.
Beijos da Autora.



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