Redenção escrita por AnneAngel


Capítulo 28
Prisão Domiciliar.


Notas iniciais do capítulo

Olá? Alguém ainda acompanha isso aqui?



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Não desejo a ninguém tanta cobrança. Não é possível ser forte o tempo todo, há momentos de fragilidade em nossas vidas aos quais não devemos fugir, tem momentos que chorar, ficar em pânico ou temer também faz bem; E isso não é sinal de fraqueza.

Sasuke P.O.V (Point Off View)

Era muito estranho abrir os olhos e encarar a casa daquela forma: Como se ainda estivesse entorpecido e achava aquilo bizarro.

Tudo estava silencioso e em uma paz esquisita, o som dos passarinhos do lado de fora era uma iguaria para os ouvidos, se fechasse novamente os olhos e se concentrasse com afinco podia até pensar que tudo aquilo que ocorreu nas ultimas semanas era nada mais que um sonho. Piscou, sabendo que era tudo muito real: Assim encarou o teto por um longo tempo, suas mãos descansando um pouco acima de sua barriga sentindo sua calma respiração ecoar pelo lugar.

Ah, como queria ser tomado por aquela calmaria, queria ficar ali deitado por um bom e longo tempo, era só o que ele precisava naquele momento: Abster-se de mais problemas.

Estava sem vontade alguma de sair da cama e encarar a vida. Respirou fundo soltando o ar devagar, ainda ouvindo o som dos passarinhos, um zumbido no ouvido e mais nada. E ele queria essa calmaria porque sentia que precisava dela, precisava espairecer e colocar as coisas no lugar. Não queria mais perder a cabeça e agir impulsivamente, afinal, tinha uma filha pra criar, uma mulher para amar e um irmão para ajudar e não podia deixa-los na mão. Mas parecia tão difícil achar calma e serenidade com seu interior tão conturbado.

Aquilo tudo estava mexendo com ele de forma muito intensa. Mal conseguia dormir a noite, tomado por insônia e preocupações. Queria estar totalmente pronto para encarar aqueles novos rumos que sua vida estava tomando, mas não era bem assim, no fundo não sabia como lidar.

Nunca foi de se acomodar em casa, não queria se afeiçoar tanto aquela realidade familiar. Antes já era suficiente ficar longe por um longo tempo sabendo que todos estavam bem e voltar de vez enquanto para apreciar oque perdeu então sumir novamente, agora se via mais próximo de tudo o que temia e o pior era que até certo ponto estava gostando, gostando daquela familiaridade, daquela convivência. Tinha se esquecido como era bom estar em família de forma permanente, de certa forma.

Olhar as paredes e o teto daquela forma ainda parecia um tanto estranho de mais para ser verdade, ainda não havia se acostumando com sua nova casa. Não dava nem pra imaginar, parecia uma ilusão muito estranha, mas ao mesmo tempo em que parecia loucura era tão reconfortante ter uma casa e uma família por perto para lhe acalentar. E era justamente isso o assustava: foi tomado tão fortemente por aquela convivência, não tinha percebido o quanto desejava secretamente, em seu amago, uma vida familiar. E  não tinha percebido o quanto, ao mesmo tempo, temia isso mais que tudo em sua vida.

Bocejou, pensando que ele tinha que aceitar: aquilo era a realidade, apesar de tudo.  Queria pensar positivo. Mas parecia complicado... Então... 

No fundo queria sentir que estava começando a tomar as rédeas de sua nova vida, no fim não foi tão ruim assim morar ali. Certo? Era uma coisa boa. Sua família estaria unida, Itachi incluído nessa afirmação muito futuramente.  O cara de bunda do Kakashi e o baka do Naruto estavam do seu lado (O Uzumaki literalmente, pra variar. Bem do outro lado da rua), apesar de tudo as coisas iam se ajeitar... Certo?

Na realidade ainda estava assimilando tudo: Só haviam passado duas semanas, mas parecia que tudo tinha ocorrido ontem, os dias passaram voando com toda aquela mudança na vida de sua família. Todos estava um tanto sobrecarregados, felizmente parecia uma sobrecarga boa: Kakashi agilizava a papelada para Itachi, estavam esperando ser aprovada, assim que o caso entrasse em segredo de justiça e fosse autorizado mover Itachi para prisão domiciliar, levariam seu irmão para casa, finalmente. Até lá, seu Aniki era tratado no hospital enquanto Sasuke ficava em casa tendo que carregar algumas caixas e decidir oque fazer para tornar aquela casa vazia habitável em poucos dias. Hatake falou para ele se preocupar só com isso, só resolver primeiramente os problemas de sua vida pessoal. E até que não foi tão ruim como pensou, a sensação de estar se movendo, fazendo algo mesmo que em casa, era reconfortante de certa maneira.

Afinal, queria mesmo levar as coisas com calma: Ainda conseguia lembrar-se do temor que sentiu no primeiro dia, estava enfincado em suas entranhas, estava se sentindo intimidado com todas as coisas que ocorreram aquele dia da invasão do hospital.

Lembrava-se de conversar com o irmão e depois deixa-lo no hospital relutantemente, lembrava-se de voltar para casa caminhando devagar como se a cada passo hesitasse em chegar ao seu destino. O que lhe acalmou um pouco eram as ruas vazias apenas iluminadas pelos postes, a invasão ao hospital teve repercussões, negativas e positivas, felizmente muitos veículos de mídia passaram a diante o discurso de Hatake e muitos pareciam de acordo com o grisalho, embora ainda existisse um grupo de rebeldes contra um nukenin como Itachi naquele espaço de cuidado e proteção. Era muita coisa, muita informação, muitos problemas, o deixou exausto aquele dia. Era de madrugada quando avistou sua mais nova casa no horizonte.

 Lembrava que quando voltou havia uma ligeira movimentação estranha, percebeu seu sogro ao longe entrando com algumas caixas empilhadas nos braços. Quando se aproximou o suficiente para ser visto foi recebido com educação e felicidade. Sarada estava muito animada com a mudança, seus avós, Boruto e ela estavam levando o que sobrara da outra casa para a nova, nem pareciam saber do atentado a seu irmão. Ele ajudou quase que no automático, ainda abalado com tudo. Mas tarde Sakura chegou do hospital e parecia preocupada com o marido, mas ele a acalmou com um olhar que dizia que estava tudo bem, que não queria ter que explicar seus motivos e sua esposa parecia entende-lo perfeitamente nisso, não lhe questionando por todos aqueles dias, embora soubesse que deveriam ter um conjunto de conversas sinceras.

...E assim os dias passaram: Estavam fazendo um bom trabalho arrumando seu novo lar. Ficou ali naquele lugar dia apos dia, alheio ao que acontecia na cidade ou em qualquer outra parte do mundo, nem sequer foi visitar itachi esses dias todos, era incapaz de encara-lo por mais de dez minutos, porque por mais que quisesse pensar positivo no fundo tinha medo que tudo desse errado e temia que seu aniki visse o pavor em seu olhar. Ele estava mergulhando em algo novo, um mar escuro que não dava pra ver o fundo e nem dava para saber onde aquela maré o levaria e que rumo teria sua vida. E temia isso, temia não poder prever o que aconteceria, temia não saber ou ter um mínimo controle de seu futuro. Era tudo tão incerto agora.

Suspirou, tomando coragem para mais um dia: Olhou para o lado onde Sakura dormia pacificamente e bocejou colocando a mão na frente, com cuidado se permitiu observar a mulher por um tempo. Os cabelos róseos estavam por todo o lado do travesseiro, sua expressão era calma, estava usando uma blusa branca fina de alças e seu peito subia e descia com a respiração suave. Ele não iria acorda-la, ainda era cedo e ela havia ficado de plantão no hospital no dia anterior, nem a viu chegar de tão tarde.

Era singular observa-la, porque ao mesmo tempo via a mulher forte que se tornara, a mulher determinada que tinha seus próprios ideais, que tinha sua vida nas mãos. Não era mais aquela chata que vivia correndo atrás dele em admiração frívola, não era mais aquela garota que dizia gostar dele, mas não sabia nem metade do passado sombrio que ele levava no peito. Sakura cresceu muito, era como uma flor de verdade que tinha amadurecido, como se tivesse encontrado a si mesma naquela jornada toda de vida e agora ela sabia o que e quem era. Já ele não se sentia assim, sentia que ainda era aquele mesmo jovem de antes, perdido em algum lugar entre o passado sombrio e sua vida atual. E ele não gostava disso, pois queria ser como ela. Queria ser forte para se encontrar nessa vida, achar um novo rumo, se redimir do passado e encontrar um novo futuro sem que tivesse que olhar para trás.

Deixou os olhos vagarem em volta do quarto, só havia o futon no chão, um aglomerado de caixas ao redor e o blecaute: A casa ainda não estava arrumada, porém não era mais tão vazia, tinha um ar de vidanaquele lugar.

Agora as coisas já estavam se ajeitando, tinham ate mais visitas do que costumavam ter antes: Os pais de Sakura ajudavam no que podiam, traziam coisas ou simplesmente importunavam com seu humor excêntrico. Hinata era gentil o suficiente para trazer comida de vez em quando ou ajudar em algo da casa, Himawari sempre a acompanhava e alegrava o ambiente, Boruto lhe perturbou e ajudou algumas vezes, mas não havia acontecido nenhum problema. Kakashi visitava às vezes para trazer noticias e Naruto tentava se aproximar dele de vez em quando, sempre tentado quebrar o gelo que se formou entre eles desde que descobriu que o outro escondeu seu irmão dele. Até a Ino aparecia de vez em quando, trazendo flores para alegrar o ambiente, como ela mesma alegava.

Se ele se esquecesse dos detalhes sórdidos, podia até fingir que era apenas uma proximidade comum. Mas não conseguia fazer isso, porque era assustador se deixar levar por aquela proximidade toda. Não queria uma vida social de novo e perder tudo, por qualquer motivo que fosse. Ainda faltava um grande passo até poder confiar e permitir reunir-se em sociedade para socializar e confraternizar de forma verdadeira entre família e amigos.

Passou as mãos no rosto sentando no futon meio sem jeito: Seu quarto parecia espaçoso sem nenhum móvel, não duvidava que se fizesse qualquer barulho ecoaria por toda a casa.

A luz fraca da manha entrava no lugar, transpassando o blecaute que haviam comprado dias antes. Suspirou já se sentindo cansado para o que iria enfrentar no seu dia, mas ao mesmo tempo não querendo perder as esperanças.

Aquele negocio que chamava de vida bem que podia ser mais fácil. Entretanto não era assim, a vida nunca foi e nunca seria um parque de diversão, o máximo que poderia aproximar as duas sentenças era a montanha russa, com seus altos e baixos, como a vida. E só.

Olhou para a esposa novamente: Deu um beijinho rápido na testa de Sakura antes de sair do quarto para uma ducha bem gelada. Não conseguia encara-la por muito tempo, ao mesmo tempo em que a admirava quase que obsessivamente, sentia inveja por ela ter conseguido se encontrar na vida e ele não. Caramba, eram tantos sentimentos distintos ao mesmo tempo.

Era tudo tão confuso e não apenas com sua esposa, tinha sentimentos mistos com relação a todo mundo: Era assim com Itachi e Naruto (Amava-os e odiava-os ao mesmo tempo), com Kakashi que era um bom home que ajudava-o (Mas que as vezes tirava-o do sério), até sua filha Sarada, que era sua preciosidade naquela vida (Mas educar uma jovem sendo ele o pai que era, bastante difícil. Sakura nesse quesito tinha mais moral que ele). Mas sabia que em nenhuma família descente havia amor 100%. Porque a família margarina era utopia.

Decidiu prestar atenção em coisas mais simples que não faziam sua cabeça latejar: Os azulejos de tom claro do banheiro estavam frios, era estranho andar por aquela casa, observar o que tinha novamente. Por um lado era reconfortante, por outro assustador porque estava se vinculando com uma vida em família novamente e ao mesmo tempo em que queria, também não queria isso. Era conflitante!

Tinha um ofurô, mas preferia água corrente: Quando terminou sua ducha, sentia que acordou de vez, sua mente a mil. Escovou seus dentes e colocou uma roupa de tom escuro e arrumou seus cabelos, olhando no espelho dava para ver que eles estavam enormes, tocando o ombro. Olhou-se com atenção analisando, em breve precisaria cortar, afinal tinha certeza que já dava para prendê-los num rabo de cavalo baixo na nuca. Lembrou-se das longas madeixas de seu irmão, sempre as admirou secretamente: Aquela maneira como Itachi conseguia manter o cabelo magnifico e ainda arranjar tempo para ser um excelente shinobi era invejável.

Pensando em como sua vida estava louca, foi ao escritório ainda vazio, apenas com um aglomerado de caixas e pegou uma pasta, depois andou em direção à cozinha ainda terminando de vestir um blazer azul. Tudo ainda estava silencioso e calmo: Se por um lado sentia que sua vida parecia estar finalmente indo para frente, isso o deixava mais disposto e também preocupado com o futuro.

Sua mente não deixava de pensar naquilo que Sakura lhe disse antes, sobre temer aquelas mudanças em sua vida por acreditar que perderia tudo mais cedo ou mais tarde. Era verdade, ela não poderia estar mais certa: A cada dia que passava mais ele ficava apavorado por dentro. Tinha realmente medo de perder tudo o que estava construindo, um pavor que o tomava por dentro de tal maneira que era absurdo.

Temia toda aquela familiaridade, toda aquela intimidade, aquela convivência, aquela camaradagem, aquela amizade, temia se acostumar com aquela vida. Porque sabia que se perdesse tudo isso de novo não existiria muito de si nos frangalhos que sobrassem. Não queria se vincular nem com as pessoas, nem com a casa ou os objetos dali. Não queria sofrer. Mas por outro lado parecia tão tentador se entregar aquela vida familiar. Se continuasse assim, se tudo corresse bem, poderia superar seu passado, superar o massacre de sua família no passado e a dor e traumas. Superar junto com sua nova família...

‘’Bom dia, papai!’’ Uma voz animada tocou seus ouvidos e lhe pegou desprevenido.

Surpreendeu ao ver sua filha de pé. ‘’Bom dia!’’ Murmurou encarando-a. A garota estava ligeiramente arrumada e parecia já ter terminado seu lanche da manhã: ‘’Vai onde vai?’’ Perguntou curioso.

Não sabia se era um habito sua filha acordar cedo, mas nos últimos dias, nesses em que eles estavam morando naquela casa, ela tem feito isso todo dia. Sentia não conhecer sua própria filha tão bem e ter que perguntar, mas estava querendo fazer isso fazia dias e finalmente sua curiosidade venceu.

‘’Ah, você sabe! Os exames Jounins estão vindo!’’ Falou e Sasuke lembrou-se de sua conversa com Naruto e Hatake dias atrás, sim eles fariam aquele teste mesmo com o Otsutsuki por aí. ‘’Não acho que será difícil, não pra mim pelo menos! Mas de qualquer forma é melhor continuar estudando e treinando, um ninja deve sempre estar se instruindo!’’ Ela continuou animadamente.

Tentou ficar neutro, mas não conseguiu reprimir seu orgulho e admiração: ‘’Minha garota!’’ (Será que era assim que Fugaku, seu pai, se sentia quando elogiava seu irmão? Satisfeito com as realizações do filho?) Era assim que ele se sentia com Sarada ao menos. Sentia-se mal por não ter acompanhado o crescimento da própria filha, agora olhava para ela e via uma jovem forte e determinada. E ele não fazia ideia de quando ela tinha se tornado aquela garota cheia de vida, firmeza e coragem.

Sarada sorriu para ele: ‘’Ah, eu já agradeci por vocês terem me deixado ficar no quarto com vista para o monumento Hokage? A vista é maravilhosa!’’ Disse com os olhos brilhando enquanto pegava uma garrafa e colocava algo dentro.

‘’Você já agradeceu sim! Todos esses dias!’’ Sentia o bom humor da filha tomar conta de seu corpo também de uma forma estranha, era loucura como uma pessoa era capaz de contagiar todo um ambiente.

Era aquilo que acabava com ele: Estar ali, no âmbito familiar era bom e ao mesmo tempo ruim. Por um lado era tentador se entregar aquela vida, aceitar que podia ser realmente feliz, por outro tinha medo de se entregar aquilo, se entregar aquelas pessoas e depois ter que deixar tudo para trás ou perder tudo!

Isso lhe afligia tanto: Por dentro queria dizer a Sarada que seria sempre assim, que a amava, que amava Sakura e que ele estaria lá para sempre, e as coisas não voltariam a ser como antes, que não sumiria por anos, que não seria mais aquele cara apático e frio, que seriam uma família de verdade, mas algo o impedia de se expressar: O medo o impedia, então ficou calado, sua expressão o mais neutra possível. Não queria extravasar seus temores.

Sarada pegou algo na pia: ‘’Um dia minha cabeça vai estar esculpida naquele monte. E você vai ter orgulho de mim!’’ Ela murmurou. ‘’Mas pra isso eu preciso passar no teste Jounin, então me deixe ir!’’ Disse fazendo uma careta.

‘’Eu já tenho orgulho de você!’’

Foi quando Sarada se aproximou dele, parecendo um tanto comovida, beijou-o na bochecha sorrindo, logo se recuperou e saiu cantarolando: ‘’Tchau, pai! Deixa-me ir porque ainda tenho que chamar o baka do Boruto, não tenho a menor obrigação de acordar aquele imbecil retardado, mas aquele cabeça de vento acha que tanto treinamento é besteira, ele se acha o maioral, grande coisa, como se ele...’’ Continuou reclamando quando atravessou a porta de saída e Sasuke só se permitiu rir um pouco. Engraçado, ele não sabia que Boruto e sua filha eram tão próximos.

Depois a realidade lhe atingiu novamente e suspirou. Aquilo era uma agonia ao mesmo tempo em que era prazeroso: Queria se entregar aquela vida, mas como superar seus anseios?

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Sarada P.O.V (Point Off View)

Quando atravessou a porta estava um pouco eufórica, fazia duas semanas inteiras desde que seus pais e ela moravam naquela casa, sob o mesmo teto. Duas semanas desde que eles eram novamente uma família como qualquer outra. Seu pai inclusive, passou a semana inteira em casa: Misteriosamente sem quaisquer trabalho na DIIA. E ela estava muito feliz por isso!

Ela não desfrutava de um bom tempo com seu pai em casa fazia muito tempo, e justamente por isso queria conquista-lo. Queria provar o quanto valorizava-o, o quanto acreditava nele, o quanto amava-o e respeitava-o. Quem sabe assim convencesse-o deque passar algum tempo em família era ótimo? Talvez assim ele passasse mais tempo em casa!

Estava com as energias um tanto revigoradas pelo oque seu pai lhe disse: Sentia orgulho dela. Não era comum que seu pai distribuísse elogios, então sabia queque oque disse era sincero. Mas algo ainda a incomodava naquilo tudo...

Sentiu seu peito desinflar um bocado, às vezes sentia que era boba por imaginar que seus pais não lhe davam todo o afeto e amor que desejava, porque afinal das contas eles faziam oque podiam e oque estava dentro do alcance para eles. Sabia que nenhuma relação pai e filhos era perfeita e entendia que momentos de contradição e de conflitos era algo perfeitamente normal. Porém a morena realmente sofria com a falta de atenção por parte de seus pais. Olhou a casa de seu amigo logo a frente e  pensou que provavelmente era assim com Boruto também...

O amor que os pais lhes dão está intimamente relacionado à atenção que recebem deles, por isso Sarada e Boruto acreditavam firmemente que seus pais não os adorava já que não passavam tempo com eles para os conhecer e estar presente no mundo deles. Eles encavam isso como uma forma de abandono, como uma mensagem que diz: “você não é importante o suficiente”. E aquilo doía muito.

Era bom que agora seu pai estivesse em Konoha permanentemente, que estivesse em família permanentemente, porque assim talvez eles dois pudessem refazer aqueles laços de pai e filha que não tinham se concretizado da maneira certa.

Ainda sim, algo a incomodava: Itachi. Seu pai, por mais que estivesse em casa sem nem tocar naquele nome, estava o tempo todo pensando nele, ou assim Sarada imaginava. Porque aquilo tudo em suas vidas estava acontecendo por causa de Uchiha Itachi, eles perderam uma casa e ganharam outra por causa de Itachi. Seu pai aceitou um cargo permanente em Konoha por causa de Itachi. E mesmo que o outro Uchiha tenha feito seu pai sofrer no passado, Sasuke apesar de tudo ainda amava Itachi, disse-lhe isso com todas as palavras naquele dia quando conversaram...

Era tudo por Itachi... Parecia que desde que Itachi voltou à vida, seu pai só sabia pensar nele. Era tudo Itachi, Itachi, Itachi...  Itachi por todos os lados, Itachi em todos os lugares...

Já estava até enjoando daquele nome ridículo. Oque aquele Uchiha tinha afinal? Oque ele tinha que ela não tinha? Oque ele tinha para seu pai geralmente tão frio e fechado conseguir declarar tão abertamente que ainda amava-o? Seu pai disse a ela que estava orgulhoso dela. Mas disse de Itachi algo que a morena achava mais importante que sensação de orgulho: Apesar de tudo eu ainda o amo, ele é meu irmão.

Antes ela detestava Itachi pelo oque ele fez no passado, agora já entendia os motivos e assim como seu pai sugeriu, não mais questionaria ou encurralaria o homem pelo oque ele fez. Ele tomou a decisão dele lá no passado e nada que ela dissesse e sentisse iria trazer os Uchihas de volta, ela já se conformava. Não valia apena odiar Itachi por passado. Mas agora o desgraçado também estava usurpando a família dela no presente: Seu pai adorava-o e sua mãe vivia lá no hospital cuidando dele (Certo que não era só dele que a mãe cuidava, mas ela estava lá de qualquer forma. E não ao lado de Sarada).

Como era possível? Depois de TUDO oque Itachi fez, seu pai amava-o e nada mudou aquilo! E parecia que sua mãe fingia que nenhum dos problemas e traumas de Sasuke eram culpa de Itachi. Seu conforto era que sua mãe era sua mãe, ela era sangue de seu sangue enquanto Sakura nem laços sanguíneos tinha com o outro, Itachi era apenas o cunhado inoportuno.

Mas e seu pai? Sasuke e Itachi eram irmãos! E a menina sabia que podia estar sendo infantil, mas sentia que não conseguiria rivalizar com Itachi pelo afeto de seu próprio pai. Isso a deixava com raiva, pois como lidaria com aquela dor de cotovelo?

Maldito Itachi! Era tudo sempre Itachi, Itachi, Itachi...

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Sasuke P.O.V (Point Off View)

Preparou-se um bom desjejum. Enquanto comia um bom café da manha pensava em não deixar seus temores impedirem sua felicidade. Ele não era muito bom com relações familiares, mas nessas ultimas duas semanas até que não foi tão ruim como pensou que seria. Entretanto sua mente estava tão tumultuada com isso.

Mastigando sua comida pegou uma papelada na pasta. Quase não tivera tempo para escrever aquele relatório de missão, só de pensar nele sua testa já formava vincos de estresse, o bom humor de Sarada já se esvaindo do ambiente: Passou a semana inteira tentando escrever o maldito relatório e ainda sim sentia que tinha algo faltando naquela merda.

Aquele bom sentimento já se dissipando rapidamente. Quem dera pudesse ficar naquele clima de paz para sempre. Mas aquilo era a realidade, ainda tinha tanto trabalho para frente. Um caminho longo ate a redenção!

‘’Oi’’ Murmurou Sakura aparecendo na cozinha de repente, ela foi para trás dele na cadeira e segurou seus ombros como se quisesse eliminar sua tensão: ‘’Recebi uma ligação e vim trazer boas noticias’’

‘’Como assim?’’ Murmurou, ainda encarando seu relatório monotonamente e mentalmente contente por não ter mais a porcaria de um celular para lhe tirar a paciência.

‘’Tenho que voltar pro hospital!’’ Ela respondeu.

‘’Você já não trabalhou o suficiente ontem?’’ Falou, engraçado como dava para ambos notarem o tom preocupado em sua voz.

‘’Não é comigo que tem que se preocupar’’ Ela brincou um pouco, tentando aliviar a tensão que surgiu. ‘’Era Kakashi, disse que estava vindo pra cá! Alguma coisa urgente, ou sei lá o que! Logo estará aqui!’’

‘’Ah, não!’’ Chateou-se. ‘’O que ele quer?’’ Afundou-se na cadeira.

 ‘’Tem haver com seu irmão!’’

Sasuke rapidamente esqueceu o relatório e sua chateação, virou-se para esposa atento, olhando-a pela primeira vez desde que ela lhe abordara: ‘’O que tem meu irmão?’’ Perguntou encarando-a nos olhos de forma intensa. Engraçado como só o nome de Itachi tinha esse poder, fosse para irrita-lo ou para deixa-lo preocupado.

‘’Parece que já podemos movê-lo pra cá!’’ Murmurou casualmente: ‘’Fizemos todos os exames ontem a noite! Ele ficou duas semanas ligado a maquina de plasmaferese, as substancias ruins foram retiradas do plasma sanguíneo dele, agora é só tomar os remédios certinho e ele se manterá bem. Podemos cuidar dele aqui em casa!’’

Olhou-a surpreso, seus olhos um tanto arregalados: ‘’Então vai acontecer’’ Resmungou como se tentasse convencer a si próprio. Porque ainda parecia uma mentira.

‘’Vai acontecer! Seu irmão vai morar conosco’’

O moreno ainda parecia paralisado: Estava esperando tanto por isso e agora que aconteceu não sabia como agir. A verdade era que não tinha imaginado como seria. Caramba, terá seu irmão vivendo sobre o mesmo teto!

Se já era estranho apenas com Sakura e Sarada imagina como seria com seu... Não! Não! Ele não queria pensar naquilo: Iria ficar louco.

Tentou se recompor: ‘’Certo! Eu vou... Vou...’’ Maldição, nem conseguia raciocinar. Certeza que ele ia ficar maluco!

‘’Conversar com o Kakashi assim que ele chegar!’’ Ela concluiu para ele.

‘’Sim!’’ Murmurou: ‘’Isso!’’

‘’Só não fica pensando merda antes que ela realmente aconteça! Se preocupar demais vai trazer-lhe rugas! E eu sou nova demais para um marido com rugas!’’ Sasuke só levantou uma sobrancelha para isso. ‘’Sei que talvez seja estranho no começo, eu mesma estou meio ambivalente. Quando era jovem costumava vê-lo como representação da maldade, por tudo que lhe causou. Agora que sei da verdade, é estranho apagar essa antiga imagem. Pra você também deve ser estranho...’’ A campainha tocou.  ‘’Deve ser ele! Vou ver...’’ Sakura se afastou, indo até a porta.

Era mesmo o grisalho com aquela mascara ridícula. Os dois se cumprimentaram rápido. ‘’O Sasuke tá na cozinha?’’ Ouviu o homem dizer.

‘’Sim, pode ir lá!’’ Ela murmurou calmamente, seguindo-o a passos lentos.

O outro tirou os sapatos e se aproximou do Uchiha rápido, se escorando na porta e olhando-o. ‘’Bom dia, como vai?’’ Era até cômico como seu tom de voz não acompanhava a frase, já que foi tão monótono no cumprimento, ele era mesmo um cara de bunda.

‘’Corta a ladainha!’’ Rosnou, já se estressando com tudo o que ia mudar na sua vida.

Hatake revirou os olhos e pigarreou. Depois seu tom ficou mais serio: ‘’Bem Sasuke! Chegou a hora!’’ Murmurou sem delongas. ‘’Aconteceu o que queríamos. Foi permitido que o caso corresse em segredo de justiça para proteger a integridade e privacidade de todos os envolvidos. E também, dado ao estado frágil de seu irmão por conta da doença, foi retirada a prisão preventiva e assegurado que ele fique retido em domicilio até a data do julgamento’’ Explicou. ‘’Mas o Julgamento ainda será publico, quando acontecer vai ser de livre acesso para qualquer cidadão e para a imprensa poder assistir’’.

Sasuke ainda se sentia paralisado e entorpecido: ‘’Vai acontecer!’’

‘’Sim, vai acontecer! Estamos pensando em fazer isso à noite, menos movimento. Não vamos deixar nenhuma equipe a cargo disso. Faremos nós mesmos, afinal quanto menos pessoas souberem que ele estará aqui com vocês, melhor’’

Ainda estava tentado processar aquilo tudo: ‘’E vai ser quando?’’ Sua voz baixa e sem força denunciando seu espanto com a situação.

‘’Se tudo correr como desejamos: Hoje!’’ Sasuke arfou, mas Hatake continuou sem se importar com seu susto: ‘’Trouxe uns mapas, vamos escolher o caminho mais curto e mais seguro do hospital até aqui, traçar uma rota. Naruto também faz questão de fazer parte disso! E vai ser realmente melhor ele estar junto, afinal se algo der errado ele ainda é o Hokage, vai saber argumentar e possui mais influencia que eu! Mas não acredito que acontecerá algo ruim, não é uma distancia muito longa, é uma missão bem simples na verdade!’’ Deu de ombros. ‘’Então? Mãos a massa?’’

A voz do outro já parecia distante para o Uchiha: Sentia sua vida virar de cabeça para baixo novamente. Apesar de tudo, não estava pronto praquilo tudo. Não queria ser fraco, não queria demonstrar sua fragilidade, mas de repente seus pensamentos começaram a correr muito rápido, pensamentos bem indesejados. Caramba, Sakura, Sarada, Itachi e ele sob o mesmo teto, que loucura.

Era estranho: Não sabia o que estava acontecendo com seu corpo. Sentia sua respiração rápida, sua boca seca, estava soando em bicas de uma hora pra outra e seu coração parecia que ia sair do peito. E o pior de tudo era que não conseguia entender o porquê exato e muito menos esconder o que estava sentindo de Sakura ou Kakashi.

Foi tudo tão de repente, só conseguia se preocupar na tragédia eminente que aquilo tudo estava tomando. Ele teria sua família novamente, uma nova família, mas não queria se apegar a tudo e todos e perder futuramente. Não queria! Não de novo!

‘’Sasuke? Esta tudo bem?’’ Murmurou o grisalho, mas sua voz parecia longe para o Uchiha. ‘’Sasuke? Estou falando com você!’’ Continuou, mas era como se sua voz tivesse ido para o plano de fundo: ‘’Sakura, acho que ele não esta bem!’’

‘’Acho que... Isso parece... Ataque de Pânico!’’ Ela falou preocupada sentando perto dele, tentando acalma-lo: ‘’Sasuke, meu amor! Olha pra mim... Se concentra na minha voz e apenas nela...’’

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Kakashi olhava-o um tanto preocupado. Mas não verbalizava suas preocupações para não irrita-lo ainda mais. A tarde inteira ficou questionando-o ou dizendo que talvez fosse melhor ele ficar em casa. Deixar todo o trabalho de mover Itachi para lá com o grizalho e Naruto. Claro que ele recusou de imediato, queria fazer isso por seu irmão. Queria fazer algo por seu irmão. Hatake já deu cabo de todas as ideias brilhantes que podiam ajudar seu aniki, Sasuke tinha que fazer algo também.

Sakura achou melhor não questionar seus motivos: Apenas o acalmou naquele momento de ansiedade e depois deixou-o. Ela tinha que ir ao hospital e juntamente com a Senju preparariam Itachi para a partida.

Era grato a esposa por isso: Já bastava ter dado uma de fracote novamente, não suportaria se ela ficasse fazendo caso disso. Não queria tocar mais no assunto da ansiedade ou do pânico. Mas vez ou outra Kakashi ainda lhe fazia perguntas indiscretas. Como agora: ‘’Há quanto tempo isso vem acontecendo?’’

Olhou-o azedo: ‘’Não vem acontecendo. Foi momentâneo e já passou! Não vai acontecer novamente, eu já disse!’’ Rosnou.

‘’To falando dessa preocupação toda! Porque esta tão preocupado?’’

‘’Para de se intrometer! Virou terapeuta agora? Nada disso lhe diz respeito, sempre está enfiando o bedelho onde ninguém chamou!’’ Retrucou e o grisalho só suspirou e se calou novamente. Já era tarde da noite e o outro ainda estava tentando fazer com que ele desse pra trás. Mas não ia conseguir.

Já haviam realizado o plano para retirada de Itachi do hospital há muitas horas atrás, mas ainda sim Sasuke não conseguia parar de rever tudo, sentado frente a uma mesa com diversos mapas para todo lado, papeis e canetas jogados, olhava para tudo aquilo e pensava como as coisas estavam mudando rapidamente em sua vida: Seus pensamentos foram interrompidos com batidas na porta, Hatake foi verificar.

‘’E ai, já tá tudo pronto?’’ Ele ouviu a voz do Uzumaki soar na entrada de sua casa. E Sasuke quase grunhiu porque não via a necessidade do outro lá.

Estava tão irritado com tudo. Aquela situação toda estava deixando com os nervos saltando. É, era uma certeza: Aquilo tudo o deixaria maluco cedo ou tarde.

‘’Sim, venha ver o trajeto!’’ Kakashi arrastou-o sala adentro, verificando ambos os lados do lado de fora antes de fechar a porta com cuidado.

‘’Porque não me enviaram o mapa via Internet? Pro e-mail, sei lá!’’

‘’Fizemos a mão!’’ Murmurou Hatake. ‘’Não usamos nenhum eletrônico por ser fácil de rastrear depois, não queríamos que qualquer pessoa que seja tivesse acesso. E você sabe, tudo o que tá na rede...’’.

Assentiu seguro para o grisalho, mas quando se aproximou do moreno parecia menos firme e mais largado, como o jovem que era antes e menos com o Hokage que era agora: ‘’Teme!’’ lhe cumprimentou. ‘’Soube que teve um probleminha!’’

‘’Nada da sua conta, Dobe’’ Retrucou, mais como um rosnado, havia hábitos que não costumavam morrer.

‘’Só tenho uma dica: Relaxa! Você anda muito estressado. Vai tudo correr bem, ter o Itachi aqui vai ser bom! Pare de pensar qualquer merda além disso!’’

Kakashi Suspirou: ‘’Deixa pra lá Naruto. Venha ver o percurso’’

O loiro olhou sorrateiramente: ‘’Parece um plano bem simples agora que esta tudo a vista. Sua casa nem é tão longe, o hospital é praticamente aqui do lado’’

‘’Então, porque você esta aqui mesmo?’’ Rosnou irônico: ‘’Qual seu interesse em ajuda-lo? Não é uma de suas obrigações e, além disso, o irmão é meu! Você já enfiou o bedelho o suficiente entre ele e eu’’ Sasuke disse rudemente e pode ver os punhos do outro se fecharem e sua postura ficar um tanto na defensiva.

O loiro trincou os dentes e respondeu: ‘’Eu tenho que zelar pelo bem estar dele-’’ foi interrompido bruscamente.

‘’PODE PARAR COM ESSA MERDA!’’ Uivou alto.

‘’Faço isso porque somos amigos!’’ Respondeu-lhe o loiro, com uma emoção na voz que era até um tanto comovente. Não parecia estar falando da boca pra fora. Isso parou Sasuke, tocando-o de certa maneira.

Piscou, sem saber como prosseguir: ‘’Ajudará meu irmão porque você e eu-’’

‘’Não, Sasuke!’’ Interrompeu-o: ‘’Quando eu disse que somos amigos, estava me referindo a Itachi e eu!’’ O loiro corrigiu e com isso Kakashi se encolheu e o Uchiha arqueou uma sobrancelha. ‘’Mas claro que você também é meu amigo, meu melhor amigo, meu irmão na verdade’’.

‘’Você e meu irmão são amigos desde quando?’’

‘’Controla essa dor de cotovelo e para de monopolizar o Itachi!’’ Murmuro e antes que o outro pudesse rebater ele prosseguiu: ‘’Sasuke, caramba, eu to fazendo isso por vários motivos. É por ele, é por você, é para que a justiça seja feita corretamente. Eu prometi zelar pelo bem estar de Konoha e de todos os seus habitantes, eu prometi que mudaria esse mundo. Não posso voltar no passado e corrigir os erros anteriores, mas o que não posso fazer também é ficar sentado num momento como esse. Não posso mudar o passado, mas posso fazer algo para mudar o agora! Os Hokages anteriores negligenciaram os Uchihas, deixaram-nos pra escanteio, mas eu não posso fazer isso! Principalmente quando esses Uchihas são meus amigos! Então não importa o quanto você reclame, eu estou nessa também(Da)TTEBAYO!’’

O moreno suspirou resignado: Sabia que não valia a pena discutir quando o loiro fazia seus discursos sentimentais. ‘’Certo, só não caga com o plano todo, dobe!’’

Naruto sorriu um tanto convencido: ‘’É você que sempre faz isso, esqueceu teme?!’’

‘’Vá à merda, Naruto!’’

‘’Bem, agora que vocês já tiveram essa conversa civilizada, já podemos mover nossos traseiros daqui!’’ Murmurou o grisalho olhando o relógio: ‘’Esta quase na hora estipulada, o comercio já fechou, as pessoas já estão em suas casas prestes a dormir. Vamos!’’

‘’Tá vendo isso, Sasuke? Agora ele age como se fosse uma pessoa pontual e ainda fica nos controlando! Como se nunca tivesse nos feito esperar horas e mais horas do nosso precioso tempo com os atrasos fajutos dele’’.

‘’As pessoas evoluem!’’ Murmurou o outro dando de ombros. ‘’Além disso, eu sempre planejei o tempo com antecedência, mas por algum motivo sempre acontecia algo que exigia minha atenção, uma velhinha atravessando a rua, um gato preto no meu caminho, uma criança em um prédio em chamas-‘’

‘’Ah, nós não temos tempo pra suas desculpas esfarrapadas(Da)ttebayou!’’ Ignorou Kakashi, passando por ele e abrindo a porta: ‘’Vamos lá!’’ O loiro disse, sentindo que o plano já começara. Kakashi foi logo atrás, mas rapidamente notaram que Sasuke não os seguiu, ficara parado no mesmo lugar. ‘’Vamos lá, não enrola Teme!’’

‘’Sarada ainda não chegou!’’ Murmurou monótono.

‘’Tranquilo, ela é jovem. Eu mesmo não sei onde esta o Boruto! Sumiu essa manha quando sua filha foi lá em casa chama-lo para treinar ou algo assim, não voltou também, e por incrível que pareça não aprontou nada até agora!’’

Piscou, sem saber se o argumento de Naruto era bom ou não: ‘’Queria contar que o Itachi virá pra cá. Mas pelo visto não vai acontecer’’ Levantou-se e passou pela porta. ‘’Vamos‘’ Sentiu pela primeira vez a força que deveria ter naquela situação toda.

▀▄▀▄▀▄ ...Um tempo depois...▀▄▀▄▀▄

Foram pulando por entre as casas e estabelecimentos, o vento fresco não impedia sua mente turbulenta de funcionar. Inspecionava cada canto a procura de alguém pelos becos, mas realmente não havia ninguém. Konoha era realmente uma cidade que dormia, não existiam muitos eventos à noite. Apesar de ser uma cidade grande agora, preservava coisas de vilarejos.

Kakashi olhava-o de vez em quando, um tanto preocupado e temeroso. E ele odiava aqueles olhares. Como se ele tivesse algum problema: Como se fosse atrapalhar ou fazer algo errado. Como se precisasse daquele zelo ou precisasse de ajuda. Que raiva, odiava ser o alvo de pena ou preocupação.

Estava verificando os becos com cuidado, vigiando se o caminho estava seguro. Era demais isso? Ele não estava sendo paranoico! Ou estava? Aquela situação toda estava acabando com ele.

‘’Sasuke, relaxa! Eu já disse!’’ Murmurou Naruto. ‘’É tudo muito simples, não teremos problemas!’’ Mas o outro não rebateu, nem sua expressão ou preocupações se extirparam.

 Pelo contrario, sua mente ainda estava a mil. Não apenas pelo fato de escoltar Itachi até sua casa, mas em como seria essa estadia do irmão lá também. Fazia muito tempo em que não estava em família e agora vivia por tempo permanente com sua esposa e filha e ainda teria seu irmão sob o mesmo teto. Não sabia ao certo como lidar com isso, pensar em como seria parecia extremamente frustrante, então tentava se concentrar apenas no agora.

‘’Lá está’’ Hatake informou ao ver o hospital. Os três aceleraram os pulos e rapidamente estavam mais próximos, dava para ver o grande lugar todo iluminado e estéril.

Sasuke sentia seu coração bater mais forte com o novo destino a sua frente.  Foram sorrateiramente para perto do local, mas deram a volta pelo entorno. Ele ainda inspecionando cada canto, como se alguma coisa pudesse surgir do nada e atrapalhar tudo.

‘’Eu já lhe disse, não há nada errado, relaxa Teme(Da)ttebayou!’’

‘’Cala boca, não lhe perguntei nada, Dobe!’’ Rosnou, irritado.

‘’Sempre tão temperamental!’’

‘’Já mandei calar a boca!’’ Uivou.

‘’Para de se estressar com pouca coisa, te garanto que vai tudo ser mais fácil do que realmente esta imaginando. Ou você pensa que eu não sei que você esta pensando em como vai ser sua vida daqui pra frente?’’

‘’Você não tem ideia do que estou passando. Para de se intrometer!’’

‘’Ah, teme! Pelo amor de Kami! Porque você acha que todos na terra tem menos problemas que você? Deixa de ser egocêntrico seu idiota! Eu estou cheio de problemas também! Além disso, não teríamos que fazer isso se tivéssemos seguido com meu plano de mantê-lo naquela cabana desde o começo!’’

‘’Nem me fale daquela merda de lugar e de como vocês todos me enganaram! Você escondeu meu irmão de mim, e ainda me fez de otário! E ainda arrastou os outros pra isso: Kakashi fingiu não saber de nada, me manipulando e me fazendo entrar na porra da DIIA. Até a Sakura ocultou isso de mim! E a culpa disso é toda sua, não deveria ter escondido um segredo tão grande como isso de mim!’’

‘’Você sempre distorce a porra da historia toda, né teme?! Eu estava escondendo-o de todos para evitar tudo isso que ocorreu e está ocorrendo, para todos ele ainda é um Nukenin! Já Kakashi só não podia passar informações tão intensas e sigilosas assim pra você sem saber que medidas você tomaria, e verdade seja dita: Você tem um histórico de burrices bem extenso. E a Sakura, acredite em mim: Ela queria contar. Queria mesmo! Mas ela se preocupava com sua reação e eu a instiguei a ponderar. Você pode até não achar, mas estávamos preocupados com você, com o que você poderia fazer!’’

‘’Eu tinha o direito de saber do meu próprio irmão! Não interessa o que vocês pensavam disso tudo!’’ Rosnou baixo, sabendo que estava tarde da noite.

‘’Olha só pra você! Todo transtornado! Viu só? Eu não sabia como você ia reagir a tudo isso, você podia surtar como sempre, além disso, nem a Vó Tsunade e nem a Sakura sabiam que circunstancias mantinham Itachi vivo. E se nós te contássemos e ele não permanecesse vivo por muito tempo? Como você ia ficar, hein? Quando o encontramos ele estava em coma e não sabíamos como reagir, estávamos em choque com tudo aquilo! Nem sabíamos se ele iria acordar um dia! Por isso achamos melhor esperar um pouco, até termos novas informações para lhe dar quando decidíssemos te contar!’’ Ele jogou, e Sasuke não respondeu, dando margem para o loiro continuar: ‘’E depois, você não é o único que tem direitos nessa história! O que aconteceu depois foi que seu irmão acordou e fugiu do hospital. Itachi estava meio desmemoriado e nós nem tínhamos certeza se era seu irmão mesmo ou um tipo estranho de clone. Pensamos em te contar mas-’’

‘’Tudo bem Naruto! Não é hora disso!’’ Hatake falou firmemente.

‘’Não! Agora ele vai escutar!’’ Respirou fundo, determinado. ‘’Quando seu irmão começou a lembrar das coisas ele pensou o mesmo que eu, em como essa historia toda poderia te abalar, era tudo insano, era pra ele esta morto, mas estava vivo! Então entrou em contato comigo e pediu para eu não contar nada pra você ainda! Nós não sabíamos o que poderia acontecer dali em diante, era uma loucura total e nem eu sabia como lidar com aquilo direito, tomei um baita susto!’’ Ele fez uma pausa para respirar. ‘’Então para de pensar que eu premeditei aquilo tudo, porque não foi assim! Eu estava tão surpreso com tudo como você ficou! Eu não sabia o que fazer, nem a Sakura ou Vó Tsuna ou o Kakashi, nem o seu irmão, estávamos todos surpresos e assustados! Não sabíamos o que estava acontecendo e nem oque poderia acontecer. Então seu irmão e eu conversamos e decidimos em conjunto esperar um pouco, antes de contar tudo pra você, foi assim que passei a enviar mensagens pra ele em segredo. Depois disso pedi ao Kakashi e a Sakura para não falarem nada pra você de imediato, pedi para eles um tempo. Eles bem que queriam te contar, contar aos pouquinhos... Mas... Não era apenas uma questão de respeitar você, mas também tínhamos que respeitar a decisão do seu irmão! Ele decidiu manter as coisas em sigilo, ele escolheu não te encontrar, e o que você queria que fizéssemos? Aquilo era tudo muito incerto, não sabíamos o dia de amanha, não estávamos premeditando nada caralho, estávamos apenas deixando os dados rolarem, porra!’’ Desabafou tudo de uma vez. ‘’Pensa pelo menos uma vez para além do seu próprio umbigo, acha que eu seria frio o suficiente para tramar tudo? Que a Sakura seria? Ou o Kakashi? Somos seus amigos seu desgraçado! Eu estava tão afetado com aquilo tudo que achava que ia explodir. Fiquei tão absorto com tudo que esqueci mais uma vez de minha família ao ponto de ficar fora de casa e não dar noticias por dias, minha esposa e meus filhos ficaram desapontados e a única desculpa que eu tinha era alegar que havia muito trabalho, como sempre. Então para com esse egocentrismo besta(Da)ttebayou!’’

Ninguém falou mais nada depois daquele desabafo: Um silencio estranho tomou os três, algo meio desconfortável e meio apaziguador. Sasuke não queria pensar em mais problemas e rebater ou brigar com Naruto traria isso, e ao que ele havia notado o Uzumaki já estava bastante emotivo aquele dia, por algum motivo.

Ele não tinha mais forças ou cabeça para mais confusões. Então ficou quieto, embora quisesse argumentar.

Olharam ao redor, havia uma porta pelos fundos do hospital, usada apenas por funcionários. Não era de praxe entrar por ali, mas era ideal para quem queria manter a discrição. Antes dos três chegarem próximo a porta se abriu abruptamente: ‘’Ah, vocês chegaram! Estão atrasados!’’ A Senju escorou-se na entrada com uma expressão que parecia tedio misturado com nervosismo, pois ela estava meio tensa embora não quisesse mostrar.

‘’Então já está tudo certo?’’ Hatake perguntou e a mulher assentiu para ele.

‘’Vamos’’ Ela murmurou, dando espaço para que eles entrassem: ‘’Estamos bloqueando os acessos que levam até essa porta e já estão questionando. Argumentamos que esta em manutenção por vazamento de uma tubulação, mas não vai colar por muito tempo’’ Quando entraram a diferença era irritante, as paredes brancas e luzes fortes irritavam os olhos que antes estavam na penumbra da noite, mas não perderam tempo, foram rapidamente ao encontro do outro Uchiha.

Sasuke podia sentir, as coisas iam mudar em sua vida daquele ponto em diante e não tinha mais volta: Não sabia como se sentir com tudo. Torcia para que tudo desse certo. Mas como Naruto falou, ia apenas deixar os dados rolarem.

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Itachi P.O.V (Point Off View)

Estava de pé olhando-se em um espelho pequeno que havia na parede do quarto, avaliando-se. Estava apresentável, não havia quaisquer sinais visíveis de que esteve doente, embora ainda sentisse que precisava repor suas forças adequadamente.

Não queria pensar muito sobre as circunstancias que o faziam estar ali de pé encarando o espelho e aguardando sua saída. Porque era angustiante aquela sensação deque tudo estava terrivelmente errado. O simples fato de estar respirando era errado. O fato de estar naquela vila novamente depois que virou nukenin era errado. Morar com seu irmão depois do terror que ele o fez passar no passado também era errado... Era errado, era errado e era errado. Caramba, tinha que parar de pensar naquilo tudo!

Balançou levemente os braços ao lado do corpo se sentindo leve: Não estava mais ligado a uma maquina ou ao soro e isso lhe dava uma sensação boa de não estar preso a fios, embora ainda sentisse exatamente o ponto exato onde aqueles vários tubos estavam anteriormente.

Olhou sorrateiramente o canto de seu pescoço e um de seus braços, tinha uma marca um tanto rocha de quando ele arrancou os IVs para se livrar dos aldeões na hora daquela invasão, a marca em seu pescoço era mais proeminente e ele duvidava que sairia logo. Duas semanas amarrado a uma maca de hospital era horrível, detestava aquele cuidado todo. Mas preferia continuar ali doque invadir o espaço da família do seu irmão. Porque isso também era errado! Era um erro morar com seu irmão e a esposa, era errado atrapalhar a vida deles e da sobrinha. Se Sasuke só pudesse pensar assim também...

Suspirou, não querendo pensar em como seria sua vida dali pra frente. Concentrava-se no agora e em como estava desconfortável com tudo aquilo.

Olhou para si pela enésima vez: Não vestia mais uma roupa de hospital, o que já era ótimo, mas por outro lado vestia algo trazido por Sakura e temia ser algo de seu Otouto. Oque já era algo muito estranho, ver que a vestimenta era um tanto maior que ele. Fechou um pouco os punhos: Maldita perversão da natureza! Era como se sentia, uma aberração! Ele tinha provavelmente a mesma idade em que morreu, 21, e seu próprio irmão mais novo já era muito mais velho que ele! Era uma loucura e fazia com que ele se sentisse angustiado e frustrado pensando se daria pra reverter aquilo ou não teria volta. Era errado aquilo tudo, isso estava acabando com ele.

Como ajudar seu irmão, se ele mesmo estava se afogando naquela angustia e não sabia como sair?

Olhou-se por mais algum tempo, ignorando os olhares de Sakura para ele, fingir que ela não estava ali era muito melhor do que encarar aqueles olhos questionadores. Afinal, já havia muito que encarar: Por anos ficara longe daquela aldeia, e era tão assustador voltar para o lugar ao qual abandonou. Ficava dolorido só de lembrar-se de memorias ou emoções turbulentas de sua historia naquele lugar que, por um lado amava, mas por outro temia.

Sem contar que não sabia como seria estar em contado com Sasuke novamente, na mesma casa afinal a ultima vez que isso aconteceu foi antes do massacre. Por Kami, aquilo era uma loucura! Temia morar com seu otouto novamente, ia ser uma experiência bizarra. Será que seu irmão também temia sua estadia na casa? Será que se deu conta da realidade maçante?

Se por um lado só quisesse extravasar o que sentia, por outro seu orgulho o impedia. Ser do tipo que demonstra seu lado sentimental nunca esteve em seu repertorio de atividades, respirou profundamente acreditando que era normal sentir-se ansioso e temeroso com o futuro, dado às circunstancias. Por isso obrigou-se a não transparecer absolutamente nada, já havia passado por coisas piores. Além disso, sempre foi muito bom em esconder o que estava realmente sentindo atrás de uma mascara apática, era tão bom que costumavam pensar que ele realmente não tinha quaisquer emoções. Não havia razão nem logica em mostrar suas angustias para outrem e deixa-las atordoadas também.

A esposa de ser irmão ainda olhava-o de forma preocupada, sabia que ela estava assim por suas ações, pode perceber espiando-a pelo canto dos olhos, mas ele não mudou sua postura: Continuou seu disfarce, como se estivesse mais preocupado com a banalidade de sua aparência estética do que com a sua saída daquele lugar para um futuro imprevisível.

Alguns minutos depois e aquilo começou a ficar estranho. Então a rosada pigarreou fracamente: ‘’Eles já devem estar aqui! Apesar de estar muito melhor que antes, você ainda esta em recuperação! Deveria estar descansando pra viagem, e não de pé!’’

‘’Já passei por coisas piores’’ Murmurou, tentando não parecer rude com aquela voz vazia e sem emoções.

‘’Você acha que está pronto pra ir? Já deveríamos estar fora daqui, estão atrasados na verdade...’’ Ela murmurou, tentando não invadir o espaço pessoal dele, mais ainda tentando faze-lo falar.

O Uchiha pode sentir que a mulher não estava perguntando se ele estava bem fisicamente, e ele sabia que em seu interior não estava realmente pronto para sair daquele quarto privativo, andar por aquelas ruas que o traziam emoções e sensações mistas, e não estava pronto para ir morar na casa de seu irmão mais novo, que agora era mais velho, junto com sua família. Mas segurou-se: ‘’Estou pronto, não faça perguntas tolas’’ E apesar de afirmar isso para ela com uma voz calma e indiferente que convenceria qualquer um, sentia que, de alguma forma muito estranha aquilo não colou com ela. Como se a mulher já estivesse acostumada com suas evasivas. E pensando bem nisso, começou a acreditar que era verdade, afinal ela era a esposa do seu irmão e já devia saber ler Uchihas com a palma da mão.

Apesar disso, sua postura continuou fingida, como se não se importasse, era mais fácil do que encarar a verdade abertamente, já era suficiente ele estar passando por aquilo, não precisava demonstrar seus anseios e arrastar mais alguém para suas angustias e problemas.

Como se a rosada pudesse ler seus pensamentos falou: ‘’Você não precisa ser forte o tempo todo!’’ Aproximou-se um pouco mais dele, mas o suficiente para lhe dar algum espaço. ‘’E nem precisa lidar com tudo sozinho!’’ Disse-lhe com cuidado.

Ele estava prestes a rebater quando ouviu a voz de Naruto e Sasuke no corredor, fazendo com que ambos olhassem na mesma direção e assim aquela conversa acabou sem nem mesmo começar, graças a Kami, porque realmente não estava afim de ter aquela conversa.

Pareciam estar discutindo, Naruto e Sasuke, mas quando não estavam? Ele particularmente não se lembrava da época em que os dois eram cordiais um com outro. Era estranho pensar em como aquela amizade funcionava, embora ele soubesse que era de fato uma amizade verdadeira. Foi discutindo um com o outro que a porta se abriu.

‘’Cala boca dobe... Ah, Itachi, ai esta você!’’ A voz se demorou um pouco, parecendo estar se acostumando ao ver seu rosto novamente, ou avaliando se ele estava realmente bem, ou as duas coisas. Mas se recompôs rápido: ‘’Espero que esteja pronto, porque chegou a hora, aniki!’’ Sua voz era intensa e dura, assim como sua postura colérica, como se estivesse descontando sua raiva da briga com Naruto nele.

Não se importava com a raiva do seu irmão, seja lá o que Naruto tenha dito para ele. Até porque já havia experimentado muito mais do ódio de seu irmão, aquilo com certeza não era nada. Sua postura continuou neutra: ‘’Certo, otouto!’’ Sua voz ainda um tanto indiferente.

E ao seu lado Sakura só revirou os olhos: Parecendo irritadiça com o teatro dos dois se fazendo de durões, mas não interviu naquela situação bizarra.

‘’Calma ai, teme! Deixe-nos respirar, mal chegamos!’’ O loiro brigou. ‘’Então Itachi, Sakura, tudo certo? Já estão prontos para ir?’’

A rosada olhou para a postura falsamente determinada de Itachi e olhou para o olhar incisivo de Sasuke, que escondia também seus medos, sabendo que apesar de tudo nenhum dos dois daria pra trás e às vezes, mais só às vezes, ela pensava que aquele negocio de orgulho Uchiha era realmente uma verdade com fundamentos: ‘’Estamos prontos, Naru!’’ Ela murmurou contrariada.

O loiro suspirou. ‘’Então vamos lá!’’

Kakashi abriu espaço no corredor, deixando-os passar: Itachi assim que passou pela porta olhou para os corredores, ainda pensando se aquilo era uma boa ideia. Todos poderiam se dar muito mal se os pegassem com ele. E ninguém além dele parecia estar considerando isso.

Naruto e Sasuke foram logo à frente, ainda trocando olhares bruscos um com o outro, mas sem trocar uma sequer palavra. Itachi seguiu-os logo atrás sentindo a adrenalina fluir pelo seu corpo, ao seu lado estava Sakura e Tsunade, uma de cada lado. E Hatake vinha atrás de todos. 

Passando por diversos corredores ele só pensava em chegar logo ao destino, por mais  que temesse ficar sob o mesmo teto que Sasuke. Porque quando chegassem lá ao menos não correriam mais o risco de serem pegos ou vistos. Isso iria cair tão mal para a imagem de todos os que o acompanhavam. E apesar de tudo ele nem sabia ao certo porque arriscar tanto por ele.

Os corredores pareciam estreitos e compridos quando passavam por eles. Itachi não sabia se era só sua impressão ou um dado real. A questão era que ele estava um tanto nervoso. E ao olhar para os demais percebeu que eles também deviam estar afinal seus músculos pareciam um tanto tensionados. Foi pensando e calculando em como aquilo tudo podia dar tremendamente errado que deu por si: Estava sendo escoltado pelo Hokage atual, Naruto, pelos dois últimos, Tsunade e Kakashi, e ainda tinha o capitão da DIIA, que por ventura era seu próprio irmão, e a melhor ninja Médica daquela geração, nada mais nada menos do que a esposa de seu irmão. Apesar de todas aos outras aflições que estava sentindo, essa lhe pegou desprevenido, não sabia se deveria ficar honrado ou tremendamente preocupado.

A coisa toda deve ter transpassado sua mascara perfeita, porque a Senju notou: ‘’Algum problema, Uchiha?’’

‘’Não. Nenhum!’’ Murmurou tentado manter sua voz monótona. E para ser sincero consigo mesmo, nem Tsunade, nem Sakura pareciam ter engolido, até Kakashi estava olhando-o meticulosamente por baixo naquela mascara vazia que o Uchiha estava tentando manter e estava fracassando miseravelmente, por algum motivo muito bizarro que ele não entendia. Provavelmente Sasuke e Naruto só não tinham percebido sua mentira porque estavam ocupados demais fazendo carrancas um para o outro. Talvez ele tivesse um tanto enferrujado com aquele negocio de fingir.

A saída estava logo à frente, fora aberta rapidamente, sem o menor barulho. A lufada de ar fresco no rosto de Itachi foi desconcertante, em parte porque já tinha se acostumado com o cheiro de remédio e produtos químicos ao qual todo o hospital tem cheiro e por outro lado porque estava finalmente no mundo real. Não havia mais as paredes do hospital, nem sala restrita. Aqueles eram ares de mudança imprevisível.

Ninguém falou nada enquanto pulavam por entre as casas e estabelecimentos parecendo que o anseio e a tensão haviam aumentado consideravelmente. Ele percebeu o olhar de Sasuke em si, como se estivesse avaliando a sua capacidade de pular por ter estado adoentado. Felizmente aquele olhar não durou muito e Itachi se perdeu olhando para o mar de luzes da vila, se bem que já era tão grande que cidade era um nome mais apropriado.

Era estranho, já havia perambulado por Konoha quando Sarada estava desaparecida, mas a sensação de estar andando por aquele lugar novamente ainda era estranhamente desconfortável. Era muito inusitado, mal dava para ver as estrelas com todos aqueles pontos de luz. Na realidade era melhor olhar para as luzes infinitas da cidade do que tentar procurar estrelas. Assustador como aquele lugar havia crescido e se tornado uma grande metrópole. Havia muito com o que se preocupar, ele sabia, mas estava quase hipnotizado por aquele mar de luzes na escuridão da noite, Konoha afinal nunca deixa de impressiona-lo, fosse pra bom ou ruim.

‘’Itachi, esta tudo bem?’’ Dessa vez era Kakashi perguntando e fazendo todos encara-lo de forma preocupada. ‘’Parece aéreo!’’

Recuperou-se: ‘’Impressão sua’’ Mal deu tempo de todos fingirem aceitar a resposta quando ouviram vozes em um beco próximo.

De repente eles pareciam sobressaltados: Pararam antes que fosse tarde e quem quer que fosse os visse. ‘’Merda! Mais uma rua e teríamos chegado’’ O grisalho sussurrou.

‘’Era pra esse beco estar vazio!’’ Sasuke rosnou.

‘’Talvez de pra contornar!’’O som de vozes só aumentou, parecendo alguma farra. Uma gandaia. Pela esquina dava para ver de soslaio quem eram. ‘’É só um bando de jovens’’ Murmurou Naruto vendo uma lixeira pegando fogo, uns pivetes zoando um com o outro e um cheiro de substancias questionáveis no ar.

‘’Naruto!’’ Kakashi chamou, quando o loiro deixou de se esconder. ‘’Naruto!’’ Já era tarde, o loiro já estava no ponto de visão dos pivetes.

‘’O que ele pensa que vai fazer?’’ Sakura murmurou, mas Hatake só deu de ombros.

‘’Posso saber oque esta acontecendo aqui?’’ O loiro cruzou os braços com uma carranca rigorosa. Os garotos antes com expressões marrentas agora olhando para ele assustados.

‘’Hokag-‘’

‘’Ei, é o-‘’

‘’Caralho! Tamo fudido!’’

Naruto revirou os olhos: ‘’Vamos, circulando! Se saírem daqui agora, eu posso até fingir que já não passou da hora de dormir e seus pais nunca saberão disso’’ Todos cataram suas coisas rapidamente, saindo assustados. ‘’E usar drogas não é exatamente uma boa forma de parecerem valentões!’’ Terminou, quando os garotos sumiam de sua vista.

O coração de todos ainda batia forte, tentando assimilar que não passara de um susto muito besta. Itachi suspirou acalmando-se: Não foram pegos! Mas que evento infame, aqueles moleques tinham mesmo que esta ali justo naquela hora? Oh, coisa mais clichê! Se a situação não fosse enervante eles poderiam ter rido da coisa toda.

Sasuke foi para o lado do loiro: ‘’Não vou nem comentar!’’ Murmurou. ‘’Vamos logo, não falta muito! E não quero mais imprevistos como esse!’’

Quando continuaram seu trajeto Itachi percebeu que realmente não faltava muito. Kakashi tinha razão, percorreram mais uma rua e se depararam com uma casa logo à frente: ‘’Chegamos!’’ Sakura lhe informou, confirmando o que ele já sabia.

‘’Ótimo, voltarei para o hospital. Temos que desinterditar aquela saída’’ Murmurou a Senju, já virando-se e indo embora sem maiores despedidas e sem dar muitas chances para isso. Sasuke não ligou para mulher e nem agradeceu, virou a chave na porta e todos entraram rapidamente, apressados como se mais algo imprevisível pudesse ocorrer.

Era engraçado como Itachi ainda sentia-se nervoso: Particularmente não se considerava uma pessoa temerosa, pensava que levantar a cabeça mesmos nos momentos mais difíceis era a melhor coisa a se fazer, mas também sabia que isso era uma coisa mais fácil de se falar do que de fazer. A realidade era que enfrentar as novas demandas que a vida trazia, juntamente com suas imprevisibilidades, era realmente frustrante e desolador. Ele não sabia o que seria dali pra frente: Foi exatamente assim que se sentira após o massacre. Sem muitas perspectivas para o futuro, por ele ser tão incerto.

Tentou pensar positivo: Ao menos dessa vez estava ao lado de Sasuke, e não contra ele. E havia pessoas ao seu lado lhe auxiliando. Ele olhou para aqueles que estavam lhe acompanhando, de alguma forma confiavam nele, como se fossem companheiros de longa data. Não sabia como agradecer ou demonstrar esse sentimento de aprazimento que surgiu de repente. Além disso...

...Novamente foi tomado pela mudança de ambiente: Das cores e luzes pulsantes da rua, de uma cidade que dormia em silencio e calmaria, a uma casa fechada, com tom aconchegante. Olhou tudo curiosamente, vagando seu olhar pelo lugar e foi assim que imediatamente as coisas ficaram ruins de uma hora para outra.

Foi tão momentâneo que foi estranho: Todos estavam aglomerados na porta, retirando seus sapatos para não macular o lar, Sakura fazendo isso mais rapidamente e saindo pelos cômodos acendendo algumas luzes. Claro que estavam fazendo algum barulho, não muito alto, mas todos estavam mais aliviados por estarem ali, chegaram sãos e salvos. Itachi conseguia sentir o alivio estampado nos olhos dos demais...

...Foi quando alguém desceu as escadas animadamente, com uma expressão um tanto feliz. Não estava só, um garoto loiro e uma menina rechonchuda seguiram atrás dela. Ele os reconheceria em qualquer lugar, afinal, eram os mesmos jovens ao qual tentou salvar dos Otsutsukis, iniciando toda aquela jornada que o levou de volta a Konoha.

‘’Até que em fim! Já estava com saudades!’’ Murmurou a jovem.

‘’De que farra estão vindo, hein?’’ Boruto entrou na onda.

‘’Isso são horas?’’ Sarada brincou, mas apesar disso ninguém respondeu. Para Itachi, as expressões em branco denunciavam: Ninguém havia contado a ela e ninguém sabia como reagir. E ficou muito obvio quando ela o avistou com sua expressão endurecendo, formando vincos de duvida. Com descrença, como se ela realmente não acreditasse nos próprios olhos. ‘’Oque... Oque ele tá fazendo aqui?’’ A voz soava pequena, como se nem ela soubesse oque dizer. E não era Itachi que se atreveria a responder.

Todos se olharam aflitos, como se um tivesse olhando para o outro esperando alguém tomar a iniciativa e dizer algo: ‘’Filha’’ Sakura começou; ‘’Ele irá ficar conosco agora!’’ Por um instante ninguém reagiu. Nem Sarada, nem Boruto, nem Chouchou e nem eles. Sakura era a única que parecia olhar esperançosa pela reação da filha.

Itachi sabia que aquilo não daria certo: Sabia disso desde que saiu do hospital, do qual nem deveria ter saído. Quem iria querê-lo por perto de qualquer forma? Até Sasuke hesitava em encara-lo, como se visse um fantasma a cada vez que o olhava.

‘’Como assim?’’ Respondeu a menina. Agora com mais força na voz, mais indignada.

‘’Ele recebeu alta do hospital e também recebeu a oportunidade de esperar o julgamento em casa. Ficará conosco!’’ Foi Sasuke que falou dessa vez, mais incisivo.

‘’E ninguém pensou eu me dizer antes? Eu moro nessa casa também, esqueceram?!’’ Ela grunhiu: ‘’Nem pra me avisar?’’

‘’Estamos te informando agora! Ele vai ficar!’’ Seu irmão continuou penetrantemente. E Itachi quase saiu pela mesma porta que entrou: Os ares naquela sala começaram a ficar genuinamente pesados. E não conseguia deixar de pensar que a culpa era dele. Sua presença incomodava. Sabia disso, sabia que não seria fácil e por causa dele pai e filha estavam brigando.

‘’Desde que ele chegou vocês só dão razão a ele! Só pensam nele e eu? Nem pra me avisar tem tempo pra mim!’’ A garota murmurou tristemente com um pouco de raiva transbordando em sua voz: ‘’Sendo assim, se ele vai ficar, eu saio!’’

Itachi arregalou os olhos:  Ele ouviu mesmo aquilo? Só por culpa dele. Mais uma coisa das quais ele poderia colocar na lista do ‘Tá tudo errado!’.

‘’Oque? Não!’’ Sakura exasperou-se: ‘’Você não vai sair dessa casa, Sarada Uchiha!’’ Murmurou autoritariamente, como uma mãe normalmente faz.

‘’Eu preciso respirar, tá bom? Primeiro me pedem pra pensar no ponto de vista dele, okay, até ai tudo bem, um pedido razoável levando em consideração o quão essa historia é complicada! Mas agora querer que eu durma sob o mesmo teto e nem me comunicar isso previamente já é pedir demais!’’ Disse enraivecida, passando por eles rapidamente. ‘’Desde que ele chegou é tudo Itachi! Itachi pra cá, Itachi pra lá! Não me diga também que eu vou ter que dividir um quarto com ele? É só Itachi, é tudo pra ele ou por ele, já cansei disso!’’

‘’Sarada, volte já aqui!’’ Ordenou Sasuke com uma voz impetuosa.

Mas a garota não obedeceu, passou por todos sem temer a voz de seu pai ou ser tomada pela aflição da mãe. Passou rente a ele, olhando-o com um tanto de antipatia: ‘’Tenha uma boa estadia’’ Disse exclusivamente a ele, com a voz transbordando agressividade, indignação e frustração.

‘’Sarada!’’ Sasuke chamou rigidamente mais uma vez. Mais foi em vão, a garota bateu a porta o mais forte que pode, as paredes tremendo sob o impacto e se perdeu na escuridão da noite em um instante, sem paradeiro ou maiores explicações.

‘’Sarada espera!’’ A amiga morena foi imediatamente atrás da Uchiha.

Boruto foi à porta e piscou para eles, como se não estivesse sentindo a tensão no ar: ‘’Não liguem não! Tranquilo, eu cuido delas! Garotas, sempre tão dramáticas!’’ Levantou o polegar pra cima e saiu indo atrás das meninas.

Itachi ficou lá parado assim como os demais ainda pensando se aquilo era uma boa ideia.

Sakura parecia descontente e Sasuke parecia furioso: ‘’Com quem essa garota acha que tá falando?’’ Ele movimentou-se em direção à saída também, como se fosse atrás da garota e fosse trazê-la de volta a força.

Só assim Itachi ganhou forças pare se impor. Colocou-se na frente de seu irmão incisivamente. ‘’Deixe-a.’’ Murmurou: ‘’Ela só precisa de um tempo!’’

Os dois se encararam por longos instantes, era estranho como o olhar de seu otouto tinha uma força, uma que não tinha antes: Como se o fato de ele ser mais velho que o próprio Itachi lhe desse uma autoridade que ele não tinha anteriormente.

E então, pela primeira vez ele notou: Seu irmão, que deveria ser mais novo, estava alguns centímetros maior que ele! MAIOR que ele e mais velho também! E isso fazia Itachi querer desviar o olhar, mas não o fez.

‘’Você, desde que a conheceu, só passa a mão na cabeça dela!’’ Sasuke irritou-se.

‘’Isso não é verdade! Eu só reconheço que ela precisa de um tempo. Deixe-a espairecer!’’ Murmurou, sua voz não tão monótona quanto ele deveria ter mantido.

Sasuke chegou muito perto. Muito perto mesmo dele, tanto que podia sentir a respiração de seu irmão na própria face. Seu otouto levantou o dedo bem na sua cara. Sua expressão irritadiça: ‘’Não me diga como criar minha própria filha!’’  E podia até não ser, mas naquele momento Itachi sentiu como se aquilo fosse uma ameaça.

Aquilo devia ser alguma frase clássica de pais, caramba, porque eles ficavam tão furiosos só porque alguém dava um conselho? Okay que a filha não era dele mas... Ele não rebateu, até porque não deu tempo...

‘’Ei, vocês! Caramba, vocês Uchihas são mesmo rainhas do drama total!’’ Naruto, finalmente, interviu: ‘’Espera aí, Teme! Você já tá distorcendo a porra toda de novo! Relaxa, ai cara! Todos nós de certa forma já esperávamos uma animosidade. Vai passar, é birra de adolescente! Deixa a garota pensar um pouco e amanhã ela tá ai novamente, não cria caso(Da)ttebayou’’

‘’Vamos acalmar os ânimos aqui! O dia já foi bem cansativo’’ Hatake ponderou.

‘’Lá vem vocês com seus malditos palpites de novo!’’ Sasuke revirou os olhos: ‘’Odeio vocês todos e esses palpites na minha vida’’ Itachi sabia que quando seu irmão disse todos, ele realmente se referia a todos naquela sala. Mas também sabia que aquilo era mais da boca pra fora doque qualquer outra coisa.

‘’Já chega! Chega disso tudo. Eu não to nem ai pra oque vocês acham que deve ser feito ou não! Eu estou mandando: Eu estou na minha casa, tive um dia cheio e só o que eu quero é descansar, Shannaro!’’ Sakura começou. ‘’Naruto, vá ver se seu filho acalmou a Sarada e me informe. Você e você. ‘’Disse ela apontando para Itachi e Kakashi. ‘’Me ajudem a preparar as camas para vocês dormirem, tá tarde fique conosco por essa noite Kakashi. E você, esfrie a cabeça’’ Disse encarando seu marido por poucos instantes, mas logo saindo autoritariamente.

Por um instante todos ficaram parados no mesmo lugar, apenas Sakura indo para o andar de cima. Depois, quando Hatake saiu atrás da mulher sem questionar, Itachi resolveu fazer o mesmo. Afinal, se até Kakashi estava fazendo o que foi mandado, não seria ele que se oporia. ‘’Com licença, Otouto’’ Disse educadamente enquanto passava pelo irmão, não querendo deixar a discórdia anterior abalar sua relação já tumultuada com o outro.

Saiu se perdendo cômodos adentro, atrás da rosada. Aquilo tudo estava sendo realmente uma loucura: Novamente veio aquela sensação de se sentir errado!

‘’Não fique preocupado. Apesar de eu estar um pouco chateada por Sarada não levar isso muito bem, já esperava que de inicio tudo não fosse às mil maravilhas. Vamos superar isso, com algum tempo. Ela vai esfriar a cabeça, amanhã voltará, afinal não levou nenhum item pessoal’’

Ele não sabia como ela conseguia ver tão bem através dele: Mesmo que ela fosse a esposa de seu irmão, ainda era estranho, ela o lia como se fosse um livro aberto ou transparente como água e por mais que tentasse não conseguia esconder oque estava sentindo daquela mulher, por mais que tentasse parecer indiferente ou frio. Então tentou fazer como Sakura falou: Não pensar muito nos problemas.

Olhou ao redor: A casa não era grande e não estava mobiliada, mas ainda lhe passava comodidade. Não prestou muita atenção ao que a mulher dizia, ela pegava alguns cobertores, improvisava travesseiros, levando-os para um dos quartos junto com Kakashi, enquanto ele só observava o lugar, bisbilhotando.

O quarto em que entraram parecia ter mais vida. Estava mais enfeitado, ele se perdeu olhando para o cômodo.

‘’Sarada dorme aqui!’’ Disse fechando muito bem uma das janelas. ‘’Mas acredito que ela não voltará hoje mesmo. Então, por hora, fiquem aqui’’ Disse com um rigor e um olhar sem abrir espaço para argumentações. E a língua de Itachi estava coçando pra argumentar, mas não queria criar mais problemas. Engoliu em seco.

Quando a mulher saiu Itachi não soube o que fazer: Já estava desconfortável por estar com as roupas de Sasuke e agora estava dormindo no quarto da sobrinha. Que merda!

Olhou ao redor sem jeito, não querendo fuxicar o quarto da menina pois parecia que a cada canto em que pousava o olhar era algo privado e ele não deveria estar olhando. Por Kami, ele nem deveria estar ali!

Kakashi sentou-se em um futton confortavelmente e ele fez o mesmo, desejando não ser justamente o de Sarada. Hatake parecia perceber seu incomodo, mas nada disse felizmente. Os dois apenas se encararam por algum tempo e aquilo era estranho: Justo com eles, que já haviam lutado em conjunto como camaradas, mas também já haviam sido rivais.

Ele queria desviar, mas era como se ambos estivessem presos no olhar um do outro: Através do olhar haviam historias profundas e intensas.  Sabia que o outro já havia passado por muito e era estranho olhar para alguém e perceber na profundidade de seu olhar os maus-tratos que a vida lhes pregou e a forma como essa pessoa ainda sim conseguiu se reerguer.

Sakura felizmente voltou quebrando aquela cena incomum: Trouxe daifuku mochi e chá, um lanchinho para noite que cairia bem, considerando que não haviam comido e considerando que Itachi adorava doces. Perguntava se ela sabia ou se foi mera coincidência, oque achava difícil afinal nem Sasuke, nem Kakashi eram assim tão fãs de açúcar e talvez  seu irmão alguma vez tivesse mencionado para ela seu gosto peculiar para o açúcar. Depois de tanta comida de hospital aquilo era um deleite. 

Quando a mulher saiu novamente, desejando que eles tivessem uma boa noite de descanso, finalmente seus ombros caíram. Hatake ainda lhe olhava, ele sentia: Mas ignorou o outro dessa vez assim como fez com Sakura no hospital. Não gostava de transparecer em seu semblante o quanto aquilo tudo o estava afetando, não queria que Kakashi visse, mas também sabia que não adiantava nada esconder porque o outro já havia pescado. Ao menos não invadira seu espaço com perguntas invasivas, mas aquele olhar era no mínimo questionador.

Não deu trela para o olhar intrigado do outro: E o grisalho não se esforçou por muito tempo. Comeram quietamente, tentando não fazer a situação ficar ainda mais bizarra doque já era.

Com o tempo, percebera que comeu a maioria dos bolinhos, o grisalho enquanto isso sentou-se alinhadamente no futton, olhos fechados e uma posição mais comum para meditação. Itachi sabia o que diziam, que meditar levava a uma iluminação espiritual, mental e emocional, mas para ele parecia um habito estranho antes de dormir ou talvez o outro só quisesse a calmaria que não existia naquele momento. Um tanto embaraçoso para o Uchiha que não sabia o que fazer, estava agitado para dormir ou para qualquer outra coisa...

Não estava confortável com o que estava acontecendo: Talvez devesse descer e pedir desculpas a Sakura por estar tumultuando a família. Pedir desculpas por ter incomodado a filha dela. E mais desculpas por estar causando aquela situação toda. Levantou-se pegando a bandeja: Saiu do quarto rumo à cozinha. Talvez encontrasse a mulher no caminho e conseguisse lhe dizer.

Desceu as escadas devagar, como o ninja silencioso que era: O chão abaixo de seus pés estava frio e era muito bizarro caminhar pelos corredores da casa de seu irmão a noite, uma sensação estranha deque ele não deveria estar andando por ali, muito menos àquela hora. Mas se não fosse pedir misericórdia pela situação que causou não dormiria direito. Talvez nem dormisse até a sobrinha estar sob o mesmo teto e ele saber que estava tudo bem.

Parou quando ouviu a voz de Sakura: Estava conversando com seu irmão provavelmente, e ele sabia que devia dar meia volta e dar a eles privacidade, mas seus pés não obedeceram ao comando de sua mente.

Sasuke estava muito mais calmo. Felizmente. Sentado numa poltrona improvisada olhando a esposa, sua expressão corporal cabisbaixa. Escondido na penumbra de um corredor dava para ver e ouvir: Ambos se olhavam, mas no ângulo em que estava dava para ver apenas as feições da rosada. Ela tinha uma expressão intensa e sensibilizada, seus olhos um tanto tristes enquanto olhava para o marido.

‘’Apesar de termos trazido seu irmão para cá. Ainda é estranho encara-lo’’ Ela murmurou, e Sasuke apenas assentiu. ‘’Vai ser estranho se acostumar com a presença dele aqui. É estranho porque antes ele era alguém que eu via como um inimigo, alguém que eu desprezava por ter feito você sofrer’’ Ela continuou, e Sasuke novamente só assentiu resignado. ‘’Mas com os anos esse inimigo ganhou um rosto e uma historia, ele morreu, e ficou para trás e não fazia muita diferença pensar em tudo aquilo que ele fez parte, mas agora ele esta na nossa casa, sob o mesmo teto. Não é mais só o assassino que eu ouvi falar, é agora meu paciente e meu cunhado. E apesar de tudo, desejo que todos nós possamos nos dar bem, que possamos superar essas barreiras que nos afasta. Mas não adianta só desejar. E sabe o que mais me dói nisso tudo?’’ Ela perguntou, Sasuke balançou a cabeça calmamente, como ele queria ver a expressão de seu irmão. ‘’Todos esses anos de trabalho não valeram a pena, todos esses anos cuidando da saúde dos outros, todos esses anos em que trabalhei duro e inaugurei a clínica de saúde psicológica dentro do Hospital de Konoha, que avaliaria e trataria da saúde mental, um sucesso que se estendeu para outras nações, e tudo para que? Para que se as pessoas que eu mais deveria zelar estão desoladas e inconsoláveis? Eu vi essa dor hoje Sasuke, em você e em seu irmão. Os dois ainda abalados e traumatizados por conta do passado sombrio que tiveram. E ainda tem esse dificuldade da Sarada de colaborar...’’

‘’A culpa não é sua Sakura! A situação é enlouquecedora mesmo!’’ Sasuke finalmente murmurou bruscamente: ‘’Você fez um bom trabalho com Sarada, ela é uma boa garota, ela tem um gênio forte como nós, só isso. Suas clinicas ao redor do mundo ajudaram muitas pessoas e continuam ajudando. E sobre Itachi e eu... Não é como se pudesse curar em pouco tempo aquilo que sofremos por uma vida inteira. A culpa não é sua!’’ Murmurou meio sem jeito, ele não era muito bom com palavras compadecidas.

Houve então um silencio constrangedor, e Itachi não sabia mais como respirar, quem dirá se mover para longe. Estava tocado com a preocupação e tristeza genuína da mulher.

‘’Se você diz...’’ Ela não parecia convencida. ‘’Queria poder cuidar melhor de todos vocês!’’

‘’Você já cuida tão bem como pode! Pare de bobagens!’’ Sasuke depois de bastante tempo quieto pigarreou: ‘’Esquecemos de dizer as crianças que não devem falar o que viram. Vou verificar se o Dobe instruiu Sarada e seus amigos a não mencionarem que Itachi esta aqui’’ Era uma desculpa para fugir, não estava pronto anda para encarar a esposa verdadeiramente com aquelas tristezas e angustias que levava no coração, Itachi mais do que ninguém sabia disso, eles eram muito parecidos afinal, mas olhou surpreso quando seu irmão levantou os dedos, indicador e médio, tocando a testa da esposa com carinho. ‘’Vejo você uma outra hora’’

Seus olhos arregalados: Itachi não podia crer. Já estava paralisado, mas agora realmente estava em choque. Sasuke havia transmitido seu gesto de tocar na testa. Era tão... Inacreditável.

Aquilo era mais que um ato de afeto, para o moreno que era uma pessoa um tanto reservada e não muito de abraços ou gestos abertos de carinho, aquilo era uma maneira que achou de dizer a Sasuke o quanto o amava e o quanto desejava que ele ficasse cada vez mais forte. E aquilo revivia tanto de suas memorias: Sentiu a visão embaçada, demorando a perceber que eram seus olhos marejados, ameaçando a soltar lagrimas traiçoeiras.

Apesar de seu relacionamento conturbado. Apesar de tudo o que ele fez de ruim a sua família e a Sasuke, o outro ainda perpassou aquele gesto...

Quando Sasuke bateu a porta, saindo, Itachi finalmente achou forças para vira-se novamente para o quarto: Subindo as escadas tão silenciosamente que ninguém poderia notar que algum momento esteve ali, nem mesmo o melhor dos ninjas.

Suspirou ainda tocado por aquele sentimento estranho: Seus olhos ainda marejados quando fechou a porta do quarto com habilidade suficiente para não fazer barulho algum, ninguém saberia que ele estava espiando.

Kakashi olhou-lhe com olhos grandes e curiosos: ‘’Você não ia levar essa bandeja pra cozinha?’’ Ele estreitou os olhos ‘’Você sabe, a casa não é tão grande assim para você não ter achado onde fica!’’

Okay, talvez apenas um ninja soubesse que ele estava espiando. E por algum motivo estranho não se importava de ter cometido aquele deslize com a bandeja: Ao menos esse alguém era Kakashi.

Sentou-se no futton, deixando a bandeja de lado. Kakashi lhe olhava pensativamente e com intensidade como se o estivesse analisando ou vendo sua alma através de seu corpo. Então ele só desviou olhar novamente, aquilo era constrangedor.

 ‘’Você não precisa ser forte o tempo todo. A situação é estranhamente incomoda, mas acredite em mim. Você sabe que eu também já passei por muita coisa nessa vida então acredite, por mais que pareça clichê, tudo nessa vida passa. É a verdade, não to tentando fazer frase de efeito, essa é a mais pura verdade que existe nessa vida: Tudo passa’’

Itachi não respondeu, nem assentiu: Apenas deitou-se, embora sua cabeça estivesse a mil e soubesse que não iria dormir. Tudo estava parecendo errado, mas por Sakura, por Sasuke e por Sarada estava determinado a fazer aquilo tudo que estava errado dar certo. Tomara que Kakashi tivesse razão, tomara que aquilo passasse. Tomara que Sarada não tivesse raiva dele e que assim como era desejo de Sakura, que eles todos pudessem se dar bem e pudessem ser felizes.

E se havia alguma verdade naquele simples toque na testa, se aquele gesto de carinho ultrapassou até as piores situações que enfrentaram, então significava que ainda havia esperança para aquela família. Finalmente Itachi notou que fazia parte daquilo também, aqueles ao seu lado naquele dia eram sua família: A única que havia restado. E ele não podia deixar essa esmorecer.


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Notas finais do capítulo

Ofurô: Banheira em japonês
Daifuku mochi: Bolinho de arroz recheado com algo doce.
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Agradeço a quem esta lendo e não desistiu!
Beijão amores, até o próximo❤



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