A garota olhava mais uma vez para o corpo do seu irmão gémeo, Masaki Kariya, no caixão. A garota pálida dos olhos de cores diferentes e com o tapa-olho do lado esquerdo da sua face tentava não soltar as lágrimas, mas em vão.

Porquê? Porque é que Masaki a havia abandonado, a deixando só num mundo tão cruel? Já não bastava ter perdido os seus pais? Ter sofrido um acidente? E agora, o seu irmão gémeo havia morrido, sacrificando a sua vida por ela. Porque Deus estava sendo tão cruel? O que ela havia feito de tão mal? Rin sentia que tinha de ter sido ela a morrer, e não a pessoa que mais amava.

Todos os amigos dos gémeos de 15 anos estavam ali. 15 anos... porque ele tinha que ter partido tão jovem? Ela queria ter ficado com ele para sempre. Queria ter saído do Sun Garden com ele, ter feito a faculdade ao seu lado, ter os seus filhos e sobrinhos brincando juntos, mas, principalmente, passar o resto dos seus dias com ele, até á sua morte. Mas isso nunca iria acontecer. Tudo o que Rin sonhou, tinha sido uma ilusão. Uma bela ilusão. O acidente de carro que lhe teria matado, matou o seu irmão, e a culpa tinha sido sua, apenas sua.

Rin: Masaki... porque você fez isto? PORQUE VOCÊ ABANDONOU A SUA IRMÃ?! PORQUE VOCÊ NÃO TENTOU VIVER?! PORQUE ME DEIXOU SOZINHA?! -a garota agora chorava mais, expulsando tudo o que sentia do seu coração que antes estava cicatrizado, mas agora, as feridas tinham voltado a se abrir.

Kirino e Shindou agarraram a garota pelos braços, tentando controlar a mais nova. Sim, Kirino também tinha vindo. Mesmo com Kariya sempre o zoando, continuava a ser seu amigo. Ou melhor, ele era seu amigo.

Kirino: Rin, perder a cabeça não vai valer de nada! -o garoto falava num tom irritado, mas tinha aquela pontada de tristeza em sua voz.

A garota agora havia perdido a cabeça. Deu um estalo estrondoso na cara de Kirino.

Rin: NÃO FOI VOCÊ QUE PASSOU A VIDA TODA COM ELE! NÃO FOI VOCÊ QUE SECOU AS LÁGRIMAS DELE, QUE TREINOU TODOS OS DIAS COM ELE PARA SER MAIS FORTE, QUE PASSOU OS ANIVERSÁRIOS TODOS COM ELE! NÃO É VOCÊ QUEM ESTÁ SOFRENDO MAIS AQUI, SOU EU! -a garota começou a se acalmar- Porque agora eu estou sozinha... -os seus joelhos já não aguentavam mais, e ela caiu ao chão, fazendo com que Shindou e Hamano a soltassem, pois já não precisariam de a segurar.

A garota soluçava com as mãos no rosto, enquanto Kirino olhava chocado para a garota, passando a mão no sítio dolorido. Ela tinha razão. Ele não sabia o que se estava passando com ela.

Tenma se agachou para ficar ao nível da pequena morena, e a abraçou de lado. Os seus olhos estavam vermelhos e inchados, mostrando que também havia sofrido muito com a perda do amigo. Ele se lembrava dos momentos que havia passado com os dois, como quando estudavam juntos para alguma prova, ou quando Kariya fazia alguma pegadinha com o Tsurugi, e os dois tinham que o encobrir. Mesmo com tudo o que o azulado fazia, era ele quem animava o ambiente quando o mesmo era pesado, até mesmo para Tenma.

Com as pernas ainda tremulas, a garota se levantou com a ajuda de Tenma e Aoi, e foi em direção ao caixão. Passou a mão pelo rosto do garoto, que tinha um sorriso. Ele tinha morrido sorrindo, tentando consolar a irmã. A garota passou as suas mãos frias pelo seu próprio pescoço, tirando de lá um colar com um meio coração, e pondo no pescoço do garoto, onde se encontrava a outra metade. Agora, a garota entregara o que restava do seu coração.

Rin: I love you, my bad angel. -a garota deu um leve beijo na testa do garoto, e o funeral prosseguiu.

Quando tudo aquilo terminou, a garota lembrou-se das últimas palavras do irmão: "Se precisar de mim, escute o vento". A garota começara a chorar mais com essa memória. Ver o irmão com um sorriso no rosto e todo coberto de sangue, mas mesmo assim não a odiava por estar morrendo por culpa dela, a fez mais triste por achar que nunca tinha apoiado o irmão o suficiente.

"Também te amo, minha pequena..."

A garota se assustou com aquela voz, e olhou para os lados, deixando os que ainda estavam presentes confusos. A garota sorriu de forma melancólica, e saiu daquele sítio triste, pronta para ir para o Sun Garden e aguentar todos os olhares de pena. Como se isso fosse mudar alguma coisa.

Agora, ela deixava quem mais amava para trás, mas não desistiria. Iria continuar sorrindo por ele e escutando o vento.

Até porque, mesmo sem o conseguir ver, ele ainda estaria a seu lado. Pois a ligação de gémeos era assim: para o resto da vida. Nem mesmo a morte os separaria, e continuariam enfrentando todos os obstáculos "juntos".