Prelúdio das Sombras - O Inferno de Richard escrita por Damn Girl


Capítulo 7
Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Imenso, avisei que essa festa ia render, mas estamos na parte 2 de 3. Me perdoem qualquer coisa, dei uma revisada rápida por que estou cheia de sono. Deixem sua opião, vou adorar saber se gostaram ou se não gostaram, o que estão achando até agora, fiquem a vontade para falarem o que sentem... Quase não vejo movimento no nyah, vamos movimentar isso aqui. E tenham uma boa leitura ^^



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Não é a aparência, é a essência. (Chanel)

           A luz do luar reverberava dentre a decoração tão magnifica e atenciosa quanto a do interior do castelo. Mais reluzente que ela, somente a fabulosa e imponente Rainha ao meu lado. Fechei os meus olhos, absorvendo o vento gélido que dançava em meu rosto, e então a encarei, me sentindo plenamente revigorado em meio à noite.

— Obrigada mãe, estava sufocando lá dentro.

           Minha mãe sorriu e me puxou para um caminho de pedras iluminado por pequenas piras de fogo que ia por toda extensão lateral do castelo, passando pelo roseiral da Rainha até o jardim dos fundos, onde os convidados conversavam em pequenos círculos.

— Me deve uma dança querido, nada é de graça nesse nosso mundo.

           Suspirei, ela nem fazia ideia do quanto tinha razão. Uma hora o Criador iria me cobrar pelo imenso favor que havia me feito, - mesmo eu não considerando como um favor e sim uma maldição - e eu tinha certeza que não seria barato. Não saber dos seus objetivos para mim, me deixava ansioso e constantemente apreensivo. Para não dizer desconfiado, e totalmente perdido.

           Faziam dias que eu estava considerando revelar minha nova condição aos meus pais, queria tanto contar que estava enlouquecendo por dentro. Mas com todo esse pavor coletivo, me declarar como vampiro e solicitar ajuda contra o Criador, seria minha sentença de morte. Eu nem precisaria confessar todos os assassinatos que cometi, certamente teria minha cabeça arrancada em público pelo meu próprio pai sem nem abrir a boca. Sacudi a cabeça tentando me livrar desses pensamentos.

           Minha mãe me encarava com uma sobrancelha arqueada.

— A ideia de dançar com sua mãe é tão perturbadora assim?

— Não mãe, estava com a cabeça em outro lugar. Claro que danço com a senhora, minha Rainha.

— Pensando na moça de vestido azul? Qual o nome dela mesmo? A que você deve uma dança...

— Bethanny. - Sacudi a cabeça - Nem sei por que prometi isso.

— Não sabe mesmo? - A rainha deu um sorriso travesso. - Eu acho que vocês dois combinam...

— Nem comece, Kenvia Phiaven Dangenibard Wyndon. - Revirei os olhos. - Bethanny é somente uma amiga, exatamente como havia mencionado. Depois de Anastácia pretendo ficar descomprometido por um longo período...

          Algo como para sempre ou por toda eternidade.

— Está bem, não está mais aqui quem falou, não precisa dizer meu nome por completo! - Ela pegou minha mão, e sua expressão se tornou mais rígida. - Richard, sobre sua noiva... Quero que bote em sua cabeça de uma vez por todas que o que aconteceu foi uma fatalidade, você não poderia ter feito nada para salvá-la... Eu conheço você meu amor, conheço o suficiente para saber que está remoendo isso na sua cabeça a todo instante e que não pretende parar até se afogar em um mar de culpa. Mas você é jovem e não precisa se anular por conta disso, graças a todos os reis a sua vida continua.

          Envolvi sua mão nas minhas e a encarei, desejando que ela pudesse ver toda verdade em meus olhos.

— Está enganada mãe, eu poderia. Eu era o único quem poderia salvá-la. E eu fiz mais do que deixá-la morrer... Muito mais...

          Ela parou de costas para os fundos do castelo e franziu tanto a sobrancelha que sua testa se enrugou e linhas de expressões, antes imperceptíveis, tomaram forma. De repente minha mãe, que sempre ostentava a beleza de uma mulher de vinte anos, aparentava ter bem mais do que os quarenta anos que realmente possuía.

— O que quer dizer com isso querido?

— Ah mãe, eu... eu...

           As palavras morreram em minha boca pois, por trás do ombro esquerdo da minha mãe, um homem alto, loiro, e peculiar conversava com um seleto grupo de cinco mulheres. Sua roupa preta perfeitamente ajustada era confeccionada com um tecido nobre e pesado, tão requintada e detalhada quanto a minha, com diversas camadas e bordados em fios de prata, do tipo que somente os reis, príncipes e alguns nobres privilegiados costumavam usar. Os detalhes em prata pura eram tão discretos quanto refinados. Assim como a espada prateada em sua cintura; vista casualmente de soslaio passaria por uma espada comum de um soldado qualquer, no entanto se alguém possuísse certo nível de conhecimento e, assim como eu, apreciasse mais atentamente os detalhes do cabo, perceberia a fundição de alta qualidade, a curvatura acentuada da guarda, o designer ímpar da empunhadura... Tudo fruto do mesmo ferreiro que forjou minha espada à pedido de meu pai, Uriel Azohar... O homem que escolhia seus clientes a dedo, e que tinha como orgulho . Eu não precisava que ele a desembainhasse para saber que fora feito pelo mesmo ferreiro que quase se negou a forjar a para mim.

           Ainda lembro do dia em que Azohar a entregou. Minha espada.

          Estávamos em um campo aberto e ensolarado. Anastácia roubou minha espada da bainha e correu para longe de mim. Apreciei admirado o modo como o reflexo da lâmina prateada e as pequenas pedras preciosas refletiam em seu belo rosto. A espada era metade do tamanho dela e, tanto ela quanto eu seguíamos deslumbrados com o objeto que eu havia acabado de ganhar. Ela segurou a espada com as duas mãos e deferiu golpes ao vento de forma desajeitada, sorrindo. Cheguei perto dela, apreensivo.

—Annia, cuidado!

          Ela tinha apenas treze anos e eu quatorze. Anastácia era tão magra e frágil, me sentia responsável por sua segurança.

— É uma espada deslumbrante, queria ter uma espada de Azohar também. - Annia fez uma carranca. - Não é justo! Enquanto você ganha espadas e aprende a lutar, eu sou treinada para agradar meu futuro príncipe. - Ela faz uma careta e imita a voz de sua professora de uma forma esganiçada: - Anastácia, tenha bons modos à mesa. Anastácia, cruzes as pernas. Anastácia, não olhe diretamente nos olhos do seu marido. Anastácia, mantenha seu vestido sempre impecável. Anastácia, cozinhe direito...

           Dou risada de sua imitação. Parecia mesmo sua professora chata de etiqueta. Peguei a espada de volta, demonstrando a ela como segurar corretamente.

— Mas você já tem um pretende em vista? Mrs. Robinson é muito afoita. - Dou um risinho e lhe entrego a espada novamente. - Ouvi dizer que o filho do Rei de Trigard está disponível. Seu pai podia entregar sua mão à ele.

          Ela chuta meu joelho e envergo com a dor, mas não paro de rir. Anastácia volta a cortar o ar de forma errada e esbaforida. Reviro os olhos quando ela quase acerta e corta meu estômago.

— Desculpa... - Sussurra.

— Assim não Annia, solte uma das mãos. - Ela me obedece e a espada quase a leva pro chão. Seguro o objeto de metal por cima da mão dela, ajudando a sustentar o peso. - Tem que ficar com uma mão livre, nunca se sabe quando pode precisar da outra.

— É muito pesada.

— É sim. Talvez seja por isso que não ganhou uma.

          Ergo seu queixo com os dedos e endireito delicadamente sua postura, mantendo-a ereta e alerta. Treino Annia por alguns minutos até que ela se cansa e devolve a espada na bainha onde pegou. Anastácia se vira para mim sorrindo, e seus olhos brilham junto do entardecer. Ela parece preocupada.

— Não tenho nenhum pretendente ainda, mais acho que não tardará. Não queria me casar tão cedo assim. Queria ser homem.

— Não pense negativo assim Anastácia, seu marido pode ser alguém que te deixe virar uma cavalheira. - Tento animá-la. - Se você ajoelhar e implorar com seus lindos olhos talvez Azohar lhe faça uma espada também, melhor que a minha. O velho é difícil... Pensando bem, talvez você tenha que implorar bastante... - Dei de ombros. - Ou alguém que deixe você sentar do jeito que quiser, ou olhar em seus olhos.

— Só se for você. - Ela devolve o sorriso. - Você é o único em quem confio, Richard. Eu acho que te amo desde pequena.

           Ela também era a única em quem eu confiava. Mas eu queria me casar com ela? Eu a amava?... Minha mente deu um nó. essas questões eram demais para um rapaz de quatorze. Tudo que eu sabia era que não tinha pretensão de me casar com qualquer outra princesa que não fosse ela. Eu nem tinha pretensão de me casar, para falar a verdade, nunca havia pensado nessa hipótese. Então respondi a única coisa que eu poderia responder com sinceridade.

— Você também é a única em que confio.

          Anastácia me encara de um jeito estranho, e sei que ela interpretou errado. Fico nervoso conforme ela se aproxima e prendo a respiração, totalmente imóvel. Lentamente o clima entre nós muda, nossa ansiedade se torna quase palpável. Ela fecha os olhos e fechando os braços em meu pescoço, deposita os lábios nos meus de forma tão delicada, que eu mal os sinto. Ela fica ali esperando uma iniciativa minha, enquanto a encaro sem saber o que fazer.

— Richard...?? - Sussurra com os lábios entre os meus.

          Faça alguma coisa?! Qualquer coisa...

          Puxo ela pela cintura de forma desajeitada e inclino a cabeça, pressionando nossos lábios, como vi meus pais fazerem algumas vezes. Ela arfa e abre um pouco a boca, parecendo satisfeita com minha iniciativa. Nossas línguas dançam meio dessincronizadas, mas a sensação é diferente de tudo que imaginei. Não é tão repugnante... Sim, talvez eu faça isso de novo...

          Segurei a empunhadura cravejada de rubis de minha própria espada, voltando ao presente e sentindo uma pontada de raiva. Quem o criador é para conseguir uma espada de Azohar?! Por que ele não abre o jogo e me conta logo suas origens?

           Franzi o cenho, imaginando se o Criador havia forçado o homem velho e carrancudo a lhe elaborar uma espada. Se ele havia forçado alguém a lhe entregar suas roupas... Talvez ele tivesse roubado aquelas roupas de um nobre no meio de uma estrada qualquer e depois drenado o coitado até a morte. Talvez ele tenha drenado tanto o nobre quanto o ferreiro. Neguei meus pensamentos com a cabeça, torcendo para que estivesse errado.

          Ele não faria isso, faria?

          Me lembrei subitamente do dia em que ele me transformou, e dos dias subsequentes. Todas vezes em que o via, ele estava trajado como um nobre e elegante homem, não tão extravagante como hoje, contudo igualmente bem-vestido. Me pus a observar seu jeito de se portar e seus gestos, pois isso era algo que ele não podia roubar. Era algo que tinha que ser ensinado, algo que levava anos. Se as roupas eram roubadas, seu comportamento logo ia revelar isso.

          Ele esbanjava confiança, com uma das mãos elegantemente repousada atrás de si, o punho fechado e as costas eretas, um perfeito cavalheiro. Conversava animado as humanas e parecia genuinamente interessado no que elas diziam, nada do seu usual tom debochado ou mesmo o irônico.

          Talvez ele só use esses tons comigo.

          Um sorriso sincero surgiu do seu perfil e ele agradeceu ao garçom, que lhe entregou uma taça de algo que parecia vinho.

           Minha cozinheira Marieen, que conversava entre o grupo se empolgou e, chamando um dos garçons, ofereceu um de seus canapés ao Criador, daquela forma animada dela e que era impossível de recusar. O cheiro chegou até mim trazido pelo vento, uma mistura diversificada e sofisticada, entretanto de legumes e vegetais. Senti meu estômago embrulhar com o aperitivo vegano, e um sorriso maléfico brotou em meu rosto. Fixei meus olhos em seu rosto e em suas mãos, arfando em expectativa.

           Vamos, desgraçado. Coma. Coma tudo.

           O Vampiro levou o aperitivo à boca com naturalidade. Ele mastigou a pequena mistura de folhas, e não vi nem um leve traço de que estivesse odiando, pelo contrário, parecia estar apreciando. Depois pegou mais dois e repetiu o processo, bebendo um pouco do conteúdo em seu copo.

— Está divino! - Ele comeu mais um e sorriu. Pareceu realmente sincero ao elogiar: - A madame cozinha muito bem.

— Oh, obrigada... - Marieen corou e lhe lançou um olhar encantado. - É muita responsabilidade ser cozinheira chefe de um castelo, mas eu dou o meu melhor..

— Imagino... Espero que esteja disponível quando eu der uma festa.

           Marieen não tirava os olhos do Criador, assim como as outras mulheres junto deles. Elas pareciam disputar sua atenção e quando o Criador pegou mais aperitivos e comeu acabei revirando os olhos, frustado.

           Miserável! Como ele consegue comer tão naturalmente?! Eu mal consigo engolir uma misera taça de champagne...

           Ele virou e me encarou, como se desse conta da minha presença só agora, no entanto seus olhos zombavam de mim e lá estava, o meio sorriso sarcástico em seus lábios. Ele acenou para mim e agitou as mãos me chamando. Acabei por me juntar a eles, cumprimentando rapidamente a todos, e quando chegou em sua vez, ao invés de apertar minha mão, ele me puxou para um abraço e deu uma tapinha em minhas costas.

— Aí está, o homenageado da noite!

— Criador. Senhoras. - Saudei de forma apática e educada, contudo não consegui disfarçar minha irritação ao questionar o Vampiro: - O que faz aqui?

— Vim prestigiar sua festa, claro. Depois do tempo em que passamos juntos considero-o como um filho, não perderia por nada. - Ele me lançou um olhar de raiva contida. - Vim assim que soube, receio que meu convite tenha se perdido no caminho...

          Dei um meio sorriso. Sua frase era um desafio que só eu entendia, um desafio ao qual eu não ia recuar.

— Claro, o homem que me salvou. Eu jamais deixaria de convidá-lo.

— Criador??? - Perguntou uma senhora ruiva inocente. - Você o chama assim por causa das ovelhas?

          Ah não querida, mas... O quê?? Ovelhas?? Que ovelhas?

          O outro vampiro me encarou como se eu fosse idiota e tocou meu braço discretamente, me forçando a seguir sua deixa.

— Estava aqui contando a essas senhoras a semana em que você passou comigo em minha cabana enfermo..

— Interessante... - Me limitei a dizer.

— É verdade!! - Disse uma mulher morena, suspirando para ele. Pisquei os olhos confuso. - Quando você salvou nosso príncipe amado! Continue a contar, por favor..

— Pois bem... - O Criador coçou o queixo, me encarando intensamente. - Aonde eu parei??

— Você achou ele em cima dos corpos! - Respondeu uma mulher mais corpulenta de forma animada.

— Ah claro. - Ele me deu um tapinha amigável no ombro, fingindo se importar. - Achei esse rapaz moribundo no meio de um monte de cadáveres e o levei inconsciente para uma cabana que possuo ali perto. - Minhas sobrancelhas praticamente se uniram, porém o Criador continuou com sua versão fajuta dos fatos, assumindo um tom ainda mais dissimulado. - Num primeiro momento eu não percebi que ele era o nosso grande Príncipe Richard de WindHeart, tudo que eu queria era abrigar um soldado honrado de guerra e ajudá-lo. Ele estava tão mal, tão mal, que quase pude tocar seu fio de vida com minhas mãos. Larguei minha criação de ovelhas e meus afazeres, e me concentrei somente em suas enfermidades. Dia e noite, trocando os curativos, baixando sua febre...

           As mulheres mal respiravam de tanta expectativa e excitação. Segurei meu impulso de arrastá-lo dali a força e nesse instante percebi que, eu havia inventado aquela estória que ele agora contava. Não com tanto detalhes, mas eu havia dito que ele era um criador de ovelhas à mesa de jantar outro dia. Sutilmente, ele continuava me espionando de algum lugar, controlando meus passos. Esperando...

          Seus olhos faiscaram com a minha percepção.

          Cretino... Sonso, imbecil!

— Você é um homem muito dedicado. - Constatou Marieen.

— Eu simplesmente não podia largá-lo lá para morrer. - Seu olhar se fixou no meu de forma perversa. - Sinto como se tivesse lhe concedido uma nova vida, é muito gratificante. Principalmente depois de descobrir que salvei o filho único do Rei Donan.

         Um garçom me ofereceu um dos aperitivos de Marieen e imediatamente ela voltou seus olhos para mim. Contive um suspiro e peguei o maldito Canapé com determinação. Se o Criador Consegue, eu também consigo.

         Come, desgraçado. Vamos, Coma. Coma tudo.

         O ar sumiu e o chão sob meus pés começou a rodar. Era a voz do Criador que estava projetada em minha cabeça, com praticamente as mesmas palavras que as minhas. De alguma forma, ele sabia. Fitei o sanguessuga com o rosto inocente de forma embasbacada e dei uma mordida, controlando minha ânsia. Sua voz invadiu minha mente de novo:

          Pobre Richard, achou que ler pensamentos era mérito seu? Você se estima além do seu valor.

          Se eu fosse vivo, teria ficado pálido. No entanto as nossas acompanhantes pareceram alheias a nossa conversa paralela. Continuaram comentando sobre o quanto o Criador era generoso e o quanto eu tinha sorte.

          Qual seu interesse em firmar minha estória de criador de ovelhas?

          Nenhum, só quis fazer-lhe o favor de manter sua versão floreada dos fatos. Fora que Criador desperta muita curiosidade, precisei de uma explicação do por que você me chama assim. Mas se for de seu desejo posso contar que você foi meu almoço, posso contar que na verdade você morreu como um grande fracassado e que agora é um ser sobrenatural. Posso revelar que você está enganando a todos esses mortais e acabar de vez com esse seu teatro de merda. Posso queimar esse castelo inteiro, ou posso simplesmente te arrastar a força daqui... Ah Richard, eu posso fazer tantas coisas com você...

          Está me ameaçando?

          De maneira alguma, essas amáveis e deliciosas senhoras me deixaram de bom humor. Gostei realmente de vir a sua festa, não posso negar que os humanos são divertidos. Mas eu quero que saiba o quanto tenho sido benevolente com você. Estou perdendo um tempo precioso esperando você vir comigo. Em um momento ao qual eu não poderia me dar esse luxo, não poderia te dar esse luxo..

          Senti meu sangue gelar e encarei Marieen, e as outras mulheres muito preocupado. Elas nem faziam ideia do perigo que corriam.

— Gostou do Canapé Richard?

— Sim Marieen. - Balbuciei de forma automática em um fio de voz - Estava divino como sempre.

— Não parece que gostou. - Ela fez uma careta e tocou o braço do Criador exigindo sua atenção. - Esse menino tem comido pouco desde que voltou da guerra, parece um passarinho, só o vejo beliscando. Já falei que ele vai ficar anêmico e fraco, mas ele não me ouve. Quem sabe se o senhor o repreendê-lo, ele não lhe escuta.

— Tem que comer Richard. - Me repreendeu com firmeza, mas seus olhos se dilataram e ele os focou nas humanas. - É muito importante uma refeição rica e diversificada. Principalmente para guerreiros como nós, que gastamos muita energia.

          Encarei sua face, esperando que ele notasse minha suplica silenciosa. Essa festa estava virando um pesadelo. Marieen pareceu aprovar o que ele disse, e logo as outras senhoras estavam repreendendo minha falta de apetite. No entanto eu mal conseguia me concentrar.

          Por favor, não coma elas. Não hoje, não minha cozinheira, por favor.

          O Criador exibiu um largo sorriso, repleto de malícia.

          Ah Richard, vou comê-las sim. Mas não da forma que você está imaginando. Não decidi ainda se será só uma ou todas cinco...

          Revirei meus olhos, mas suspirei aliviado.

          Poupe-me desses detalhes sórdidos. Portanto que você mantenha suas presas bem longe das veias delas, pode enfiar seu pau até na orelha das cinco.

          O Criador gargalhou alto. As mulheres o encararam com o semblante confuso.

         Para um príncipe criado cheio de pompa e baboseira, até que você tem a língua afiada.

         Você me tira do sério, vai pro inferno seu.... seu... ah , dane-se.

— Senhoras, se me derem licença, tenho que ir cumprimentar outros convidados. - Me apressei em dizer e mentir. - Foi um prazer revê-lo Criador, aproveite a festa.

          Me afastei do grupo o mais rápido que pude dentro dos limites humanos. Se elas queriam cair em seus encantos e em sua cama, eu nada podia fazer a respeito, não ia ficar ali no meio. Assim que tomei certa distância o Criador me alcançou, agarrando meu braço e me empurrando para um canto isolado. Arfei com sua força e seu ato repentino, contudo não revidei. Foi até bom poder ficar sozinho com ele. Encarei o Vampiro de forma que ele notasse minha impaciência.

— Richard, vamos largar toda essa hostilidade? - Pediu de forma debochada.

— O que você realmente veio fazer aqui Criador?

— Não é obvio? - Franzi o cenho de forma que ele percebesse que não era. - Estou protegendo sua festa dos terríveis vampiros. Aliás, de nada.

— Você?

— Sim, vossa Alteza. Eu. Ou você acha que seus soldados sabem diferenciar um vampiro infiltrado de um humano comum? Se soubessem você estaria sem cabeça há dias. - Ele tinha razão. Esfreguei as têmporas, todo reforço na segurança essa noite era inútil, se eles nem conseguiam perceber que eu mesmo era um dos sanguessugas. - Está vendo aquele homem? - Ele apontou para um homem jovem e loiro um pouco ao longe, que nos devolveu o olhar de forma desinteressada. - Vampiro.

— Então você não está sendo muito eficiente em seu propósito. - Sorri, satisfeito em provocá-lo.

— Tem certeza? Observe com atenção, Richard.

          Ele encarou o outro vampiro com seus olhos escarlate de forma penetrante e sussurrou:

— Venha até mim.

       Foi isso, nada mais que um sussurro. Não pensei que o vampiro fosse atender seu chamado, sequer ouvir, na realidade, mas ele prontamente veio até o Criador, parando bem a nossa frente. Seus olhos estavam apáticos e foscos, e ele parecia... enfeitiçado. Fiquei bastante impressionado. Estalei os dedos na frente do rosto do outro vampiro, no entanto ele não esboçou qualquer reação.

— Incrível... - Sussurrei.

— Sabia que ia gostar. - O Criador se virou para o outro vampiro. - Não fique aí tão tímido, chegue mais perto.

         O que aconteceu em seguida foi tão rápido que olhos comuns não acompanhariam. Um escuridão mórbida se formou em nossa volta, enquanto o outro vampiro chegava mais perto conforme o Criador havia ordenado. Sem qualquer aviso, o Criador puxou o outro Vampiro intruso e o envolveu com seus braços, imobilizando-o. Cravou seus dentes em sua jugular de forma grotesca, abrindo um enorme buraco, enquanto ele se debatia e tentava escapar. O sangue jorrou em grandes quantidades ao chão, e escorreu grosso e viscoso pelo seu queixo e pescoço enquanto ele sugava com voracidade. O cheiro me atingiu de forma brutal, finquei os pés no chão tentando com todas as forças resistir a vontade de me unir a ele. Corri os olhos de um lado para outro, nervoso, procurando algum humano que estivesse assistindo, e tentando me distrair do doce aroma que começava a se apoderar de minha razão .

         O Criador riu de meu nervosismo, sem tirar a boca do seu jantar, e suspirou. Ergueu o pulso direito do outro Vampiro, agora completamente imóvel e me ofereceu. Engoli em seco.

— Não, obrigado. - Respondi de forma incerta, travando uma batalha interna comigo mesmo.

          Me deixe ser humano, só hoje...

          O Criador deu de ombros e afastou os lábios de sua presa. Achei que ele jogar o Vampiro no chão, mas em outro rápido movimento ele arrancou sua cabeça. O Vampiro, que antes ainda estava vivo, se desfez imediatamente em um mistura de pó e cinzas, transbordando entre seus dedos.

          Ele me encarou com olhos vermelhos e indecifráveis. Recuei dois passos, a tensão percorrendo por todo meu corpo... Tão logo ele estava parado diante de mim, não estava mais, seus movimentos se encontravam acima do que meus olhos poderiam acompanhar, mesmo os meus olhos de vampiro. Me sobressaltei ao sentir suas presas possuírem meu pescoço sem minha concessão, uma dor incomoda se acometeu, no entanto me contive de esboçar qualquer tipo de reação. Esperei que ele sugasse cada gota e me transformasse em pó e, surpreendentemente, nunca me senti tão genuinamente ansioso. Fechei os olhos e me agarrei aos rostos de todas pessoas que matei. Não poderia acertar nunca as contas com eles, mas ao menos colocaria um fim em tudo isso. O Criador bufou na minha nuca e me largou, voltando para a posição inicial. Parecia frustado, ou chateado...

— Primeira lição, Richard: Se você não é o predador, é a presa. - Disse sério. Ele puxou um lenço do bolso e se limpou, aparentando tranquilidade. - Eu não acredito que você ia simplesmente se entregar a morte, logo você.... Um guerreiro. Se fosse outra coisa, outra pessoa, outro Vampiro que fizesse isso com você....- Ele balançou a cabeça negativamente. - Pare de negar sua nova natureza e apenas aceite o que você se tornou. Você se culpa demais. Se culpar por ter matado sua parceira, tudo bem. Mas é irritante ver você se culpando por cada vítima, cada pessoa que você drena. O que fazemos faz parte do que somos... É bom que você se acostume e pare de ficar desconfortável com isso.

— Talvez eu não quisesse ser assim.

— Mas você é, e eu sei que está começando a gostar. Admita e se entregue, e você vai poder ver um lado bom nisso tudo.

         Me entregar a ser um assassino? Ele é insano?

— Não sei se é de seu conhecimento, mas eu não fui criado para matar... Em batalha talvez, mas não desta forma torpe. - Pensei numa forma de fazê-lo entender de uma vez por todas. - Eu não fico desconfortável, eu fico horrorizado. Com a minha falta de autoconhecimento. Não sei do que sou capaz, não sei o que vou fazer a seguir, não sei sequer se vou me lembrar do que fiz. - Espremi os olhos e o encarei profundamente. - E você que é o único parâmetro que possuo do que é ser um Vampiro, não me ajuda de maneira alguma, só sabe debochar de minha condição. Me sinto perdido, e você não demonstra um pingo de compadecimento. Para que se deu o trabalho de me transformar?

— Para que viesse comigo. - Respondeu baixo, sem pestanejar. - Richard, já falei isso hoje, mas preciso enfatizar que estou sendo muito paciente com você. Entendo que você queira ficar dentre os humanos, mas você não faz mais parte dessa espécie...

— Eu entendi essa parte, não sou desprovido de inteligencia, e possuo um grandioso espelho que me diz todo dia que não sou mais o que eu era. Também compreendo que não passo de um merda e que posso virar poeira quando você desejar, como o Vampiro ali. - Apontei para o monte de poeira que se dispersava com o vento. - Mas vou repetir o meu ponto: Se você não liga para mim, para que se deu o trabalho de me transformar?

          O Criador me encarou de forma indecifrável por mais tempo do que eu desejara, parecia em conflito com algo, perturbado com algo e ao mesmo tempo pesaroso. Ele suspirou e esperei que ele me respondesse, afinal não era uma pergunta tão complexa. Apesar disso após uma eternidade imóvel, sua face se abriu num sorriso zombeteiro, novamente. Esfreguei a mão no rosto, sentindo a frustração tomar conta de cada pedaço do meu ser. Ele não falaria coisa alguma, ia ter que permanecer vivendo no escuro. Exalei, derrotado.

— Está bem Criador, esquece.

— Não, vamos fazer um... acordo. - Ele levantou a mão, exibindo três dedos. Franzi o cenho para seu gesto repentino, confuso. - Como não te trouxe nenhum presente, e eu realmente gostei de interagir com os humanos, vou permitir que me faça três perguntas sobre qualquer coisa que julgar que precise saber. - Ele sorriu debochado. - Sou sua fada madrinha dos Vampiros, ou coisa assim. Vamos criança, pergunte-me.

          Me empertiguei no lugar sentindo a agitação percorrer minha mente. De repente, me sentia feliz como uma criança, exatamente como me intitulou. Três perguntas! Mais do que qualquer coisa que ele já me ofereceu. Contudo, havia tanta coisa... Suspirei, tentando focar em prioridades. O que eu preciso realmente saber? Minha mente girou ansiosa num turbilhão de possibilidades. O Criador aguardava pacientemente que eu me decidisse, parado com uma mão atrás das costas, na pose elegante que exibira mais cedo. Encarei sua espada exclusiva e as palavras saltaram de meus lábios de forma autônoma:

— Você é rico?

          Cobri minha boca com as duas mãos. O vampiro se envergou numa explosão de gargalhadas e seu corpo tremeu de forma convulsiva. Nunca vi ele rir tanto. Controlei minha vontade de jogar meu rosto violentamente contra a parede, me achando um idiota.

          Não porra, não era isso que eu queria perguntar.... que inferno!

— É sério? É essa sua primeira pergunta? - Ele arfou, tentando se recompor. - Que decepção, Richard.

— Por favor, desconsidere. Não era isso.... - Implorei. - É que você parece rico. Desconsidere, por favor...

— Certo, vou desconsiderar. - Seu sorriso se alargou. - Mas como um bônus: Eu sou sim Richard, rico.

— O quão rico?

          Diabos, outra pergunta inútil! O que eu tenho na cabeça?!

— Vou desconsiderar esta também. - O Criador arqueou uma sobrancelha e me lançou um olhar exibido. Soltei o ar. - Muito rico, tão rico que, sinceramente, nem sou capaz de estimar. Infinitamente mais rico que seu pai. E os outros reis. Com a minha idade, qualquer um seria...

          Uau!!!

— Nossa! E qual...

— Que fique avisado que se perguntar minha idade, não vou desconsiderar uma terceira vez. Não abuse do meu bom humor.

          Fechei a boca e me forcei a ficar calado, era exatamente o que eu ia perguntar. Havia tanta coisa que eu queria saber sobre o Vampiro à minha frente que dispersava minha concentração. Fechei os olhos e busquei as três perguntas mais importantes, as mais indispensáveis...

         Vamos Richard, não é tão difícil.

         Então em um lampejo, o que eu queria perguntar surgiu. A possível resposta para ela me perturbava, no entanto. Inalei o ar profundamente, antes de soltar:

— Mais cedo, quando estava lá dentro... Eu vi Anastácia. E Ela... bebeu uma coisa que eu achei ser sangue. - Fiz uma longa pausa. O Criador me fitava atentamente. - Minha primeira pergunta é se há alguma possibilidade de eu ter.... dela ter ser tornado... Você sabe, dela ter sido transformada em... uma de nós. - Acrescentei num tom mais baixo. - Não consigo me recordar de muita coisa daquela noite..

— Achou ser sangue? - Ele revirou os olhos. - Você é um Vampiro Richard, ou era sangue ou não era.

        Lembrei da forma como o liquido escorria e senti uma inquietação nas presas.

— Era sim, sangue. Ela bebeu... Eu transformei ela?

— Aquela mulher com quem você teve intercurso sexual quando despertou?

        Revirei os olhos e assenti.

— Não, de maneira alguma. Você não possui esse poder... ainda. - Ele deu de ombros. - Não é todo vampiro que pode interferir no curso da vida, requer muito poder, é trabalhoso e cansativo. Ainda mais com o corpo dela naquele estado. Você deve estar se sentindo muito culpado, ao ponto de ter alucinações. - O Criador pôs uma mão em meu ombro, compadecido. - Vampiros recém criados costumam ser instáveis, quase insanos, veja pelo caos que tem acontecido ultimamente nos reinos... Você até que é bem controlado. Nada mais comum que ter uma alucinação ou outra, eu acho, mas como eu te disse... você tem que se livrar dessa culpa.

         Me senti um pouco melhor, e ao mesmo tempo, decepcionado. Não sei se seria justo condenar Anastácia à mesma vida o Criador havia me imposto, no entanto me livraria consideravelmente da enorme culpa e saudades que eu estava sentindo... Sacudi a cabeça, pensando no que perguntar a seguir.

— Estou ouvindo vozes dentro da minha cabeça, pensamentos de todos à minha volta, como você reparou mais cedo. É muito perturbador, para não dizer incômodo... Como eu as faço parar?

— Você ouve constantemente?

— Não.

— Isso pode ser culpa minha... - O Criador me lançou um meio sorriso, se desculpando. - Quando te dei meu sangue, devo ter transferido para você. Não há muito o que fazer, daqui há pouco vai passar... eu acho... Nunca transformei ninguém antes.

— Tem certeza que não é uma habilidade minha? - Arqueei uma sobrancelha. - Tem certeza que vai passar?

— Tenho. - Respondeu irritado. - Você até pode ter essa habilidade futuramente, mas agora você é fraco. Se você viesse comigo...

           Suspirei, negando com a cabeça. Todas perguntas até agora estavam sendo inúteis, continuava sabendo pouca coisa. Esperava que ao menos a última tivesse uma boa resposta. E que ele não se sentisse ofendido, estava sendo tão bom comigo hoje, não queria aborrecê-lo.

— Tudo bem, minha última pergunta é simples. - Esfreguei as mãos, ansioso. - Fiquei sabendo pelos humanos que há um "Rei-Vampiro"...

           Ele riu, parecendo divertido.

— Não é bem esse o termo, mas prossiga..

— E que ele é muito poderoso. Não quero parecer ingrato ou te deixar aborrecido, mas eu queria saber se ele pode desfazer o que você fez?

           O Criador piscou algumas vezes, confuso, e então franziu o cenho.

— Quer voltar a ser humano?

— Sim.

— Ele pode, mas não é tão simples. - O Criador suspirou e esfregou as têmporas.- E eu não vejo por que ele faria isso por você. E você deveria repensar antes de recusar a imortalidade que eu lhe dei.

— Como eu falo com ele?

— Basta Richard, já respondi mais do que três perguntas.

          Assenti. Eu poderia achar o Rei-Vampiro sozinho, saber que ele poderia fazer o que eu queria já foi uma informação muito valiosa.

         Ia agradecer ao Criador, e dizer que havia gostado de sua presença em minha festa, mas ele havia sumido. Corri os olhos por todos os lados e segui seu cheiro até a entrada principal e então parei abruptamente ao seu lado. Ele encarava o portão principal com uma expressão carregada, muito diferente do Vampiro que conversava alegremente com humanas mais cedo. Segui a direção do seu olhar e entendi a razão de seu olhar sombrio.

— Craine... - Sussurramos em uníssono.

          O grande portão de ferro abriu com um rangido e o Rei Eddard Craine entrou a pé, devidamente protegido por seis soldados que o seguiam em formação de dois. Fitei o homem de aproximadamente trinta anos que caminhava com firmeza e mantinha um olhar soberbo por trás de seus olhos azuis claros, quase tão soberbo quanto o de Catherine, contudo ele o disfarçava com um caloroso sorriso, que mais se assemelhava ao sorriso debochado do Criador.

          Ele acenou com a mão direita enquanto seus soldados faziam uma coreografia de exibição com espadas, rodando-as no ar e uma multidão logo se aglomerou para ver o tão famoso e recluso rei. Conhecido por sua pouca idade, o rei mais novo de todos, e por estar dando fim aos temidos sanguessugas. Novo demais para governar um reino, e velho demais para não possuir uma rainha. O rei que deveria ter se encontrado comigo no campo de batalha onde eu "morri", e não apareceu. Tive um mal pressentimento que percorreu cada centímetro do meu corpo.

          Estranho, muito estranho.

— Majestade, eu te amo!! - Arfou uma mulher ao nosso lado, exasperada.

            As mulheres acenavam e gritavam desesperadas, todas queriam ser rainhas. Uma chuva de pensamentos pervertidos invadiram minha mente e encarei o Criado, furioso por ele ter transferido esse porcaria para mim. Ele devolveu o olhar tranquilo, provavelmente ele havia bloqueado tudo. Arfei e desejei poder fazer o mesmo. Pensamentos inúteis sobre como Craine é lindo, como o rosto dele é bem desenhado, como ele é musculoso, ecoavam em minha cabeça por diversas vozes, vindas de todas direções. Esfreguei as têmporas, repleto de dor de cabeça.

            Tudo bem, ele é bonito, e solteiro, se acalmem garotas. Pelo amor de todos os reis...

            Craine quase não aparecia em público e neste momento, eu desejava com todas minhas forças que não o tivesse feito. Mais soldados dele adentraram o castelo, a fim de controlar as damas, com ajuda de nossos próprios soldados. Os homens também estavam curiosos com o Rei o misterioso. Craine deu um sorriso, que resplandeceu nos olhos de cada súdito, súditos do meu pai, embora ninguém parecesse lembrar disso.

— Estou indo embora, Richard. - Anunciou o Criador, me lançando um olhar indecifrável. - Foi um prazer vir à sua festa, mesmo que eu tenha sido um convidado inesperado. Os humanos são surpreendentes, gostei de verdade de ter vindo. - Ia abrir a boca para agradecer sua vinda, mas ele me interrompeu, os olhos azuis escuros e as pupilas dilatadas. - Permita-me dar-lhe um último conselho antes de partir, como seu Criador, seu monstro particular, ou o que quer que me considere: Mantenha distância do Rei Craine.

          Sem falar mais nada, O Criador girou sob os calcanhares e seguiu abrindo passagem pela multidão, evitando usar o portão do castelo como saída. Estava prestes a segui-lo para ver como ele ia embora pelo caminho errado, quando uma mão robusta apertou firmemente meu ombro.

          Craine cortou caminho pela multidão, que agora dividiam a atenção entre mim e ele, e me lançou um sorriso terno. Entretanto uma centelha de surpresa estava estampada sutilmente em cada traço de seu rosto. Cerrei os olhos seguindo a advertência do Criador e esqueci o público, focando apenas nele. Sua voz invadiu minha mente, exatamente como eu queria, e nela havia um tom de escárnio e um tom ainda maior de desprezo.

          Mas que caralhos, achei que esse garoto estivesse morto...

          Segurei minha reação e devolvi o sorriso, fingindo que não escutei nada.

— Principe Richard. - Me saldou, estendendo a mão. Correspondi com firmeza. -

— Majestade.

         Prestei uma reverencia de má vontade, minhas mãos fechadas em punho. Ia descobrir por que o Criador havia me advertido, custe o custar.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado, até o próximo :*



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