Lágrimas Perdidas escrita por Candy


Capítulo 3
Capítulo 3: Poucas coisas te fazem sorrir quando sua alma esta esgotada




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Ainda sobressaltada com aquela mensagem, mais uma vez sem assinatura e, possivelmente vinda do mesmo destinatário, terminei de me arrumar e desci para tomar meu desjejum. Não estava muito animada para me produzir. Vesti um jeans básico com uma baby look preta com uma frase qualquer em inglês escrita de azul, All Star e  óculos escuro.

Quando entrei no restaurante do hotel, todos já estavam lá. Por mais que eu tenha querido passar despercebida, foi inevitável. Senti todos os olhares direcionados à mim, porém os meus só se concentraram em duas pessoas. Poncho e Anahí.

Receber aquele olhar frio dos dois foi mais doloroso do que se eu tivesse recebido uma bofetada. Senti uma dor sem fim no peito e desviei a mirada a procura de Mai. A encontrei em uma mesa com Guido, e ela logo sorriu longamente, me chamando com a mão. Ensaiei um sorriso enquanto me aproximava. Ela e Guido se levantaram me cumprimentando, e dando os parabéns mais uma vez.

Quase que simultaneamente, todos os músicos se aproximaram me cumprimentando também. Logo em seguida Pedro, Luís, Oso.. Enfim, todos.. Todos exceto quatro pessoas.

Quando já ia me sentar, fui invadida por emoções no momento que todos começaram a cantar “Lãs Mañanitas”. Olhei para trás e vi Oso se aproximar com um bolo de chocolate, com uma vela acesa no centro.

Un deseo” – Oso disse ao se aproximar.

Sorri fechando os olhos. Busquei no fundo da alma o que eu mais desejava naquele momento. Já não era um desejo como o que pedi em meu último cumpleaños, dessa vez era um pedido desesperado do meu coração.

Volver a verte otra vez... com la dulzura de um amor que nadie ver... con un montón de sueños rotos... volver a verte outra vez” – Eu pensava nos versos de uma canção que tanto falava por mim.

Apertei os olhos bem fortes, como se essa ação fortalecesse a intensidade do meu desejo. Todos falavam, riam.. E eu ouvia todos esses sons como uma música ao longe, enquanto me concentrava no meu último fio de esperança.

Abri os olhos, afastei algumas mechas de cabelo que caiam sobre meu rosto e apaguei a vela. Todos gritaram em exaltação e eu sorri de verdade pela primeira vez desde o dia anterior. Senti que aquelas pessoas estavam realmente transmitindo uma alegria viva de comemorar o dia que era para eu está daquela forma.

Num movimento automático, virei meus olhos pelo lugar. Encontrei Christian e Christopher sentados juntos em uma mesa, e meu sorriso se desfez lentamente. Christian sustentava na mão uma xícara de café, e Christopher um copo de suco, provavelmente de laranja. Ao notarem que meu olhar estava neles, ambos baixaram a cabeça. Baixei a minha também, passando o dedo no meu piercing do nariz.

Ainda era difícil aceitar que os dois não me apoiaram. Que já não tinha mais os braços do Christian para me abraçar apertado, me passando força e confiança, enquanto tentava me fazer sorrir. Que já não tinha o Christopher para implicar comigo só para me deixar irritada no primeiro instante, e sorrir logo em seguida.

Levantei a cabeça procurando a mesa onde Poncho e Anahí estavam. Quando mantive meu olhar neles, Poncho abraçou Annie de lado e ela segurou a mão dele que a envolvia, em uma mensagem silenciosa de que eles mantinham as palavras deles e ambos se apoiavam.

Suspirei alto prendendo as lágrimas que sentia se aproximar. E elas chegariam se não fosse pelo coro que começou em minha volta.

Mordida! Mordida! Mordida!” – Pisquei várias vezes, voltando para o que acontecia a minha volta.

Olhei para Mai e ela também gritava e batia palmas, posta de pé de frente para Guido, que também pedia, discretamente.

Sorri para ela, maneando a cabeça como se dissesse “não tem jeito”. Abaixei e mordi um pedaço do bolo, que Oso ainda segurava. Todos gritaram novamente.

Um tempo depois, todos já haviam voltado para seus lugares. Sentei-me com Mai e Guido depois de me servir com o que comeria. Mas ao me sentar, Mai pegou minha mão sobre a mesa.

“Dul...”

“Hm?” – levantei a mirada para ela, enquanto lambia os resquícios da geleia de uva do meu dedo polegar e indicador da outra mão.

“Sabe que eu gostaria muito de passar o dia todo com você, verdade?” – observei sua expressão e era bem a cara da Mai fazê-la. Estava com uma expressão preocupada. Eu assenti sorrindo.

“Mas..?” – perguntei rindo, enquanto solvia um pouco de café.

“Bem, é que eu e Guido combinamos de sair para fazer umas comprinhas”

“Isso é ótimo” – disse sorrindo. Não a queria sentindo-se culpada por me deixar. Ela sorriu.

“Quer ir com a gente?” – segurando minha mão com as duas mãos.

“Sabe, depois dessa comemoração que fizeram para mim, estou me sentindo um pouquinho melhor” – disse sorrindo, e senti como ela sorria aliviada por me ouvir falar assim – “É sério..” – disse e mordi um pedaço de torrada – “Estou até pensando em ir à piscina” – ela sorriu assentindo.

“Eu acho essa uma ótima ideia” – disse dando uma piscadinha.

“Vem comigo?” – ela ficou séria.

“Adoraria, chiquita! Mas sairemos agora” – senti minha garganta seca, e precisei me esforçar para engolir. Não seria fácil ficar sozinha.

“Ah.. Mas não ficarei sozinha” – sorri, disfarçando a frustração – “Assim que eu ligar o Tom, ele não vai parar de tocar o dia todo” – disse apontando para o meu celular sobre a mesa. Mai também olhou e riu – “Vou ligar para o Jerry daqui a pouco” – me referindo ao celular da Sam. Mai riu já sabendo a que eu me referia. Há alguns anos Sam e eu criamos essa maluquice entre a gente de dar nomes aos nossos celulares. E os celulares da vez eram o Tom (o meu) e o Jerry (o da Sam).

“O que você acha de nós sairmos hoje à noite para comemorar seu cumple?” – ela perguntou em tom animado.

“Mmm” – pensei, apertando os lábios.

“Sim? Ah que ótimo! Foi bem fácil te convencer” – ela falou rindo, enquanto se levantava seguida por Guido – “Então quando eu chegar a gente marca o horário” – abaixando para me dar um beijo na bochecha.

“Só nós duas?” – perguntei imaginando que sim, mas desejando que não. Queria comemorar com todos.. Poncho, Annie, enfim..

“Como que ‘só’?” – perguntou ainda abaixada, me abraçando apertando de lado – “Nós duas enchemos qualquer espaço com nosso glamour, mi amor” – disse e me deu outro beijo na bochecha. Eu ri.

Te quiero

“Mmmm” – me apertando forte – “E eu a ti” – sorrindo. Levantou-se e abraçou Guido de lado – “Não esqueça de passar o protetor solar, hã!?” – disse rindo, me olhando por cima dos ombros, enquanto andava.

Assenti sorrindo para ela, enquanto a via se afastar. Dei uma olhada ao redor e já não via Poncho, nem Annie.. Além de mim, só havia alguns hospedes do hotel. Voltei a mirada para o meu café da manhã. Respirei fundo. Já não sentia mais vontade de comer.

Chamei o garçom e perdi que me trouxesse outra xícara de café, pois o que estava ali já esfriara. Olhei para Tom e pensei se o ligava ou não. Sabia que tocaria sem parar, com chamadas de inúmeras pessoas de várias partes para me desejar Feliz Cumpleaños, e eu não queria falar com ninguém, pelo menos por enquanto, naquele momento. Bem, na verdade havia uma. Mas essa eu estava segura de que não ligaria.

Peguei meu celular na mesa e o apertei forte com a mão, enquanto fechava meus olhos os apertando com igual intensidade. Queria aplacar aquela angustia que sentia, aquele aperto no peito que me sufocava. Aquela vontade grande de chorar por causa da solidão e da frieza e incompreensão de quem tanto eu precisava naquele momento. Queria apagar a imensa necessidade da voz, do cheiro, do sabor... Que embriagava meus pensamentos daquela maneira, e que enraizou aquela dor profunda no meu coração.

Abri meus olhos quando ouvi a voz do garçom me avisando que trouxera meu café. O agradeci e me senti aliviada por estar usando óculos escuros, do contrário ele notaria meus olhos empapados pelas lágrimas.

Solvi um pouco daquela bebida escura, quente e inexplicavelmente deliciosa, enquanto mirava Tom. Foi então que me lembrei da Sam. Caray! Combinei de conversarmos hoje e eu lhe contar tudo o que estava acontecendo. Meu coração acelerou com o susto. Repousei a xícara no pires e peguei Tom. Enquanto o ligava, pensava em tudo o que eu tinha para conversar com ela. Há semanas estávamos sem nos ver, e a cada ligação nossa eu adiava o momento de falarmos do assunto para conversarmos melhor pessoalmente. Eu não imaginava que as coisas tomariam o rumo que tomaram, enfim.. Acabou se tornando uma bola de neve com um peso incalculável.

Antes que eu pudesse buscar o número dela na agenda, o aparelho vibrou avisando que havia chegado uma mensagem de texto. Meu coração acelerou novamente e minha respiração se tornou entrecortada. Fechei meus olhos e coloquei uma mão no peito. Eu já imaginava de quem seria. Não quem seria seu destinatário com toda certeza, mas que seria o mesmo daquelas mensagens anteriores.

P.S: Y se que vas a estar mejor cuando me vaya
Y se que todo va a seguir como si nada...


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Notas finais do capítulo

O trecho da música que a Dulce cita em seu desejo de aniversário é 'Sueños Rotos' de La 5ª Estacion.

Até o próximo!



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