"O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação."

Carl Jung

Taylor Swift - Today was a Fairytale

Edmund permitiu um longo suspiro lhe escapar dos lábios pelo que pareceu a milésima vez num tempo ridiculamente curto. Tem alguma coisa errada acontecendo disso ele não tem dúvidas, algo grande do tipo capaz de abalar a já tensa situação devido ao jeito que seu pai convocou Anthony para uma reunião a portas fechadas a pouco, ele tinha aquela expressão composta e fria que só usa para dar más notícias, mas Edmund sabe que logo vai ser sua vez e paciência não é um de seus traços mais marcantes por nada, está ansioso sobre isso só que num nível controlável se fosse algo de impacto imediato já teria sido informado. Mesmo que uma parte egoísta sua se ressinta de não ter ido junto, ele não inveja seu irmão, longe disso, mas de certo modo como primogênito Tony tem certas regalias e privilégios quando se trata de situações assim e a parte de Edmund que quer a coroa se ressente imensamente disso. Seu outro compromisso do dia infelizmente é que o está deixando ansioso e o levou ao fundo do poço que é o livro em suas mãos.

Se qualquer um, especialmente seus amigos e irmão, chegar a ver um dos herdeiros britânicos sentado no centro da sua cama lendo um livro de auto ajuda sobre encontros sua vida está oficialmente acabada porque ele vai entrar em combustão espontânea devido ao nível de vergonha. A vergonhosa verdade é que Edmund nunca foi a um encontro, claro ele já beijou algumas garotas em boates e bailes só que ele nunca teve uma namorada oficial, sua vida amorosa nunca esteve nos holofotes como a de todos os seus amigos porque basicamente ela nunca existiu e agora que deve encontrar uma esposa em frente ao mundo inteiro ele está quase histérico sem saber o que fazer.

Edmund não está acostumado a não saber as coisas, ele pode não ter a mesma genialidade de Niklaus ou de Sienna- Sua mãe brinca que isso prova que ele e Tony puxaram demais do pai- só que ele é um prodígio sem sombra de dúvidas, em seus 19 anos de vida ele nunca encontrou dificuldade em aprender nada além de linguagens, sempre foi o primeiro a decorar as políticas externas e internas, os eventos históricos, a entender os relatórios de economia, a saber montar orçamentos e fazer revisões satisfatórios, a saber lidar com todo tipo de situação depois de pouquíssimo tempo e ajuda.

Mesmo que soe incrivelmente arrogante o rapaz está acostumado a ser o melhor entre seu círculo íntimo. Tony pode ter o carisma que cada rei mataria para obter, David pode fazer verdadeiros milagres quando se trata de achar brechas em acordos e tratados, Niklaus pode ter uma memória praticamente perfeita, Lyna pode já ser considerada uma promessa na diplomacia, mas Edmund sempre foi aquele que as pessoas olham com admiração, aquele que todos confiam que vai ser capaz de entender tudo que jogam nele, o mais responsável e sensato desde criança, o exemplo de um príncipe- Talvez Harry seja um melhor político, mas o loiro é discreto demais para chamar atenção- e agora numa situação onde não tem ideia de como prosseguir ou mesmo de por onde começar e isso está cobrando seu preço. Está ansioso, desconfortável e beirando o irritadiço e histérico, nenhum de seus métodos de costume funcionam porque essa é uma situação que nunca imaginou se encontrar.

Deixou-se cair na cama com tudo, sua cabeça num angulo desconfortável mas não o suficiente para se levantar, encarando o teto como se lá estivessem as respostas de seus problemas. O livro não é exatamente uma ajuda de cinco estrelas e ele já está se enxergando batendo na porta de Lyna em busca de conselhos depois de engolir todo seu orgulho e parte do amor próprio.

Não levantou a cabeça quando a porta de seu quarto se abriu e nem mesmo quando sua cama balançou e alguém praticamente pulou em cima dele, somente deixou escapar um som de desconforto e dor quando a pequena invasora usou sua barriga para se sentar, as pernas felizmente apoiadas na cama e não em seu corpo:

—Sienna você não acha que está muito pesada para usar seu querido irmão como uma cadeira? - O príncipe perguntou, mas não fez nenhum movimento para tirar a menina mesmo que ela seja um pouco pesada.

—Não- A menina respondeu prontamente com um sorriso brilhante- E não fale sobre o peso de uma garota, é rude Ed!

—Oh é mesmo? Quem te disse isso? - Usou uma mas mãos para cutucar o pescoço da menina onde ele sabe que ela sente cocegas- Porque eu acho que também é muito rude sentar em cima dos irmãos, se for assim eu vou sentar em você o que acha?

—Claro que é, todo mundo sabe que garotos não devem falar sobre o peso das garotas a menos que eles estejam dispostos a aguentar as consequências, essa última parte veio da mamãe- A princesa riu cutucando a barriga do irmão em vingança- Você não pode seu bobo! Você é muito pesado e a mamãe ia ficar brava se fosse me esmagasse.

—Esmagar? - Edmund riu cutucando a menina outra vez- Só para a senhorita saber eu não sou tão gordo assim viu? Feriu profundamente os sentimentos do seu irmão favorito!

A menina somente riu e encolheu os ombros com uma expressão de diversão mal contida. O príncipe se viu relaxando sem nem mesmo perceber, é difícil ficar se agarrando em pensamentos negativos e arrogantes quando se tem o raio de sol que é Sienna por perto, talvez por ela ser sua querida irmãzinha ou simplesmente pela personalidade da menina Edmund sempre achou mais fácil deixar qualquer coisa negativa de lado e simplesmente aproveitar a animação e inocência dela. Percebendo na falta de resposta verbal uma abertura para uma familiar discussão cutucou desta vez o braço da criança e forjou uma expressão exagerada de tristeza:

—Ou vai me dizer que eu não sou seu favorito? Logo eu, seu irmão tão dedicado que te traz livros de todas as minhas viagens, que te empurra no balanço até meus braços estarem prontos a cair, que te lia histórias todas as noites, não sou o seu favorito! Oh mundo cruel e injusto!

—Mas Ed- Sienna começou piscando inocentemente, mas claramente entrando na brincadeira- O Tony sempre rouba bolo da cozinha pra mim! E torta de limão também! Todo mundo sabe que eles são muito, muito mais gostosos desse jeito.

—Oh então eu fui passado para trás por causa de comida? – Edmund não pode evitar a risada que lhe escapou arruinando a falsa expressão de indignação- Mas é a cara do Tony, ele faz isso desde que nós éramos crianças, duvido que tenha uma cozinheira que não tenha dado uma bronca naquele cabeça dura e você está seguindo pelo mesmo mal caminho. Só eu me salvo nessa família.

Aparentemente satisfeita com alguma coisa Sienna saiu de cima dele e se arrumou na cama de modo a estar deitada ao seu lado, automaticamente o mais velho puxou-a para mais perto e aconchegou-se com um sorriso gentil. Os dois ficaram em silêncio confortável por mais alguns minutos antes da menina murmurar sem levantar a cabeça:

—Você está melhor agora?

—Melhor? - O príncipe piscou confuso e sorriu na direção dela- Não tem porque eu estar melhor já que estava bem antes Sienna.

—Não estava não- A princesa retrucou com um revirar de olhos fazendo bico- Não precisa mentir para mim Ed, eu sei que a Seleção é uma jogada política e que tem alguma coisa acontecendo no palácio que está deixando todo mundo preocupado. Eu também sei que você está nervoso por causa do seu encontro hoje, eu perguntei para o Dave porque você estava assim e ele disse que é normal para as pessoas ficarem nervosas e que você só estava mais porque nunca foi antes. Eu não gosto de te ver assim, você é meu irmão.

Dessa vez Edmund nem tentou esconder o sorriso abobado que tomou conta de seus lábios, claro as vezes é fácil que apesar de ter sete anos Sienna é bem mais esperta que a maioria dá credito, mas ele deveria ter esperado a preocupação com seu bem estar. Fechou os olhos por alguns instantes e respirou fundo, ainda existe uma boa parte sua que está sendo consumida por ansiedade e inquietação, mas as palavras de Sienna o lembraram do porque está fazendo isso. Ele está fazendo isso por ela, para que não veja a guerra como ele e Tony viram, por seu irmão para que ele não esteja sozinho, por seus pais para que não fiquem carreguem tudo sozinhos, por seu povo para que não sofram por erros alheios:

— Verdade, eu não estava muito bem antes- Ele pausou e completou com convicção- Mas agora eu estou melhor, obrigado irmãzinha.

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Aideen mordeu o lábio inferior e olhou para os quatro vestidos arrumados cuidadosamente em cima da cama como se esperasse que dessa vez alguma coisa estivesse diferente e a escolha se tornasse mais fácil, tem menos de uma hora até o horário marcado para seu encontro e não foi capaz nem mesmo de escolher uma das opções de vestuário deixadas pelas criadas antes que a jovem ruiva as dispensasse- Não sente-se confortável dando-lhes ordens ou mesmo deixando que façam tudo por ela, perdeu a conta de quantas vezes Jenny lhe lembrou que não precisa ajuda-las com nada. Os quatro vestidos são deslumbrantes, o tipo de coisa que Aideen só tinha visto em vitrines de lojas do centro e em revistas de alta costura bem acima de seu orçamento, e não tem nenhum parâmetro para decidir, o príncipe não lhe disse o que farão ou mesmo aonde irão, simplesmente a convidou e deu um horário, seu rosto quase tão corado quanto o da própria selecionada.

Quando ouviu batidas na porta de seu quarto franziu as sobrancelhas pensando serem suas criadas de novo, mas abriu um imenso sorriso ao se deparar com Bianca e Alasca a esperando do outro lado. Deixou que as duas entrassem e consciente da bagunça que fizera mais cedo tentando achar sapatos e joias adequados para a situação começou a tentar arrumá-los:

—Olá! Como vocês estão? Desculpem a bagunça é que meu encontro vai ser daqui a pouco e eu não sei o que devo vestir ou usar porque é meu primeiro encontro e eu não quero decepcionar o príncipe sabem? Mas tem tantas coisas para escolher! E se eu exagerar e ficar parecendo ridícula? Eu não...

—Aideen calma! - Bianca falou colocando uma mão em seu ombro, um pequeno sorriso nos lábios- Respira bem fundo e se acalme. Nós estamos muito bem obrigada por perguntar, seu quarto não está bagunçado então pode parar de tentar ajeitá-lo e nós estamos aqui para ajudá-la, certo Alasca?

—É claro! - A loira afirmou já segurando dois vestidos e os analisando criticamente- Não precisa de desesperar, nós seremos suas fadas madrinhas! Certo, a primeira coisa a se levar em consideração é onde vai ser seu encontro.

—Obrigada meninas- Sorriu novamente para as duas deixando os ombros relaxarem- Eu não sei, o príncipe só me deu um horário, a Jenny me disse que é provável que seja algo simples já que ele não é de extravagâncias.

—Bom aí complica um pouco as coisas- Alasca suspirou mas logo sorriu confiante- Mas não se preocupe, sua aparência é o de menos o que realmente importa é como você vai se comportar com ele, o resto é apenas o resto.

—Mas como eu devo me comportar? - A ruiva questionou remexendo as mãos- Eu não sei como encontros funcionam.

—Talvez ajude se você não pensar nisso como um encontro- Bianca sugeriu pensativa- Tente imaginar que é apenas uma conversa, você está conhecendo alguém novo e só, não fique pensando nos aspectos românticos ou no futuro, será como no avião o que acha? É só agir como fez quando nos conhecemos, tenho certeza que criará um clima mais agradável e diminuirá seu nervosismo, o que acha?

Aideen tomou alguns instantes para considerar a sugestão e logo acenou em concordância recebendo sorrisos encorajadores das duas em resposta. Verdade seja dita conhecer pessoas no geral é algo com o qual não está acostumada, sua avó é muito rígida em questão a amigos e no fim ou Aideen recebia ordens de se afastar ou as pessoas se afastavam por vontade própria intimidadas com sua avó, no fim se tornou mais fácil simplesmente não tentar do que se decepcionar no fim, mas tentar fazer amigos está muito mais em sua zona de conforto do que sair em encontros então a ideia de Bianca não é de toda ruim. Essa ainda é a primeira semana delas no palácio, Aideen espera ter ainda um tempo para se acostumar com a ideia de um relacionamento com o príncipe caso por algum milagre ele a escolha:

—Okay eu acho que posso fazer isso- A ruiva mordeu o lábio inferior e completou num tom mais hesitante- Vocês já foram em algum encontro?

—Só uma vez- Bianca admitiu com um sorriso constrangido- Eu nunca fui de sair muito então nunca tive muitas chances de conhecer outras pessoas, só com um colega de classe mas no fim decidimos que não daria certo.

—Bom eu já fui em alguns, mas nenhum lá muito sério- Alasca encolheu os ombros- Mais para me divertir do que para realmente namorar com alguém, sem falar que minha família é muito super protetora, tenho certeza que eles espantaram ao menos dois dos meus pretendentes. Mas foram legais, encontros tendem a ser divertidos Aideen e se eles não forem não é o fim do mundo, sempre terão outras chances certo? Se não com o príncipe então com outra pessoa.

—Você realmente acha isso? Que o príncipe pode gostar de mim?

Aideen odeia o quão insegura e patética deve parecer perguntando isso para as amigas mas não pode evitar, toda sua vida foi lhe dito que era tímida demais, boba demais, feia demais para ter amigos ou um namorado, mesmo sua própria família contribuiu para essa crença, e agora se vendo nessa situação totalmente surpreendente não pode evitar as dúvidas e medos. O príncipe a escolheu e ela não sabe porque, as outras selecionadas são tão bonitas e parecem ser tão simpáticas e interessantes, porque Edmund a escolheu quando ela não consegue nem se decidir entre quatro vestidos? A Seleção é a chance de Aideen criar seu próprio caminho, mas parece que vai ser uma jornada complicada:

—Claro que acho, nós duas achamos- Alasca afirmou e Bianca assentiu em concordância- Você tem um potencial maravilhoso Aideen, não deixe ninguém te fazer esquecer disso.

—Obrigada é disso que eu precisava- A ruiva sorriu, a confiança delas lhe aquecendo o coração- E quanto ao meu vestido qual vocês acham melhor?

—Você tem algum preferido? É isso que mais importa.

—Eu acho que aqueles dois parecem mais confortáveis- Aideen comentou apontando para um verde e outro azul- Mas não sei qual deles eu gosto mais.

—Bom eu sugiro o verde- Bianca sorriu com cumplicidade para ela- É minha cor favorita e meu amuleto de sorte, quem sabe não seja o seu também?

—Sem falar que sendo ruiva a cor vai super combinar com você- Alasca concordou- Estamos de acordo então? Porque agora vamos para a parte mais difícil! Joias.

Permitindo-se esquecer apenas por alguns instantes o compromisso e o nervosismo que vem com ele Aideen assentiu energicamente e deixou que a confiança e animação das amigas se tornasse a sua também, que seu sorriso transmitisse a gratidão que sente por não estar sozinha. Se quer mudar a ruiva sabe que tem que estar disposta a enfrentar situações inesperadas e que lhe causam desconforto, mas talvez não tenha que as enfrentar totalmente sozinha afinal de contas.

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Edmund bateu na porta do quarto de Aideen no exato minuto que havia lhe dito mais cedo, vestido quase casual e com uma expressão simpática que reza mentalmente não estar deixando escapar o nervosismo que sente de verdade- O suor frio em suas mãos já faz isso muito bem obrigado. Não precisou esperar muito antes que ela abrisse a porta e ao perceber que era abaixasse a cabeça numa mesura delicada, as mãos se remexendo nervosamente e o sorriso constrangido, de certa forma ver o nervosismo dela acalmou o coração do príncipe, se a situação é nova e desconfortável para ele para a selecionada deve ser mil vezes pior. Lembrando-se de uma das dicas de Lyna sorriu para a ruiva e elogiou:

—Boa tarde senhorita, está deslumbrante.

—Boa tarde alteza, o senhor também está muito bonito- Aideen sorriu timidamente, o rosto corando.

—Obrigado, sinto muito por não ter dito onde iriamos agora que percebi que foi falta de educação de minha parte. Eu pensei que como esta é a primeira vez que vem aqui eu poderia lhe dar um tour pelo palácio mas se achar que não é adequado para um encontro eu posso pensar em outra coisa- Admitiu resistindo a vontade de limpar o suor das mãos nas calças

Honestamente Edmund não disse o que eles fariam porque ele não tinha ideia do que seria, a primeira coisa que ele exclui foram encontros tradicionalmente românticos como um piquenique ou jantar- Céus sabem que seus nervos não permitiriam isso e ele prefere não passar por idiota na frente da sua selecionada- mas mesmo assim as opções são infinitas e ele não tinha muito tempo para planejar algo elaborado, marcou a data por impulso e mesmo que não se arrependa acha que deveria ter pensado um pouco melhor. No fim rendeu-se aos conselhos do livro de relacionamentos e um passei lhe parece algo perfeito para se conhecerem melhor:

—Não! Um passeio é perfeito alteza- Aideen lhe sorriu parecendo aliviada- Tenho certeza que não faltam lugares para serem explorados por aqui.

—Nisso está correta, alguns labirintos perdem para algumas áreas daqui- Edmund pausou por uns segundos e completou num tom baixo e conspiratório- Se precisar fugir das aulas chatas de Vivian eu posso te mostrar alguns lugares para se esconder.

—Obrigada pela oferta alteza, mas não acho que vou precisar- A selecionada balançou a cabeça parecendo quase escandalizada com a ideia- Se me permite dizer o senhor não me parece o tipo que fugiria de alguma aula.

—Eu não sou- Admitiu com um riso constrangido- Mas meu irmão é e eu aprendi algumas coisas com ele. Tenho presença perfeita em todas as aulas que já me foram dadas, até quando estava doente.

—Algo que temos em comum então, eu era o xodó dos meus professores.

—Mesmo? Vivian vai te adorar então, não se engane com aquela fachada de professora má ela é um amor depois de um tempo.

—Eu a achei uma ótima professora- Aideen se apressou em dizer- Suas lições foram bem esclarecedoras, tenho certeza que ela só vai fazer o melhor nós.

O príncipe não pode evitar de sorrir mais abertamente para a selecionada, guiando-a com facilidade em direção ao andar que provavelmente mais a interessará- Não tem nada de realmente interessante nos demais, somente quartos, salas de reuniões e o eventual salão-, a conversa deles o lembrou exatamente de porquê escolheu Aideen para seu primeiro encontro. Todas as selecionadas são lindas não a como negar e entre as de Edmund pelo menos todas muito simpáticas e interessantes ele ficou incrivelmente aliviado ao perceber isso durante o baile e não foi fácil escolher somente uma para o encontro, entretanto Aideen foi a que mais se destacou em sua opinião, talvez por ser tão diferente de todos que o príncipe já conheceu, incrivelmente gentil e nem uma vez fez a menor menção de falar qualquer coisa que não elogios sobre as pessoas nem mesmo sobre suas rivais, Edmund não pode evitar o desejo de fazê-la mais confortável em sua presença:

—Alteza posso fazer uma pergunta? - Ao receber um aceno positivo a garota continuou- Como é viver em um palácio? Não é estranho?

—Ah para falar a verdade o mais adequado seria que eu lhe fizesse essa pergunta senhorita- Ao ver o olhar confuso dela o príncipe explicou-se- Essa vida é tudo que eu conheço, não tenho anda com o que comparar para poder te dar uma resposta de verdade então eu te pergunto, como é viver em um palácio?

—É.... diferente- A selecionada afirmou por fim- Tem gente por toda parte e sempre parece que alguém está limpando ou carregando alguma coisa como se o trabalho nunca parasse, ter pessoas fazendo as coisas por mim também é estranho não posso me imaginar dando ordens a alguém assim, tudo parece tão caro que eu morro de medo de quebrar alguma coisa por acidente. Não é realmente algo ruim, talvez eu só não tenha me acostumado, mas é só... estranho eu acho.

—Mesmo? - Edmund refletiu por alguns instantes antes de assentir pensativo- Eu nunca pensei dessa forma, acho que também acharia seu modo de vida diferente então, não posso me imaginar vivendo de outro jeito.

Eles continuaram conversando enquanto o rapaz os guiava até o terceiro andar, imaginando se depois ele poderia leva-la ao jardim de inverno visto que a chuva do dia anterior fizera os jardins externos uma armadilha de lama em sua maior parte, e ele não pode evitar de ficar aliviado em ver que as coisas parecem estar indo bem. Edmund fez algumas perguntas sobre a rotina e família dela, mas ao ver a hesitação e desconforto em suas vagas respostas deixou o assunto morrer mesmo estando curioso sobre como é a vida fora dos muros do castelo, no lugar fez perguntas sobre as outras selecionadas e a estadia dela ali, revelando algumas anedotas sobre si mesmo quando Aideen reunia a coragem de lhe fazer perguntas de volta:

— Sinceramente imagino que este seja o andar onde a senhorita vai passar a maior parte do seu tempo- Explicou quando alcançaram seu destino- É aqui que estão as melhores formas de entretenimento especialmente quando se está chovendo, tem alguma coisa que a senhorita gosta de fazer?

—Eu gosto de ler, será que poderíamos conhecer a biblioteca?

—É claro! É um dos meus lugares preferidos, se algum dia quiser me procurar eu aconselho a olhar lá primeiro- O príncipe assentiu animadamente enquanto indicava as portas do cômodo que ficavam sempre abertas

—Obrigada alteza, eu também adoro bibliotecas- A ruiva admitiu com um pequeno sorriso- Dá para se conhecer todos os cantos do mundo com os livros, sinto como se já conhecesse algumas cidades mesmo nunca tendo viajado para fora do meu país antes da Seleção. É lindo!

Edmund apenas acenou em concordância enquanto Aideen se aventurava pela biblioteca, um dos cômodos mais bem descorados do palácio sem dúvidas, tentando lembrar porque ele gosta tanto de ler e chegou à conclusão que seus motivos não são assim tão diferentes dos da garota, ler é escapar de todos os seus deveres e de todas as pressões de ser um dos herdeiros a coroa britânica, de certa forma ler para ele também significa viajar:

—O senhor viaja bastante alteza? Como príncipe deve conhecer muitos lugares diferentes- Aideen comentou curiosamente, mas sem desviar a atenção da estante que analisava

—Sim e não de um certo modo- O príncipe comentou se sentando em uma das poltronas sem desviar a atenção da garota- Eu viajo sim, mas raramente do jeito que a senhorita está pensando, são normalmente viagens diplomáticas que se baseiam totalmente em reuniões, acho que as únicas vezes que eu viajei por diversão meu destino foi algum lugar do Reino Unido, na verdade eu raramente vou para qualquer lugar fora do palácio isso é mais coisa do meu irmão e primo.

—Oh, mas não é solitário então? Ficar preso em um lugar assim, mesmo um tão bonito quanto o palácio? Não sente falta de interagir com as pessoas, de conhecer o mundo?

— Talvez seja, mas eu não sei dizer- Edmund encolheu os ombros em quase desinteresse- Foi assim toda a minha vida e não conheço nada diferente, tenho minha família e alguns amigos com quem cresci então nunca me vi como solitário. Não acho que se possa sentir falta daquilo que não se conhece.

—Eu acredito no contrário alteza- O sorriso que Aideen lhe lançou foi triste- Aquilo que não conhecemos é exatamente aquilo do qual mais sentimos falta.

As palavras dela o confundiram e ele não pode imaginar do que aquela garota tão gentil possa estar falando- Talvez tenha ligação com o desconforto dela em falar da família supõe, eles são desconhecidos e ainda tem muito que aprender um sobre o outro-, também não pode realmente se deixar levar pelas palavras dela por mais que saiba que são verdadeiras e honestas. Edmund é um príncipe com todas os privilégios, mas principalmente com todas as suas restrições e regras, seu comportamento reflete em todo seu país e a lista de coisas com as quais não pode sonhar em fazer ou dizer é imensa, é muito mais fácil não pensar nas possibilidades impossíveis e inalcançáveis:

—Talvez- Ele admitiu olhando pela janela pensativo e riu baixinho espantando os pensamentos- Mas o que me diz de nossa biblioteca? Tenho certeza que posso lhe ajudar a encontrar algo que a agrade ou então podemos visitar o jardim de inverno.

—Jardim de inverno? - Aideen se virou para ele, honesta curiosidade em seus olhos claros

—Chove bastante aqui- O príncipe explicou desnecessariamente- Normalmente jardins de inverno são pequenos, mas bem uma das coisas a se ter em mente quando em um palácio é que nós não sabemos o que pequeno realmente significa, ele foi projetado quando eu e Tony éramos crianças com energia demais, eu tenho quase certeza que foi para evitar que as camareiras acabassem nos matando, nós espalhávamos lama em todos lugar.

—Eu gostaria muito de visita-lo alteza- Aideen sorriu com diversão- Obrigada pela oportunidade.

—Obrigado a você Aideen- Seu sorriso saiu mais constrangido do que gostaria e não pode evitar de confessar- Esse é meu primeiro encontro e eu não tenho ideia do que estou fazendo

—Oh isso é até que bom alteza, porque eu também não- A garota corou, mas seu sorriso foi honesto

O príncipe riu em bom humor e num gesto de cavalheirismo estendeu o braço para a garota mais nova que depois de piscar algumas vezes em confusão e corar até estar tão vermelha quanto seu cabelo aceitou seu convite silencioso e eles partiram. Talvez não seja assim que um encontro deva ser, talvez eles estejam fazendo tudo errado, mas nenhum deles iria querer nada diferente.