Tears in Heaven escrita por Namir


Capítulo 1
One Sweet Day




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Tudo começou em Junho de 2008. Eu estava com 16 anos e cursava o segundo ano do ensino médio. A escola que eu frequentava, em dois períodos distintos do ano, costumava fazer projetos de conscientização e socialização dos alunos. Um desses projetos consistia em ajudar certas pessoas que se cadastravam na escola.

Essa ajuda consistia em um aluno de cada classe ser selecionado para, uma vez por semana, ir em uma casa selecionada pela escola durante o período de dois meses. No final do segundo mês, o aluno deveria apresentar um trabalho, resumindo o que ele fazia na casa em que ele foi designado, como por exemplo, as maneiras que ele auxiliava os moradores, o que ele aprendeu durante esse período e etc.

Durante esse projeto, um aluno da minha classe, Pedro, foi selecionado. O diretor da escola já tinha conversado com ele e passado os dados necessários para que ele fosse capaz de concluir o projeto no período determinado. Como o projeto acontecia apenas uma vez por semana, ele ainda não tinha tido contato com a família que ele ia auxiliar, pois o dia escolhido para as visitas semanais foi quinta-feira e ele foi informado na segunda, para tomar as devidas providências e acertar os detalhes para que tudo ocorresse bem.

Na véspera do dia que ele ia se apresentar na casa da família escolhida, Pedro sofreu um acidente no caminho da escola, quebrando a perna.

O diretor da escola ficou sem saber o que fazer, pois faltava apenas um dia para que o projeto tivesse início e não tinha como Pedro participar, pois, havia quebrado a perna e estava impossibilitado de ir pra escola por um longo período de tempo.

Ele então foi na nossa classe e perguntou se alguém tinha interesse em ficar no lugar do Pedro nesse projeto, e, caso a pessoa que se interessasse fosse sorteada no próximo projeto no final do ano, Pedro assumiria a responsabilidade e realizaria o projeto no lugar dele.

Eu sempre fui um garoto preguiçoso, nunca tive muita disposição para atividades físicas ou me relacionar com pessoas em geral. Já que em Junho e Julho não teria nada de muito interessante pra eu fazer em casa, resolvi me voluntariar para ficar no lugar de Pedro, já que, caso eu fosse selecionado no final de ano, eu não teria que perder meus preciosos dias jogando World of Warcraft para ficar indo na casa de pessoas que eu não me importava nem um pouco.

Sendo assim, conversei com o diretor, ele me passou todos os detalhes que já tinha acertado com Pedro e me passou o endereço da família.

No dia seguinte, após a aula, eu fui pra casa, tomei um banho, almocei e vesti uma roupa sem me importar muito com “boa aparência”.

Eu tinha que estar na casa da família as duas horas da tarde. Fiquei jogando um pouco esperando o tempo passar. Quando eram 13:45, saí de casa e fui procurar o local onde a família morava. Chegando no endereço que foi passado, vi que a casa aparentava ser sempre bem grande e com bastante pessoas morando nela. Nesse momento pensei:

— Ótimo, vou ter que bancar o faxineiro e limpar essa casa toda quinta-feira! Maldita hora que fui me voluntariar para essa porcaria.

Toquei a campainha e aguardei. Quem me recebeu foi uma senhora, nos seus 40 - 45 anos, com um largo sorriso e se apresentando como Flávia.

Eu a cumprimentei e ela pediu para que eu entrasse. Pedi licença e entrei na sala. Ela pediu para que eu me sentasse e me serviu alguns biscoitos e um pouco de suco. Começamos a conversar e eu notei que ela era uma pessoa normal, não tinha nenhum problema que a impossibilitasse de fazer as tarefas diárias na casa ou que necessitasse de ajuda de alguém.

— Como a senhora deve saber, eu fui selecionado para ajudá-la em sua casa pelo período de dois meses, durante esse tempo, eu virei aqui toda quinta-feira para fazer as coisas que a senhora estiver com dificuldades. - Eu disse tentando mostrar um mínimo de interesse possível.

Sim, eu fui informada pelo diretor da sua escola. - Flávia falou - Mas eu não preciso de ajuda para realizar nenhum tipo de tarefa aqui em casa. Sou eu que sempre arrumo as coisas por aqui e, quando meu marido está, ele me ajuda também.

Achei estranho... Por que diabos ela iria se cadastrar em um projeto para que alguém fosse designado para auxiliar ela em casa?

Não estou entendendo... Normalmente as pessoas entram nesse projeto quando tem algum tipo de problema que impeça-os de fazer os serviços básicos de casa. - Falei em um tom desconfiado— Me desculpe a intromissão, mas por que a senhora se cadastrou, já que é bem capaz de fazer os serviços normais?

Ela olhou pra mim com um rosto meio abatido, mas sempre com um sorriso.

Eu sou bem capaz de fazer as coisas aqui em casa, todo serviço básico como limpar, lavar, fazer comida, eu posso fazer sem problema algum. Mas é que tenho uma filha que… Bem, ela é tetraplégica. Já que meu marido passa mais da metade do mês viajando, não me sobra tempo pra dar a atenção que minha filha merece.

Nessa hora eu gelei. Eu senti a cor sumindo do meu rosto. Me senti envergonhado por ter falado o que falei e imediatamente a pedi desculpas.

Está tudo bem, é a primeira vez que fiz o cadastro na escola e não sabia quais coisas eu tinha que informar, acho que acabei esquecendo do detalhe principal. - Flávia disse ao notar meu desconforto, ao mesmo tempo que sorria tentando me deixar menos envergonhado.

Então começamos a conversar sobre a filha dela, o que tinha acontecido com ela, como ela se tornou tetraplégica e no que eu poderia ajudar.

O nome dela é Melissa. Quando ela tinha sete anos, nós morávamos em outra casa, bem distante daqui. Nessa casa o pai dela tinha construído uma casa na árvore em um grande carvalho que tínhamos no nosso jardim. O pai dela sempre que estava em casa, passava o dia na casa de árvore brincando com ela. Era lindo ver o rosto da minha filha enquanto se divertia com o pai. — Flávia falou enquanto enxugava uma lágrima que caía por seu rosto  Até que um dia em que o pai dela teve que viajar. Eu estava fazendo nosso almoço e não reparei que ela tinha saído da cozinha. Quando me toquei que ela não estava onde deveria estar, comecei a procurá-la por toda a casa, sem conseguir encontrá-la. Quando já tinha procurado em todos os cômodos, percebi que tinha apenas um em que eu não havia procurado, e, nesse momento, minhas pernas ficaram bambas. Fui correndo para a casa da árvore e vi minha filha deitada de bruços na grama.

Nesse momento eu tava completamente imerso no que ela estava me contando, estava conseguindo sentir a dor que ela sentia ao falar sobre o assunto.

—Flávia, a senhora não precisa me contar essas coisas. – Disse tentando confortá-la – Eu entendo que foi uma experiência horrível para a senhora, para sua filha e para seu marido, não quero que relembre um passado ruim.

Ela sorriu novamente, enxugou as lágrimas que estavam escorrendo em seu rosto e disse:

Está tudo bem. Eu que me deixo levar demais por minhas emoções.

Eu sorri e ela continuou:

Eu corri para ver o que tinha acontecido com minha filha. Quando eu vi que ela mal se mexia, corri para a cozinha novamente e liguei para o corpo de bombeiros. Voltei para onde minha filha estava e comecei a conversar com ela, tentando descobrir o que tinha acontecido com ela. Melissa então olhou pra mim e perguntou:

Mamãe, por que não estou sentindo minhas pernas? Meus braços estão formigando e meu nariz tá coçando, coça ele pra mim?

Nesse momento eu percebi o que tinha acontecido com Melissa. Ela não havia visto o pai dela e não sabia que ele tinha viajado. Ela achou que, já que ele sempre passava a maior parte do tempo com ela na casa de árvore brincando com ela, ele estivesse lá em cima esperando ela subir. Quando ela tentou subir na escada, acabou escorregando e, sem forças suficientes pra se segurar, acabou caindo. Quando os bombeiros chegaram, a imobilizaram e levaram para o hospital. Eu fui junto com ela e no caminho liguei para meu marido e falei o que tinha acontecido. Ele cancelou todos os compromissos que tinha e pegou o primeiro voo para nossa cidade. Eu fiquei horas no hospital esperando alguma informação dos médicos. A porta da sala de cirurgia abriu e vi um dos médicos que estavam responsáveis por minha filha vir em minha direção. Eu corri até ele e perguntei como Melissa estava. Ele pediu para que eu me sentasse e me ofereceu um copo de água. O médico disse que tinha más notícias. Com a queda que ela sofreu, ela danificou a medula espinhal permanentemente. Eles tentaram de tudo durante a cirurgia para conseguir restaurar os danos que foram causados, mas já era tarde demais. Minha filha, a partir daquele dia, se tornou tetraplégica.

Eu não tinha palavras para confortar Flávia. Eu a abracei e disse que sentia muito pelo que tinha acontecido com Melissa. Ela sorriu novamente e disse que eu não precisava me preocupar, pois Melissa era uma garota feliz e cheia de vida.

Eu perguntei se Melissa estava em casa e que adoraria conhecê-la. Ela disse que ela estava em seu quarto assistindo TV, que era o que ela mais gostava de fazer. Flávia pegou em minha mão e me conduziu para um dos quartos da casa. Eu não sabia o que esperar, nunca tinha tido contato com uma pessoa que não podia se mexer e não saberia como reagir ou o que fazer. Flávia bateu à porta do quarto e perguntou se poderia entrar. De dentro eu ouvi uma voz doce.

 


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Notas finais do capítulo

Esse primeiro capítulo foi apenas uma introdução de como o protagonista conheceu a história de Melissa. Pretendo postar a continuação ainda hoje, já está tudo escrito, só tenho que repassar uns erros e postar. Espero que estejam gostando.



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