— 4-1-2 Tenente. – disse Meruem, fracamente como podia sua respiração oscilando a todo o momento, seus olhos já estavam a se fechar mesmo que tivessem algumas luzes, luzes que veriam seus últimos momentos, já sentia o veneno percorrer por todo o seu corpo, seus olhos já não eram mais confiáveis. – É um contra ataque. – ele tentou sorrir para Komugi, que estava com os olhos bem abertos, apesar de cega, ela sorria com isso, Meruem nunca entendeu que como Rei, ele podia se apaixonar, talvez ele tivesse se apaixonado por ela, só agora tivesse descobrindo como se sentia... Esse sentimento, não era ruim. – Como responderá?

Komugi do outro lado da pequena mesinha de madeira naquele quarto, pouco iluminado agora, comparando com antes, apenas continuou sorrindo pra ele, aquele sorriso de criança, a expressão sempre alegre com ele, a expressão sempre inocente que ele nunca enjoou de admirar. Ela pegou uma peça, com os olhos sério apesar do imenso sorriso doce que trajava em seu rosto desde sempre.

— 5-5-1 Espião. – disse ela tranquilamente, apesar de Meruem tê-la colocado em um beco sem saída, ela novamente encontrava uma solução.  – E com isso, é cheque, o perdedor tem a chance de começar de novo...

Meruem ficou em silêncio, apenas se deixando levar por seus pensamentos. E novamente, ela encontrou uma solução, mesmo que ele tivesse dado tudo o que tinha no jogo, ela novamente o venceu, ele riu fracamente, atraindo os olhares dela pra ele, nem mesmo na morte ele conseguiria vencê-la.

— O que foi? Sagrado Meruem? – ela o chamou visivelmente preocupado com o bem estar do Rei. – O senhor perdeu, mas eu deixarei começar o jogo com um prêmio de consolação.  – ela finalizou dando outro sorriso, vestindo outra alegria em suas feições, Meruem pensou que isso era algo que ele não merecia aquele sorriso, era algo belo demais pra alguém como ele, mas Komugi parecia não se importar com isso, dentre todos. Ela ainda estava ali.

— Eu não tenho muito tempo, Komugi. – ele começou com seus olhos quase se fechando. – O veneno é contagioso, irá se espalhar para quem estiver perto de mim. – Preciso me deitar, fica do meu lado até eu dormir?

A resposta que ele teve foi apenas ações da parte dela. Ela colocou seu corpo em seu frágil colo, seu pequeno corpo o abrigava, e todo o sentimento que ele descobriu que nutria por ela. – Ficarei com o senhor até dormir. – ela disse também fechando seus olhos, jogando apenas com palavras. – 9-6-1 Marechal. – ela dizia entre um sorriso na pouca iluminação que havia no pequeno quarto.

— 4-2-1 Peão. – sussurrou Meruem fracamente. – Komugi, ainda está ai? – não havia nada diante de seus olhos, apenas a escuridão, e a voz reconfortante dela quando ela lhe respondeu que sim. – Pode pegar minha mão?

Ela pegou sua mão com firmeza, mas antes alisou seu rosto com todo o carinho que uma mulher poderia ter. – Se o senhor desejar isso, eu o farei. – apertou sua mão com força, para indicar que estava ali.

— Komugi, você está ai? – ele perguntou de novo, não se lembrando que ele estava perto dela, queria ter visto isso mais cedo, queria ter ficado mais perto dela mais cedo. – Komugi, você foi embora?

— Daqui eu não saio senhor. – ela o respondeu tranqüilizando o coração acelerado dele. – Ficarei com o senhor.

Ele deu um sorriso em meio à escuridão, sabendo que ela estava ali agora. – Logo eu irei acordar, e continuaremos a jogar, e dessa vez você irá conhecer a derrota.

— É claro que irei senhor Meruem. – ela disse gentilmente. – Eu ficarei ao seu lado até você acordar, e então você vai jogar comigo. Nunca sairei do seu lado.

Meruem sentiu sua cabeça pesar ainda mais.

Ele se perdeu em quantos pensamentos vieram em sua cabeça.

Mas por uma estranha razão.

Ele se sentiu bem por ter aprendido a jogar esse jogo divertido...

Peças que ensinam sentimentos, hm?

Soava digno...

— Eu estou indo na frente, Komugi. – ele disse talvez suas últimas palavras lúcidas. – Antes de eu ir, chama pelo meu nome? – ele perguntou fracamente, sua voz não passando de um sussurro fraco.

— Durma bem, Meruem. – ela disse tranqüila, sua voz um mar de tranqüilidade sem ondas, sem movimento, apenas a calmaria, o silêncio dele veio logo seguida, ele havia ido à frente. – Eu estou logo atrás do senhor, como sempre estarei.

Peças que ensinam a jogar com sentimentos, peças de sentimentos, peças de emoção, nelas não há qualquer tentação que possa influenciar seus jogadores, em suas peças você se joga em seus próprios movimentos e escolhas, suas decisões podem acarretar em algo ruim, ou em algo belo, mesmo que tarde.