Pecadores ocultos (Reescrita) escrita por Lobo Alfa


Capítulo 3
Cap. 03 Gentileza gera gentileza




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Cheguei ao hospital já eram três da tarde.

—Boa tarde Ana. Cumprimentei a atendente.

—Boa tarde David. Hoje parece que está tudo calmo.

—Vamos ver então. Falei indo em direção aos leitos.

—David! Chamou-me Rute que já estava pronta para sair, mas com uma expressão de preocupada.

—Pois não Rute? Respondi prontamente.

—A Rosa piorou e está na UTI.

—Tudo bem eu vou lá examiná-la. Falei já caminhando.

Ela segurou meu pulso forte e disse:

—Não é isso. Você é médico faz um ano, ainda não lidou com a morte de um paciente e eu temo que esta possa ser sua primeira vez.

—Rute, não se preocupe, não sou um garoto. Respondi me soltando.

Ela me olhou desapontada e saiu sem dizer mais nada. Acho que não deveria ter falado aquilo, mas este assunto já estava me incomodando, entretanto agora nada podia ser feito, ela já deveria ter saído com o carro e eu tenho que cuidar dos meus pacientes. Mesmo desanimado com este acontecimento fui examinar primeiramente Rosa, a situação dela era grave e a qualquer momento poderia morrer, além de que ela estava inconsciente. Eu me lembro do que ela mesma tinha me dito dois dias atrás, porém não acreditei, sempre tenho esperança.

—David aquele remédio que você me passou é ótimo. Sorriu Alan, meu outro paciente.

—Fico feliz que tenha ajudado, mas talvez não precise mais. Falei deixando certo suspense no ar.

—Por quê? Ele perguntou curioso.

—Pelos seus exames diria que você pode ir para casa ainda nessa semana Alan. Expliquei compartilhando de sua alegria.

Ele sorriu para a esposa que estava ao seu lado e depois a beijou. Notei que ela segurava no colo uma bíblia.

—Obrigada Doutor. Falou a esposa.

Donabela estava no quarto mais distante, quando cheguei percebi que ela sorriu.

—Boa tarde Donabela.

—David, quanto tempo já se passou?

—Dez anos, mas você continua jovem como sempre. Respondi a examinando.

Ela sorriu e disse:

—Continua o mesmo.

—Tenho uma boa notícia: Agora mesmo você já poderia ir para casa.

Ela sorriu e me falou:

—Ângela saiu para resolver um problema, mas deve voltar logo.

—Helena não poderia vir lhe buscar? Perguntei sem segundas intenções, mas depois percebi que deixei a entender que tinha.

Ela sorriu maldosamente para mim, mas logo disfarçou dizendo:

—Ela chegará apenas de noite.

—Se quiser eu posso pedir para ligarem para alguém vir lhe buscar.

—Tão atencioso. Obrigada.

Fui até a recepção e falei com Ana que me fez este favor. Depois voltei para meu trabalho. Ela tinha razão, o hospital estava tranquilo hoje, com isso fiquei com algum tempo livre e fiquei pensando no que era tudo aquilo, encontrei com o Carlos, com a Ângela, com a Donabela, menos com Helena, parecia que o destino novamente não nos queria próximos, partir sem ao menos beijá-la, agora eles é quem vão partir e nem ao menos terei a chance de revê-la. Isso me indignava bastante. Caminhando para ir jantar me encontrei com Raul meu colega de trabalho, que ao perceber minha presença, parou e disse:

—David -Seus cabelos longos cobriam um pouco seus olhos verdes -Na recepção há uma moça que insiste em falar com você agora.

—Uma moça? Ninguém me vinha à mente.

—Se eu fosse você iria lá, parece importante.

—Obrigado Raul.

—Por nada. E ele voltou para seus afazeres.

Não tínhamos nenhuma relação além de colegas de trabalho ele chegara há um mês, mas era muito introvertido, era difícil ter algum contato com ele além do necessário.

Desviei o caminho para a recepção, meus pensamentos novamente me confundiam e parecia que eu iria me afogar neles. Já era de noite, Helena já deveria ter chegado, mas será que ela viria aqui apenas para me ver? Não creio que seja para tanto, mas e se fosse o caso? Quando cheguei minha mente imediatamente ficou em silencio e vi que era Ângela novamente, o sentimento de desapontamento era um grande incomodo para mim, porém não deixei transparecer.

—Você queria falar comigo?

—Sim, na verdade é minha mãe, ela quer que você vá jantar conosco esta noite. Explicou-me Ângela.

—Seria ótimo... Fui interrompido por ela.

—Te esperamos às nove.

—Mas –Ela me olhou desapontada- meu plantão vai até meia-noite.

—Entendo – Ela pensou um pouco e continuou- Amanhã então? Ela parecia insistir.

—Amanhã está ótimo para mim. Respondi feliz.

—Até amanhã então. Ela se despediu não muito animada.

A ansiedade pelo jantar me tomava de conta, talvez fosse pela possibilidade de finalmente rever Helena.

Naquela noite então conseguir manter a calma, de frente para a porta respirei fundo e toquei a campainha.

Ângela me atendeu com um sorriso dizendo:

—Você está ótimo.

Fiquei envergonhado, mas nada respondi. Ao entrar vi Carlos sentado no sofá assistindo Televisão e fumando.

—David que bom que você veio!

—Já está fumando de novo? Reclamou Ângela com o noivo.

—Carlos não pode deixar para fumar depois? Perguntei.

—Quem são vocês? Meus pais! Vou fumar lá fora então. Disse Carlos indignado com aquilo.

Donabela parecia ótima, tanto que era ela que estava preparando o nosso jantar. Ela saiu da cozinha e veio me cumprimentar:

—Fico feliz que tenha aceitado o convite, depois de ser tão atencioso comigo eu não poderia deixar de retribuir o favor.

—Só estava fazendo o meu trabalho. Respondi envergonhado.

—Não, você fez mais do que isso! –Ela respirou fundo e começou a tentar reconhecer o cheiro- sente-se enquanto eu termino de preparar o jantar. Disse-me a senhora voltando para a cozinha.

Olhei para sala e percebi que Ângela tinha saído sem que eu percebesse para onde, então fui até a o lado de fora onde Carlos estava fumando. Encostei-me a parede e ele disse:

—Nervoso?

—Com o quê? Perguntei sem entender.

—Ver Helena.

—Um pouco, mas estou mais preocupado se ela ainda tem algum sentimento por mim.

—Eu aposto que sim. Disse Carlos exalando a fumaça de seus pulmões.

—E onde está ela?

—Ela saiu, foi rever a Bruna.

—Quem é Bruna?

—Uma amiga dela de trabalho.

—E você Carlos, nervoso com o casamento?

—Não. Sei que estou fazendo a coisa certa.

—Como? Desde pequeno você tinha ideias que nunca davam certo.

—Teve outra além de pegar aquelas rosas?

—Teve! E muitas! Falei firme.

Depois de rir um pouco ele prosseguiu:

—Sei que você vai achar estranho, mas Ângela foi a única garota que eu tive na vida. E eu não me arrependo disso.

Ele tragou mais fumaça para si e depois a exalou.

—Você disse que só iria se casar depois dos vinte e cinco. Quantos anos têm agora?

—25. Não se esqueça de que temos a mesma idade.

—É verdade, mas antes você tinha medo de relacionamentos, agora está calmo se casando tão jovem.

—É o destino ele muda todos os nossos planos.

—Não sei se acredito nisso. Fiquei meio em dúvida sobre o assunto.

—Encontrar com Helena depois de dez anos não me parece ao acaso. Ele comentou tossindo.

Isso me assustou, porém respondi:

—Ainda não a reencontrei, apenas Donabela, Ângela e você.

—Você me entendeu. Explicou Carlos tossindo novamente.

—Teve muitos fatores que contribuíram para isso. Comentei relembrando alguns fatos.

—A promessa com certeza foi um destes fatores. Comentou meu amigo.

—Quase. Não confirmei seu comentário.

Um silêncio se instalou entre nós, ele ficou ali no canto, fumando seu cigarro que já estava para acabar e eu fiquei pensando no que ele me dissera. Seria destino ou seriam apenas vários fatores que proporcionaram tudo aquilo que se passava?

—Rapazes a comida está pronta.

Chamou-nos Donabela para o jantar, ao entrar vimos a mesa pronta e a comida cheirava muito bem.

A campainha tocou.

—Eu atendo. Disse Ângela caminhando até a porta.

Quando ela abriu vi uma jovem de cabelos longos, loiros e levemente cacheados, com um corpo avantajado, vestido azul na altura do joelho, fiquei impressionado como o tempo havia feito bem para ela, que ficou igualmente surpresa quando me viu.

—David!? Disse Helena com um sorriso carismático e acenando para mim.

A vontade de abraçá-la e até de beijá-la me veio à mente, porém me contive.

—Helena! Você continua linda. A elogiei percebendo que ela havia gostado.

Sentamo-nos à mesa e começamos o jantar.

—Então mãe, se senti melhor? Perguntou Ângela se servindo.

—Estou Ótima, acho que foi o médico que cuidou de mim. Respondeu Donabela que me olhou querendo saber minha reação.

Envergonhei-me um pouco, mas tentei disfarçar dizendo:

—Ela é forte.

—Essa frase é minha, se quiser conquistar a sogra deverá criar a sua. Protestou Carlos pelos seus direitos autorais.

Olhei para Helena assustado, mas no fundo queria saber se ainda haveria alguma chance. Mas ela agia naturalmente, fria demais, era quase impossível ver em seus olhos alguma emoção.

—David se envergonha fácil, eu me divirto com isso. Disse Donabela sorrindo e logo depois bebendo um pouco do suco.

—Ele sempre foi assim, desde que o conheci. Comentou Helena.

—E você Helena, parece diferente. Tentei saber um pouco mais sobre ela.

—Diferente como? Perguntou Helena não entendendo o que eu queria saber.

Reconhecendo que não tinha sido objetivo refiz o comentário:

— Lembro que você falava que queria viajar pelo Brasil e pelo mundo.

Ela riu sutilmente e respondeu:

—Mas viajei para o Rio a trabalho, não é exatamente a mesma coisa.

—E você trabalha com o que? Perguntei.

—Sou fotógrafa.

—Estou tentando conseguir um emprego para ela na empresa que eu trabalho. Disse Ângela.

—Você também é fotografa? Perguntei.

—Não –Ela sorriu- Sou modelo.

Olhei para o Carlos que estava bebendo o suco, mas se pôs a responder:

—Eu sei! Eu sei! Me dei bem não foi?

Todos riram.

—Por que vocês não aproveitam que estão todos juntos novamente e vão sair? Propôs Donabela.

—Não sei mãe. Deixá-la sozinha aqui? Disse Ângela desgostando da ideia.

—Bobagem, não quero atrapalhar vocês. Insistiu Donabela olhando para mim rapidamente.

—Podemos ir para o cinema. Indicou Carlos.

—É uma boa ideia. Concordou Helena.

Ângela era a única que não havia gostado.

—Aonde fica? Perguntei.

—Fica aqui perto. Respondeu Helena gesticulando.

—Vocês podem ir andando. Sugeriu Donabela novamente me olhando.

—Andando? Reclamou Ângela.

—É bom que você caminha um pouco amor. Disse Carlos.

—Está me chamando de gorda? Perguntou Ângela furiosa.

—Nós terminamos com a louça e podemos ir. Comentei.

—Não precisa. Deixem que eu faço. Sou velha, mas nem tanto. Disse Donabela.

—Por isso que eu amo minha sogra. Disse Carlos se levantando.

Já que Donabela iria fazer tudo, nós fomos caminhando até o cinema, Helena ficou do lado da irmã e eu fiquei do lado do meu amigo, fomos conversando, mas tudo me dava a impressão de uma mera casualidade. Lá dentro consegui sentar ao seu lado, não consegui me concentrar no filme, pois em minha mente vinham pensamentos típicos daquela situação, pensei em tentar sorrateiramente segurar sua mão, mas não fiz, já era um homem, não me convinha mais agir como um adolescente. Depois que desistir da ideia até que pude compreender um pouco sobre o filme que foi divertido, mas que assim como o jantar, foi muito superficial, até parecia que ela tinha reencontrado um velho amigo. Apenas um velho amigo! Na volta a ordem tinha se alterado um pouco e foram os homens na frente conversando e as mulheres um pouco atrás de nós.

—Você é o namorado que todo pai desejaria para a filha. Comentou Carlos.

—Como assim? Perguntei sem entender.

—Você chegou ao menos a tentar tocar a mão dela?

—Não sou mais um adolescente. Justifiquei-me.

—Então vou lhe apresentar para uma das amigas da Donabela.

Nós rimos um pouco e eu continuei com a conversa:

—Ela parece que não tem mais o sentimento de antes. Parece que ela está agindo como uma amiga.

—Ela pode estar receosa sobre seus sentimentos também. É nessa hora que você entra e age feito um homem.

—Não sou tão descarado assim.

—Pois deveria. Falou Carlos com uma franqueza que às vezes me assustava.

—E se tudo não passar de uma simples história de adolescentes? Se ela já não quiser mais retomar de onde paramos? Se lembre de que no último dia tínhamos brigado e feio. Falei me desapontando com o que fiz.

—Se ela ainda está ressentida com isso, só tem um jeito de descobrir. Se ela quiser algo, ótimo! Se não. Ótimo do mesmo modo, porque assim você já fica pronto para outra.

—Você não pode me falar isso. Ângela foi sua única mulher na vida.

—Mas esse é meu conselho. Resolva logo tudo.

Ouvimos então algumas gargalhadas vindo da parte delas, olhamos para trás e Carlos disse:

—Do que as garotas estão rindo?

Logo em seguida recuou e ficou entre elas.

—Nada. Assunto de mulher. Respondeu Ângela voltando a ficar do lado da irmã.

Fiquei do lado de Helena. Carlos conseguiu se afastar um pouco de nós e eu perguntei:

—Então Helena, o que aconteceu na rua depois que eu saí? Perguntei, percebendo depois que tinha ido direto de mais.

—Carlos pediu Ângela em namoro, ela lógico que ficou muito animada, os meninos discutiram e nunca mais voltaram a se falar. A rua ficou bem diferente de como era. Respondeu Helena desviando de onde eu queria chegar.

Fiquei surpreso por Ângela ter aceitado o pedido de namoro tão rápido, lembranças obscuras vieram a minha mente, mas não poderia me concentrar naquilo, havia muito coisa em jogo.

—Que pena, gostaria de voltar a jogar bola com eles novamente. Falei a observando.

Helena caminhava olhando para todos os lados, menos em meus olhos.

—Faz tempo que você é médico? Ela me perguntou.

—Me formei há um ano. Respondi.

—Por que escolheu medicina David?

Meu coração disparou e minha mente ficou confusa. Será que ela se lembrava de tudo ou perguntou apenas para ter algo para conversar? Qual era sua verdadeira intenção? E o que eu poderia responder?

—Eu gosto de cuidar das pessoas. Respondi de uma forma muito simples.

Ela parecia decepcionada, mas comentou:

—Você esqueceu não é mesmo?

Ao me perguntar isto, não resisti.

—Da promessa? Fui direto ao ponto novamente.

Ela estranhou a repentina franqueza, entretanto sorriu e isso me deu paz.

—Já faz tanto tempo. Novamente Helena comentou sutilmente.

—Mas eu nunca esqueci. Falei olhando para ela, que finalmente já me olhava algumas vezes.

—Seria bom se nos víssemos de novo. Ela comentou levantando o olhar.

A casa de Donabela já podia ser vista, estávamos chegando cada vez mais perto. Que covardia! Mas nem a eternidade seria suficiente para nós dois.

—Eu te ligo qualquer dia. Falei percebendo que estava me oferecendo demais.

Quando chegamos ainda conversamos um pouco mais, depois fui para casa, com uma sensação estranha, não sabia se foi bom ou ruim, mas sabia que nossa história ainda iria continuar.


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