Pecadores ocultos (Reescrita) escrita por Lobo Alfa


Capítulo 13
Cap. 13 O sonho acabou




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676386/chapter/13

 

Estávamos muito felizes com o que estava acontecendo, eu começava a acreditar em destino, depois de tudo que passamos ainda estávamos juntos, prestes a nos casarmos e ter um filho, a ideia de viver uma vida traçada ainda me incomodava um pouco, mas como estava tudo bem, até gostei. Até que o destino parou de sorrir para nós e foi então que a vida foi nos roubando a felicidade, ou melhor, a minha felicidade.

Helena tinha entrado no oitavo mês de gestação e faltavam poucos meses até nos casarmos, infelizmente nem todos estavam felizes. Carlos tinha recebido os exames e pediu que eu analisasse, entretanto novamente me pediu que Ângela não soubesse de nada. Seus sintomas haviam piorado, perdeu peso e tinha febre sem uma razão aparente, talvez ele já soubesse o que iria lhe acontecer e estivesse apenas tentando amenizar o sofrimento da sua esposa.

Estávamos no meu consultório e o paciente era meu amigo de infância, o que me preocupava ainda mais, olhei seus exames e logo em seguida os atirei na mesa, Carlos sentado já esperava pelo pior.

—Você está com câncer de pulmão –ele apenas levou à mão direita a testa, cobriu um pouco dos olhos que olhavam para baixo, respirou fundo e logo depois desceu a mão até a boca- e está em estágio avançado. Sinceramente, não sei como estamos tendo esta conversa. Terminei de contar.

Ele nada disse, olhava para os lados desesperado, era visível que uma agonia o tomava de conta naquele instante, até que finalmente ele falou:

—Quanto tempo de vida?

—Você já passou das minhas expectativas, talvez possamos te salvar, iniciando tratamento imediatamente e você deixando de fumar definitivamente.

—Eu deixei de fumar! Disse Carlos.

—Seus pulmões provam que não. Argumentei.

—Está bem. Diminuí a frequência, uma vez por semana.

—Você tem que parar agora!

—Não consigo. Consentiu meu amigo.

—Então vai morrer. Concluí para ele.

Minhas palavras o atingiram brutalmente.

—Não conte para Ângela, por favor. Pediu meu amigo.

—Então a faça muito feliz meu amigo. Respondi.

Carlos sempre foi esperançoso, animado, alegre, sempre procurava por algum bom motivo, era o tipo de pessoa que sempre procurava ver pelo lado bom e naquele momento, ele simplesmente parecia ter aceitado a morte que lhe era certa.

—Coragem Carlos! –Gritei com ele- Vamos iniciar o tratamento e você ficará bem.

—Irá me curar? Ele perguntou já sabendo da resposta, porém, percebi que ele usou esta pergunta para justificar seu desânimo.

—Pelo que eu vi, não! –Respondi francamente- mas irá te prolongar algum tempo. Argumentei.

—Cada segundo será importante. Disse Carlos bastante abalado e sem ânimo algum.

Eu iria me casar poucos meses depois, em breve seria pai. Será que ele estaria comigo para compartilhar das minhas alegrias? Eu sentia que ele deveria saber, afinal, ele me ajudou sempre que podia com Helena, desde criança roubando aquela rosa, ele me ajudava a enfrentar cada dificuldade e agora eu não posso retribuir o favor, não havia nada que eu pudesse fazer para salvá-lo, nem era capaz de dizer quanto tempo ele tinha. E Ângela sofrerá terrivelmente, se Carlos nunca contar e esperar morrer de repente? Coitada. Quem cuidaria dela? Ângela ama Carlos intensamente, tanto que se casou, foram o único namorado do outro, se casaram jovens, porém nunca se arrependeram.

E novamente o destino aparecia; Preparando o final de Carlos, teria o destino cuidado para que ele encontrasse o amor de sua vida ainda novo e nunca o perdesse? Ou seria apenas uma expectativa minha, crendo que há algo maior cuidando de cada um de nós? Talvez eu quisesse me reconfortar imaginando que meu amigo teve uma vida feliz. Foi bem sucedido profissionalmente, casou-se muito novo, mas com a pessoa certa, só que infelizmente por algum plano do destino, precisava ir embora.

A pior parte é que nós já sabíamos que ele iria morrer, mas todos em nossa volta não. E até hoje padre, não sei se teria sido melhor eu ter descoberto já próximo do final. E de que importava? Eu vou perder meu amigo e nem sei quando será.

Aquilo me afetou bastante, quando meu plantão terminou resolvi de ir a um bar. Embriagar-me até altas horas não fazia meu estilo, mas eu precisava de algo para me aliviar, copo após copo, fui bebendo e pensando sobre tudo isso que estava acontecendo. Bebi até começar a ver tudo se movendo e mesmo sendo arriscado não apenas para mim, voltei dirigindo para casa, onde eu apenas queria me jogar na cama e esquecer todos os meus problemas.

—São três da madrugada! Gritou Helena ao me ver abrindo a porta silenciosamente.

—Eu sei. Respondi jogando a chave do carro na mesa e não querendo brigar, só queria deitar e dormir.

—Onde estava?

—Bebendo. Respondi tirando a blusa.

—Virou alcoólatra desde quando? Estranhou Helena minha embriaguez.

—Não exagere. Hoje foi um dia difícil e eu precisava aliviar minha cabeça.

—Custava ter telefonado?

—Tive tantos problemas que me esqueci completamente. Justifiquei-me.

E era verdade, esqueci-me de avisar minha noiva que passaria a madrugada bebendo em um bar qualquer que tinha sido o primeiro que eu tinha visto.

—Que problemas são estes que te fazem beber até tão tarde?

—Não me incomode! Respondi cansado daquele interrogatório.

E também, eu não poderia falar da situação de Carlos pra ela.

—Está com segredos agora? Nem nos casamos. Resmungou Helena como uma criança mimada.

—Eu só quero dormir está bem? Pedi muito cansado, embriagado e sem nenhuma condição de ter alguma conversa racional.

—Estava com outra? Indagou Helena.

—O que? Falei surpreso de como ela poderia me perguntar algo assim.

—Isso mesmo que ouviu. Estava com outra em um motel qualquer?

—Helena pare com isso! Jamais faria algo assim, vamos nos casar! Não faz sentido.

—Não pensou nisso quando estava com a Mirela. Argumentou Helena me irritando.

—Já lhe expliquei várias vezes: Eu não tive um caso com ela! Só teve aquela vez e nada mais. E não venha se fazer de santa. Como poderei ter certeza que não mantém contato com a Bruna?

Ela me deu uma tapa na cara e disse:

—Acreditando em mim.

—Então pelo amor de Deus, acredite em mim! –Gritei- Eu só estava bebendo, sozinho porque tive um dia cansativo e eu só queria chegar em casa e me deitar, mas você está me atrapalhando!

—Estou te atrapalhando? Fiquei aqui te esperando a noite inteira! Argumentou Helena.

—Não precisava, sei me cuidar muito bem, pode ir.

Até hoje me arrependo de ter dito isto.

—Então eu também sou uma mulher livre –Falou Helena pegando a chave do carro- Vou sair. Explicou ela sendo totalmente vaga.

—Aonde vai? Perguntei surpreso com sua decisão.

—Aliviar a cabeça. Disse Helena me irritando.

Minha cabeça então começou a doer e simplesmente falei:

—Então vá! Apenas deixe-me dormir.

Ela ficou furiosa com o que falei e subiu para o quarto, subi logo depois e me joguei na cama, pelo barulho percebi que ela tinha trocado de roupa e fora embora. Achei bom ela ter ido, eu poderia dormir e ela não se irritaria, pois isto poderia prejudicar o bebê, então não me preocupando com nada, simplesmente dormi.

Poucas horas depois, não me lembro bem se eram sete ou oito horas da manhã, acordei completamente sem sono, percebi que Helena não estava em casa, fiquei pensando que ela ficaria magoada comigo por muito tempo, ela era sensível e depois daquela briga, iria ficar relembrando até nosso filho entrar na faculdade, então lembrei da nossa conversa um tempo atrás, Helena falou que cachorros ajudavam no desenvolvimento das crianças e nós queríamos um, aquele seria o melhor momento, procurei por um telefone que meu colega de trabalho havia me passado quando soube que eu queria um cachorro, liguei, conversamos um pouco e ele tinha feito um bom preço por um macho de Husky siberiano de uns quatro meses aproximadamente, ele me parecia muito animado, Helena iria adorar e ficaria bastante ocupada, não tendo assim chance de reclamar comigo, se bem que, ela iria reclamar que ainda era muito cedo para comprar o cachorro, não me importei com isso, antes ela reclamasse do cachorro do que de mim, ela adorava animais e mesmo que fosse cedo, ela iria ficar com ele, o dono do animal havia notado que eu não estava bem aparentemente. Levei o cão para casa e o soltei na sala, meu celular tocou, minha cabeça latejava muito, era uma ressaca desgraçada, resolvi não atender o celular, mas ele não parou de tocar, na terceira vez seguida fiquei preocupado e atendi.

—Alô?

—David? Perguntou uma voz familiar, mas que eu era impossível de reconhecer devido ao estado de confusão em que me encontrava.

—Sim. Quem fala?

—Donabela. Venha para o hospital o mais rápido possível –Ela começou a chorar- Helena sofreu um acidente de carro e está no hospital.

—O quê? Falei surpreso.

—Precisamos de você aqui. Comentou.

—Estou indo. Falei desligando o celular.

Nem me preocupei com que roupa eu estava me vestindo, apenas fui para o hospital.

—O que aconteceu? Perguntei para Donabela que se encontrava sentada e chorando.

—Ela me ligou, pedindo para dormir na minha casa, perguntei por que e enquanto nós conversávamos eu ouvi o barulho de uma colisão. Talvez estivesse falando ao telefone enquanto dirigia. Tentou explicar minha sogra que se encontrava abalada.

—Mãe, como está Helena? Perguntou Ângela chegando logo em seguida junto com Carlos.

—Eu não sei, até agora não me deram nenhuma notícia.

—Temos que manter a calma. Aconselhou Carlos.

Fui até o balcão e falei com Ana.

—Ana, como está minha esposa?

—Doutor David, até agora nada foi me passado.

—Em que quarto ela está agora? Insisti.

—Não posso permitir que faça isso. Você é médico, sabe do que estou falando. Explicou Ana.

—David? Falou Rute que chegou até o balcão.

—Como ela está Rute?

—O caso dela é muito grave, na colisão ela bateu com a cabeça por estar sem cinto de segurança, mas já fizemos os exames.

—E o bebê? Perguntou Donabela.

—Por muita sorte, ele ainda está vivo.

—Eu quero vê-la. Falei logo após ela ter terminado de falar.

—Você não pode. Falou Rute.

—Eu quero vê-la! Falei tentando ultrapassa-la.

—Você não pode! -Insistiu Rute, erguendo o braço no meu peito- Olhe pra você, está péssimo e fedendo a álcool, acha mesmo que é capaz de fazer algo por ela assim?

—Eu tenho que fazer algo por ela. Falei passando as duas mãos na cabeça.

—Então confie em mim. Disse Rute olhando nos meus olhos e através deles eu senti sua firmeza.

—Eu confio em você! –Falei começando a chorar- por favor, salve a minha noiva, salve o meu filho, eu te imploro.

Rute nada respondeu e foi embora, me sentei e Donabela sentou-se ao meu lado, assim como eu, não sabia o que fazer além de se preocupar. Ângela começou a chorar e Carlos a acolheu em seus braços, tentando consolá-la. Ele falava em seu ouvido:

—Vai ficar tudo bem querida. Helena é teimosa, não se lembra?

Ângela continuava a chorar. Mas Carlos tinha razão, Helena era muito teimosa, sempre perdi a razão apenas para terminarmos de discutir. Ter que esperar, sem fazer nada, me fazia pensar muito, relembrar de tudo, até que formulei uma acusação contra mim mesmo: Se eu não tivesse dito aquilo, se eu não tivesse me irritado, se eu não tivesse chegado tão tarde, se eu tivesse ligado ou apenas não ter ido ao bar, nada disso estaria acontecendo. Foi sofrendo por perder meu amigo, que eu estava sofrendo com medo de perder minha família.

Como isso pôde acontecer? Estava tudo tão bem. Para isso acontecer o destino deveria não existir, ou pelo menos não se importar conosco.

—Não se culpe David. Ninguém sabe os caminhos de Deus. Tentei consolá-lo.

Perguntou-me David algo que eu não fui capaz de responder:

—Será que não havia outro caminho padre?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pecadores ocultos (Reescrita)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.