‘’-Isso foi melhor do que eu esperava-Lúcifer sorriu-lhe,os dentes por um breve minuto transformados todos em caninos-Bom garoto...

    O Rei Infernal estava sentado em seu trono negro feito de ossos humanos.Os cabelos de um negro retinto se mantinham perfeitamente escovados para trás com os chifres caprinos sobressaindo bastante bem.Os olhos estavam mais azulados do que nunca,revelando sua satisfação com o trabalho bem-feito.Olhava para os sete anéis de suas mãos com um prazer quase animalesco,quais representavam os sete pecados capitais que ele mesmo havia cometido.

  Vários outros demônios estavam presentes.Aecanis estava em frente ao trono,com a sua melhor expressão de indiferença,mesmo que tremesse de pavor com todos os olhares que lhe eram lançados.Todos os Príncipes e Duques Infernais estavam ali,o olhando com uma raiva indisfarçada ou curiosidade quase mortal.Raiva invejosa por ele,um jovem filhotinho,ter caído nas graças de Lúcifer.Curiosidade porque...bem,ninguém fazia a mínima ideia de quem ele era.

  Sem falar que eram todos demônios,ninguém precisava disfarçar nada que sentia.A hipocrisia e falsidade só caí bem em humanos mesmo.

  E havia o Príncipe Real Infernal.Filho unigênito de Lúcifer e Lilithy.Qual o olhava com um ódio verdadeiramente demoníaco.Chamava-se Mammon e era uma figura um tanto macabra.Sua tez era morena e ele detinha traços masculinos,muito diferentes da androginia natural do seu pai.Os olhos eram de um azul esverdeado reluzente e seu cabelo era negro e cacheado.Das suas têmporas,chifres brancos como osso se envergavam para trás e asas de penas negras rajadas de cinza encolhiam-se em suas costas.Tinha a aparência de um garoto de 11 anos,mas todos sabiam que tinha a mesma idade de Yeshua,o nazareno.Quando notou que Aecanis o olhava,abriu um sorriso maldoso e exibiu seu indicador para ele,onde um anel de engaste dourado descansava,a gema era vermelha e parecia pulsar.

  ‘’O anel da ira’’Reconheceu o Tenebris,engolindo em seco.

—Bem-Lúcifer bocejou-Cumpriu belamente sua parte do tratado, o Amado De Meu Pai cairá docilmente ainda nesta lua.

   Um uivo de êxtase foi emitido pelos daemons e silenciado por um leve movimento de mãos do Rei.

—Agora eis que cumpro minha parte-O demônio levantou-se do trono e caminhou graciosamente em sua direção-Que queres mesmo,filhotinho?

—Quero ser um Príncipe-Decretou,com mais confiança do que sentia.

—Príncipe será-O demônio sorriu-lhe e o puxou pelo braço,logo após virou-se para todos os presentes-Hoje,perante a toda minha agradabilíssima corte-Começou,o sarcasmo transbordando nas últimas palavras-Tomo Aecanis Tenebris como meu protegido.Mesmo que ele não seja um anjo caído ou demônio da primeira geração,será um Príncipe.O Príncipe da Escuridão-Com um gesto suave de uma mão e um murmurar de palavras,um anel apareceu em sua palma.De engaste de ouro e gema verde tal qual uma esmeralda-E,para consumar este glorioso evento,dou-lhe seu primeiro anel-Pegou a mão esquerda do rapaz e enfiou-lhe o anel no indicador-O anel da ganância para um daemon ambicioso.Que este pecado seja o primeiro de muitos.

 Virou-se para sua demoníaca corte e sorriu.Um sorriso malvado e pontiagudo.As asas negras ruflaram suavemente atrás de si.

—Que agora festejem!-Gritou o homem,estendendo os braços e tomando a Rainha Infernal para si,junto ao corpo e a concedendo um voluptuoso beijo ao som de gritos e gargalhadas maléficas.

  Aecanis inspirou,olhando para o reluzente anel em seu dedo.Com susto,sentiu uma mão em seu ombro.

Virou-se,assustado.E viu Shophyen sorrir-lhe.Os olhou amarelados e travessos sorriram também.

—Vamos comemorar,varãozinho.Comemorar por hoje,o dia que não morreu!-A garoto puxou-o,gragalhando, e Aecanis não pôde deixar de reparar que os cabelos ruivos dela combinavam perfeitamente com a gema rósea-sangue do seu anel.O anel da luxúria.’’

                                                       ******************

—Temo que vamos ter de descansar-Caminus avisou,olhando ao redor sem de fato contemplar. Seus olhos eram como um caleidoscópio que nunca conseguia achar o foco correto da imagem.Sempre parecendo muito,muito longe do que de fato acontecia.

  Era noite.Haviam se embrenhado pelo Plano Nulo.A parte...selvagem,por assim dizer.Árvores frondosas se erguiam,esbranquiçadas como choupos-brancos,mas podia-se notar que essa coloração estava cada vez mais fraca a medida que seguiam caminho.Estavam se aproximando do Jardim de Lilithy.Ou melhor,O Jardim Doce-Amargo.

  Aecanis inspirou cuidadosamente o ar gélido do local,crispou os lábios e espirrou.

—Sentes algo?-A mulher sentou-se no chão,começando a reunir gravetos na sua frente-Dizem que tens um bom faro,apesar de ser cego.E surdo.

  O Luz Da Meia-Noite só entendeu metade do que a mulher falou,o que já era um grande avanço.

—Anjos,sinto-os-Respondeu-lhe,sentando-se também e espanando o pó das suas asas negras-Mas nenhum tolo o suficiente para tentar arranjar confusão no Plano Nulo.Principalmente de noite..Principalmente comigo.

  A ignis não pareceu surpresa.Juntou mais dois gravetos ao seu monte e estalou os dedos.

  Chamas engoliram a madeira seca e quebradiça,formando uma pequena fogueira.Caminus pareceu ainda mais solene e louca com o fogo reluzindo dentro e fora de sua pele.Mesmo que esse fogo parecesse mais brilhante e vermelho que o normal para o daemon.

—Você tem quantos?-Indagou-lhe repentinamente a ignis.

  Aec arqueou uma sobrancelha,confuso.

—Quantos o quê?-Murmurou,estirando as pernas.

—Anéis-Respondeu a mulher-Pecados.

—Mais do que a maioria-Lembrava-se vagamente de como conseguiu seu primeiro.Verde como a ganância de tê-lo.

—Quantos?-Repetiu a ruiva.

—Todos-Deu de ombros.Olhando para os dedos nus,raramente de fato os usava.Já não era mais tão jovem para os colocar e exibir,cheio de orgulho.

—Todos os oito?-Perguntou ela,franzindo as sobrancelhas para ele,ou talvez para o fogo.

  Aec se retesou repentinamente.

—Só existem 7 pecados capitais-Retrucou,subitamente pálido e rouco.

—Para os mortais.Para os anjos.-A mulher quase sibilou,com uma voz que dizia que ela sabia das coisas-Não para os demônios.Para os demônios são oito.Você foi o primeiro a conseguir o oitavo em décadas,em eras,em éons.

—Sim-Resmungou,com a mandíbula travada,extremamente relutante-Eu tenho o oitavo.

—Claro que tem-Os olhos da mulher ficaram tristonhos-Como podia não ter?Sempre se ouve.Se ouve muito,na grande história do Príncipe que não é anjo caído.Todos dizem...Todos dizem muito sobre isso.Que houve uma mulher.

  Os olhos negros do homem flamejaram,ficando indubitavelmente vermelhos.Completamente.Até a esclera assumiu a coloração escarlate.Um fina lasca preta e horizontal substituiu a pupila.

—E que sabem?-O demônio rosnou,animalesco-O que raios sabem sobre ela?Ninguém tem o direito de falar qualquer coisa sobre ela.Eles não entedem.Eles não a viram e não a sentiram sorrir.Não têm como saber.Não sabem de nada.

  A ruiva levantou-se de supetão e Aecanis notou que estava praticamente pulando em sua garganta e recobrou os sentidos.

 Seus olhos escureceram tal como de uma fogueira extinta.

—Desculpe-Murmurou,em meio a um suspiro cansado.Estava velho demais para isso.Para tudo isso-Eu não quis...Eu vou só dar uma volta,ok?-Deu as costas para videns e começou a andar em direção ao breu feito pelas sombras,sem ouvir o que a ignis diria ou ver sua expressão.

  Existem sete pecados capitais.Estes são: Gula,luxúria,ira,ganância,preguiça,inveja e soberba.

    São sete para os mortais.Sete para os anjos.Sete para...Bem,para todos.

   Mas não para os demônios.

  Para os demônios são oito.Oito pecados.

    O oitavo pecado,qual é  repudiado até pelos mais terríveis demônios, é o amor.

Aecanis sabia disso muito bem,afinal,ele tem esse anel.