— Vamos, Lolitta! Não deixe ele te pegar! — Gritou Amara, sem olhar para trás.

Estávamos correndo entre as árvores de uma floresta enorme e densa. Tinha alguém atrás da gente mas eu não conseguia ver quem era e também não sabia, mas tinha consciência de que o conhecia.

Eu estava sem ar quando Amara me fez entrar em uma cabana que parecia abandonada. Meu coração parecia querer sair pela boca e minhas pernas pareciam não querer mais me obedece. Desabei no chão ao lado da porta e respirei fundo. Meu peito doeu quando soltei o ar.

Amara, que estava do outro lado da sala vazia, perguntou:

— Você está bem?

Assenti com a cabeça. Ela suspirou e colocou as mãos no rosto. Parecia mais cansada e desesperada do que eu. E então, ela começou a chorar.

— Amara, o que está acontecendo? — Engatinhei até ela e coloquei a mão em seu ombro.

— É-é minha culpa. Eu...eu não devia ter te envolvido nessa história. Ele vai me matar... — Disse ela, soluçando.

— Quem, Amara? Quem vai te matar? — Levei um susto quando ouvi uma batida forte na porta. Eu e Amara paramos de respirar na mesma hora, paralisadas de medo. Olhei para ela e vi o pânico tomar conta de seu rosto. Amara não tirava os olhos da porta e nem se mexia. Foi então que a porta caiu no chão, fazendo um barulho que ecoou pela cabana inteira.

 Havia um homem parado no lugar da porta. Ele era alto e tinha a pele branca como papel. Usava um terno, tinha longos braços e pernas e nas suas costas, tentáculos negros se movimentavam rapidamente. Ele não tinha rosto, mas parecia estar zangado. Podia sentir a sua raiva até em meus ossos.

Um dos tentáculos da criatura agarrou o pescoço de Amara e vi o seu rosto ficando roxo, muito roxo. Eu queria fazer alguma coisa, salvá-la mas não conseguia me mover. Era como se eu não estivesse controlando o meu corpo.

Depois, tudo escureceu e a última coisa que ouvi foi o grito de Amara ao longe.

.

* * *

Acordei não conseguindo respirar direito. Era como se eu tivesse acabado de emergir de uma banheira cheia de água e sabão depois de passar mais de cinco minutos embaixo dela. Levantei da cama, sem me importar que horas eram e logo estava descendo as escadas, indo até a cozinha. A única coisa que eu queria naquele momento era um bom e forte café.

Peguei um pacote de biscoitos e despejei o café em uma grande caneca escrito "I love U". Aquela caneca era da minha mãe. Eu tinha dado de presente para ela quando ainda era uma garotinha inocente, gentil e amável. Ela nunca usou, então eu usava por ela.

Comi alguns biscoitos e tentei raciocinar o que aconteceu naquele pesadelo. Amara e eu estávamos correndo por uma floresta. Ok, a única floresta perto daqui é a Floresta Sem Fim. Estávamos fugindo de uma criatura alta e com tentáculos que deve ser parente dos polvos. Espera...criatura alta? Ah, claro! Eu sabia que tinha visto aquela coisa em algum lugar. Então ela não deve ser real, pode ser somente alguma coisa da minha imaginação. Mas tinha algo mas em toda essa história, eu só não conseguia pensar...

Alguma coisa quebra a janela e cai no chão da cozinha. Me levanto rapidamente e vejo alguém correr para a floresta com um cachorro logo atrás. Um vândalo? Possivelmente.

Vi o que a pessoa tinha jogado pela janela e me agachei para pegar. Era uma pedra com um papel preso nela. Tirei o papel e joguei a pedra para longe, já que ela não seria tão útil assim.

"Seu quarto
        Quarta-feira
       À meia-noite
       Não se atrase, senão...
     — A"

"A"? Será que...

Amara? Não, não podia ser Amara. Deve ser alguém pregando uma peça em mim. Era apenas uma piada, nada demais.

Mas e se ela estiver realmente viva? E se as testemunhas tivessem mesmo a visto andando por aí? Será que Amara jogou essa pedra para mim porque queria falar comigo amanhã sem que ninguém saiba? São tantas perguntas e nenhuma resposta, como sempre.