Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 11
Capítulo 11 - Amarrados




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Oito dias se passaram, em poucas horas estaria embarcando. Já tinha comprado passagem e organizado a maior parte das minhas coisas na mala. Me lembrava dos momentos que passei nesses oito dias. Sung-Yong-hyung continuava se encontrando com a garota do trabalho. Yoon-Sang tinha desaparecido, provavelmente estava evitando Sung-Yong-hyung. Ele não concorda com a decisão de Sung-Yong-hyung, mas também não queria ter seu segredo revelado. Sung-Joon tinha se aproximado de mim, nos encontramos várias vezes, e na maioria delas terminávamos na cama do hotel. Eu sempre com o sentimento de que estava traindo Sung-Yong-hyung, mas não conseguia evitar Sung-Joon, ele tinha se tornado uma excelente companhia, principalmente agora que minha comunicação com Sung-Yong-hyung era resumida em frases curtas e diretas. Não me sentia solitário, Sung-Joon sempre estava me contatando, ligava, mandava mensagens e fotos engraçadas dele durante o dia no escritório ou mesmo durante uma audiência. Tinha um sentimento forte por Sung-Joon, mas não era a mesma coisa que sentia por Sung-Yong-hyung. Posso dizer que para mim Sung-Joon é um amigo muito íntimo.

Mesmo depois de todos os encontros que tive com Sung-Joon,  nunca falei para Sung-Yong-hyung  sobre a existência dele, não tinha coragem de apresentá-los, pois não saberia lidar com os dois no mesmo ambiente. Prefiro manter meu relacionamento com Sung-Joon em segredo.
    Sung-Joon não concordava com a minha ida. Ele me ofereceu várias coisas para que ficasse, até disse que pagaria o aluguel de um apartamento, neguei tudo que ele oferecia. Ele ficava zangado, reclamava, até contatou a agência de intercâmbio, mas eles disseram que o contrato não tinha sido renovado no período certo, por isso só conseguiria assinar um novo contrato após três meses. Era até engraçado ver como ele reagia as respostas da agência de intercâmbio.
    
   Na noite do último dia, Sung-Yong-hyung me chamou para jantar em um restaurante, talvez essa fosse a última vez que estaríamos juntos. Sentia um aperto no peito quando via a expressão triste no rosto de Sung-Yong-hyung. Mesmo depois de tudo, ele continuava sendo alguém extremamente importante para mim, não parava de pensar nele nem por um minuto. Pensava nele até quando estava com Sung-Joon.
    Nesse último dia, não falei com Sung-Joon, queria evitar o encontro dos dois. O que mais estranhei, foi o fato de Sung-Joon não ter me procurado. Ele sempre mandava alguma mensagem, mesmo que apenas para dizer "oi".
    Estávamos voltando para o apartamento, Sung-Yong-hyung andava perto de mim, estava realmente triste, não queria que eu partisse. Me assustei quando ele envolveu o braço esquerdo em mim, mas não reclamei, apenas aproveitei, era bom sentir ele perto de mim, o calor de seu corpo e o cheiro de seu perfume, deixava a noite fria mais aconchegante.
    Ao entrar na rua estreita do apartamento logo percebi que estava muito escura, não tinha nem uma lâmpada acesa. Estranhei a situação, era improvável que todas as lâmpadas parassem de funcionar ao mesmo tempo. Hyung e eu caminhamos até a porta do prédio, já me preparava para abrir o portão quando um barulho me assustou, a próxima coisa que vi foi Sung-Yong-hyung cair no chão. Olhei para trás e vi o vulto de um homem, em seguida uma dor surgiu no meu pescoço, uma pancada tinha levado, minha consciência sumia enquanto eu caía, escorregando no portão. 
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    Acordei, uma dor de cabeça me consumia, não conseguia enxergar, tudo estava embaçado, me sentia tonto, enjoado, e ânsias de vômito vinham com frequência. Tentava me mexer, mas algo prendia minhas pernas e mãos. Entrei em desespero, o fato de não conseguir mexer meus membros é uma sensação confusa e perturbadora. Estava deitado no chão de um lugar grande e escuro, apenas uma luz distante mostrava o contorno de uma porta metálica. Tentei me livrar das amarras, algo impossível, pois elas estavam tão apertadas que deixara minhas mãos e pés dormentes.
    Com muita dificuldade consegui sentar, usei a parede como apoio, me esfreguei até conseguir. O próximo passo era me levantar, queria ficar em pé, mas a dormência nos pés me impedia de levantar. Em uma das tentativas, caí, só que não em um chão duro como das outras vezes, tinha caído em alguém.
Não sei dizer em qual parte do corpo meu rosto encostava, apenas sei que senti o cheiro daquela pessoa. Comecei a lembrar de tudo, principalmente do dia em que dormi abraçado ao travesseiro de Sung-Yong-hyung.

—Sung-Yong-hyung, é você? (Perguntei em um tom baixo.)

—Fábio? O que está acontecendo? Parece... Parece que estou amarrado.

—Sim, sou eu. Também estou amarrado.

    Me movimentava por cima dele tentando sentar novamente. Consegui, mas ele continuava deitado.

—Hyung, você consegue se sentar?

—Não estou conseguindo. As cordas estão apertadas, meu corpo está dormente.

—Vou tentar te puxar.

Sem conseguir usar as mãos, a única coisa que me restava era a boca. Fui em direção e ele, no escuro não tinha certeza de onde tocaria. Senti que estava perto dele, perto do rosto de Sung-Yong-hyung, sua respiração quente me atingiu. Era bom estar perto dele, mas o pavor de estar naquela situação, me deixava mais racional. Logo desci meu rosto até chegar no casaco. Mordi o tecido, puxei ele com toda a força que consegui exercer. Meus dentes doíam, mesmo assim consegui puxar Sung-Yong-hyung e agora estávamos sentados, apoiando um no outro. Sentia os batimentos cardíacos acelerados, tínhamos passado por situações loucas, mas isso era algo inexplicável. Estar amarrado em um lugar escuro era apavorante, isso me fazia suar e tremer.

—Hyung, quem fez isso? Quem nos prendeu aqui?

—Ainda não sei direito, mas tenho a sensação que isso é obra de alguma gangue.

—Dessa vez vamos morrer. Isso é inevitável.

—Você não deveria ter me seguido até a fábrica, agora você também está envolvido.

    Fizemos silêncio. O tempo passou, minutos, horas, talvez dias, não tinha como saber, a escuridão é imperdoável, altera os sentidos e a percepção de tempo e espaço.
    Uma luz muito forte surgiu, vinha da porta metálica. Meus olhos foram afetados pela luz forte, não conseguia enxergar nada. Ouvia passos, muitas pessoas, cinco ou mais. Logo senti alguém puxar meu cabelo, abri os olhos e consegui ver um rapaz, parecia ser novo, e tinha um olhar odioso.

—Esse aqui tá vivo. Vou verificar o outro.

    Ele também puxou o cabelo de Sung-Yong-hyung, falou algum palavrão, confirmou que ele também está vivo. Ouvi o barulho de uma cadeira sendo arrastada, duas cadeiras foram colocadas perto de mim. O rapaz de olhar odioso me levantou, e me jogou sentando em uma das cadeiras. Ele se direcionou a Sung-Yong-hyung, mas não foi tão delicado, logo Sung-Yong-hyung estava do meu lado, mantinha a cabeça abaixada, achei estranho ele estar daquele jeito. O rapaz se irritou com ele, puxou pelo cabelo, e um tapa forte atingiu a rosto de Sung-Yong-hyung, ele ergueu a cabeça, encarou o rapaz, que já preparava outro tapa, mas alguém gritou.

—Minhas ordens foram para bater?!

—Não, senhor.

—Então, afaste-se.

    Não conseguia ver quem estava falando. Até que o rapaz saiu da frente, me permitindo ver quem estava lá. Tinham cinco homens de terno preto, e um outro que usava um terno marrom avermelhado. Ele se aproximou, consegui ver seu rosto, ele aparentava ser mais velho que todos os presentes naquele lugar. Mas nem por isso era feio, na verdade estava surpreso com a beleza daquele homem mais velho. Tinha os cabelos bem escovados, uma franja bem dividida, e a pele do rosto lisa. Tinha a sensação de que ele gosta de cuidar do corpo, pois mesmo com o terno, conseguia ver os contornos volumosos dos braços, o terno abotoado e alinhado no corpo. Embaixo do terno ele escondia um corpo que deixaria qualquer um com inveja.
Sentado na cadeira, ele me encarava. Era estranho ser encarado daquele jeito, por isso direcionava meu olhar para Sung-Yong-hyung.

—Então... Vocês são os responsáveis pela morte da minha mulher. Aquela puta nunca estava satisfeita com nada. Mesmo após ser fodida várias vezes no dia, ela ainda procurava por outros homens. Não é mesmo, Sung-Joon?

—Sim, senhor.

Alguém entrou no local, vestia um terno marrom escuro. Assim que vi o rosto dele, meu coração parou por alguns segundos. O Sung-Joon que tinha entrado era o "meu" Sung-Joon. Não existia palavras para descrever minha sensação. Ele está lindo vestindo aquele terno, mas seu olhar era outro, aquele Sung-Joon que me olhava com carinho, tinha sumido, agora seu olhar era frio.

 


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