Barreiras Culturais. Volume 2 escrita por Richard Montalvão


Capítulo 1
Capítulo 1 - Indecisão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676044/chapter/1

 

Na manhã do 46º dia do intercâmbio, acordei já com o pensamento de que teria que tomar uma decisão. Deveria ficar na Coréia do Sul, correndo o risco de que algo ruim pudesse acontecer, caso descubram, que eu estava no local onde acharam os membros da gangue mortos. Voltar para o Brasil era a opção mais segura e inteligente, mas todas às vezes que pensava na possibilidade de partir, aquele vazio dentro de mim parecia aumentar.
     Saí do quarto, lugar onde fiquei depois de ouvir o que Sung-Yong-hyung falou para Yoon-Sang na noite passada. A revelação de que os dois já tinham feito sexo e que provavelmente já teriam tido algum relacionamento, além de amizade, me deixou sem ação. Fiquei com medo de estar me metendo no relacionamento deles dois. Mesmo com esses pensamentos, ainda não tinha vontade de partir, tinha criado um sentimento muito forte por Sung-Yong-hyung. Talvez ele não sinta nada por mim, talvez ele queria apenas usar o sexo para extravasar toda a tensão pela qual nós passamos.
    Em meio desses pensamentos, fui em direção a sala, seria a hora de conversar com eles, precisava de ajuda para entender tudo e tomar uma decisão. Da porta do quarto eu já tinha visto que Yoon-Sang estava deitado no sofá, estava sem camisa, tinha curativos com marcas de sangue em várias partes do corpo. A próxima coisa que notei foi que Sung-Yong-hyung não estava lá, na hora pensei em perguntar à Yoon-Sang, onde Sung-Yong-hyung estava, mas ao me aproximar dele, ele acordou, e quando me viu, virou para o outro lado e puxou o cobertor. 
A ansiedade e preocupação me tiravam a fome, nem fui na cozinha para preparar algo. Liguei a TV, procurei pelos canais de notícias, esperava ver em todos os canais a grande loucura que tinha acontecido naquela fábrica abandonada, mas não achei nada. Era impossível que a morte de tantas pessoas não fosse noticiada em rede nacional, nenhuma emissora perderia a audiência de uma coisa assim. Depois de algum tempo procurando, sem sucesso, fui para o smartphone e procurei na internet, até sites brasileiros eu acessei, mesmo assim não achei nada. Decidi esperar Sung-Yong-hyung voltar para conversar com ele. Uma hora depois, Yoon-Sang acordou, foi direto para o banheiro, quando voltou, sem falar nada sentou no chão perto de mim, ele olhava para a TV, mas a sensação que eu tinha era de que ele queria falar comigo, mas sem Sung-Yong-hyung por perto ele estava travado. Então tomei a decisão e perguntei.

—Yoon-Sang, você sabe onde Sung-Yong-hyung foi?

—Não, não vi quando ele saiu.

—Preciso conversar com ele. Quero saber o que ele acha que deveria fazer. Voltar para o Brasil, ou ficar aqui até terminar os 3 meses do intercâmbio. 

—Sung-Yong... Provavelmente dirá para você ficar.

Aproveitei que estava sozinho com Yoon-Sang pela primeira vez e perguntei algumas coisas sobre Sung-Yong-hyung.

—Sung-Yong-hyung e você se conheceram quando?

—Foi há 8 anos na primeira gravação que ele fez como VJ.  Eu já era VJ da emissora, e naquele dia o diretor fez um especial com 50 celebridades, era comemoração dos 100 episódios. Para a gravação seria preciso no mínimo umas 60 câmeras para gravar todos. Vários VJs experientes foram chamados, alguns VJs iniciantes foram alocados como auxiliares dos VJs fixos. Sung-Yong, foi designado como meu auxiliar naquele dia, mas não nos conhecemos. No dia da gravação o diretor me apresentou Sung-Yong, no primeiro momento achei que ele era um adolescente, sua aparência era de um garoto de 15 anos. Na hora eu até reclamei com o diretor, porque ele tinha colocado uma criança para me auxiliar. Fiquei surpreso quando Sung-Yong se apresentou de forma tímida. (Meu nome é Yoon Sung-Yong, tenho 20 anos). Ele era apenas 2 anos mais novo que eu. Deixei o preconceito de lado e dei uma câmera a ele. Assim que ele segurou, eu percebi que ele já estava acostumado, ele tinha jeito com o equipamento. Sabia configurar tudo sem precisar de ajuda.

 

 

—Sung-Yong-hyung, já tinha experiência como VJ?

—Ele já tinha trabalhado na gravação de vídeo clipes.

—Vocês gravaram juntos?

—Sim, gravamos. Ele ficou ao meu lado o dia todo, no final do dia já estávamos conversando como velhos amigos. Após o término da gravação, fomos convidados pelos outros VJs para beber e comer em um bar próximo da emissora. Sung-Yong, sempre teve essa personalidade, ele não sorri muito, não fala muito e raramente expressa alguma reação. Alguns VJs diziam que ele era estranho. Mesmo com essa impressão que todos tinham sobre ele, logo já estávamos acostumados com a sua personalidade.

—O trabalho é o mesmo até hoje?

—Não, aquele programa acabou com 150 episódios, fiquei algum tempo afastado da equipe, inclusive afastado de Sung-Yong, encontrava com ele nos corredores da emissora, mas os horários não eram os melhores. Nosso contato sumiu totalmente por 4 anos, quando eu fui realocado para a área de esportes. Eu praticamente não ia até a emissora, pois as gravações aconteciam nos campos e quadras. 
Sung-Yong ficou na área de gravação de dramas e programas de auditório. Até que um dos diretores daquele antigo programa, resolveu iniciar um novo projeto. Não era nada concreto, precisávamos gravar um piloto para apresentar aos chefes. Ele logo reuniu quase todos os VJs, apenas Sung-Yong não tinha aparecido. Sabendo da personalidade de Sung-Yong, decidi que precisaria chamar ele pessoalmente. 


    Me encontrei com ele na saída da emissora, convidei ele para irmos ao bar e consegui convencer ele de participar da gravação do piloto.
No dia da gravação, Sung-Yong já estava lá quando eu cheguei, depois de preparar os equipamento e organizar o pessoal. Sung-Yong posicionou sua câmera ao lado da minha, por consequência disso, as gravações seriam quase sempre nesse mesmo setup. Com 1 mês da gravação do piloto, o programa foi aprovado, todos fomos realocados, viramos VJs fixos desse novo programa, onde estamos até hoje.

—Mas e como o relacionamento de vocês deixou de ser apenas amizade? (Estava muito curioso sobre a vida de Sung-Yong-hyung.)

— O nosso envolvimento começou depois de um ano de gravação juntos. Eu estava namorando uma garota da produção de quando eu fazia parte da equipe esportiva, ela era um pouco mais velha, queria casar, ter filhos logo. Mas eu não estava pronto para isso, nos separamos 8 meses depois que fui realocado para esse novo programa. Logo me mudei para esse apartamento onde moro, Sung-Yong já estava morando aqui, por causa da proximidade das nossas casas, passamos a conviver mais. Sempre vamos para a emissora juntos, voltamos para casa juntos, levamos o dia inteiro juntos.


    Em pouco tempo comecei a sentir a necessidade de estar junto de Sung-Yong, mesmo quando estava saindo com alguma mulher, queria estar junto dele.
Durante uma viagem para a Tailândia, fomos gravar um especial de 3 dias lá, a viagem, estadia, e tudo mais, foi pago pela emissora, porém teríamos que dividir o quarto de hotel com outro VJ ou alguém da produção. Mesmo Sung-Yong sendo bonito e atrair as garotas com facilidade, sua personalidade já tinha afastado parte da produção, apenas alguns VJs não se importariam em dividir o quarto com ele. Demoramos mais que os outros para chegar no hotel, pois o motorista do táxi em que eu e Sung-Yong estávamos, se perdeu. Quando chegamos no hotel, o diretor me deu a chave do quarto, apenas Sung-Yong e eu estávamos atrasados, então ficamos com o último quarto do andar que já estava lotado com a equipe do programa.
Ao entrar no quarto me deparei com uma cama de casal, as opções eram dormirmos juntos, ou alguém dormiria no chão. Sung-Yong já estava preparando uma cama no chão para ele, na hora eu disse que não tinha problema em dormir com ele na cama. Sem demora ele colocou tudo de volta na cama e tirou a camisa e a bermuda, ficando só de cueca. Eu também tenho o costume de dormir apenas de cueca, logo fiz a mesma coisa, liguei a tv e o ar condicionado e me enrolei no cobertor. Sung-Yong, também estava enrolado, ele já tinha deitado para o outro lado, percebi que ele já estava dormindo. Também estava cansado da viagem, logo peguei no sono. Na manhã seguinte, alguma coisa tinha acontecido com o ar condicionado, fazia calor, Sung-Yong inconsciente dos seus atos tinha tirado o cobertor, seu braço estava posicionado no meu peito. A cena me deixou excitado, assim que vi o volume na cueca, levantei para ir ao banheiro, mas Sung-Yong me chamou. (Hyung?) Em um movimento ele me puxou pelo braço, caí por cima dele, ter meu corpo encostado no de Sung-Yong foi o meu limite. Logo beijei ele, e em poucos segundos quem estava mandando na situação era ele. 

—Então essa foi sua primeira vez com um homem?

—Sim, e essa foi a primeira vez de Sung-Yong também. Quando voltamos para a Coréia, continuamos fazendo sexo, mantendo a amizade, mas nunca passaria disso. Mesmo com nossa amizade e o sexo, não acho que Sung-Yong esteja apaixonado por mim.

—Você sente algo por ele?

—Sim, mas sinto que é mais uma necessidade de estar junto dele. Depois que iniciamos o "trabalho" com as esposas dos chefes das gangues, nunca mais fizemos sexo. Até passei a acreditar que Sung-Yong estava apaixonado pela Sra. Tah In.

—Então... Você sabe o que aconteceu ontem? Sung-Yong-hyung e eu...

—Minha relação com Sung-Yong voltou para a fase de grandes amigos, mesmo quando estamos bêbedos, após uma noitada, não fazemos mais nada. Talvez Sung-Yong me queira apenas como amigo, mas ele nunca conseguiria falar isso.

—Yoon Sang, essa necessidade de estar perto de Sung-Yong-hyung, que você disse que tem. Eu também tenho. Percebi isso ontem, quando vivenciei a possibilidade de ele ser morto durante a confusão na fábrica abandonada. Não sei se conseguirei ficar longe dele. Daqui alguns dias terei de voltar para meu país, não sei se vou conseguir ficar longe dele.

—Então até você caiu na teia de Sung-Yong? 

—Desde o momento que encontrei ele no aeroporto.

 -Sung-Yong, talvez ele não tenha ideia dos nossos sentimentos por ele. Ele deve pensar que o motivo de tantas pessoas quererem ele é por causa de sua beleza.

—Pessoas?

—Sim. Tem uma garota da produção que está tentando algo com ele. Ela até me pediu ajuda.

—O que você disse?

—Disse que ele é tímido. Mas se ele quiser continuar escondendo sua sexualidade dos outros, talvez essa seja uma boa oportunidade. Os outros VJs já estão casando e nós dois nem apresentamos nenhuma garota para o pessoal. Sung-Yong usa a desculpa de ser tímido, mas o pessoal diz que é impossível que ele com essa cara de "Flower Boy" não esteja "pegando" uma garota.

—Então ele é o tipo que enganaria uma garota só para disfarçar? 

—Não exatamente. Esse país não é nem um pouco receptivo com homossexuais e coisas do tipo. Então, para evitar problemas é melhor não sair revelando para todo mundo.

    A manhã passou voando, só lembramos que já era hora do almoço quando Sung-Yong-hyung voltou trazendo comida. Ele parecia frio, jogou uma sacola com medicamentos no sofá, e disse para Yoon-Sang tomar alguns, pois ele iria trocar os curativos depois.

Depois do almoço, Sung-Yong-hyung trocou os curativos de Yoon-Sang, deu uma camisa limpa, e em seguida Yoon-Sang disse que iria para seu apartamento, mas antes pediu para que Sung-Yong-hyung desse alguma desculpa no trabalho amanhã. Ele logo saiu. Agora apenas Sung-Yong-hyung e eu estávamos sentados no chão da sala.

—Hyung, eu estou pensando em ir embora ainda essa semana. Estou com medo de que a polícia descubra que me envolvi nas mortes daquelas pessoas.

—Se você acha que ir é a opção mais fácil, não posso te impedir. Se o seu desejo de ir embora é apenas por causa da morte daqueles membros de gangues, eu diria que você não precisa se preocupar. O governo quer que a população acredite que as gangues coreanas já não existem mais, tenho certeza de que todos esses acontecimentos serão ocultados pela polícia. 

—Eu procurei na internet, na tv e não existe informação em lugar nenhum sobre os acontecidos.

—Foi como eu disse, o governo escondeu a informação de todos, ninguém nunca saberá o que realmente aconteceu.

—Yoon-Sang... Ele me contou tudo sobre vocês.

Sung-Yong-hyung levantou-se, foi até a janela, ficou lá por um tempo admirando os prédios que cobriam a luz do sol. Levantei e fui em direção a ele.

—Você sente algo por Yoon-Sang?

    Ele se virou e me encarou, retirou o boné da cabeça. Na mesma hora notei que o cabelo estava diferente, as laterais estavam com menos volume e a franja agora estava mais curta, o volume do cabelo todo tinha diminuído. Nesse dia ele usava um boné laranja e marrom, vestia uma camisa preta que tinha o ano 1989 escrito na estampa, e também usava uma bermuda cinza com listras verticais.

—Yoon-Sang... Não sei descrever meu relacionamento com ele.

—E o que aconteceu entre nós ontem, o que foi?

—Não sei.


    Ele foi em direção ao banheiro, e eu sentei no sofá com a cabeça doendo. Foram muitos acontecimentos em tão pouco tempo. Sair de casa, vir para um país totalmente diferente do meu, me envolver com gangues, mas o pior de tudo é esse relacionamento com Sung-Yong-hyung. Não sei o que é, não sei o que ele quer, também não sei o que eu quero.

Alguns minutos se passaram, Sung-Yong-hyung saiu do banheiro. Ele estava apenas de cueca, uma boxer preta com listras brancas. Passou por mim e pegou uma calça jeans, em seguida vestiu uma camisa social de mangas compridas.

—Você vai sair?

—Sim. Vou procurar o diretor de outro programa, ele está precisando de mais um VJ, e eu agora tenho as quintas-feiras livres.

    Ele pegou o boné que estava usando antes, o smartphone que estava perto da tv e saiu. Não pude deixar de pensar que o dinheiro que ele ganhava da gangue era bem maior do que ele ganharia como VJ gravando o programa às quintas. Agora que não tinha mais aquela fonte de renda extra, teria que trabalhar mais dias como VJ.

    O dia passou muito rápido, quando percebi já era noite e eu não tinha feito nada. Após tomar banho e comer um ramen que tinha feito, sentei na sala para procurar algo interessante na TV. Quase todos os canais exibiam dramas, algo estilo novela, mas em um deles estava passando um programa musical, vários artistas se apresentavam e no final alguém levava o prêmio da noite. Assisti por algum tempo, e quando o programa já estava acabando, ouvi a melodia da porta. Sung-Yong-hyung tinha retornado.

—Hyung, conseguiu a vaga de VJ?

—Consegui, já tenho gravação essa semana. Fábio, vou precisar sair hoje, amanhã tenho gravação bem cedo. Você consegue se virar sozinho até amanhã à noite?

—Consigo, sim.

    Sung-Yong-hyung foi até o banheiro, tomou banho, vestiu uma camisa polo branca, uma calça preta e pegou um boné diferente, branco com letras pretas. Passou pela cozinha e saiu comendo um pão doce que tinha comprado de manhã.

    Não consegui parar de pensar no quão bonito ele estava vestido daquele jeito, com o novo corte de cabelo. Mas ao mesmo tempo, tinha um aperto no peito, parecia que um pedaço de mim tinha saído junto com ele. Depois que Yoon-Sang me contou que uma garota da produção estava dando em cima de Sung-Yong-hyung, e que ele talvez finja um relacionamento com ela para esconder sua opção sexual, apenas a imagem dele se encontrando com uma garota vinha na minha cabeça.

    Liguei a tv e deitei na "cama" onde ele dormia, peguei uma de suas camisas e comecei a cheirar, o odor que subia pelo meu nariz me fazia lembrar do sexo de ontem. A imagem de Sung-Yong-hyung, com seu corpo magro e definido, seus braços fortes, o suor que corria pelo seu peito enquanto ele me penetrava, a sensação dos seus braços fortes me apertando, os beijos que ele me dava na boca e no pescoço entre os movimentos do seu corpo, aquela dor de ter ele dentro de mim, dor que se transformou em algo que preenchia aquele vazio dentro de mim. Já estava com a mão no meu pênis, me masturbava enquanto cheirava uma de suas camisas recém usadas, o cheiro do seu perfume misturado com o cheiro do suor, era muito bom. Logo cheguei ao orgasmo, peguei alguns lenços que ficavam na mesinha da sala e me limpei, na tv estava passando um drama, uma garota chorava enquanto lembrava de um amor não correspondido. Eu não conseguia me aguentar e chorava também, abraçado ao cobertor dele. Não tinha fome, não tinha cede, fiquei ali até pegar no sono.

Continua no próximo capítulo...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Barreiras Culturais. Volume 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.