Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 6
Boneco-palito


Notas iniciais do capítulo

Boa noite/tarde/dia~
Bom, eu tive que rever alguns gameplays de Ib de novo e de novo para esse capítulo auhsuahsua Finalmente consegui me destravar, e cá estamos nós! Aproveitem :3

Soundtrack:"The Little Doll's Dream"
https://www.youtube.com/watch?v=qftdFYpmXmA



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Quando Iza finalmente conseguiu se erguer no chão, sentia-se cansada, dolorida e extremamente irritada com o garoto à sua frente. Ele, por sua vez, a olhava meio assustado, meio desconfiado. Lentamente, sem tirar os olhos da menina, ele foi até um canto do corredor e  apanhou seu boné que estava jogado ao chão. Dentro havia uma rosa branca que chamou a atenção de sua observadora. Ele retirou a flor de lá e colocou o chapéu de volta na cabeça, escondendo os cabelos bagunçados. Sua rosa estava bem segura em suas mãos.

Assim, os dois se examinaram mutuamente.

Ele era magricela e meio baixote. Iza calculou que deveria ter mais ou menos uns oito, nove anos. Usava bermudas jeans e uma camisa branca com gola polo.

— Por que está sem os sapatos? — perguntou ela de repente, apontando para os pés vestidos apenas com meias do garoto.

— Eu perdi meus tênis — contou ele enquanto olhava os próprios pés também — Uma moça assustadora começou a me seguir... Ela saiu da moldura, sabe? — enquanto contava o que lhe acontecera, ele parecia prestes a chorar — Ela agarrou meus pés, mas eu consegui fugir tirando meus sapatos.

Iza tentou disfarçar um tremelique. Achava que já tivesse encontrado o pior daquele lugar, mas aparentemente, haviam mais coisas que iriam persegui-la por aí. Fazendo todo o possível para afastar esses pensamentos da mente, ela finalmente apontou para a rosa cujas pétalas brancas se abriam nas mãos no menino.

— Essa rosa...

— Ah! Eu... Peguei ela — contou, enquanto a examinava —Eu não... Queria deixar ela lá, entende?

Iza entendia perfeitamente e, para assinalar isso, apontou com o dedo para a própria rosa, presa na mochila pela fita de cabelo, as pétalas completamente negras. Ao vê-la, o garoto arregalou os olhos por debaixo da aba do boné.

— Parece que se descuidarmos dela, algo ruim vai acontecer — disse ela — Por falar nisso, meu nome é Iza. E o seu?

— É Galli.

— Galli? — Iza ergueu uma das sobrancelhas.

— É coisa da minha mãe — comentou o outro enquanto balançava o taco de brinquedo distraidamente com a mão desocupada.

— Certo... Acho melhor então... Irmos andando, certo? Tentar sair desse lugar.

Galli concordou com a cabeça e logo os dois se puseram a caminhar lado a lado, num silêncio profundo.

Apesar do encontro nada agradável, a menina tinha que concordar que topar com outro alguém na mesma situação absurda que ela era extremamente reconfortante. Era uma prova de que ela não estava enlouquecendo. Vez ou outra a garota lançava um olhar de esguelha para seu novo acompanhante, que seguia silencioso, com um ar ligeiramente distraído. Ele não parecia má pessoa e a vontade de acertá-lo estava gradativamente morrendo e dando espaço à gana de agarrá-lo e nunca mais se soltar.

Mais de uma vez Iza se pegou coçando o olho, alarmada. A cor daquela sala era extremamente irritante para sua visão. Ela estava justamente se perguntando quando iriam encontrar a próxima porta para sair daquele inferno quando a ponta de seus pés deram um encontrão com algo caído ao chão provocando um tombo feio para a garota, obrigando-a a enterrar o joelho no chão com uma força absurda.

— Você está bem? — Galli abaixou-se para ajudar a companheira.

— Acho que sim... — respondeu ela enquanto puxava a calça para examinar o joelho enquanto alguma lágrimas de dor brotavam do canto dos olhos.

Como era de se esperar, ele estava coberto de arranhões e sangrava em alguns pontos. Iza bufou, imaginando o que mais poderia lhe acontecer agora. Não que ela achasse que não dava para piorar: aquele lugar estava se encarregando de superar todas as suas expectativas, nesse sentido.

No entanto, foi só quando Galli exclamou, apontando seu machucado, que Iza percebeu. Era como estar assistindo um filme ao contrário. Como que do nada, as gotinhas de sangue que escorriam por sua pele começaram a subir todo o seu caminho de volta, desafiando as leis da física, até entrarem de novo para dentro de sua pele cortada. No momento em que o sangue voltara completamente para suas veias, os arranhões começaram a se juntar até desaparecem completamente.

Iza ficou encarando durante todo aquele processo de olhos arregalados, e levou um tempo para se tocar que até a dor havia passado. No final, era como se ela jamais tivesse tropeçado e caído.

Galli também parecia assustado, ao lado da outra. Não conseguia desviar os olhos do joelho à sua frente.

— O-o que aconteceu aqui? — conseguiu indagar por fim.

— Eu não tenho certeza, — respondeu Iza enquanto cutucava o lugar onde estivera o machucado segundos antes — mas já vi isso acontecer antes... Parece que nós não conseguimos nos machucar... Não da maneira convencional, pelo menos — acrescentou por fim, lançando um olhar significativo para a rosa branca nas mãos do companheiro.

Galli olhou para a própria rosa e logo em seguida para a de Iza. Engoliu em seco.

— O que é isso em que você tropeçou afinal? — perguntou por fim.

A garota deu de ombros e olhou para trás. Os dois juntaram as cabeças para examinar aquilo que parecia um quadro que fora quebrado ao meio. Iza o reconheceu como sendo o mesmo da série que vira antes de ter sido jogada no chão por Galli. Juntando as duas partes, eles puderam entender do que se tratava. Uma enorme aranha preta atacava a borboletinha amarela. Era o final do ciclo. Olhando para a parede à sua frente, viu a plaquinha indicativa, onde deveria estar o quadro, agora despedaçado. Lia-se: Epílogo.

Mas aquilo não fazia sentido. Por que cargas d'água a pintura estava partida ao meio? Aquilo soava como um mau presságio para  a garota.

— Foi você que fez isso? — ela virou-se para o garoto, que parecia igualmente perdido, e negava com a cabeça.

— Não. Não tinha passado por aqui até agora.

Ele também encarava aquilo, apreensivo.

— Vamos continuar — decidiu a outra, virando-se de costas para a peça e continuando a andar.

Logo em seguida, Galli passou a segui-la.

Não demorou muito para que a dupla alcançasse a próxima porta. Como na última sala, era igualmente verde e do mesmo tamanho. Iza nem mesmo tentou girar a maçaneta. Sabia que precisava de uma chave que não possuía, e nem tinha ideia de onde arrumar.

Enquanto a menina olhava ao redor, sem saber direito aonde ir e o que fazer, Galli retirou do bolso traseiro de seus jeans a chave cuja cor correspondia à porta e mostrou-a.

— Onde você encontrou isso?

— Por aí — respondeu vagamente — Não sabia o que fazer com ela, mas parece que foi bom eu tê-la apanhado.

E, dizendo isso, enfiou a chave no seu encaixe debaixo da maçaneta e girou.

A porta se abriu com facilidade, revelando aos dois uma área cujo teto, chão e paredes eram de um amarelo doentio.

Iza quase quis dar meia volta e se esconder na área azul. Parecia que o gosto artístico de quem decorara aquele lugar estava indo de mal a pior, e bem rápido.

— O que está fazendo? — perguntou Galli, que já se encontrava a uns dez passos à frente — Vamos logo.

Sem responder, a garota foi atrás, balançando a cabeça com força enquanto isso.

Diferente da última área, esta se estendia por vários caminhos e vez ou outra havia algum quadro dependurado, aqui e ali. Até então Iza protegera sua filosofia de jamais parar para examinar nada novamente. Olhava diretamente para o chão e não dava importância aos comentários que sua companhia fazia de tempos em tempos. Comparativamente, Galli parecia bem mais relaxado que a garota mais velha. A bem da verdade, parecia que quanto mais andavam, mais ele falava. Falava sobre as obras estranhas que vira até agora, debochando. Falava sobre a vontade de andar em algum lugar que não fosse tão estreito, como os corredores em que percorreram até agora.

Mas isso, ela supunha, talvez fosse apenas devido à idade. Talvez ele simplesmente não tivesse ciência da seriedade da situação em que se encontravam, e seguia lançando olhares curiosos e rindo de determinados quadros. Talvez, e a isso Iza não conseguiu segurar um sorrisinho cínico, ele achasse que nada mais de ruim aconteceria, agora que alguém mais velho estava por perto.

Os dois seguiram dessa forma, um calado e o outro falante até demais. E ameaçavam continuar dessa forma por um bom tempo ainda.

— Sabe, uma coisa que eu reparei é que essas rosas não têm cheiro — ia comentando Galli que, caminhando à frente, pulava de um assunto para o outro rapidamente — Você chegou a cheirar a sua?

Iza estava prestes a responder que nunca nem chegara a pensar em cheirar sua rosa quando, ainda andando cabisbaixa, não percebeu que o menino parara subitamente e, sem aviso, acabou colidindo com suas costas, quase jogando os dois ao chão.

— O que houve?

Galli parara também de falar. Em vez disso, encarava a parede logo à frente, que dobrava-se em outro corredor. Iza também olhou e, para sua surpresa, deu de cara com um boneco-palito rabiscado com tinta preta em contraste com o amarelo enjoativo. Para o horror da jovem, ele mexia um dos braços, como se estivesse saudando os dois à sua frente. Seus olhos também piscavam, dois pontinhos vermelhos.

De fato, era uma figura de dar arrepio, mas para surpresa de Iza, foi Galli quem pareceu mais assustado. Seus olhos estavam arregalados de medo. Ele brandia o bastão azul como uma espada, mas era possível ver o quanto o brinquedo tremia em sua mão.

— Você de novo, não! — choramingou.

— Você já tinha visto isso?

Galli se sobressaltou, como se tivesse se esquecido da presença da adolescente. À sua pergunta, respondeu com um simples manear de cabeça, num gesto afirmativo.

— Ele vem me seguindo desde que entrei nessa galeria — disse, a voz tremida.

Iza tornou a olhar o bonequinho. Ele parara de acenar, mas para o espanto da menina, palavras começaram a aparecer logo abaixo de seus finos pés. Surgiam como que saindo do nada, até formarem uma frase, em tinta vermelha.

Vamos brincar de pique-esconde? — leu Iza em voz alta.

O bonequinho pareceu acenar com a cabeça, confirmando o que ela dissera.


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Notas finais do capítulo

Gente, foi uma desgraça tentar achar a soundtrack desse capítulo. Sério. Espero que não tenha ficado muito ruim ;w; Devo ter mudado de soundtrack umas 5 vezes até me decidir por essa. Me digam suas opiniões sobre isso nos comentários~