Magia na Floresta escrita por Vlk Moura


Capítulo 41
Capítulo 41




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Eu saí da minha empresa alguns anos após a minha entrada, eu queria ir para  amata, catalogar. Continuei com o vínculo do laboratório, eles me pagariam para eu pesquisar em campo e mandar exclusivamente para eles as plantas que eu encontrasse. Com essa minha mudança a minha relação com Nyack ficou bem dificultada. Se antes com apenas ele viajando já era bem complicado, agora com nossos horários batendo apenas uma vez no ano era ainda mais difícil. Carregamos por alguns meses a relação, mas depois de uma longa conversa percebemos que não daria certo. Vez e outra ainda nos encontramos na casa da Carla para almoços de final de semana, mas não vamos mais como um casal, o que os jornais não perderam tempo de anunciar. Era irritante ver aquelas várias noticias quando nos encontravamos, especulações sobre nosso relacionamento, era praticamente insuportável para mim. 

Mas bastaram alguns meses depois do nosso término para que o foco dos jornais se voltasse para outro atleta com uma relação mais conturbada do que a de Nyack.

Luna me passou a responsabilidade integral por Draco, então agora ele era meu braço direito nas expedições e basicamente meu carregador oficial de materiais, o que foi muito bom para mim. E o loiro também parecia gostar de viajar comigo. Passamos por maus bocados juntos, mas sempre foi bem divertido. 

 

Já tinha passado quase três anos que eu estava com pesquisas quando uma carta chegou no meu apartamento. Fazia quase seis meses que eu não ia para casa. Era uma carta do meu pai sobre meu avô. Draco estava comigo quando eu a li e larguei tudo para voltar ao mundo trouxa, mundo que fazia anos que eu não pisava. 

Sempre ao meu lado o loiro me acompanhou até a cidade do meu avô. Ele tentava me acalmar, mas não era algo fácil. Assim que cheguei na cidade corri até o hospital. Draco sempre me acompanhando. 

Dei o nome do meu avô na recepção, ligaram para um quarto. Permitiram minha entrada junto ao Draco. Por algumas vezes eu tive de parar e respirar um pouco, eu não tinha muita certeza do que encontraria e minha mente gostava de me torturar com isso. Bati na porta, a abri um pouco e pude ver meu pai em uma poltrona com olheiras de esgotamento, ele me olhou e pareceu não acreditar que eu estava lá. 

Eu não via meus pais e meus avós há muito, muito tempo. Não pude conter correr até ele e abraçá-lo bem forte. Olhei na cama, meu avô com suas mil ruguinhas dormia calmo, ou, pelo menos, parecia calmo. Tomava soro na veia. Meu pai me abraçou quando comecei a dar soluços desesperados, ele não estava bem, eu via isso. E eu fiquei tanto tempo concentrada em meu trabalho que eu sequer tive um tempo de folga para vir ver minha família.

— Calma, querida - meu pai me abraçou e olhou Draco que nos observava, mas parecia um pouco abalado com a situação - Calma, vai ficar tudo bem.

— Não vai - eu abracei meu pai - Se eu não tivesse ficado tão focada com meu trabalho - eu me xinguei - Eu acabei virando a mamãe, pai. Eu nunca quis isso.

— Sente-se aqui um pouco - ele me sentou à poltrona. Eu limpei algumas lágrimas que correram pelas minhas bochechas - Você estando aqui ou não isso teria ocorrido da mesma forma, Ag. 

— Eu sei... Mas...

— Ag... - olhamos meu avô, ele tinha nos olhado sonolento, meu pai pareceu surpreso.

— Vovô, eu estou aqui - eu me levantei e apertei a mão dele.

— Se eu soubesse que para te ver precisava ficar nesse estado teria feito isso antes.

— Não diga isso, vovô. - eu apertei bem forte sua mão entre as minhas.

Ele não falou mais nada, seu pescoço pareceu não aguentar a cabeça que tombou para o lado. Os aparelhos começaram a apitar. Meu coração estava muito acelerado, eu me joguei sobre o meu avô chorando, os médicos me afastavam e eu queria continuar ali. Meu pai pediu para Draco me levar para fora do quarto e aguardar lá fora, eu não queria sair. O loiro abraçou meu corpo prendendo meus braços, me levantou do chão e me retirou dali. A porta atrás de nós se trancou, eu não podia ouvir mais nada do que acontecia ali dentro. 

Fiquei sentada de fora no chão, Draco ficou ao meu lado, me observando preocupado, eu não conseguia olhar para nenhum rosto ali.

— Ag? - eu reconhecia a voz, me levantei num salto. 

Jorge quase caiu quando pulei em seu pescoço, ele me abraçou bem forte. Naquele momento me lembrei da nossa infância e juventude, tudo o que deixei para trás. 

— Não pensei te encontrar aqui - ele falou ainda me abraçando.

— Não tinha como não vir - falei me afastando o observei, ele tinha uma aliança no dedo - Você se casou?

Ele observou o anel brilhante  confirmou.

— Tenho dois filhos.

— Nossa! - eu limpei minhas lágrimas - Quantas coisas eu perdi nesses últimos anos? - ele olhou Draco.

— Você e ele...?

— Não! - eu ri - Não! Eu só sou a responsável por ele, nada de mais. - dei de ombros.

— E ele como está? - ele apontou par ao quarto. Eu soltei um longo suspiro e dei de ombros.

Ficamos muito tempo esperando até os médicos sairem, depois meu pai. Ele nos anunciou o óbito do meu avô, foi instantaneo, eu afundei meu rosto no ombro do Draco e voltei a chorar, ele me abraçou, enterrou os lábios em meu cabelo o enchendo de beijos enquanto eu parecia uma criança agarrada a ele. 

 

Eu e meu pai enviamos notificações para parentes e amigos. Jorge nos ajudou com a lista de pessoas. Draco me ajudou a contatar o mundo mágico. 

Meu pai e minha mãe tinham se separada há dois anos, eu enviei uma notificação para ela e para minha avó, mandei uma para Carla, uma para Hermione, Harry, Neville, esse último eu hesitei um pouco em fazer, mas Draco não me deixou pensar e logo enviou. Mandei para minha avó também, para Raoni que nos últimos anos ajudava meu avô na fazendo na questão de algumas plantas mágicas que ele tinha ganho de mim e estava gostando de cultivar. 

Eu ia voltar para o meu apartamento, pegar algumas roupas para passar uns dias com meu pai, mas ele me fez ficar, disse que tinha medo de eu voltar par ao meu mundo e não voltar mais. 

— Esquecemos de uma pessoa - Draco falou se sentando no sofá, eu o olhei, suas olheiras eram bem aparentes, apoiei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos, fez um som de fundo de garganta para que el eme falasse de quem esquecemos - Luna.

Eu o olhei, eu realmente tinha me esquecido dela.

— Você pode enviar para mim?

— Claro.

— Obrigada. - ele foi até a mesa onde estavamos escrevendo as notificações.

O velório já seria no próximo dia e eu não me sentia pronta para dar adeus ao meu avô, ou pelo menos ao seu corpo. Eu queria poder abraçá-lo novamente, poder ouvir sua voz insinuando algo entre mim e Draco.

Fui para o quarto na casa do meu avô que costumava ser meu, era nostálgico entrar ali depois de tantos anos sem pisar naquelas terras. Observei preso na moldura da janela duas pequenas penas azuis, passei o dedo e logo reconheci o tom como sendo o de Peru, ele guardara da minha última estádia ali. Era doloroso demais ter aquelas imagens em minha cabeça. Lembrei de tudo que pelo que passei nos semanas que morei ali na fase Morfino. Lembrei de como conheci Draco. Fazia tanto tempo, agora parecia que aquilo tudo nem fora real.

Bateram na porta. Ela abriu um pouco.

Carla entrou acompanhada de Jorge. Os dois observaram o quarto, Carla foi até a janela e observou as penas e riu me olhando.

— Dele? - confirmei - Nunca pensei que seu avô guardaria isso.

— Nem eu.

— Ele se sentia bem só nos últimos meses - Jorge falou olhando nós duas - Seu pai e eu até tentamos animá-lo, mas não deu muito certo - ele deu de ombros.

— Me sinto culpada por isso.

— Você não poderia ter feito nada - Jorge veio até mim.

— Eu devia tê-lo visitado mais.

— Agora não adianta chorar, ta? - eu o olhei, quando meu amigo ficara tão sério e responsável? - Vamos enterrá-lo amanhã e temos de pensar apenas nas coisas boas que passamos com ele, a última coisa que ele ia querer seria que nos lembrassemos dele morto.

— Você tem razão - eu sorri para ele - Ele ia bater na gente se soubesse que estamos chorando por causa dele.

— E eu não duvido que ele batesse mesmo - Carla falou rindo. - Lá embaixo tem mais gente - ela falou apontando para a porta com a cabeça - Seria bom para eles saber que você ainda está aqui.

Confirmei, me levantei, olhei meu estado no espelho.

— Estou acabada. - comentei.

— Pode ter certeza que metade daquelas pessoas já te viram pior na época do Morfino - ela me abraçou, me fazendo rir.

Desci acompanhada pelos dois, vários familiares estavam ali. Pensei que além da Carla, Leo e Draco mais ninguém viria, mas me enganei profundamente, todos que eu chamei estavam ali, Hermione com Rony e os filhos estavam ali. Harry estava com os filhos, mas Gina não pode comparecer. Luna estava sozinha, o marido estava trabalhando e não podia acompanhá-la. Raoni estava sentado conversando com minha avó. Neville foi o primeiro a vir falar comigo depois que desci, ele me abraçou bem forte.

— Sinto muito - eu o abracei bem forte em resposta. - Sinto muito, mesmo.

— Eu sei - me afastei e tentei sorrir - Obrigada por vir. Ele adoraria ver todos nós juntos novamente.

Neville sorriu em resposta.

Fui cumprimentar os outros e conhecer seus filhos. Leo estava conversando com Jorge quando o cumprimentei.

— Nyack pediu para eu avisar que ele não poderá vir. Mas logo deve te encontrar, ele e Vitor tinham um evento hoje.

— Tudo bem, obrigada.

 

Rezaram a missa em nome do meu avô, observei minha mãe chegar no meio do evento. Fui até ela a cumprimentar, ela me abraçou bem forte e falou estar feliz em me ver ali, contei em sussurros que cheguei a tempo de vê-lo vivo, ela pareceu se emocionar tanto quanto eu. Entrelaçamos nossos dedos e ficamos do fundo assistindo. Quando acabou, meu pai e meus tios levantaram o caixão. Iamos atrás os seguindo. No cemitério quando todos ficamos em volta foi horrivel ver tantas pessoas chorando. Draco estava comigo quando o informei que eu ia me afastar um pouco, não conseguiria ver aquilo e tanta tristeza em volta. 

Sentei em um banquinho que tinha bem afastado. Limpei algumas lágrimas e fiquei esperando que o enterro acabasse. 

Alguém se sentou ao meu lado, ficamos em sil^ncio.

— É muito triste - olhei Neville.

— É, sim - eu tentei sorrir - Obrigada por ter vindo.

— Era o minimo que eu podia fazer. Todos nós gostavamos muito dele, Ag, acho que você sabe disso.

Confirmei.

— Tem algo que eu possa fazer para você perder essa cara de enterro e sorrir par amim? - eu o observei.

 - Acho que não hoje - ele se contentou - Só fica aqui comigo, me fazendo companhia.

— Com todo o prazer.

Eu me aproximei dele e deitei minha cabeça em seu ombro.

Neville começava a ter seus primeiros traços de ruga, alguns fios brancos se destacavam em meio ao cabelo bem penteado. Eu nunca tinha parado para pensar o quanto todos tinhamos envelhecido e amadurecido desde o evento com Morfino. Talvez para ele e Draco não tenha sido muito significativo, mas eu observava suas mudanças. Meu antigo professor estava ainda mais encantador do que na época de escola e pensar isso me fazia me sentir culpada, uma vez que ele é casado.

Não sei ao certo quanto tempo ficamos em silêncio, mas fora Neville quem o quebrou.

— Ruth e eu nos divorciamos - eu apenas me ajeitei em seu ombro.

Ele se mexeu e eu não soube se o machucava, eu ia levantar a cabeça para descobrir, ele apenas ajeitou o braço pelo meu ombro e me abraçou me deixando ainda mais próximo dele.

— Faz quanto tempo? - perguntei sem conseguir conter as palavras.

— Quase seis meses - eu pensei em olhá-lo, mas não consegui.

— Não vi nada sobre isso.

— Tentamos ser discretos, - ele suspirou - foi complicado.

— Casamento é algo complicado.

— Bom que você não se casou.

— Nem poderia. - ele apoiou o queixo em minha cabeça - Se importa de ficarmos um pouco mais assim?

— Não, tudo bem.


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