- O senhor poderia ir mais rápido? - Perguntei para o táxista.

- Vai tirar alguém da forca mocinha? - Eles respondeu, em tom de deboche e eu bufei.

- Vou. Agora pode ir mais rápido? - Ele me olhou como se eu fosse maluca e acelerou um pouco mais. Eram 6 horas. Suspirei. Eu poderia estar assistindo Bonequinha de Luxo agora. Exatamente na parte em que ela sobe as escadas.

- Chegamos. - O motorista falou parando no beco escuro. Joguei algumas notas gordas para ele. - Tem certeza que quer ficar aqui? Todos dizem que é um lugar meio barra pesada. - Sorri.

- É sim, obrigada. - Respondi saindo do táxi. O lugar cheirava a maconha. É, parecia uma grande chaminé industrial. Eu deveria ter tomado uma antitetânica. Caminhei pelo beco. As pessoas pareciam chapadas demais para notar minha presença. 

http://www.youtube.com/watch?v=f-5gLjWzfn0 || Perfect - Simple Plan

Olhei para os lados, com cuidado, procurando por qualquer vestígio do Chuck. E o encontrei. Ou melhor, encontrei o que restava dele. Sentado no chão imundo, pálido, com o cabelo completamente desalinhado, fumando.  Os olhos vermelhos e inchados me encararam por alguns longos segundos, mas voltaram a mirar o nada alguns segundos depois.

Hey dad look at me. Think back and talk to me. Did I grow up according to the plan?

Hey pai olhe para mim. Pense de novo e fale comigo. Eu cresci de acordo com o plano?

- O que você está fazendo aqui? - Ele falou com uma voz áspera, porém indiferente. Meu coração disparou. 

- Eu deveria lhe perguntar isso. Lily está preocupada, você deveria estar com ela agora, levando flores no túmulo do seu pai! - Ele não voltou a me olhar, e de alguma maneira aquilo era bom. As minhas reações podiam ser mais racionais sem olhar para ele. Chuck sorriu. Mas não era seu sorriso normal, era algo... forçado. E dolorido.

- Não creio que o papai vá se importar se eu ignorar seu aniversário. Não me versempre foi um alivio para ele. Deve ser a melhor parte de estar morto agora. - Engoli seco com as palavras.

And do you think I'm wasting my time doing things I wanna do? But it hurts when you disapprove all along.

E você acha que eu estou perdendo tempo, fazendo coisas que eu quero fazer? Mas dói quando você desaprova tudo.

- Ele te amava, Chuck. Não que o modo dele fosse o certo. Mas achei que já tínhamos deixado claro que fumar não resolve seus problemas. -  Queria achar uma maneira de confortá-lo, mas temia que não existisse.

- E o que resolve, Blair? Ou melhor ainda, por que você se importa? - Eu queria ter uma resposta para aquilo. Ou pelo menos, uma resposta plausível e... pronunciável em volume audível. Mas não tinha. Fiquei ali, encarando o chão.

- Hey, Chuck! - Uma voz levem,ente conhecida falou do meu lado. É claro, era Ramon, um dos veteranos do Skull and Bones. - Pronto para a adrenalina? - Chuck assentiu, me olhando firmemente e fazendo com que minhas pernas tremessem. O homem ajudou Chuck e se levantar e o guiou até o fim do beco. Ele olhou para trás e me olhou, lançando-me um sorriso vitorioso, como um demônio levando mais uma alma para o inferno.

I try not to think about the pain I feel inside. Did you know you used to be my hero? All the days you spent with me, now seem so far away and it feels like you don't care anymore.

Eu tento não pensar na dor de sinto por dentro. Sabia que você costumava ser meu heroi? Todos dias que você passou comigo, parecem tão distantes e eu sinto como se não importasse mais.

Eu comecei a correr na direção que eles foram. No final do "beco dos maconhados", haviam 4 carros perfeitamente enfileirados. Chuck estava acabando de entrar em um deles. Sem pensar, disparei para o banco do carona. Quase valeu a pena pela cara de espanto que Chuck fez.

- O que diabos você pensa que está fazendo? Saia agora do meu carro! - Ele praticamente gritou, enquanto eu colocava o cinto, calmamente.

- Se não você vai fazer o que? Chamar a policia? Me poupe Chuck. - Ele revirou os olhos.

- Isso aqui não é coisa para você, saia do carro. - Ele disse em um tom de voz mais controlado. 

- E é coisa para você? O grande Chuck Bass, herdeiro único do império de Bart Bass, fumando maconha em um beco sujo e fazendo rachas com seus amigos marginais. - Eu olhei para ele, tentando ter certeza que não excedi o limite. - Seu pai não gostaria disso, Bass. - Ele riu, enquanto uma mulher parava no meio da pirta, com um pedaço de pano na mão. Ela o abaixou e Chuck pisou no acelerador, fazendo com que eu me afundasse no banco.

I try hard to make it, I just wanna make you proud. I'm never gonna be good enough for you I can't stand another fight. And nothing is alright.

Eu tento fazer isso, eu só quero te deixar orgulhoso. Eu nunca serei bom o suficiente para você e não posso  suportar outra briga. E nada está bem.

- Meu pai não gostaria que eu tivesse nascido. Ele nunca gostaria de nada que eu fizesse. - Ele disse, passando os dedos com mais força pelo volante. - Ele sempre pensou que eu sou um inútil, impretável. Só estou aproveitando a minha vida do jeito que ele achou que me servia. 

- Você não é inútil Chuck. E não precisa agir como um apenas para provar que seu pai estava certo, para agir como não se importasse. Ele queria um futuro para você. E você está jogando tudo no lixo por causa de uma má fase. - As árvores quase imperceptíveis pela escuridão da noite passavam por nós rapidamente. um carro bateu na traseira do carro, fazendo que um pequeno solavanco me jogasse para frente.

- Eu não quero crescer como um estereótipo imposto pelo meu pai. - Ele falou, com os olhos cada vez mais úmidos.

- Você está crescendo o estereótipo dele. No mal estereótipo dele. Por favor, não estrague a sua vida, ou o resto dela, por causa do Bart. - Ele ficou em silêncio fazendo uma curva. Logo a frente, cerca de 100 metros, havia a linha de chegada. - Pense bem, Chuck. Seus amigos, a Lily... - Hesitei por um momento. - Eu. Não faça isso a todos aqueles que se importam com você. - Ele me olhou, desviando os olhos da estrada. Ele não pararia até ganhar, eu sabia disso.

'Cause we lost it all. Nothing lasts forever. I'm sorry I can't be perfect. Now it's just too late, and we can't go back. I'm sorry I can't be perfect

Porque nós perdemos tudo. Nada dura para sempre. Me desculpe, eu não posso ser perfeito. Agora é tarde demais, e nós não podemos voltar atrás. 

- Por que você se importa? - Ele pediu, novamente, cruzando a linha, em primeiro. Para mim era o que menos importava. Aparentemente, para ele idem. 

- Porque mesmo que você seja uma parte desagradável da minha vida, ainda é uma parte grande da minha vida. - Ele sorriu, sarcásticamente.

- Eu posso ser preso por estar com você agora. Seu namoradinho delegado deve estar esperando apenas um pretexto para me prender. - Eu gargalhei, sem querer, mas era inevitável.

- Como se fazer racha em via pública já não fosse motivo o suficiente. - Olhei para fora. Pessoas curiosas cercavam o carro. Mulheres curiosas, principalmente. Reprimi meu instinto de bufar, e olhei para ele. - Vou deixar você aproveitar suas fãs em paz. Mas deveria ligar para Lily... e visitar seu pai. Você sentirá falta disso. - Eu falei, saindo do carro.

Depois de pegar um táxi, estava em casa, cansada, chateada, mas ao menos tinha feito minha boa ação semanal. Ou anual.  Meu celular tocou: era a Gossip Girl.

"Flagrado: C. e L. com um grande buquê de rosas nas mãos, visitando o tumúlo de Bart. Porém... parece que haviam fantasmas lá. Elizabeth, com um lindo sueter de lã (eca), e Harold. Things are gettin' hot!"

Meu pai? Ele está na cidade e não veio me visitar? ELE ESTÁ COM A MÃE DO CHUCK?

I'm sorry I can't be perfect.