Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 9
O Pessimista


Notas iniciais do capítulo

Um inseguro Cascão vai buscar ajuda nos conselhos e no companheirismo do melhor amigo. Mal sabe ele que a visão do Pessimista de nada pode ajudá-lo e a confiança excessiva no Careca pode ser sua derrocada...

Ps: A Dani é a melhor coautora que eu poderia ter. Capitulo totalmente devido a criatividade dela. ♥



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Terça-Feira, 18:15. Casa do Cebola. Este capitulo é anterior ao encontro de Maga e Luke. 

 

Fazia muito tempo que Cascão e Cebolinha não iam à casa um do outro. Cas nem ao menos se lembrava da última vez que dormira na casa do amigo. Ficou surpreso ao chegar lá e encontrar uma Maria Cebolinha com dois terços de sua altura.

— Acho que eu tô é ficando velho – comentou ele, abraçando a menina.

Sua visita deixou os pais de Cebolinha igualmente surpresos. Trataram-no do modo mais cordial possível, como se não o vissem há anos. E Cas se deu conta de que devia um pouco mais de atenção àquela família que sempre o recebera bem, como se fosse um dos seus.

Mas Cebolinha estava impaciente para jogar. Cascão nunca gostou de futebol virtual, preferia ao vivo. Não ia, porém, deixar aquilo estragar a reaproximação com o melhor amigo.

Jogaram a tarde inteira, até Cascão se cansar de perder.

— Se fosse na vida real, cê não fazia metade disso – esbravejou ele, um pouco frustrado por não ter ganhado uma partida sequer.

— É pra você ver como não tem graça jogar contigo – retrucou Cebolinha, rindo amargamente.

— Mas você sempre fica no meu time!

— Claro! Você é o único que me escolhe!

Cebola nunca foi bom com esportes coletivos. Se saía melhor nas modalidades individuais, como o skate, o ciclismo e a natação. Cascão nunca disse ao amigo que as pessoas o deixavam de lado porque ele era difícil de lidar – sempre que perdia, Cebolinha ficava com muita raiva e descontava aquilo na forma de imprecações em qualquer um que aparecesse –, de modo que ele atribuía o desdém da turma à sua inabilidade com a bola.

Essa foi uma das razões que o trouxe para o mundo dos games: lá ele podia usar o talento estrategista a seu favor.

Mas Cascão nunca havia reparado no quanto aquela separação ofendia e magoava Cebola. Talvez ele devesse conversar com os meninos. Afinal, se ele conseguia suportar o jeito do amigo, por que os outros não?

Seguiu–se um silêncio constrangedor, que foi quebrado por Cebolinha pouco depois.

— Tá tudo bem. Já me conformei que futebol não é pra mim.

— E eu acho que videogame também não é pra mim não – acrescentou Cas. – Deixa isso pra você impressionar sua gata.

— Até parece que garotas gostam dessas coisas.

— Se ela não gosta disso, gosta do quê?

— Ah, você sabe: roupas, baladas, maquiagem, e tantas coisas idiotas.

— Você acha idiota?

— Você não?

— Bom, é diferente... Aposto que as garotas também acham jogos muito idiotas.

— Não a Cascuda.

— É...

— Você tem sorte, sabia? Imagina poder fazer as coisas que você gosta junto com sua namorada. Deve ser o máximo!

— Uhum.

— Ei, que desânimo é esse? Ah, já sei, brigaram de novo.

— Pior que não.

— Então por quê cê tá com essa cara de marmota? – implicou Cebola.

— Eu tenho cara de marmota – Cas tentou mudar de assunto.

— Sim, mas agora tá pior.

Eles riram.

— Tô pensando em terminar com a Maria, Careca.

— Como é que é?! Cê tá doido?! Aquela menina praticamente caiu do céu e agora você quer largar ela?

— É eu sei, mas... – ele hesitou. Cebolinha não era muito bom em guardar segredos, e ele nunca havia comentado aquilo com ninguém. Será que podia confiar no amigo?

— Mas o quê? – insistiu Cebola.

— A Maga – ele decidiu que sim. – Acho que tô gostando dela.

— Ah, isso...

Cascão encarou o amigo de olhos arregalados:

— Você sabe?

— Bom – para surpresa de Cas, Cebolinha ficou vermelho –, sabe como é, tá meio na cara...

— Na cara?! Cebola, alguém mais sabe disso?

— Não, eu acho que não, talvez a Mônica, mas sei lá – vendo que o amigo continuava alarmado, Cebola acrescentou. – A gente se conhece faz tempo. Fica tranquilo, ninguém mais deve ter reparado. Você sempre cuidou de todo mundo, ninguém vai estranhar você e a Magali.

— Então como você reparou?

— A gente é amigo, cara! – disse ele, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Como é que eu não ia saber?

— Mas nem eu sabia...

— Como assim, não sabia?

 – Bom, eu nunca tinha pensado nela desse jeito, até ela terminar com o Quim e...

— A Mônica também nunca tinha reparado no DC, até eu terminar com ela.

— Não foi ela quem terminou com você?

— Dá na mesma – disse um Cebola orgulhoso, ficando escarlate de tão vermelho.

— Tá bom. Mas Cê, quando foi que você começou a gostar da Mônica?

— Eu sempre gostei da Mônica! – falou ele, indignado com a burrice de Cascão.

— Eu sei, tô perguntando quando foi que você percebeu!

— Ah... Ué, não sei... Quando comecei a achar ela bonita, eu acho.

Aquilo não resolvia muita coisa para Cascão, pois ele sempre achara Magali linda.

— E depois?

— Bom, depois a gente foi parando de brigar, e ela passou a me ajudar nas matérias da escola.

Cascão e Magali nunca tinham brigado, e Cas tinha a namorada para ajuda–lo nas matérias difíceis.

— E depois?

— Aí você sabe... Aconteceu.

— Aconteceu como?

— Por que é que você quer saber? – Cebolinha ficou curioso com aquela enxurrada de perguntas.

— Porque ainda não “aconteceu” nada entre mim e a Magali.

— É claro que não, vocês dois namoram desde sempre, seu besta.

— Não é só isso – insistiu Cas. – Ela foge de mim. Não dá pra conversar com ela.

— Pensei que vocês tivessem virado melhores amigas, agora que você vai pra academia com ela todo dia – disse um Cebola enciumado, com um tom rancoroso que não escapou a Cascão.

— Deve ser tipo isso mesmo, porque ela sempre fala naquele cara grandão da academia quando tá comigo. Vai ver ela acha que eu sou menina.

Eles ficaram fazendo piada com o isso até a barriga doer.

— Mas Cas... – disse Cebolinha, retomando o assunto. – Falando sério: você quer mesmo terminar com a Cascuda por causa da Magali?

— Querer, não quero. Mas não acho justo com ela. Parece que tô enganando minha namorada.

— Claro que não! – exclamou Cebolinha, deixando Cascão surpreso. – Você gosta dela! Dá pra ver!

— Mas como que pode gostar das duas ao mesmo tempo?

— Podendo, ora! Acontece.

— Então, o que eu faço? Não posso ficar com uma gostando da outra também, isso é sacanagem.

— Mas você já pensou que, se você termina com a Cascuda e a Maga te dá um fora, você vai ficar chupando dedo?

Não, ele não tinha pensado por esse lado.

— Você devia esperar – continuou Cebola – e ter certeza que a Magali gosta de você antes de fazer qualquer coisa.

— Mas como é que eu vou ter certeza de alguma coisa, se nem falar com ela direito eu consigo?

— Se ela não quer falar com você... – ele parou no meio da frase. Olhou para Cascão para ter certeza se devia dizer o que estava pensando. Por dois segundos pensou em mudar de assunto. Mas ao pensar no tamanho da besteira que o amigo ia fazer, decidiu ser sincero. – Se ela não quer falar com você, talvez não sinta o mesmo que você sente.

Cascão sentiu o chão se abrir sob seus pés.

— Olha, Cas – suspirou Cebolinha. – A Magali é legal, boazinha e tudo mais. Mas ela tá estranha, e não é por causa da história com o Quinzinho, isso já faz tempo. Eu não trocaria o certo pelo duvidoso. A Cascuda gosta de você, e você dela. Se a Maga é tão importante assim pra você, conta pra ela. Não espera ela te dar uma abertura, porque isso não vai acontecer. Ela conversa com todo mundo, mas nunca conta nada pra ninguém; nem quando ela terminou o namoro a gente ficou sabendo, foi a Denise quem espalhou.

— Mas esse não é o tipo de coisa que a gente comenta – retrucou Cascão, incomodado por Cebolinha ter dito que Magali era estranha e fria.

— Não é, mas...  Pensa bem, Cas. Depois que ela terminou com o Quim, a única pessoa que vejo conversar com ela é a Mônica. Talvez ela não queira mais ser nossa amiga. Ela deve estar querendo ficar sozinha. E acho que isso inclui você também.

— Por que ela faria isso? – falou um Cascão visivelmente arrasado.

— Se a Cascuda te traísse, o que você faria?

Ele não sabia, mas suspeitava que iria querer desaparecer, também.

— Respeita o espaço dela, Cas. E outra: ela nunca te deu bola antes. As coisas funcionaram comigo e com a Mônica porque ela também gostava de mim, então não foi preciso muito esforço. Se tá sendo difícil assim, então acho que ela não tá afim de você, e honestamente, acho pouco provável que ela mude de ideia nessa situação, porque a última coisa que ela deve querer é contato com as pessoas próximas ao Quim. Não faz besteira não. Bate a real pra Magali, e se ela sumir de vez, esquece ela. É melhor pra todo mundo.

Cebola tinha um motivo especial para falar isso, já que desde a separação do Quim com a Maga a turma estava cada vez mais fragmentada.  A verdade é que as duas pessoas que uniam a turma – Mônica e Cascão – tomaram as dores de Magali a tal ponto que se recusavam a participar de qualquer coisa que envolvesse Sarah ou Joaquim, enquanto os outros gostavam de ambos. Era inevitável, a turma ficara divida. Imagina então se Cas deixasse Maria por causa da Maga? A turma deixaria de existir. Seria como uma guerra civil. Cebola queria o bem para o amigo, mas também queria o bem para todos. Além do mais, ele não acreditava que Cascão seria mais feliz com Maga. De fato, ele sempre achara a magrela um pouco... Fria.

Cebola se considerava – e com razão – inteligente por conseguir decifrar, convencer ou até manipular a maioria das pessoas, incluindo o próprio Cascão, mesmo que este muitas vezes puxasse sua orelha por conta disso. Mas não Magali. Ela sempre parecia tão segura de si, madura e espirituosa. Por outro lado, era um enigma indecifrável. Cordial e bondosa com todos, Magali poderia facilmente se passar por uma daquelas pessoas alegres e de bem com a vida. Mas um olhar mais atento – como o de Cebola, que era um observador nato – ou uma conversa mais detalhada revelariam que, na verdade, há um oceano por detrás daqueles olhos amarelos, e que a calmaria da superfície não diz absolutamente nada sobre o que acontece nas profundezas.

Estivesse Magali com problemas ou não, triste ou alegre, preocupada ou feliz, agia sempre da mesma maneira, mantendo a mesma expressão impassível. E isso o atormentava. A única vez que se lembrara de ver Magali realmente com raiva fora na ocasião em que a moça boicotara seu plano infalível para conquistar Mônica, atirando–a nos braços de DC. Não se recordava de ver outras emoções mais intensas na expressão da amiga. Às vezes uma frustração, um cansaço ou contentamento, porém nunca dor, tristeza, mágoa, ternura... Os sentimentos mais intensos ela guardava para si, e era-lhe impossível captar qualquer sinal deles. Cebolinha não gostava de pessoas assim, por achar serem capazes de qualquer coisa – embora ele próprio fosse capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos. Em poucas palavras, Magali o assustava, e ele não queria ver o melhor amigo se aproximar de uma garota assim, pois sabe lá se Cas não ia ficar daquele jeito também... E ainda tinha a Cascuda, coitada. O que iam pensar dela? E o que seria da turma se isso acontecesse? Não, Cê não ia deixar o Cascão fazer uma besteira dessas. Nem que para isso fosse necessário bolar um plano...


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