Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 10
Quase Sem Querer


Notas iniciais do capítulo

Me disseram que você
estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto



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Aqui os acontecimentos retomam a timeline

 

Quarta–feira, 13:22, Casa da Cascuda.

Cascão chegou à casa da namorada carregando três livros e um caderno. As provas estavam chegando, e eles tinham que se preparar.

— Oi, linda – ele disse.

— Oi.

Os dois estudaram muito bem. Cascuda o ajudava com muita boa vontade, mas se irritava muito fácil com sua dificuldade de entender certas teorias, o que o fazia sentir-se tolo. Para piorar, ela permanecia daquele jeito distante, o que o lembrava que o prazo que dera a si mesmo estava acabando e ele ainda não tinha trocado uma palavra com Magali.

Saiu de lá direto para a academia, mas o encontro com a amiga foi desanimador: Luke estava por perto o tempo todo, e ela não tirava os olhos do rapaz.

— Vocês estão saindo? – ele perguntou na volta, quando ia deixando a moça em casa.

— Mais ou menos – ela ficou vermelha. – Vamos sair hoje.

— Ah. Boa sorte, então.

— Obrigada, Cas.

Ela ia entrando em casa quando ele disse:

— Maga, será que a gente pode conversar um pouco?

— Ai, Cas... Eu preciso fazer minhas lições agora. Pode ser amanhã, quando a gente for pra academia?

— Pode ser – ele disse. – Até amanhã então, Magrela. E cuidado com o grandão. Se ele falar alguma coisa pra você, me conta que depois me entendo com ele!

Ele falou aquilo em tom de brincadeira com a intenção de vê–la rir, mas era bastante sério.

— Ele é um cara legal. Você mesmo disse. Mas vou ficar de olho. Além disso, eu sei me cuidar.

— É, eu sei. Mas bom, amigos servem pra isso, né?

— Você é meu melhor amigo, Cascão.

— É, eu sei. Eu sou um cara bacana, descolado e saradão. Todo mundo quer ser meu amigo.

Ela gargalhou como há muito tempo não fazia, e Cas não pode deixar de se sentir aliviado por ao menos ter conseguido criar um clima mais agradável entre os dois.

Mas seu alívio passou assim que os encontrou voltando da sorveteria a noite. Estava muito claro que ela gostava do rapaz, e ele dela. Decidiu que seguiria o conselho do Careca: falaria com Magali no dia seguinte, sabendo que não daria em nada, e então se afastaria dela para sempre. Doeria demais, pois sequer se lembrava de quando tinham se tornado amigos, se conheciam desde sempre. Mas era isso ou enganar Maria. Não havia opção.

***

Maria estava estirada no sofá olhando para o teto fazia quase uma hora. Sua mãe, vendo aquilo, não aguentou e foi perguntar o que estava acontecendo.

Cascuda não era de comentar sobre seu relacionamento, mas estava tão desesperada que acabou contando o jeito que o namorado falava da amiga e a mudança de comportamento quando estava perto dela. Para sua surpresa, a mãe simplesmente disse:

— Mas é claro, boba: o Cascão tem mania de querer cuidar de todo mundo. Ele só tá preocupado com a Magali. E eles são amigos há séculos! Você nem mesmo viu nada demais, só achou que ele estava diferente. E foi só uma vez. Talvez tenha sido impressão sua, porque vocês foram interrompidos... Mas, se você ainda duvida, por que não vai pra academia com eles e observa? Não dá pra tirar conclusões e decidir seu namoro só por um momentinho na sorveteria. Ficando mais tempo com eles você logo vai ver ele agir de maneira estranha se realmente estiver gostando da Magali. Aí sim você pode decidir o que fazer.

— Tá certo, mãe.

***
Quinta–feira, 12:30, porta da escola

Cascão e Magali estavam juntos, como sempre, combinando o melhor horário para se encontrarem na academia, quando foram surpreendidos por uma ofegante Maria Cascuda.

— Ah, achei vocês! Procurei os dois por toda parte!

— Aconteceu alguma coisa, linda? – perguntou Cascão. O coração de Maga falhou uma batida ao ouvir ele falar daquela maneira com a namorada, mas ele não tinha como saber disso.

— Não, não – ela abraçou o namorado. – Só resolvi aceitar o convite da Maga.

— Ah, que bom! – sorriu a menina. – Vai ser bom ter alguém pra falar sobre os meninos lindos da academia. O Cas fica todo chateado. Meninos nunca gostam de admitir que os outros são bonitos também.

— É verdade! – concordou Maria, fingindo não notar que a amiga admitira achar seu namorado atraente. – Que horas a gente se encontra?

— A gente tem que estar lá duas horas, linda – falou Cascão – então eu passo na sua casa uma e meia.

— Sei. Aposto que vai chegar lá faltando dez minutos!

— Não exagera... – ele riu, e Cascuda sorriu também. Magali se despediu do casal, e os dois seguiram seu caminho.

— Por que mudou de ideia agora? – perguntou Cas, curioso.

— Acho que você tem razão. Talvez eu devesse me abrir a novas experiências. Além disso, a gente quase não sai mais junto...

— Mas você mesma disse que andava estudando...

— Então! Preciso relaxar um pouco.

— Tá vendo, no fim eu sempre tenho razão – ele sorriu, malicioso, e ela disse “seu bobo”, e o abraçou.

***

Quando Magali chegou à academia, o casal de amigos já estava lá.

— Tá atrasada, magrela – brincou Cas.

— Pensei que vocês iam se atrasar, ué. Então achei que podia chegar um pouquinho mais tarde também.

Correr nas esteiras e levantar pesinhos foi a parte divertida. Cascuda precisava de poucas instruções, era uma esportista nata. Difícil seria adivinhar como ela ia se sair nas lutas marciais.

— Só porque você é minha convidada de honra – disse Magali a Maria – eu mesma vou fazer a demonstração de hoje! É pra você ver como é fácil derrubar qualquer brutamontes. Quem sabe você não se convence a lutar também? O Cas já avançou bastante desde o primeiro dia.

— Você vai derrubar um cara? Quero muito ver isso! Mulheres no poder!

As duas riram, abrindo brecha para Cascão entrar na brincadeira:

— Só não venham depois me usar de saco de pancadas, hein!

Magali vestiu a roupa adequada e subiu ao tatame. Seu oponente apareceu logo em seguida. Cascão já tinha visto Maga lutar contra rapazes grandes, altos ou fortes, mas nunca com um cara alto e grande e forte. “Isso não vai acabar bem”.

— Magrela, não é melhor você descer, não? – ele sugeriu.

— Bobagem, Cas! Eu dou conta dele!

Mas não deu.

Minutos depois, Magali estava no chão, prensada sob as pernas do grandalhão, que, para horror dos colegas e também do dono da academia, continuava a bater na garota.

— Pare agora mesmo, Rodrigo! – gritou um Luke furioso. Mas o tal Rodrigo nem se moveu.

Então alguém invadiu o tatame, e o tirou de cima de Magali com uma saraivada de socos e pontapés.

Era Cascão. Ele nem sequer pensara no estava fazendo; quando deu por si, tinha os punhos doendo e o estômago do rapaz sob seus joelhos.

Magali, que estava estirada no chão, ficou aliviada por se ver livre do peso de Rodrigo, mas horrorizada ao descobrir que ele e Cas se meteram numa briga feia, rolando de um lado para o outro. Foi Luke quem apartou os rapazes, dando a cada um uma suspensão, a de Rodrigo maior que a de Cascão, naturalmente, porém com a mesma intenção: disciplinar os dois brigões.

Ao ver que a briga terminara, Cas correu para Maga, que estava sendo acudida por Maria:

— Deus do céu, você tá bem?!

Maga nunca o tinha visto tão preocupado. O rosto dele sangrava, mas ele parecia não se importar. A única coisa que via era a amiga. Colocou a mão no rosto da moça e o acariciou ternamente.

— Acho que você foi suspenso... – ela murmurou, passando a mão sobre o olho que não conseguia abrir. – Ai, isso aqui vai ficar feio, né?

— Vai, mas não liga, você é linda de qualquer jeito – disse Cas.

—Você não devia ter entrado no meio, Cas. Poderia ter se machucado.

—E deixar você apanhar? Nunca. Eu deveria ter acabado com a raça daquele babaca, isso sim.

A moça riu, mas até esse pequeno gesto doía.

—Onde mais está doendo? – Disse o rapaz com o rosto carregado de preocupação. Ele se lembrou de um sofá que havia nos fundos da academia e a levantou no colo.

—Ei. –Disse a moça querendo protestar– Eu posso muito bem caminhar sozinha.

—Não duvido, mas aproveita a carona, gatinha.

Maria observava a cena atenciosamente, e afirmou que iria pegar uma compressa de gelo. Aquilo não a estava deixando nada feliz.

Cascão a colocou carinhosamente no sofá e se ajoelhou ao seu lado, tirou as mechas de cabelo do seu rosto e começou a procurar por possíveis ferimentos. Olhou preocupado para o olho inchado de Maga, depois tocou em seus braços, mas estes estavam livres de hematomas. Em seguida passou para a barriga da moça, pois se lembrava dela ter recebido uma forte joelhada naquela região. Tocou a delicadamente e perguntou se doía. Ela afirmou com uma cara feia que estava tudo bem... Ele deduziu que ela mentia. Começou a tocar carinhosamente suas pernas, mas a moça o interrompeu.

—Cas... Para. Tá tudo bem.

—Desculpa, Maga. – Disse o rapaz tocando delicadamente o rosto da moça– É só que eu fiquei tão preocupado. Acho melhor você parar de lutar.

—Só por que apanhei um pouquinho? Por favor... Eu aguento o tranco. – Disse a morena tentando se levantar, mas sem sucesso. Acabou tendo que se apoiar no rapaz.

—Para com isso, Maga. Você não tem que dar uma de fortona pra cima de mim. E além do mais... Eu já entendi tudo.

—Entendeu o que?

—O porquê de você querer lutar.

—E por que quero lutar?–Disse ela sorrindo.

—Pra provar a si mesma que ninguém nunca mais vai te machucar. Que você é forte e independente e que não precisa de ninguém.

Os olhos da moça se encheram de agua. Ele se arrependeu imediatamente por ter dito aquilo. Ela estava cansada, machucada e fragilizada e era assim que ele tentava ajudar?

—Maga, por favor. Não fica assim. Eu só acho que você não precisa provar nada! Você é ótima como é. Maravilhosa exatamente desse jeito– Ele passou a mão pelos longos cabelos da moça e beijou sua testa.

Ela mordia o lábio inferior e ele notou que seus rostos estavam tão próximos que podia sentir a leve respiração da moça. Ele colocou as mãos em volta da cintura de Maga e começou a se aproximar, ela parecia tão frágil, tão pequena em seus braços... Ele dificilmente resistiria a tentação que ela lhe representava se Maria não tivesse aparecido.

— Toma essa compressa de gelo – disse Maria friamente – Vai fazer você se sentir melhor. Ela vira o suficiente. Era hora de agir.

Os dois a levaram até em casa e se ocuparam de explicar a Dona Lili e Seu Carlito o que havia acontecido.

— Eu sempre disse que esse negócio era perigoso! – falou o pai de Maga, visivelmente chateado. – Você não vai mais voltar lá, né, minha filha?

— Deixa a menina descansar, Carlito, depois a gente pensa nisso.

Cascão e Maria entenderam que era a deixa para sair, então foram embora.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, pessoal! Agradecemos o carinho.



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