Tempo Ruim escrita por helenabenett, Lyra Parry


Capítulo 16
Hoje A Noite Não Tem Luar


Notas iniciais do capítulo

E hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Onde está meu amor



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Um mês depois dos acontecimentos anteriores. 

 

Maga não queria ir naquela ridícula festa a fantasia. Ainda mais no dia das bruxas... Ela não tinha lá muitas superstições, mas esse dia era fatídico para ela. Sempre acontecia algo estranho e aterrador. Mas Cas insistira tanto para que ela fosse, já faziam três meses que estavam juntos e no geral ela não tinha do que reclamar, porém na ultima semana ele estava frio e distante. Maga não queria forçar a barra, por isso nada disse. Então, lá estava ela em frente ao espelho sentindo–se estranha vestida daquele jeito. A pedra da lua pesava–lhe no pescoço e a capa e o capuz a faziam se sentir um fantasma na noite escura de primavera. Lembrava como se fosse ontem como ganhou a tal pedra. Era um dia de verão, acabara de completar 13 anos. Todos os seus amigos estavam comemorando a data com ela, e tia Nena pediu para conversar com ela durante um segundo. Entraram ambas no quarto de Magali e a velha senhora fechou todas as janelas e a porta. A claridade acabou rapidamente, e o calor infernal do verão desapareceu.

—Querida, o seu presente esse ano é particularmente importante. – Ela retirou da bolsinha um colar de ouro puro e uma pedra azul cintilante em formato de lua. – Você sabe, minha filha, que somos herdeiras de grandes mulheres. Vivemos a sombra de seus feitos, e elas nos deixaram pequenos presentes. Quando eu completei 13 anos, de minha geração, fui escolhida a guardiã da pedra da lua. É sua vez. Ela a protegerá  também, então não se preocupe. Desde então não havia usado o colar com o pingente mais que 3 vezes, pois se sentia esquisita quando estava com ele. Sentia de uma forma intensa, coisas que ninguém poderia sentir. Parecia poder ouvir pensamentos, sentir mais intensamente o calor bondoso que a lua emana, tinha certos pressentimentos e mesmo seus sentidos eram mais aguçados. Naquela noite não havia luar, mas ela conseguia sentir a presença da lua por detrás de densas nuvens de chuva. Preferiu ir andando até a festa, para aproveitar melhor a noite. Ao chegar próximo da entrada do local sentiu uma terrível premonição, que quase a fez sair correndo de volta para casa, mas ela não era de se acovardar. Respirou fundo, segurou firme a pedra da lua e entrou...

 

Ela podia vê–los dançando. O rapaz afagava os cabelos louros da ex-namorada enquanto ela mantinha a cabeça encostada em seu peito. Dançavam lentamente, e eram um dos poucos casais na pista. Magali, pela primeira vez na vida, experimentou de verdade o ciúme. Sentiu–se desdenhada e enganada. Ele afirmar que terminara com a namorada por ela, ele disse que a amava e que a queria. Mas fora preterida mais uma vez. Ela queria chorar, ela queria ir embora e se esconder por um bom tempo. Porém o orgulho era demasiado. Ela precisava beber.

—Titi, eu sei muito bem que você trouxe vodka.

O rapaz a olhou assustado, já imaginando que a moça ia dedura–lo.

—Enche meu copo aqui.

Ele arregalou os olhos.

—Se você não falar, eu não falo– Ele assentiu e encheu o copo  da moça.

Ela bebeu esperando o alivio da bebida, porém este não veio. Seu coração estava destroçado e não conseguia tirar os olhos do casal na pista. Mônica lhe acenava de longe, solicitando sua presença. A dentucinha estava do outro lado do salão. Quando atravessou a pista lançou um olhar significativo para Cas. Ele apenas virou o rosto ao vê-la.

—Olha o tanto que a Maria e o Cas estão apaixonados!–Disse Mônica.

 A dentucinha notara a preferencia de Maga pelo rapaz. Ela queria que a amiga se abrisse, notara o olhar que a moça lançara para o casal e sentia o cheiro de bebida no copo de Maga. Mas Mônica não sabia ser sutil. Esperava que aquilo fizesse Magali falar, mas fez exatamente o contrario. A moça tomou vários goles e depois de alguns minutos disse.

—Isso é muito bom para eles.

—É... andavam brigando muito, já fazia quase três meses que estavam separados, mas como eu tinha te dito... era fase. ­– aquilo fora maldoso, Mô sabia, mas tentação de provocar a amiga era maior que seu bom-senso. – Mas agora parece que superaram né? Que bom!

—É. Muito bom. Maravilhoso. Então Mônica não acha que você e o DC deveriam dançar um pouquinho? – Magali precisava ficar um pouco só, achava que mais uma única palavra da amiga ela poderia faze-la desmoronar.

—Que coisa mais clichê! E eu detesto dançar, você sabe –Disse o rapaz.

—Vamos, DC, por favor.

—O que eu não faço por você?

Assim que Mônica e DC saíram Cebola se sentou ao lado da moça.

—E aí, Magrela?

—Oi.

—Não vai dançar, não? Ah, tu não tem par né? Igual eu mesmo.

—É.

—Nossa, o Cas e a Maria estão no maior love.

A moça não pode evitar sorrir. Todo mundo ia jogar isso na cara dela mesmo?

—Sério? Eu nem notei.

—Pois é. Tinha gente que achava que dessa vez eles não voltavam, mas pelo jeito...

Aquilo a surpreendeu um pouco. Ela subestimara Cebola, certamente. Ou será que? Ela se agarrou seu pingente. Detestava olhar naqueles olhos negros inteligentes, sempre tinha medo que ele a revelasse. Mas dessa vez quando olhou ela soube. Talvez fosse a pedra da lua novamente, talvez fosse apenas instinto. Ele sabia de tudo, Cascão revelara tudo para o amigo. Por quê? E se ele sabia, por que estava agindo assim?

—É mesmo, Cê? Quem estava pensando esse absurdo?

—Ah, você sabe. Tinha gente muito ansiosa por isso também. Mas sabe, acho que os dois ficam muito bem juntos. Brigam e tudo mais, mas a Maria sempre esteve ao lado dele e sempre ajudou em tudo. Eles fazem bem um pro outro.

—Engraçado você falar isso. Nunca me pareceu interessado pela felicidade do Cascão.

—É claro que estou– ele se alterou – ele é meu  melhor amigo. Acho que a Cascuda faz bem pra ele. É sincera, aberta. Não é como certas pessoas, que ninguém nunca sabe o que pensa.

—Então, de sua parte, você acha que os dois devem ficar juntos?

—Eu sei que devem.

—Você acha que a sinceridade é o mais importante, mesmo que seja inapropriada e desnecessária?

—Claro.

—Engraçado você falar isso. Pois nunca conheci uma pessoa mais escorregadia que você. Quer sinceridade, Cebola? Então eu vou ser sincera com você. Eu entendi muito bem o seu joguinho. Acha que não notei?

—Não sei do que você está falando.

—Sabe muito bem, seu cretino. Você não pode me manipular. Agora a coisa toda parece muito óbvia... Alguma coisa você fez. Por isso ele estava tão estranho. É, eu notei que aquele bocudo já te falou tudo. Você não é tão inteligente como pensa, Cebolinha. Mas quer saber? É muita arrogância sua pensar que você é responsável pelo fato do Cascão preferir a Maria a mim.

—Maga, eu...

—Eu sei que você não gosta de mim. Sei que pensa que está fazendo isso pelo Cascão. Mas não está! Como sempre, você está fazendo isso por você. Quer se vingar de mim pelo meu pequeno plano com respeito a Mô. Quer saber? Você venceu. Agora vá para o diabo que te carregue e leve seu amiguinho junto.

Cebola ficou impressionado com as palavras de Maga. Não sabia dizer se o que ela dissera era verdade, mas nunca a vira perder as estribeiras a esse ponto. Ela falara tudo o que pensava, coisa que ele nunca a viu fazer, ele sempre pensara que no dia que isso acontecesse ia se sentir vitorioso, mas a verdade é que ele ficara com medo. Os olhos amarelos da moça brilhavam de uma maneira estranha e ele conseguia sentir a dor dela em si mesmo. A impressão diminuiu quando a moça se foi. Ele fizera o certo. Era o melhor pra turma, melhor pro Cas e até pra Maga. Parecia que pela primeira vez um plano infalível funcionara...


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Notas finais do capítulo

Lamento a demora, espero que não tenham desistido. :*



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