No outro dia, Antoni acordou cedo. Arrumou-se e foi falar com Talita, que estava na praça do condomínio. Ela o esperava com o celular em mãos caso ele ligasse ou mandasse mensagem. Estava com um vestido florido, e o cabelo preso com um laço. Quando se encontraram, ele a convidou para um passeio, que ela aceitou.

— Então, o que você quer falar comigo? – ela perguntou olhando para o lado oposto dele.

— Você se encontrou com a Lorena esses dias... E ela não gostou muito de como falou com ela.

— Quem?

— No shopping. Uma mulher de cabelos verdes.

— Ahhh, e o que ela disse?

— Disse que você a ameaçou se ela se aproximasse de mim. – ele a olhou.

— Bom... Eu fiz isso mesmo, por quê? Algum problema?

— Claro que tem um problema. Ela é minha amiga, sabe, nos conhecemos desde que eu tinha dezessete anos. Nós somos muito íntimos, não tem como ela não se aproximar de mim.

“Nós somos muito íntimos”. Essa frase fez o coração de Talita doer. Era o que temia, ele realmente tinha um caso com ela.

— Então – Talita falou começando a chorar – você realmente tem um caso com ela?

— O quê? – ele perguntou ainda calmo – como assim, o que isso tem a ver com você Talita?

— Claro que tem. – ela chorava copiosamente.

— Não tem, não. – ele adotou um tom de seriedade.

— É que eu gosto de você.

Antoni empalideceu. Não esperava esse tipo de sentimento vindo de Talita.

— Você namora. Não pode gostar de mim.

— Eu não sei se eu gosto de você ou do Kaleo. Eu... Quero descobrir...

Nesse ponto, o rapaz já não sabia mais o que fazer. Sua cabeça começou a doer só de pensar que confusão aquela conversa poderia desencadear. Ele foi até um banco e sentou para tentar processar as últimas palavras da garota, que o acompanhou.

Antoni passou a mão no rosto e respirou fundo. Arquitetava o que diria a Talita para não ofendê-la, nem magoá-la, mas não via outro jeito se não ser direto.

— Talita, não vai rolar. Eu não gosto de você.

A garota empalideceu. Não esperava uma resposta tão direta, mas percebeu que ele falava sério. Atrás de uma árvore, ao lado do banco, Kaleo ouvia tudo e mordia os lábios para não chorar.

***

No outro dia, Talita estava arrumando seu apartamento quando alguém bateu a porta. Seu pai atendeu, e Kaleo entrou. Estava aparentemente muito mal, os olhos vermelhos, a expressão caída e os cabelos mal penteados.

— O que foi Kaleo? – Talita perguntou ao vê-lo na sala.

— Você quer terminar comigo? – ele tinha a cabeça baixa.

—Por que a pergunta? – ela questionou assustada.

— Eu ouvi você ontem no parque. – ele a encarou – Sei que você tem sentimentos pelo Antoni.

— Se você me ouviu, sabe que ele não quer nada comigo.

— Mas você quer algo com ele.

— Não, Kaleo...

— Eu ouvi você, Talita. Acho que nenhum de nós está pronto para um relacionamento, então é melhor pararmos com isso agora.

— Kaleo... – Talita tinha lágrimas nos olhos.

— Eu não quero namorar alguém indeciso, Talita.

Kaleo saiu sem dizer mais nada, deixando Talita aos prantos na sala. Seu pai, que ouviu a conversa do corredor, tentou consolar a filha. Preparou um sunday de morando para que ela se acalmasse. Ela, por sua vez, tentou se recompor o mais rápido possível, não queria que o pai a visse chorando.

— Tudo bem filha. Você supera isso, eu também não gostava dele mesmo.