Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 12
Capítulo 9 ▪ Colombina, Arlequim e Pierrô [Capítulo especial]


Notas iniciais do capítulo

Após um ano, estou de volta.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/675666/chapter/12

Natasha Bittencourt aproveitava a festa de maneira desregrada: bebeu, dançou, cantou e causou, até o momento que, estando bêbada como um solteirão sertanejo em pleno sábado, foi amparada pelas gêmeas Roma. Concordia segurava a amiga por um braço e Discordia pelo outro, Doralice Bernades tratou de pegar a varinha da bruxa ruiva que caiu no chão e foi-se junto das três para o prédio dos Arabelos.
Naty soluçava e cantava Marília Mendonça. Doralice acompanhava em coro e as gêmeas disputavam qual estava mais irritada.
Estava escuro como só a noite poderia ser, ainda mais a noite da selva amazônica. Estava frio graças ao feitiço climático dos arredores da Castelobruxo. Ao longinquo, na festa, tocavam batidas estridentes, algum tipo de eletrônica alucinante ou kpop dançante.
— Amante não tem lar… amante nunca vai casar – Naty cantarolou. Discórdia revirou os olhos.
— Deviam proibir bebida alcóolica aqui, que tipo de história é essa, a gente só tem quinze anos! — Concordia disse.
— Não é pra tanto — Discórdia discordou. — Até porque é proibido, mas os meninos do quinto ano sempre trazem.
— Meninos? Dis eles devem ter dezoito, dezenove anos — Concordia disse.
— E o preço que eu pago…
— Cala boca Natasha – disseram as gêmeas em uníssono.
— Bando de sem graxa — ela disse e riu.
Com o silêncio da bruxa ruiva, pelos arredores do corredor verde, ouviram um estalo de madeira, como se alguém as espreitasse. Pararam.
— Nossa senhora – era a primeira fala de Doralice, não tão útil. As gêmeas sacaram as varinhas e, descuidosamente, deixaram a ruiva cair.
— Aaaaa – Naty resmungou — Minha bunda, desgraça.
— Shiu — todas disseram a ela.
As varinhas estavam empunhadas como verdadeiras espadas nas mãos de espadachins. Doralice Bernardes, no entanto, tremia copiosamente. Ela morria de medo de assombrações.
— Quem está aí? — Discórdia perguntou.
A parede verde do corredor farfalhou como se estivesse sendo empurada — e de fato estava! Um palhaço, mais especificamente um pierô, deixou a moita carregando um balão roxo. Seu sorriso era estranho e demoníaco. As meninas recuaram um passo, Naty se arrastou.
— Quem é ocê? – Doralice perguntou, inesperadamente. De todas era a que menos estranhava a situação.
O palhaço pegou o balão e o torceu, dando-lhe a forma de, bem, ninguém sabia ao certo: um cachorro? Uma vaca? Um cachorro-vaca mutante? Dora riu da situação. Adorava palhaços.
— Doralice, vem para cá – Concordia disse desconfiada quando a amiga começou a se aproximar o pierrô, todavia, a garota não cedeu e continuo a caminhar na direção do palhaço, não pelos próprios pés ou por influência do ser estranho, mas por hipnose daquilo que ele levava no pescoço: um sapo de jade de olhos vermelhos, o muiraquitã.
Doralice estava cega, surda e muda para o mundo. Só via os olhos vermelhos brilhantes, ouvia o som daquilo que se assemelhava a uma tribo em algum tipo de ritual e falava, sem se dar conta:
— I-Jaci, I-Jaci, I-Jaci – disse, se aproximando cada vez mais do palhaço e do amuleto. As meninas estavam atordoadas. Naty estava mais desperta que nunca. Seus corações estavam acelerados. Até o pierrô pareceu confuso com a situação — I-Jaci – falou pela última vez. E tocou o muiraquitã. A última coisa que viu fora uma centena de olhos brilhantes sobre si. E dormiu. Ou desmaiou. Ou morreu.
— Doraaa – as três gritaram. O palhaço estava indiferente. Após o desfalecimento da mocinha, começou a caminhar na direção das outras, que pensaram em recuar.
Até verem outros dois palhaços a seu redor.
— Esse é o preço que eu pago – Naty disse.

Doralice acordou de repente. Era uma mata fechada e sem trilha. Conhecia aquele bioma: mata atlântica, vivia dentro de uma lá para os arredores do interior do Rio. Não havia alma viva, talvez nem ela mesma estivesse viva mais.
— E eu nem tive uma fala relevante – disse, observando atentamente as redondezas — Será que estou na lagoinha? — e riu — Sempre quis dizer isso.
— Vocês do presente são estranhos – era uma voz estranha. E masculina. Vinha das árvores. Dora olhou rapidamente e se deparou na presença de um homem forte, de olhos azuis e barba longa, na idade dos trinta, com aparência selvagem, ainda que civilizada. Usava roupas típicas do passado. Era bonito. Bem bonito.
— Queem é você? Onde eu tô? — ela perguntou.
— Leo — ele disse, pulando da árvore e estendendo a mão para a mocinha se levantar — e você está no inferno, literalmente.
— Nossa senhora…

Eles não deram explicações. Trancaram Miguel, Maria Flor e Rodrigo em uma torre das ruínas do jardim dos suicidas, tomaram suas varinhas e mais tarde levaram Concordia, Discordia e Natasha para lhe fazerem companhia, a última repetia várias vezes que haviam lhe roubado um colar valioso, que havia ganhado de um gato falante quando saía da psicóloga, bobeiras da embriaguez.
— Eles não deram explicações por terem prendido vocês aqui? — Miguel perguntou a Discordia.
— Deram sim: ou vocês entram ou morrem – disse assustada — e o pior que não deixaram a gente sequer ajudar a Dora...
— O que houve com ela? – Rodrigo perguntou. Concordia sentiu uma pontada de ciúmes.
— Não sei, desmaiou, talvez. Foi alguma coisa daquele palhaço – Discordia disse.
— Deus — Maria Flor bufou, pensativa — Eu sabia que tinha algo de errado, eu sabia. Não se pode confiar em vampiros.
Miguel se surpreendeu. Dessa ele não sabia.
— Vampiros? – questionou. Maria bufou um sim desanimado. — Droga. Como a gente sai daqui agora?
— Só um milagre — Maria disse.
— Então me chamem de Jesus Cristo — disse Rodrigo, se aproximando da porta de madeira com entalhes em ferro. Ele observou atentamente as fechaduras, viu alguns focos de musgo aqui, algumas briófitas ali, folhas de sambaia nos cantos e uma gavinha passando por baixo de porta. Sorriu.
— Que que você ta fazendo? – Maria perguntou.
— Ele é louco – Naty afirmou.
Rodrigo revirou os olhos e começou a sussurrar gracejos às plantas. Exalava um ar galanteador, tinha um sorriso de flerte e sussuros bonitos, que pareciam fazer as plantas felizes, apaixonadas, por se dizer, tanto que começaram a crescer por toda porta de maneira descomunal e volupiosa.
— Isso Briofitinha, meu amor, corroi essa madeira… Samambaia, minha linda, quebra esse aço… gavinha, sua linda, derruba essa porta! – e de fato elas conseguiram. Rodrigo sorriu aos colegas. — Vantagens de ser meio elfo.
Miguel sorriu. As gêmeas babaram. Maria estava concentrada em sair dali. Naty… dormiu.
— Você podia ter feito isso antes, não é? — Maria afirmou. Rodrigo sorriu de modo sarcástico. A garota saiu sem lhe dar espaço para resposta.
— Ela te pegou — Miguel disse. As outras concordaram.
Todos saíram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.