Castelobruxo - Aliança Enfeitiçada escrita por Éden


Capítulo 1
Capítulo 1 - Samambaias Sumidas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Ao Sr(a). Portador dessa carta, minhas sinceras saudações da Castelobruxo, escola de formação de bruxos de toda América do Sul. Convidamos o Senhor Fonseca, Miguel, para fazer parte do corpo discente de nossa instituição. Caso ainda sinta interesse em ingressar nas aulas, apresente-se imediatamente ao Jardim Botânico Flor do Guarujá, entre as papoulas gigantes e as rosas trepadeiras. Por obséquio, confira se nenhum Pero se encontra por perto antes de entrar na samambaia.

Ps: Levando em conta os incidentes feéricos do ano passado, retiramos as Fadas Turquesas do jardim e as deslocamos para o Matão.

Ps²: Não irrite as estátuas da entrada, a Senhorinha Estatua de Filomena Pinto, já esta autorizada a estapear aqueles que a irritem.

Ps³: Saiba que o tapa de uma mão de puro mármore pode quebrar seu pescoço.

Atenciosamente, Srta. Dellila, Isabel.

Castelobruxo – 2016

Já era a décima vez que Miguel lia e relia a carta que recebera das mãos, ou melhor, das garras de uma águia. Ano passado a entrada para Castelobruxo era mais visível: um círculo de rosas negras aqui, no jardim botânico, mas nenhum bruxo nunca levou em consideração que crianças humanas poderiam querer brincar no meio das flores. O resultado foi o incidente com as fadas, que atrasou os estudos da escola em um ano.

Miguel esta iniciando em 2016, o que devia começar em 2015. Quinze anos de vida, geminiano, gay e fechado, além de perdido, como esta agora, tentando descobrir como entrar na escola. Nenhum bruxo passava ali por perto. Também, foi deixar tudo para o ultimo momento, todos já deviam estar tomando açaí, debruçados a suas camas e descansando, tudo que ele queria fazer no momento.

De quando em quando, coçava seus cachos negros e mordiscava o canto inferior do lábio. Estava prestes a começar a roer suas unhas de preocupação. Se pelo menos ele tivesse uma varinha, mas no Brasil, diferente das escolas inglesas, ele não pode simplesmente chegar a uma loja e escolher a que agrada. Aqui, o bruxo deve fabricar a própria varinha, de acordo com itens que a natureza lhe oferece, aquela clássica baboseira de se unir ao natural.

─ Parece perdido ─ exclamou uma voz estranha, surgindo de cima das goiabeiras. Miguel desviou seu rechonchudo rosto de imediato e encarou um rapaz, aparentemente da mesma idade, que se debruçava sobre os galhos da árvore, a procura de frutas. Era um rapaz de cabelos castanhos curtos, olhos negros e corpo franzino, mas tinha pinta de boa pessoa. Miguel escondeu sua carta no bolso, pensando que era um Pero curioso. ─ Não precisa esconder ─ disse ele, saltando da árvore e fuçando em seu bolso, retirando uma carta amassada e suja ─ eu tenho uma também. ─ então, abriu um sorriso simpático e estendeu a mão ─ Rodrigo, maix geral me chama de Carioca.

Miguel relutou aceitar o aperto de mão. Era tímido e não costumava falar com estranhos, mas Rodrigo parecia simpático.

─ Miguel. Prazer ─ disse o rapaz, com um sorriso amigável, apertando a mão de Carioca. Depois, retirou a carta do bolso e voltou a ler, pela décima primeira vez ─ É sempre simples assim chegar até a escola? ─ ironizou o rapaz, arrancando uma gargalhada de Rodrigo.

─ Uma vez meu primo teve que escalar uma árvore, pois a entrada ficava dentro do ninho de um abutre. Detalhe que ele estava em um bosque, precisou subir uma a uma, para no fim dexcobrir que a árvore com o aviso era a correta. Foi um truque para pegar Peros, mas centenas de bruxos caíram. Acho que só os da Golfinos pensaram em subir na mais óbvia primeiro ─ disse o jovem, agarrando uma maleta escondida atrás de um arbusto de papoulas, depois, suspirou, ajeitou o cinto e fitou Miguel ─ Você vem ou vai ficar a ver caravelas?

─ “Ver caravelas” que diabo de ditado é esse?

─ Foi como ficaram os índios, vendo os portugueses levando tudo e deixando eles sem nada ─ e então gargalhou, caminhando em frente, com a mala a tiracolo. Miguel foi atrás, percebendo a confiança do carioca ─ Então, vens de onde? ─ perguntou, enquanto observava o lugar onde pararam: uma espécie de cúpula, rodeada de trepadeiras e samambaias gigantes.

─ Minas. Pelo amor de Deus, não pergunte se eu como pão de queijo todo dia.

─ Porque eu perguntaria isso? ─ ironizou Rodrigo, finalizando com uma gargalhada. Depois, parou de andar pela cúpula e parou na frente de uma samambaia enorme, que parecia dançar. O curioso é que ali não batia vento para mover a planta, ela estava viva ─ Achei uma madurinha aqui!

─ Samambaia madura? Isso é uma planta ou uma fruta? – perguntou, confuso.

─ Me admira um bruxo brasileiro que não conheça a Samambaia daqui-dali ─ disse o rapaz. Miguel se aproximou curioso para saber o que tanto entretinha o futuro amigo. Para sua admiração, o Carioca acariciava a planta, enquanto as pontas de seus dedos se iluminavam. Só então Miguel percebeu uma protuberância pontiaguda nas orelhas de Rodrigo. ─ Estranhas, não? Pelo menos os as garotas curtem minha vibe élfica... ─ ponderou o rapaz, deixado Miguel curioso e admirado ao mesmo tempo, o rapaz sempre gostou de matérias que envolvem criaturas mágicas.

─ Isso é tão... barro! ─ citou Miguel, não tendo palavras para descrever sua curiosidade.

─ Que? ─ perguntou o Elfo, confuso.

─ Me admira um Elfo que não conheça Mean Girls ─ retrucou Miguel, arriscando-se a dar uma leve gargalhada. ─ Fiquei em choque quando descobri que a Rachel Mcadams era uma elfa da lua... ─ disse o gordinho, tentando não perder o assunto. Rodrigo se pôs de pé e estalou os dedos, fazendo a luminosidade sumir.

─ Então, quer ir primeiro? A samambaia esta bem mansa agora! ─ disse o elfo, carismático, Miguel abriu uma expressão perdida no rosto, o que ele quis dizer com “ir”. Rodrigo percebeu de imediato a insegurança do amigo, agarrou sua mala e tomou a frente ─ Vou primeiro para você ver como é. Não precisa ter medo.

─ Tudo bem. Não vou ter.

─ Ótimo, te vejo em Castelobruxo! Haha ─ disse o Elfo, dando um passo em frente, ficando em cima da planta, esta que, começou a envolver suas enormes folhas nas pernas de Rodrigo e subindo, tornando o carioca em um casulo de planta. Depois de segundos, o rapaz foi completamente envolvido e por um instante a samambaia parou. Arrotou e, em questão de segundos, Rodrigo havia desaparecido e suas folhas desabrocharam calmamente.

─ Quanta dignidade, ser comido por uma planta gigante e depois arrotado... ─ resmungou o rapaz, agarrando sua mochila e subindo em cima da samambaia, que, de má vontade após ser ofendida, começou a envolver Miguel, que ficou imóvel, bem no momento que surgiu uma maldita coceira na ponta de seu nariz. Em poucos instantes, alguns a mais que levou com Rodrigo, o jovem estava envolvido pelo casulo e aguardando o arroto, que nunca vinha ─ Vai lá, eu preciso chegar à escola antes da cerimônia das casas! ─ suplicou ele, fazendo a samambaia ponderar e aceitar. Enfim, ela arrotou, e uma espécie de túnel surgiu por baixo de Miguel, que caiu nele e começou a escorregar. O rapaz podia ver centenas de outros tuneis, indicando que existiam muitas outras samambaias como aquela. Em pouco tempo chegou ao destino, sendo cuspido por outra samambaia e caindo de cara em um chão de grama, com um caminho de tijolos dourados em mosaico à frente.

─ Ela não goxtou de você... ─ disse Rodrigo, estendendo a mão e ajudando Miguel a se levantar.

─ Descobriu isso depois ou antes dela me regurgitar, mirando minha queda no chão de tijolos? ─ ironizou Miguel, se pondo de pé e limpando a camisa.

─ Acho que antes, haha ─ disse o Elfo, encarando algo por detrás de Miguel, que, curioso, virou-se e se pôs a admirar junto do amigo a maravilhosa construção: Feita de puro ouro, ou algo para imitar ouro, tinha mais de dez metros, como um templo antigo. A cada andar uma diminuição no perímetro, como um triangulo. Além da torre principal, haviam outras quatro, menores e menos chamativas. Um lindo jardim, cheio de estátuas vivas, com as quais os alunos conversavam, uma densa floresta que rodeava toda a academia e uma temperatura amena, sem mormaço típico da Amazônia ou calor exagerado. Miguel sorriu. Aquilo era maravilhoso.

─ Ei, o que estão fazendo aqui? ─ exclamou uma voz feminina, com tom irritado. Miguel olhou ao redor e não viu ninguém, Rodrigo foi mais esperto e descobriu que a voz vinha do alto imediatamente: era uma mulher de idade avançada, cabelos louros malcuidados, preso em dois coques, distribuídos ao lado das orelhas, ela estava em cima de uma vassoura, com o vestido verde escuro cobrindo todo bastão. Vendo o silêncio dos garotos, a mulher deu um impulso e a vassoura desceu. Com um olhar frio, foi tratar com os rapazes ─ Aldrina Moreira, História Mágica... ─ ela encarou os jovens ─ e quem são os senhores?

─ Rodrigo Pavanelli ─ respondeu Carioca, cabisbaixo. Aldrina vociferou um cansativo “hum” ergueu as sobrancelhas e revirou os olhos. ─ Deve estar surpresa, mais um Pavanelli! ─ exclamou Carioca, tentando deixar o momento mais cômico. Aldrina deu de costas, agarrou a vassoura e começou a caminhar.

─ Surpresa estaria se tivesse um ano sem vocês.  ─ respondeu a mulher, fria ─ Venham comigo, a Cerimonia das Quatro Pontas já começou... ─ disse ela, sem sequer virar o rosto. Miguel e Rodrigo agarraram suas malas e correram atrás da mulher. O primeiro ponderou se devia ou não dizer seu nome, afinal, Aldrina se esqueceu de perguntar.

─ Miguel. Miguel Fonseca Apogeu. ─ disse o rapaz, fazendo Aldrina parar, a mulher começou a fitar o chão, tremendo como um ator em sua primeira apresentação. Depois, virou-se e encarou Miguel, como se este fosse terrivelmente assustador.

─ Desculpe, você disse Apogeu? ─ perguntou ela, assustada.

─ Sim, é o sobrenome do meu pai.

─ E seu pai é bruxo?

─ Não. Ele é Pero. Assim como todos da minha família.

─ Então é apenas coincidência... ─ disse Aldrina, voltando a caminhar em frente.

Rodrigo e Miguel vieram atrás, observando o jardim das estátuas, onde foram muito bem recebidos por Dom Pedro II, montado em seu cavalo. Passaram pela Senhorinha Filomena Pinto, que acenava e dava doces gargalhadas. Enfim, chegaram ao Pátio Xadrez, a qual o chão em quadrinhos pretos e brancos da nome ao local. Ao lado de cada torre escolar, se encontravam peças do jogo em tamanho humano, agrupadas como se estivessem bolando uma estratégia para o jogo.

Aldrina parou em frente à porta da primeira torre, aguardou a chegada dos rapazes e empurrou a porta, caminhou em frente junta dos jovens e chegaram a um corredor, onde outros garotos e garotas aguardavam para passar pela enorme porta de madeira, todos na mesma faixa etária de Miguel e Rodrigo. Uma bela moça de cabelos ruivos ondulados veio a encontro com Aldrina e com os rapazes.

─ Onde os encontrou, Aldrina? ─ perguntou ela, jogando seus cabelos para trás e encarando os rapazes.

─ Vagabundeando no jardim. ─ respondeu ela, fria, depois deu as costas e caminhou para dentro do salão. A ruiva sorriu simpática, passou a mão no cabelo de Miguel e os puxou para junto do grupo de alunos que aguardavam concentrados, atraindo a atenção de uma garota com olhar curioso.

─ Às vezes ela sabe ser chata... ─ disse a ruiva, sorridente ─ Betina. Astrologia. ─ ela encarou os rapazes de cima a baixo, percebendo que faltava algo ─ E quando pretendem colocar seus uniformes? ─ perguntou ela, preocupada. Miguel e Rodrigo se entreolharam de cima a baixo, agarraram as malas e retiraram seus delicados uniformes, feitos da pura seda verde escuro, com detalhes em branco que, mas adiante, vão mostrar utilidade.

─ Onde a gente pode se trocar? ─ perguntou Miguel, com vergonha de se despir na frente de tanta gente. Betina fez uma expressão de preocupação, retirou do nécessaire uma varinha e mordeu o canto do lábio.

─ Aqui mesmo, segurem seus uniformes na frente do corpo! ─ disse ela, convicta. Rapidamente Miguel fez o que ela mandava, segurou-o pela gola e fechou os olhos, já Rodrigo acabou segurando o uniforme ao contrario, sem que Betina visse, esta que, murmurando os feitiços, revirou a varinha como uma chave em uma porta e se preparou para a magia ─ VISUM VESTIMENTUM! ─ exclamou a moça, fazendo os uniformes dos garotos ganharem vida e envolverem-nos instantaneamente. Como era de se esperar, o de Miguel estava bem posto, mas o de Rodrigo estava errado, mas já não havia mais tempo de arrumar, as grandes portas se abriam e os novatos caminhavam para dentro em fileira, se pondo ao redor do desenho de uma estrela de quatro pontas no chão. Professores, diretores e personalidades importantes se encontravam em uma espécie de “varanda”, acima dos demais alunos, estes que se distribuíam em centenas de mesas pelo salão, algumas até flutuantes.

Miguel estava curioso para saber o que faziam ao redor do desenho da estrela, mas antes que pudesse perguntar a Rodrigo, uma distinta senhora da varanda de pessoas importantes se amarelo, bebe, faz umas caretas e conquista gargalhadas dos alunos.

─ Agradeço a Professora Isis pela ‘deliciosa’ bebida microfone. ─ ironizou ela, fazendo uma senhorinha baixinha da varanda gargalhar ─ Enfim, desculpem pelo atraso na cerimônia, tivemos problemas com dois fujões... ─ ela encarou Miguel e Rodrigo, sorridente ─ Para quem não sabe, sou Alba, a diretora da Castelobruxo. Sejam todos muito bem vindos a retomada das aulas depois dos incidentes do ano passado. Aos veteranos, recebam bem os novatos e, aos novatos, um “Sejam bem vindos” a mais. Sem mais enrolação, vamos começar logo a Cerimonia, já estive na pele deles, sei como estão ansiosos ─ e depois, caminhou de volta seu lugar, Miguel percebeu que Aldrina cochichava algo em seu ouvido, deixando-a pensativa.

─ Atenção, por favor ─ exclamou um senhor de cabelos grisalhos, posto ao lado dos novatos. Miguel desviou o olhar para ele, que agarrou um pergaminho, abriu e começou a ler ─ Quando disser seu nome, vá em direção da estrela e se posicione no centro. Maria Flor de Oliveira ─ exclamou ele, atraindo a atenção da garota que curiosa de minutos atrás. Miguel observou bem a jovem, ela tinha traços indígenas e um enorme cabelo preto, parecia simpática e curiosa. Ela caminhou calmamente e parou no local indicado, no meio de quatro pontas. Segundos depois, um feixe de luz azul surgiu de uma das pontas, começou a rodopiar pela sala e se tornou um pequeno golfinho, que, seguidamente, mergulhou no uniforme de Maria flor, tornando o branco azul claro. Sorridente, ela deixou o centro da estrela, caminhou em direção a uma mesa vazia e deu uma leve piscadela para Miguel e Carioca.

─ Golfina, seja bem vinda! ─ exclamaram os alunos golfinos.

─ Continuando... ─ ele ergueu o pergaminho e leu o segundo nome ─ Daiana Lacerda ─ chamou ele, fazendo uma bela loira, de pele bronzeada e cabelos ondulados tomar a frente, espevitada, derrubou e empurrou os alunos seu caminho, foi ao centro da estrela ajeitou seu cabelo e sorriu, mostrando todos os seus dentes. Em instantes um feixe de luz vermelho surgiu da ponta traseira, de cambalhotas no ar e se tornou uma arara, mas antes que pudesse caminhar e ter a cor de sua casa, a frente de Daiana se iluminou em um feixe verde, que cambalhotou e se tornou uma tarântula.

─ Vejo que temos uma Condessa este ano... ─ comentou Alba, se referindo a Daiana.

─ O que é isso de Condessa? ─ perguntou Miguel a Rodrigo, que ainda não havia percebido seu uniforme ao contrário.

─ É quem é escolhido por duas casas. É tipo, bem raro. ─ respondeu ele, observando Daiana caminhando na direção da arara de energia e sendo envolvida por seu rastro vermelho, depois, se aproximou da tarântula e foi envolvida por seu verde, fazendo seu uniforme ficar colorido ─ Isso vai de acordo com o quão puro seu sangue é. Barões tem sangue misto, são escolhidos por uma casa, condes, sangue pouco puro, príncipes tem o sangue quase totalmente puro e são escolhidos por três casas, e, o mais raro de todos, é o infante, aquele com sangue tão puro que todas as casas o querem... ─ explicou o Elfo, vendo os demais alunos fazendo o teste ─ De vez em quando aparece um Conde e eles sempre fazem sucesso em suas casas...

─ Saquei ─ respondeu Miguel, desviando o olhar para o uniforme de Rodrigo, percebendo que algo não esta certo ─ Éer... Carioca?

─ Rodrigo Pavanelli ─ exclamou o homem, fazendo com que Carioca saísse da multidão e fosse para o centro do círculo, logo, todos do salão gargalharam baixinho ─ Teve que travar uma guerra com suas vestimentas, Senhor Pavanelli? ─ perguntou ele, fazendo o rapaz finalmente perceber seu equivoco. Carioca deu uma gargalhada animada, contagiando a todos do salão ─ Deixando os erros de lado, tem certeza que vai fazer o teste? Sabemos bem para que casa você vai ─ ponderou o senhor.

─ Quero sim, sempre quis sentir como se um javali passasse por mim! ─ respondeu ele, percebendo que um feixe vermelho se formava em sua frente, logo, o feixe voou por todo salão e se tornou um javali, indo parar atrás de Carioca. Como seu uniforme estava ao contrario o animal entraria em sua roupa dali. Com a cabeça virada em poucos graus, o elfo pode ver o porco se preparando, arrastando a pata direita para frente e para trás ─ Isso não é nada barro! ─ disse Rodrigo para Miguel. Seguidamente, sentiu um ar quente vindo em sua direção, arregalou os olhos, assustado, e começou a correr pelo salão, com o animal disparando atrás, todos do salão riam e acompanhavam a corrida, que não durou muito, por conta do pé de uma Tarantavélica, que fez Rodrigo tropeçar, cair e ser alcançado pelo javali, que saltou em suas costas e coloriu seu uniforme ─ Extou bem! ─ disse ele, erguendo o braço.

─ Então daremos prosseguimento... ─ disse o senhor, agarrando o pergaminho e lendo o próximo nome com curiosidade, chegando a ajeitar seus óculos para ter certeza que leu corretamente ─ Miguel... Miguel Fonseca Apogeu ─ e então todos os professores se surpreenderam e encaram o rapaz que, em meio aos olhares vorazes, caminhou até o centro da estrela, percebendo que era encarado por todos, sentiu um friozinho na barriga, que sumiu, logo após ele ver um feixe laranja formando em sua frente e se tornando um javali. Então, decidiu caminhar e pegar a cor de seu uniforme, quando percebeu um segundo feixe surgindo, vermelho vivo, que se tornou uma arara. Olhou para os lados, perdido, já estava caminhando na direção da arara quando um feixe de luz verde apareceu ao lado do javali e se tornou uma aranha. Miguel se assustou, deu um passo para trás e viu uma luz azul envolvendo seu caminho, virou o rosto e um golfinho estava al.

─ Eu não...  ─ disse ele, boquiaberto, assim como todos a seu redor. A professora Isis, inclusive, havia caído de sua cadeira. Miguel deu novamente um passo em frente, voltando, ao centro, então, os quatro animais começaram a girar a seu redor, e, um por um, foram transformando seu uniforme em uma verdadeira aquarela. Depois que o ultimo animal entrou em sua roupa, um grande silêncio tomou conta do lugar. Miguel não deu importância aos olhares e caminhou até a mesa onde Carioca se encontrava, se sentou e todos desviaram o olhar para o senhor novamente.

─ Amélia Britânia.

─ Mano você é um Infante! ─ exclamou Carioca, estupefato. Miguel coçou os olhos, sem dar muita importância.

─ Agora fiquei confuso, em que casa estou? ─ perguntou ele, observando que Maria Flor se aproximava pelas costas de Rodrigo.

─ Todas! ─ respondeu ela, sentando-se eufórica ao lado de Rodrigo e estendendo a mão para Miguel ─ Maria Flor!

─ Miguel ─ respondeu o rapaz, apertando a mão da garota, que, seguidamente, estendeu para Carioca.

─ Rodrigo, mas pode me chamar de Carioca ─ exclamou.

─ Espera, eu estou em todas as casas? Onde eu vou dormir? ─ perguntou ele, confuso. Maria sorriu e ajeitou as madeixas negras.

─ Na que você quiser, você vai ter uma cama em cada dormitório. ─ disse ela, convicta ─ Você sabe o que significa ser um infante, não é?

─ Sinceramente, não faço a mínima ideia ─ respondeu, coçando os olhos.

─ Aline Nobre.

─ Você vai ter inumeráveis privilégios! Além de ser famoso! ─ disse ela, eufórica. Migue ergueu as sobrancelhas, confuso.

─ Não entendo... Meus pais, nem meus avós são bruxos... Como posso ter sangue puro?

─ Talvez a magia pulou a geração deles ─ disse Rodrigo, encarando algo no pescoço do rapaz: uma espécie de sapo talhado em uma pedra verde, preso a um cordão ─ Que símbolo é esse?

─ Me admira um bruxo brasileiro que não reconheça um Muiraquitã... ─ ponderou Maria, encarando o sapinho.

─ Era de um ancestral meu... Diziam que ele tinha guardado parte do poder dele aqui, para que seu último descendente possa usar... Era bobagem, até eu me descobrir bruxo.

─ Então você acredita que é o último descendente? ─ perguntou Carioca, curioso.

─ E, o ultimo nome, Angélica Rosa.

─ Não, mitos não me convencem em nada... ─ respondeu ele, desviando o olhar para Alba, que novamente bebia o liquido e se preparava para falar.

─ Espero que se familiarizem com os membros de sua casa e encontrem novos amigos. Nós, do corpo docente da escola, desejamos que tenham um ano maravilhoso, especialmente para nosso raro colega Miguel, o primeiro Infante que estuda nessa escola em dez séculos. Sem mais delongas, dou o ano escolar por iniciado. Bem vindos a Castelobruxo.

 


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