P.O.V Manuela:         

Subo as escadas e vou para meu quarto. Pego meu notebook e faço uma ligação por webcam para Kim e Sarah. Espero que ainda estejam em casa.

 — Oi para quem fez a ligação — Sarah é a primeira a atender. Com certeza, estava navegando na internet avaliando as últimas tendências da moda. — Manu? Ah, Manu. É você! Sabia que iria ligar de volta, mesmo demorando um pouquinho...

— Demorei porque recebi visitas. E oi, Sarah — respondo.

— O que aconteceu?! — Kim ‘’surge das sombras’’ na ligação. Ela está com uma cara de quem teme o pior, então muda para sua expressão normal. — Ah! Sarah, pediu para você ligar... Tinha esquecido.

— Manu recebeu visitas! — diz Sarah, animadíssima como sempre. Sarah é um pouco do estilo ‘’patricinha’’, mas, quando estudávamos juntas, ela usava esse seu ‘’estilo’’ a nosso favor. Ela deve estar pensando que vou falar de roupas, garotos, festas, inimigas... Ela é realmente uma pessoa previsível (e estranha).

— Me chamaram para dizer isso? Duas ligações por dia são raras e significam que algo aconteceu. Então foi só isso que aconteceu? — Kim está com uma cara de tédio/raiva. Parece que, pelo jeito que chegou e que está agora, havia realmente se preocupado.

— O.k, mas não aconteceu nada. Tirando, talvez, um pequeno fato... – começo, pensativa. — Noah e Cindy apareceram aqui, á pouco tempo. Isso serve como acontecimento... importante?

— Noah?! — diz, ou melhor, grita Sarah. Eu assinto com a cabeça. — Por que não disse logo, Manu?! Cadê ele?

— Vai com calma, Sarah — diz Kim, repreendendo a loira. — O que vieram fazer?

— Longa história, mas enfim: acho que o momento das apresentações chegou... — digo e Sarah dá pulinhos de alegria.

— ... Espera! Não posso me apresentar com essa roupa! E esse cabelo?! — Sarah entra em pânico. Eu avisei que ela tinha um estilo ‘’patricinha’’.

— Não precisa de tudo isso, Sarah! Deu! Chega de drama! — Kim e Sarah tem um relacionamento meio complicado, mas não conseguem viver uma sem a outra. Como eu disse, amizade.

— Mas o meu cabe... — Sarah começa, mas é logo interrompida por Kim.

— Está ótimo! — Sarah olha para Kim suplicando por mais argumentos para realmente acreditar que está tudo certo. Kim revira os olhos, mas satisfaz o desejo de Sarah. — Lindo! Perfeito! Maravilhoso! Divo! Esplêndido! Belíssimo! De dar inveja!

— Mesmo? É que eu acho que... — Sarah começa novamente, mas desta vez, eu a interrompo.

— Sarah, está tudo perfeito com você. Está linda, ou melhor, é linda! Entendeu? — ela sorri e assente com a cabeça. Kim lança-me um sorriso de ’’bom trabalho’’.

— Então, agora que já estão todas prontas, posso chamá-los? — pergunto.

— Ou você poderia levar seu notebook lá pra sala... — observa Sarah.

— Imagine qual seria a reação deles. Ficariam meio tímidos. É melhor trazê-los para cá — Kim opina.

— Está decidido. Já volto, o.k? — digo e elas assentem.

Saio de meu quarto e, enquanto desço as escadas, ouço um som familiar.

Devo estar delirando., penso. Saia de mim, música viciante!

Enquanto passo pela cozinha, o som se intensifica.

Minhas alucinações são bem reais. Ou estou ficando completamente pirada...

Chego na sala e paro na porta.

O que vejo não confirma meus pensamentos. Isso tudo é real, não estou delirando.

A cena que vejo é Noah e Cindy jogando no XBox 360 Rock Band 3. Cindy está cantando no microfone e Noah tocando bateria. Eles cantam/tocam Radioactive, da banda Imagine Dragons.

Estou surpresa. Não esperava por isso. Nunca imaginaria que Noah toca bateria e, muito menos, que Cindy canta – devo acrescentar que sua voz é belíssima.                           

Graças à Deus, não estou pirada oficialmente!

Eles não notaram minha presença. Uso este fato a meu favor e, sorrateiramente, pego a guitarra – único instrumento que ainda não está em uso e que, se me permitem dizer, toco muito bem – e fico parada atrás deles.

De repente, o refrão chega e, com ele, temos uma participação incrementadora: a guitarra.

A primeira reação de Noah e Cindy é virar rapidamente para ver o que está acontecendo.

Noah sorri normalmente e continua tocando bateria. Cindy lança-me um sorriso sem graça, mas, quando percebe que não estou brava ou qualquer coisa do tipo, abre um enorme sorriso de felicidade e, não sei como, alcança uma nota totalmente aguda e a mantém por um tempo – poderíamos chamar de high note. De tão lindo que foi o momento, nem consigo descrevê-lo direito!

— ♪‘’I’m waking up, I feel it in my bones. Enough to make my systems blow. Welcome to the new age, to the new age. Welcome to the new age, to the new age. Whoa, whoa, I'm radioactive, radioactive. Whoa, whoa, I'm radioactive, radioactive.’’ ♪ — Cindy canta o refrão lindamente e com visível emoção. A música acaba.

Todos olhamo-nos e sorrimos felizes.

O jogo ‘’avisa’’ que a próxima música é Mulher de Fases – Raimundos, uma das músicas que eu sempre costumava tocar e cantar com Kim e Sarah.

Kim e Sarah.

Talvez eu tenha esquecido delas...

— Pause o jogo! — digo o mais rápido possível. Noah me olha assustado, se estica, pega o controle e pressiona o botão ‘’pausar’’ o mais rápido possível também.

Pontos de interrogação e exclamação são quase visíveis em cima da cabeça dele e de Cindy.

— O que foi, Manu? — pergunta Cindy com uma expressão assustada.

— Se lembram da surpresa? — eles assentem. — Então... Talvez eu tenha deixado a surpresa esperando...

Com certeza, eles estão confusos.

— Enfim, esperem aqui e não deem play na música, por favor — digo e subo as escadas com uma rapidez impressionante.

Na frente da porta de meu quarto, consigo ouvir pessoas – Kim e Sarah – falando:

— Ela, com certeza, nos esqueceu aqui! Mas como consegue esquecer uma pessoa tão linda como eu?!

— Sem drama, Sarah. Mas, devo concordar, ela esqueceu da gente. Essa Manu...

— Agora, meu cabelo já deve estar horrível! Argh!

— Não comece com isso de novo, senão você terá um motivo verdadeiro para reclamar de seu cabelo.

— Mas isto é um motivo verdadeiro!

— Sarah!

— Kim!

— Mil desculpas, garotas — digo entrando no quarto e impedindo, de certa forma, uma possível futura briga por webcam.

— Já estava na hora de aparecer! — Sarah diz.

— Você está certa, eu sei, mas agora não é o momento para discutir sobre isso. Precisamos descer lá embaixo.

— Precisamos descer lá embaixo?  — pergunta Kim. — Pra quê? Eles não iriam subir? 

— Talvez sejam sedentários como você, Kim — ela não poderia perder essa piada. Kim lhe lança um olhar mortal e Sarah sorri de forma fofa.

— Sigam-me, quer dizer, fiquem aí.... Não, devem ir junto... Argh! Deixem-me levar o notebook lá pra sala — me perco um pouco nas palavras, mas consigo finalmente explicar o que quero fazer. — Enfim, vocês entenderam!

— Outra surpresa? — pergunta Sarah animada.

— Vocês vão adorar.