Almas Presas escrita por Gregorius


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

ME DESCULPE FORTEMENTE PELA GRANDE DEMORA!
Mas agora posto o último, dessa história que me fez muito feliz.
Obrigado por quem acompanhou, obrigado muito muito mesmo.
foi maravilhoso.



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As portas do bar passaram por cima da minha cabeça e caíram com estrondo sobre alguma superfície de vidro.

Ben estava ofegante na frente de onde algum dia existiu uma porta, que sem nenhuma explicação ele a destruiu. Logo atrás tinha Caliel, Kath, Safira e tia Aurora, seriam meu esquadrão de salvamento, mas a felicidade de os ver se foi tão rápida quanto chegou, porque as pessoas “possuídas” não se importaram nem se assustaram, na verdade pareceram gostar.

— Olha só, até que enfim vamos ter a chance de nos entender, não é mesmo Ka-the-ri-na? – Florenzza se parecia com uma psicopata vestida de branco e o cabelo bagunçado – você sabe que a maneira mais divertida de se entender com um inimigo é o matando?

Caliel entrou na frente de Kath, a defendendo

— Acho melhor não dar nenhum passo a mais, não bateria em uma garota, mas minha ética não diz nada sobre você – ele segurava uma barra de ferro com tanta força que cheguei a imaginar ele a amassando.

Florenzza fingiu surpresa e deu um passo atrás seguido de uma gargalhada e um movimento de braço que jogou Caliel na parede, sem nem mesmo tocá-lo.

Logo, um dos “possuídos” estava com as mãos nele, na tentativa de sugar a energia vital, assim como Florenzza fez comigo, mas foi surpreendido pelo toque de Safira que o queimou.

Eu não fazia ideia do que estava vendo ali, talvez eu tivesse sido drogado, porque aquilo era quase uma versão aterrorizante do “X-MEN”.

Um dos outros caras, que tinha um cabelo loiro e se vestia como um executivo, contorceu o pescoço e sorriu correndo pra cima de Benjamim e tia Aurora, levando todos os vidros e objetos das prateleiras altas que decoravam o bar, invocando uma chuva de cacos.

Teria sido mortal caso Aurora não agisse rápido e levantasse uma cortina de fogo sobre eles.

Enquanto ela mantinha o fogo os separando, se descuidou e deixou que uma moça bonita chegasse por suas costas e a atingisse com um objeto, algo que lembrava uma corda prateada. A cena foi aterrorizante, as mãos de tia Aurora se contorceram para dentro, como se tivessem quebrado, a cabeça girava de um jeito estranho, então seus olhos se reviraram e ela gritou e depois se engasgou como se fosse vomitar e foi nesse momento que várias coisas pretas saíram da sua boca, e percebi que eram na verdade, cobras.

Eu não queria ver, mas queria fazer alguma coisa, ajuda-la, no entanto não conseguia nem sequer me levantar, então gritei:

—Florenzza! Sua desgraçada, deixe a minha família em paz, você já conseguiu o que queria, não é? Invocou os seus demônios, se juntou a sua raça, agora me deixe, vai embora, volta para o lugar de onde você veio, eu nunca precisei de ti... Era mais feliz antes.

Florenzza o encarava com uma mistura de sentimentos, uma expressão confusa, ao mesmo tempo que tentava ser indiferente, se mostrava pestanejando. Mas sua máscara sempre permanecia, forjada em aço.

—Biscoitinho? Que isso – sorriu destruidora e venenosa – está me dando ordens? – se abaixou até estar com os olhos na altura dos meus – você não consegue me enganar, somos iguais e estamos ligados. Eu dei um sentido a sua vida, você saiu do meio termo, da esquina, do cinza que a sua existência sempre foi.

As palavras dela levaram consigo a confiança de Gregorius, e ele não passava de uma criança tentando se mostrar forte no meio de gladiadores.

—Você realmente acha que eu me importo com você, com seus amigos ou sua família, biscoitinho? – e um tom amargo jorrou da maneira como disse.

Tiros

Ericko estava na entrada com uma arma na mão e tremia assustado. Foi então que percebi que ele havia atirado na moça que atacou tia Aurora.

Num raio Caliel aproveitou-se da distração e derrubou Florenzza com a barra de ferro, como se ensaiado Kath correu até mim.

—Anda Greg, se esforce – passou o obro por debaixo do meu braço e logo Caliel fez o mesmo do outro lado, e me levantaram. – Caso sobrevivamos a isso, você não vai durar muito mais depois que eu me vingar de ti.

— Mas minha tia, Safira... Ben?! – Gritei após sair do lugar, mas nem eles sabiam o que poderia acontecer.

— “Quod avibus in cibum. Attack!” – um dos possuídos invocou uma nuvem escura que saiu de dentro dele e se transformou em aves comedoras de carne que trombavam umas nas outras enquanto definiam um alvo, que no caso era Ericko.

Benjamim estava o defendendo, sugando toda essa energia de magia negra para si e a destruindo, mas isso o deixava tão fraco que quando terminou não conseguia se manter de pé.

Safira apenas protegeu Aurora e a si mesma até a saída, enquanto Ericko levou Ben.

No primeiro momento Gregorius não entendeu o que estava acontecendo, não era assim que podia terminar, todos os livros que ele gostava de ler quando criança e depois que cresceu também, o bem sempre vencia o mal, e não o contrário. Eles estavam fugindo, e isso lhe parecia muito errado.

Quando já pelo lado de fora, os possuídos estavam atrás deles, Ericko tinha sua pistola na mão, Caliel, sua barra de ferro que segurava como um taco de beisebol, enquanto Safira observava atenta, capaz de atacar qualquer coisa que saísse por ali.

O homem e a garota que ainda permaneciam dentro do bar, não ousaram ultrapassar a entrada, ficaram se debatendo, revirando-se e contorcendo seus corpos macabros junto com  os olhos que reviravam de órbita. Existia algo do lado de fora que os queimavam, feito o sol queima vampiros, no entanto era uma linha feita de sal bento com pedras e ervas, que rodeavam todo o Illusion’s.

— O que é isso? O que tá acontecendo? – Gregorius perguntou olhando para os lados sem acreditar.

— Funcionou?! Funcionou – gritou sorrindo e tremendo, Bem.

— Aurora teve a ideia de fazer a linha de Phelicia, nenhuma alma que queira fazer o mal é capaz de passar por com ela – Safira explicou com a maior expressão de alegria que já demonstrou.

— Eu não sei como isso e capaz e na verdade nem acreditei muito que teria efeito, mas mesmo assim cerquei todo o bar e trouxe minha pistola pra garantir – Ericko disse, mostrando sua arma.

— Até que você conseguisse achar um alvo, nós já teríamos virado um bando de zumbis.

De repente todos tomam noção de que Aurora estava inconsciente.

Era assustador a ver assim com o corpo esticado, os olhos brancos, abertos e revirados, como se morta.

— Ela não morreu, morreu? – Caliel perguntou e levou um cutucão de Kath, por ter falado dessa maneira, sabendo que Greg estava ouvindo.

— Ela só está presa em algum lugar escuro, dentro de sua cabeça...

— Gregorius! – Florenzza apareceu na porta (que não existia mais). Sua pele estava sem cor, olhos totalmente negros e fundos, veias azuis se sobressaindo. – Todos os seus dias, vão se tornar uma grande tortura sem fim, ao pensar que poderia ter sido diferente. Não vale a pena viver uma mentira, correndo pela vida...

—Não escute ela Greg, ela vai te enfeitiçar...

— Ela não tem esse poder, a magia do demônio que a domina não passa pela linha de Phelicia. – Safira afirmou sem tirar os olhos de Florenzza.

Então como se acordado de um longo sono, Gregorius pareceu entender tudo, se levantou devagar e foi caminhando de encontro a porta.

— Cara, o que você tá fazendo?

— Não entra lá Gregorius!

Katherina correu e ficou na frente dele segurando seus braços.

— Se você fizer essa besteira não vou me importar que se foda. Aliás quero muito que tu se foda mesmo.

Benjamim ficou do seu lado.

— Eu posso deixa-lo paraplégico por alguns minutos se quiser.

Greg apenas sorriu de lado, sem mostrar os dentes, com os olhos brilhando de lágrimas e continuou.

— Faremos grandes coisas biscoitinho – sorriu má e o beijou.

Nesse instante Greg a segurou pelo rosto, da mesma maneira que ela havia feito várias vezes, quando queria sugar a vida de alguém e pronunciou em seu ouvido muitas vezes, “eu te amo, Flor” e com seus pensamentos de luz e não escuridão, de nascimento e não morte, de risos e não choros, de festas e não enterros, tudo o que sempre ouviu sua mãe falando. Que as energias são moldadas, “não invoque para perto de ti, maus pensamentos, palavras, intensões e pessoas”.

No primeiro momento Florenzza não entendeu, depois debochou e logo em seguida entrou em pânico, agarrando as costas dele com as unhas e as cravando na carne enquanto gritava horrores.

“Tudo era calmaria, silêncio, estava no meio de um oceano a noite, a água gelada cortava minha pele e o sal fazia meus olhos arderem.

Enxergo um corpo flutuando abaixo da superfície, vou até ele e reconheço.

O corpo na verdade, estava dentro de um caixão de vidro cadeado, então começo a socar com toda força e rapidez possível dentro d’água até que o vidro se trinca e quebra. No momento em que a toco me surpreendo por estar quente como nunca foi.

Mas o caminho para a superfície, diferente do caminho para baixo que é apenas um, foi difícil, pois os braços do oceano tentavam quebrar minhas pernas, me arrastar para a escuridão, congelar meus ossos, me segar, fazer-me desacreditar que a felicidade exista e me afogar antes que veja a luz do dia.

Mas tinha algo dentro de mim que não temia, e foi exatamente isso que me fez a ver diferente fora do mar, mais suave, delicada, dócil, com a pele branca levemente rosada com algumas manchinhas entre o nariz e os olhos.

Então tudo acabou.”

Estava mais uma vez dentro do Illusion’s, reconheci pelo cenário de destruição. Tinha Florenzza desacordada em meus braços e uma dor nas costas, além do cheiro de sangue e a escuridão e a velocidade que os rostos e paredes passavam rodando por meus olhos até que não tinha mais nada.

*

Depois de todos esses episódios, tudo continuou, porque o fim é uma ilusão.

Acordei dentro de uma sala branca com cortinas azuis claras balançando levemente e tia Aurora, sorrindo pra mim com uma expressão cansada. Então eu vi atrás dela, minha mãe e logo meu pai entrou com alguns cafés desajeitados na mão.

Não falamos nada por um longo momento, apenas ficamos abraçados. Pelo visto eu havia ficado “dormindo” por um longo tempo.

— Você nos deu um baita susto menino. – minha mãe disse tentando rir e chorar ao mesmo tempo.

Olhei para tia Aurora, tentado perguntar pelo olhar, o quanto eles sabiam sobre o que havia acontecido, e ela apenas sorriu. Deduzi que não sabiam de nada.

Assim que consegui ficar sozinho com titia perguntei sobre tudo que aconteceu depois e ela apenas disse que não sabia muito, porque também não estava presente.

— E Florenzza?

— Gregorius De Lemond! Você mal acordou de um coma e já tá querendo enfiar esse focinho no redemoinho do coisa ruim de novo?

Ri alto.

— Essa expressão é nova?

— Temos que ir renovando não é mesmo? – ela também riu e ficou séria logo em seguida. – Florenzza não é a mesma que você conheceu, ela está diferente...

— É eu sei! Ela estava diferente mesmo...

— Não, não crie expectativas Gregorius. Ela estar diferente não significa exatamente algo bom.

— O que a senhora quer dizer?

*

Ela estava sentada num banco com as pernas abraçadas por seus braços, o cabelo desajeitado e o olhar longe, não percebeu que eu cheguei e sentei do seu lado.

— Flor – toquei seu ombro.

Ela demorou um pouco pra se virar, já sabia quem era. Quando virou tinha lágrimas pelo rosto.

— Eu sou uma pessoa horrível, fiz coisas que acabaram com quem eu fui um dia – tinha um desespero na sua voz, bem diferente do jeito contido e controlado da Florenzza que conheci. – Você deveria esquecer que eu existo, por que é o que vai acontecer, eu não vou mais existir Gregorius, eu não quero, eu... eu me lembro de tudo... tudo o que fiz, fica aqui virando na minha cabeça as imagens...

A abracei, e era como abraçar outra pessoa.

— Você... precisa aceitar, que eu sempre vou estar contigo, porque eu te amei... eu te amo e vou continuar te amando...

— Não... não vai...

A beijei

— Não coloque palavras na minha boca e pensamentos em minha cabeça. Coloque beijos e me ame do mesmo modo.

Ela chorava e desviou o olhar.

— Eu matei pessoas Greg. Isso não vai mudar. Destruí minha própria família...

— Não! Pare de dizer isso! Não foi você.

Então ela soltou as pernas e vi que estava escrito várias vezes de caneta preta: “Greg, me perdoe. Amo você.”

Encostou a cabeça no meu ombro, e olhou pra mim.

— Não me solte. Não me abandone. Não me deixe aqui.

— Eu não vou a lugar algum.

Então ela sorriu e eu sorri por ela estar feliz. Toquei sua mão e a segurei forte e ficamos ali, sentados num banco dentro de um jardim, cheio de borboletas amarelas.

É preciso querer que algo de certo. Independente de tudo, o bem sempre é maior, o amor vence e tolos os que acreditam que isso é apenas um clichê. Felizes os que fantasiam, que riem por tudo, os que acreditam na humanidade e que nada está perdido. Porque de fato, não está.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Obrigado
XOXO



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