Capítulo 15 - Tudo cor de rosa

Ethan despertou com o som de passos no quarto. Abrindo apenas um olho, espiou o relógio de pulso. Ainda era cedo...Voltou automaticamente à cochilar, mas alguns instantes depois sentiu uma pressão abrupta em sua cabeça.

- Ethan, acorda!

Jewel, como sempre, gritando de manhã. Por que mesmo ele havia aceitado viajar com ela?

- O que é? Ainda é cedo... – resmungou ele se sentando na cama.

- Vamos, é hoje! – falou ela empolgada, atirando outro travesseiro, e depois disparando pela porta.

Mal humorado, ele levantou-se e começou a se arrumar. Já fazia uma semana que Jewel estava treinando, finalmente ela iria desafiar a líder da cidade. Isso explicava toda a empolgação. Ethan só tinha um pouco de dificuldade de acompanhar o ritmo da garota...

E então os dois, Ethan sendo apressado pela menina, rumaram para o ginásio. Jewel gritando e pulando pelo caminho, Hades retribuindo o canto de guerra.

Os dois se silenciaram ao entrar no ginásio.

Tudo lá era rosa. As paredes, cortinas, decoração, tudo naquele tom enjoativo e feminino. Tirando, claro, o piso, que era uma cor creme quase branco. Jewel parou olhando para o ambiente, estupefata.

- Que droga é essa?! – falou enfim, recebendo um olhar de reprovação de Ethan.

- Onde está sua educação?

- Desculpa mamãe. – disse ela com um sorriso brincalhão.

Uma moça vestida de branco apareceu saindo de uma porta.

- Sejam bem vindos! – falou ela com simpatia – Esse é o ginásio de Goldenrod, nossa líder se chama Whitney. Posso ajudá-los? – aparentemente ela repetira aquela saudação para todos os desafiantes do lugar.

- Oi, eu sou...

- Jewel, prazer! – gritou a menina interrompendo o amigo.

- Ethan... – ele parecia contrariado.

- O prazer é todo meu. Vieram desafiar nossa líder?

- Isso ai! – Hades pulou ao lado da treinadora.

- Venham comigo então...

Ela os guiou pela porta por onde havia saído, e eles chegaram num salão maior do que o da entrada. Lá tinha uma arena para batalhas e, pasmem, também era cor de rosa.

Whitney estava lá, num canto, sentava num banquinho da mesma cor de todo o resto do lugar, e brincando com um Jigglypuff, um Pokémon cor de rosa.                      

- Whitney. – chamou a mulher.

A menina olhou para os visitantes, e deixou uma exclamação escapar pelos lábios que abriam um sorriso.

- Ah, vocês dois! – ela se lembrava do encontro na loja de bicicletas. – Estava esperando que viessem!

Saltitante, dirigiu-se a eles, cumprimentando os dois.

- Vieram batalhar, não é?

- Claro!

- Ah, mas antes não querem tomar um chá? Eu acabei de preparar... – disse sorridente.

- Seria um... – Ethan interrompeu a frase vendo o olhar de decepção da amiga.

- Nem vem com essa, não gosto de enrolação. – falou Jewel com uma atitude de menina mimada

- Jewel! – repreendeu Ethan.

- Gostei disso – Whitney sorriu – Então, vamos logo para a nossa batalha!

Cada uma se postou de um lado da arena. Whitney estava sorridente, como sempre, e Jewel exibia sua expressão de ansiedade e empolgação.

- Cada treinador pode usar três Pokémons. – a mulher que os recepcionara agora era a juíza da batalha. – Somente serão permitidas substituições ao desafiante.

- Vamos lá! Vai Jigglypuff!

O Pokémon cor de rosa saiu da bola saltitante.

- Lancelot! – ela liberou o parceiro louco por batalhas.

- Ah, que gracinha! – a líder exclamou.

- Energia focalizada!

A garota não podia esperar mais para começar, e já deu ordens para o parceiro. O Nidoran usou o ataque concentrando sua energia. Whitney riu com a empolgação dela e ordenou ao Jigglypuff que usasse inabilitar, que impedia Lancelot de repetir o ataque por certo tempo.

- Não faz mal... – reclamou Jewel contrariada. – Agora, chute duplo!

O Pokémon avançou, atingindo Jigglypuff com uma seqüência de golpes. No terceiro, ele conseguiu se defender, e flutuou escapando do campo de ataque de Lancelot.

- Rolo compressor!

Ainda no ar, Jigglypuff começou a girar e atingiu Lancelot com uma pancada forte, sem dar a ele chance de desviar. Entretanto, ao pousar, o Pokémon rosa demonstrou seu cansaço ao ser atingido pelo ultimo golpe do Nidoran – estava arfante.

- Lancelot, consegue se levantar? – perguntou Jewel concentrada.

Ele confirmou com a cabeça, e pôs-se de pé numa posição ofensiva. Ao ouvir o comando “ataque fúria!”, avançou novamente, pegando o adversário já enfraquecido. Em seguida o atingiu com o chute duplo, deixando o Jigglypuff incapacitado de continuar a lutar.

- Não Jiggly! – exclamou a líder com cara de choro.

- Isso ai Lancelot! Mandou bem! Consegue continuar lutando?

Mais uma vez o Pokémon confirmou a pergunta, orgulhoso do seu belo trabalho.

- Certo, vamos lá!

- Clefairy! – novidade, mais um Pokémon rosa.

Lancelot não podia mais usar a energia focalizada graças ao ataque do Jigglypuff. Jewel teria que usar outra estratégia para derrotar a Clefairy. O chute duplo era um ataque de tipo lutador, portanto mais efetivo contra um Pokémon do tipo normal como ela. Mas o Nidoran já estava um pouco cansado com a batalha anterior, não seria tão simples.

- Lancelot, encarar! – agora a estratégia era diminuir a defesa do adversário.

Ethan observava tudo, quieto e concentrado. Aparentemente Jewel estava pensando para batalhar, o que era muito bom, já que normalmente ela apenas lutava por instinto, avançando sem uma estratégia. Talvez a menina estivesse mesmo amadurecendo...

- Defesa espiral.

O ataque devolvia toda a defesa perdida com o encarar, neutralizando o golpe de Lancelot.

- Tapa duplo.

Lancelot foi atingido, e recuou tentando se esquivar da seqüência do Clefairy, que seguido do tapa duplo usou a pancada.

- Lancelot, evasiva! – exclamava Jewel tentando ajudar o Pokémon. Ele finalmente conseguiu desviar dos ataques. – Isso! Agora, chute duplo.

E os papéis foram invertidos quando Lancelot que começou a atingir o Clefairy com ataques rápidos. Quando o Clefairy se desviou, ele avançou com o ataque fúria, jogando-o para longe. Mas já estava arfante e exausto.

- Agüenta firme! – falava Jewel tentando incentivá-lo.

Lancelot cambaleava de um lado para o outro, quase nocauteado. Respirava com dificuldade.

- Essa é a chance! – Whitney já cantava vitoria. – Pancada!

A Clefairy se preparou para avançar, mas parou quando uma luz estranha envolveu o Pokémon venenoso.

Os olhos de Ethan brilharam de empolgação enquanto Jewel dava pulinhos no mesmo lugar; e o Pokémon que antes era pequeno, foi mudando de forma, se transformando, crescendo, até finalmente tornar-se um Nidorino.

- Por essa eu não esperava. – falou Whitney surpresa.

- Uaaau!! Que maneiro! – e Jewel saltitava comemorando. Mas logo passou sua animação, que foi substituída por espírito de luta – Lancelot, conto com você. Vamos lá, mais uma vez, Chute duplo!

Obviamente Lancelot estava mais rápido, e a pequena Clefairy, confusa. Não teve chances de evitar o ataque agora ainda mais forte, e tombou impotente.

- É! Demais! Ninguém pode com a gente!

- Clefairy, pode descansar... – a líder a chamou de volta para a Pokébola. – parece que agora só tenho mais um Pokémon... Bom, tudo certo. Miltank!

Jewel sacou a Pokédex.

“Miltank, um Pokémon vaca. É um Pokémon calmo que passa a maior parte do tempo comendo e digerindo folhas. No entanto, elas também são teimosas, e se não receberem treinamento adequado, podem desobedecer a seus treinadores. Mas quando bem treinados, são parceiros extremamente fortes.”

- Lancelot...?

O Pokémon estava exausto, sem condições de continuar. Entretanto, quando Jewel fez a menção de puxar a Pokébola para retorná-lo, ele recusou firmemente.

- Jewel, Lancelot está muito fraco. – falou Ethan com sensatez.

Ela moveu o olhar de Ethan ao Pokémon, que se postava firmemente para a luta.

- Vou confiar em você parceiro!

- Ai ai... Nunca me escuta...

- Pronto Lancelot?

- Miltank, rolo compressor!

O ataque veio rápido, ele não conseguiria desviar.

- Droga... Lancelot, picada venenosa!

Lancelot deixou-se atingir pelo ataque, acertando também a vaquinha com a picada venenosa, e por sorte, envenenando-a. Depois disso caiu sem condições de continuar.

- Nidorino está fora de combate – anunciou a juíza.

- Volte... – Jewel o chamou para a Pokébola. – Bom trabalho. Hades, agora é com você.

“Não, Jewel, não!” pensou Ethan consigo mesmo. “O Hades não! Pense um pouco...”

- Ok Hades, pronto para a batalha? – recebeu uma resposta positiva do amigo – Ataque rápido!

- Miltank, sabe o que fazer.

Ela se deixou ser atingida, e então segurou Hades, prendendo-o firmemente e depois o atirando para longe. Enquanto o Pokémon levantava atordoado, Whitney deu o comando:

- Rolo compressor!

Hades foi jogado novamente, e dessa vez teve mais dificuldades de se levantar.

- Hades, agüenta ai... Roda de fogo!

- Miltank, beber leite.

Miltank recuperou sua vida logo que recebeu o ataque, e repetiu a mesma estratégia, segurando Hades e depois o atirando para atingi-lo com o rolo compressor.

- Quilava está fora de combate.

- Como isso foi acontecer...?

- Muito bem Miltank!

- Jewel, devia ter pensado mais! – Ethan não conseguiu mais segurar-se – O Miltank pode usar o rolo compressor, que é super efetivo em Pokémons de fogo! Além disso, tem um ataque fortíssimo, Hades não tinha chance desde o começo.

Ela não tinha pensado em nada disso. Droga, ainda não estava tão boa assim... Tinha que manter a calma. Sim, se ficasse desesperada, não venceria de jeito nenhum. Qual seria a melhor escolha? Respirou fundo.

- Blade!

E da Pokébola saiu o Scyther recém capturado. Mesmo depois do treinamento, essa era a primeira vez que Jewel batalhava realmente com ele. Mas a garota estava confiante no amigo.

- Agilidade.

- Pisão! – ordenou Whitney.

Blade desviou-se facilmente do ataque graças à sua agilidade. Jewel estava séria.

Chegara à conclusão que aquela seria uma batalha de resistência. O Miltank estava envenenado, e a cada instante enfraquecia um pouco. Como Blade era veloz, podia desviar-se dos ataques poderosos, enquanto ganhava tempo e o adversário ficava cada vez mais fraco. Era com isso que ela contava.

- Agilidade, novamente!

- Rolo compressor!

Novamente ele desviou do ataque, mas no meio da trajetória a Miltank mudou de sentido e o atingiu pelas costas.

- Blade, agüenta ai! – a menina suava frio, porém ele se levantou sem muitas dificuldades. – Ufa... Vamos continuar assim!

- Miltank, muito bem, só mais um pouco.

A Miltank já arfava, sentindo os efeitos do envenenamento. Whitney não podia prolongar muito mais a batalha.

- Pisão!

A batalha continuou com Blade se esquivando uma, duas, três vezes seguidas, sendo às vezes atingido. Os dois Pokémons estavam exaustos.

- Beber leite!

Não, não, não! Miltank recuperaria sua vida toda, e Blade estaria encrencado. Jewel não podia permitir isso.

- Rápido, perseguição!

Veloz, antes que Miltank conseguisse se recuperar, Blade a atingiu com força.

- Miltank está fora de combate.

- Vitóriaaaa!!! Mais uma vez nossa heroína comemorava animada a vitória depois de uma batalha difícil...

- Buaaaaa!

Ela parou de pular e olhou assustada para a líder.

- Buaa!! Snif! – Whitney sentara-se no chão, chorando e fungando. – Como você é má... Não acredito... Perdi... Meu Miltank... BUAAAAAA!

- O que deu nela? – perguntou Jewel.

- Ei, Whitney... Calma... – Ethan correu ao lado dela e tentou acalmá-la – Não precisa chorar...

- De novo não... – falou uma voz feminina.

Os dois olharam para a juíza, que andava para eles suspirando.

- Ahn... O que ta acontecendo? – questionou Ethan.

- Isso sempre acontece quando ela perde. Nem liguem – ela parou ao lado de Whitney. – Vamos, levante-se. Eu vou fazer um bolo.

- Snif... Vai mesmo...?

- Sim.

- Então ta bom – ela levantou-se sorrindo, nem parecia mais que estava esperneando uns instantes atrás.

- Certo... Isso foi estranho – falou Ethan no ouvido da amiga.

- Ainda acha ela bonitinha? – Jewel o provocou.

- Esquece...

- Aí, a minha insígnia! – Jewel gritou quando a garota já ia se retirando da arena.

- Insígnia? Ah, sim, claro, já ia me esquecer. Aqui está, a Insígnia Lisa.

- Legal! – Jewel pegou o objeto com cuidado, admirando seu brilho. – Vitória!