Entre Irmãos escrita por Okaasan


Capítulo 2
Um dia para recordar


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Demorei, mas voltei.

Recomendo ouvir "Heal the World" de Michael Jackson durante a leitura *-*



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Quinta-feira, véspera de Natal, manhã. O celular de Sesshoumaru emitiu um toque baixo — era o caçula ligando. Por sorte, o escritório estava vazio no momento. Atendeu rapidamente:

— Aconteceu alguma coisa, Inuyasha?

A voz meio rouca e ofegante respondeu:

Aconteceu. O meu coração parou. Morri e minha alma resolveu bater um papo contigo.

— Pois então, alma do Inuyasha, avise a ele que nada de morrer até pagar a conta de internet desse mês. Já paguei as duas últimas sozinho.

Keh! — resmungou o hanyou. — Você não sabe brincar?

— Vai, fala logo o que você quer, seu inútil. Eu estou ocupado.

Vamos comemorar o Natal esse ano?

— ...

Ah, o que custa, hein? Luzinhas, um vinho Château Margaux, arroz colorido, frango frito do Kentucky...

— Você por acaso sabe quanto custa uma garrafa de vinho Château Margaux?

Eu não, só sei que é o vinho que Rossini gostava.

— Rossini? Desde quando você ouve ópera?

— Não ouço, só chutei o nome desse cara porque você é quem curte ‘O Barbeiro de Sevilla’. O Château Margaux é muito caro?

Sesshoumaru revirou os olhos e suspirou aborrecido.

Tá, a gente toma cerveja no lugar do vinho...

— Não banque o engraçado, você não pode tomar bebida alcoólica! E desde quando você liga pro Natal, idiota? Essas datas são apenas comerciais, é só um motivo para fazer as pessoas gastarem e namorarem!

Que se dane a data que é comercial, seu maldito... Kagome sempre dizia que o Natal era a época em que as famílias se reúnem pra comer e se divertir... Eu só queria descontrair um pouco... — disparou Inuyasha, tossindo um pouco. — Com você.

Pausa. Outro suspiro.

— Olha, Inuyasha... Não vou te prometer nada, mas vou pensar no assunto. Acho que dá para comprar pelo menos um bolo de creme com o dinheiro que tenho...

Sério?! Que massa, Sesshou-kun! — o youkai, torcendo o nariz ao ouvir aquele apelido, visualizou o irmão sorrir do outro lado da linha. Inuyasha era uma verdadeira criança, quando se tratava de comida.

— É, é. Agora vou desligar. Ah! Se você quer uma Ceia de Natal, sabia que só vou comprar as coisas se a casa estiver limpa e organizada. Arrume a bagunça, mas vê se não exagera. Tomou o sublingual hoje?

Tomei — mentiu ele.

— Ok. Não precisa lavar os tapetes.

Falou! Vê se não demora, Sesshou-kun! Eu... — tosse. — É ruim sem você aqui.

Sesshoumaru percebeu uma nota triste naquela frase.

— Inuyasha... Eu sei que sou sexy e muito cobiçado por todo mundo, mas não curto homens. Mas se quiser eu te passo o telefone de um moreno que trabalha aqui no prédio, ele...

Keh! Cale essa boca, Sesshoumaru, seu filho da...

O youkai branco desligou a chamada, dando uma rara e genuína gargalhada.

Do outro lado, Inuyasha, que já tinha limpado e organizado o pequeno apartamento, descansava o corpo fatigado no sofá, enquanto esperava sua frequência cardíaca normalizar. Havia jogado o sublingual do dia na privada, junto com o hipotensor. Decidira passar aquele dia livre, sem remédios, e burlar Sesshoumaru, que controlava minuciosamente sua medicação.

Vendo que, aos poucos, o mal estar ia embora, foi para o quarto. Ligou o computador e, no site da Okayama Daigaku, inscreveu Sesshoumaru Kishimoto¹ para o vestibular de medicina do ano seguinte. Gerou o boleto e o pagou via internet banking, com o dinheiro que tinha reservado para sua próxima consulta com o cardiologista particular. Após colocar sua playlist favorita para tocar no computador e aumentar o volume, Inuyasha foi tomar um banho e lavar com esmero seus cabelos, que permaneciam fortes e sedosos — sua verdadeira e única vaidade. Riu alto sob a água, ao se lembrar do seu irmão se tornando humano pela primeira vez.

Era inverno; as guerras prosseguiam implacáveis em Edo e províncias vizinhas, pois um grupo de feiticeiros muito fortes estavam dizimando os youkais. Sesshoumaru havia saído milagrosamente com vida, apesar de terrivelmente ferido por um tridente mágico, após uma violenta luta contra dois daqueles bruxos. Há muito haviam abandonado o castelo do youkai branco e agora se abrigavam em uma pequena choupana no meio da mata. As feridas abertas no abdome de Sesshoumaru estavam demorando demais para cicatrizar, apesar de seu organismo ter capacidades autorregenerativas. Inuyasha estava se desesperando; já eram nove dias de hemorragia, dores e febre que maltratavam seu irmão.

Naquele dia de neve, Sesshoumaru tiritava de frio. O hanyou, verdadeiramente sensibilizado, tentava convencê-lo a aproveitarem uma caravana de agricultores que iriam para a futura região de Kyushu, onde o clima era mais agradável. O youkai branco rosnou enquanto batia os dentes, irritado, mal se contendo sentado sobre o chão de madeira.

— Sabe que será melhor para nós dois, Sesshoumaru, não seja tão teimoso!

— E v-você s-sabe que eu ODEIO essa ideia de me re-rebaixar a esse nível, estúpido! Eu sou S-Sesshoumaru! Um dai-youkai! — gaguejou o outro, com raiva. Sentia-se congelar.

— Você vai ser é um cadáver se não me ouvir, seu desgraçado! — bradou o caçula, indignado. — O que é mais importante, seu orgulho ou sua vida?

— Para você é fácil fal- — e um forte acesso de tosse interrompeu a arenga de Sesshoumaru, levando Inuyasha a ficar ainda mais nervoso. — Ohhh... — gemeu de dor, enquanto estremecia violentamente.

O hanyou, então, tomou a difícil decisão de se sentar ao lado de Sesshoumaru e abraçá-lo. O mais velho fez uma carranca, mas, fraco como estava, sequer pôde erguer o braço para dar o safanão desejado no irmão. Mas, obviamente, a reclamação veio rápida:

— Q-quer tirar as patas de cima de mim, seu híbrido nojento?

— Keh! Cale essa boca pelo menos uma vez, maldito! Poupe seu fôlego! Você mal consegue respirar!

— O que pretende se agarrando ao meu corpo, imbecil? — rosnou o youkai, muito pálido e suando frio.

— Essa sua estola inútil não está te esquentando direito. E, pelos deuses, fique calado! Senão eu fecho esse seu bocão à força!

— Mas eu n-não estou com fr-HMMMMMMMPF! — ia dizendo Sesshoumaru, quando Inuyasha tapou-lhe a boca com força brutal.

— Eu avisei. Agora dá um tempo, cale a boca e se encoste bem em mim. Eu não vou deixar você morrer de frio — resmungou Inuyasha, agarrado ao corpo enfraquecido do irmão que acabou desistindo de protestar.

Afinal de contas, o corpo de Inuyasha estava quente e tudo o que o youkai branco mais queria era um pouco de calor. Sesshoumaru entendeu que poderia realmente morrer devido à hipotermia. Não lhe agradava a ideia de ter aquele contato físico com o hanyou, porém ele teve que admitir que o mais importante era sobreviver, no momento. Então, muito a contragosto, deixou a cabeça tombar sobre o ombro do mais novo, que não se queixou, atento às batidas cardíacas, à cor do rosto e à respiração do youkai febril.

Durante aqueles instantes, para o hanyou não havia nada mais importante do que ver o irmão se recuperar logo de seus ferimentos; era assustador ver um demônio tão poderoso quanto Sesshoumaru naquele estado fragilizado. Mágoas antigas, receios e ressentimentos pareciam não existir ali, enquanto o braço de Inuyasha segurava Sesshoumaru pelo ombro e o aconchegava ao próprio corpo. O mais velho, aos poucos, sentia-se aquecer e já não lhe doíam tanto os órgãos internos. Relaxou um pouco mais. Bocejou. O hanyou, que há nove dias não sabia o que era dormir, acabou se rendendo à fadiga e ao sono, encostando a cabeça na parede da choupana.

Dormiram juntos por algumas horas, abraçados, extenuados pela tensão da última semana. Sesshoumaru acordou primeiro, zonzo, e percebendo que a nevasca dera uma trégua. Ainda estava fraco, mas já não tinha mais tanto frio. Então, notou que seu irmão, mesmo dormindo profundamente, ainda o abraçava com firmeza.

Aquilo não o irritou tanto quanto ele esperava. Inuyasha havia salvado sua vida.

— Inuyasha, acorde. Acorde.

— Hummm... — fez o outro.

— Acorda logo, retardado — esbravejou o youkai, lhe dando um puxão de orelha.

— Aaaaaaaaaai! O quê? Hã? — gritou o caçula, desnorteado, e depois encarando Sesshoumaru, que tinha uma aparência menos mórbida agora. — Que droga! Isso dói, maldito!

— Não é minha culpa você ter orelhas de cachorro. Anda, me ajude a levantar daqui. Parou de nevar.

— Acho melhor não se levantar agora. Você está bem mesmo, Sesshoumaru? — indagou Inuyasha, ainda carrancudo, olhando diretamente nos olhos âmbares do outro, que o encarou de volta, incomodado. Horrível admitir que, se ele estava melhor agora, era por causa dohanyou, que demonstrava preocupação genuína consigo, mesmo estando irritado. Suas orelhas se agitaram sutilmente, o que não passou despercebido ao caçula.

— Err... Já não sinto mais tanto... frio, Inuyasha — respondeu ele, com um tom de voz mais cordial.

Agora eram as orelhas de Inuyasha que se moveram, satisfeitas. Que droga, ele tem os mesmos tiques que eu, pensou o mais velho.

— Então, vamos nos transformar antes de sair daqui.

— Inferno... Eu não quero virar humano! — protestou Sesshoumaru, levando em seguida a mão ao umbigo e fazendo uma careta de dor.

— Entenda de uma vez, seu grande idiota, se quer continuar vivendo, é o que terá de fazer! Agora me dê sua outra mão...

— Para quê?

— Para eu recitar o mantra.

— Mas que diabos... — retrucou ele, muito contrariado, mas vendo que não tinha escolha. Odiava aquela sensação de não poder tomar suas decisões sozinho.

Sesshoumaru agarrou a mão do hanyou, temeroso; ambos continuavam sentados. Suspirando um pouco e tendo nos olhos um brilho de saudade, Inuyasha declarou:

— Na verdade, era um dos mantras do Miroku. Não solte minha mão. Preparado?

— Desenrole logo com isso — rosnou o outro, impaciente. O caçula deu de ombros, enquanto dizia de forma arrastada:

Om Mani Padme Hum... Om Mani Padme Hum... Om Mani Padme Hum...

Um arrepio percorreu o corpo do youkai branco, que viu impressionado a transformação do hanyou ao seu lado. Ele, contudo, não sentiu nada de anormal, exceto um formigamento nas orelhas. Abrindo os olhos, Inuyasha se voltou para ele e ficou embasbacado:

— Se-Sesshoumaru!? Que cabelo é esse?!

— O que há com meu cab... — engasgou ele, estupefato, olhando para suas longas madeixas perfeitamente douradas. O youkai branco parecia um lorde europeu, com olhos muito azuis e pele bem alva.

— Bom, o importante é que funcionou. Agora já podemos sair daq-

— Não — retrucou Sesshoumaru, irritado. — Não vou a lugar algum.

— Como não, seu idiota?!

— Não vou a lugar algum com essa... palha de milho na cabeça, hanyou estúpido!

— Vai, sim, maldito! — berrou o caçula, tentando erguer o irmão do chão. Acabou caindo sobre Sesshoumaru, que lhe deu um tapa.

— Vá cair no inferno, desgraçado! — gritou o youkai. — E ME SOLTA! — Inuyasha lhe pegara nos cabelos, puxando-os com força, enquanto levava mais tapas e socos.

— Seu idiota! Vou arrancar cada fio dessa palha de milho se você não me acompanhar para longe dessa terra! Agora se levante daí paraAAAAAAAAAAAH! — gritou o hanyou, ao ver que seu irmão também lhe pegara com força pelos cabelos negros e os puxava com um brilho cruel nos olhos azuis.

— Este Sesshoumaru não se dará por vencido tão facilmente!

Foram longos minutos de brigas até que Inuyasha, que estava mais sadio, conseguisse carregar seu irmão para fora da cabaninha. Anos mais tarde, Sesshoumaru admitiria que aquela atitude do caçula havia lhe salvado da morte e da própria arrogância.

*

Fim de tarde. Encerrado seu expediente, o youkai se foi do escritório. Passou em uma padaria para comprar um bolo de creme. Ao pôr o pé na porta, fez-se bulha de sinos e uma chuva de papeis laminados lhe caíra na cabeça, surpreendendo-o. Um atendente sardento veio cumprimentar Sesshoumaru, dizendo-lhe que era o centésimo cliente a entrar no pequeno estabelecimento e que ele poderia levar o que quisesse gratuitamente, desde que o valor não ultrapassasse três mil ienes.

A sensação de felicidade do youkai fora tamanha; quase gritou de alegria, pois o dinheiro que tinha era pouco e ainda não havia comprado um presente para seu irmão. Mas, como ele era Sesshoumaru, limitou-se a fazer uma reverência ao atendente e escolher rapidamente dois belos bolos, latas de chá mate, bombons de chocolate branco e outras guloseimas. O youkai ia saindo com as compras em uma sacola de papel, quando o atendente o chamou esganiçado.

— Moço, por favor, volte! Aoki-san quer lhe falar...

Droga, era bom demais para ser verdade. Esse moleque deve ter feito as contas erradas e vou ter que devolver quase tudo que ganhei... pensou Sesshoumaru, esmorecido. Ao entrar na pequena padaria, um senhor careca o encarava com curiosidade e expectativa:

— Pois não? — indagou o youkai.

— Menino — disse o senhor Aoki, que era o dono do estabelecimento — por acaso, você não tem um amigo que tem um Folk Takamine? Ele é um pouco mais baixo que você e usa um rabo de cavalo.

— Bem... Tenho, sim, é o meu irmão. Por quê, senhor?

O proprietário se aproximou de Sesshoumaru, pegando-lhe no cotovelo enquanto dizia, comovido:

— Eu tenho um filho quase cego que sempre foi depressivo, não importasse o quanto eu lutasse para fazê-lo acreditar que era uma pessoa de valor... Aí, há uns três anos atrás, em plena semana de Natal, levei-o a um especialista em Shibuya que, diziam, poderia tratar os olhos dele. Infelizmente, foi dinheiro perdido.

— Lamento, senhor — respondeu Sesshoumaru, laconicamente.

— Não, não lamente, filho. No caminho para cá, ele teve uma crise nervosa e eu precisei estacionar o carro e me sentar com ele em uma praça menos movimentada. O meu Tanaka chegou a dizer que iria se matar antes que ficasse cego de uma vez — lágrimas desceram pelo rosto do senhor Aoki, enquanto Sesshoumaru permanecia ouvindo calado, tentando imaginar o que aquela história tinha a ver com ele.

— Então escutamos barulho de música a alguns metros de distância e vimos você e o outro rapaz tocando e cantando “Heal the world”. Meu Tanaka sempre foi um garoto desinteressado de tudo, mas, naquele dia, ele descobriu que amava o som do violão. Vocês não perceberam, mas a gente acabou se sentando no banco mais próximo.

— Eu me lembro, Aoki-san — murmurou Sesshoumaru, pensativo. — Inuyasha estava muito feliz por ter comprado aquele Folk Takamine que ele tanto queria. Eu o ajudei a pagar... Mas e seu filho, senhor?

— Meu filho ficou totalmente cego um mês depois, mas a cegueira do coração dele desapareceu desde que ouviu vocês cantando — arquejou o velhinho, enquanto que o atendente sardento olhava para o youkai como se este fosse um herói. — Desde então, ele quis aprender a tocar violão também. Hoje canta e toca as próprias canções e até já gravou um álbum.

Sesshoumaru agora não conseguira disfarçar a surpresa e uma sensação de aconchego no coração. O senhor Aoki agora o abraçava com força.

— Graças a Deus meu filho nunca mais teve depressão. E você não faz ideia, meu filho, do quanto estou satisfeito ao ver que você, justamente você, veio até minha padaria em plena véspera de Natal... Você e seu irmão são anjos... E cadê ele?

— Meu irmão Inuyasha está bem, senhor. Ele continua amando tocar, só que não mais o Folk Takamine. As coisas ficaram complicadas para nós dois e tivemos que vendê-lo.

— É uma pena, filho... Qual o seu nome?

— Eu me chamo Sesshoumaru.

— Pois bem, Sesshoumaru, foi para isso que eu o chamei aqui. Por uma feliz coincidência, reencontrei um dos anjos que salvaram o coração do meu Tanaka — chorou o homem, abraçando o youkai de novo, que, timidamente, retribuiu o abraço. — Mas não vá ainda. Quero que leve mais alguma coisa.

— Ora, Aoki-san, isso não é necessário...

— Mas eu faço questão, filho. Aqui, como vê, não tenho nenhuma receita caprichada... Só rocamboles, pasteis de queijos e frango frito do Kentucky...

— O senhor disse frango frito do Kentucky? — perguntou o youkai, vivamente interessado.

— Sim, filho.

— Levo! — disse Sesshoumaru, sorrindo pela primeira vez desde que entrara na padaria.

*

Estrelas brilhavam no céu da cidade de Nakameguro quando Sesshoumaru, cheio de sacolas, entrava em casa. Tudo bem arrumado e organizado, só que Inuyasha não estava ali.

— Inuyasha? — chamou, enquanto colocava as sacolas sobre a mesa da cozinha. — Onde você está, idiota? Estranho, era para ele estar aqui.

O youkai branco foi até o quarto do caçula, que também estava vazio. Franziu o cenho, intrigado.

— Mas onde será que ele se met-

— MEIDŌ ZANGETSUHA!

E Sesshoumaru foi derrubado pelo hanyou em sua forma original, que se atirara contra ele por trás, rolando consigo no chão. Inuyasha agora gargalhava, mesmo tomando um cascudo em seguida.

— Ficou maluco, seu inútil? — gritou o mais velho.

— Ora, ora. O dai-youkai Sesshoumaru anda tão distraído... — riu Inuyasha, sentado no chão, vestindo uma calça jeans e camisa branca sob uma jaqueta vermelho-vivo, os longos cabelos prateados meio bagunçados. — Ou você não é mais o mesmo?

— Idiota... — resmungou o outro. — Este Sesshoumaru não é mais o mesmo há muito, muito tempo.

— Ei, eu não quis ofender você, maldito... — aparteou o outro, preocupado.

— Não me ofendeu, retardado. Vamos para a cozinha. Ei, esse amplificador ainda funciona?

— Funcionou hoje — respondeu o caçula, olhando para o amplificador velho encostado à parede, conectado a um violão elétrico de segunda mão. — É um bom sinal, nosso Natal vai ser muito bom!

— Você está levando muito a sério esse negócio.

— Keh! Meu ano inteiro foi uma miséria, idiota, não posso me esforçar pra ficar feliz pelo menos hoje?

Sesshoumaru suspirou. Seu ano também não fora dos melhores.

— Venha para a cozinha comigo. Este Sesshoumaru tem algo pra você.

— Ah, agora sim! “Este Sesshoumaru” é o Sesshoumaru que eu conheço! Nenhum outro ser no universo inteiro fala de si mesmo na terceira pessoa!

— Cale a boca e venha, estúpido!

As horas seguintes foram cheias para os dois inuyoukais. Comeram fartamente o frango crocante e os bolos, jogaram algumas partidas de Call of Duty no videogame (com Sesshoumaru gritando para Inuyasha não se exceder devido à hipertensão) e, evidentemente, o hanyou quis cantar. Ajustava a pedaleira do violão elétrico quando Sesshoumaru lhe sugeriu que tocasseDon’t Let The Sun Go Down on Me.

Com toda a certeza, o mais velho estava sentindo saudades de Rin.

Sem questionar, Inuyasha dedilhou o violão e acompanhou o irmão em sua melancólica canção, abstendo-se de tecer qualquer comentário quando Sesshoumaru voltou à sua forma original. Terminando as últimas notas, logo tratou de demonstrar animação e, entre uma tosse e outra, escolheu diversas outras músicas mais agitadas, como I Want to Break Free, Another Break in the Wall, Sweet Child O’Mine, Goodbye Yellow Brick Road, Last Kiss (nesta, Inuyasha fez grande esforço para não chorar, porque Kagome gostava de cantá-la) e Hey Jude. Tão absortos ambos ficaram que mal sentiram as horas passando.

Som de fogos chamaram a atenção dos dois irmãos, que correram à janela para ver as luzes multicoloridas no céu do subúrbio.

— Nem vi que era meia-noite — comentou o caçula, tossindo.

— Também não — concordou o outro. — Inuyasha, eu... Tenho um presente pra você.

— Um presente pra mim?!

— Não, é pro Kurt Cobain, cachorro besta! — retrucou o youkai, revirando os olhos. — Éóbvio que o presente é pra você!

Sesshoumaru foi até seu quarto e trouxe um embrulho quadriculado em papel colorido. Parecia tímido e sem jeito, pois nunca fora dado a tais atitudes para com o irmão. Como era de se esperar, o hanyou abria o embrulho com uma expressão infantil no rosto.

— O quê?! Um CD original da trilha sonora de... The Bodyguard? — exclamou Inuyasha, gritando logo em seguida. — UM CD ORIGINAL DA WHITNEY HOUSTON! EU NÃO POSSO ACREDITAR! SESSHOUMARU, EU TE AMO, SEU MALDITO!

— Shhh! Ei! Não grite, imbecil! O síndico vai acabar aparecendo de novo! — sibilou o mais velho. — Então, você... gostou?

— SE EU GOSTEI?! ESTOU PROCURANDO ESSE CD PRA COMPRAR HÁ VINTE ANOS! — berrou ele mais uma vez. Apertou o irmão num abraço não-usual e muito efusivo, levando este a se sentir constrangido, mas também satisfeito. Fazia tempo que não via Inuyasha alegre de verdade.

— Eu tenho um presente pra você também, Sesshou-kun!

— Não me chame desse jeito! — protestou ele, enquanto o hanyou ia até seu guarda-roupa e voltava de lá com um envelope vermelho de Natal.

— Keh! Eu te chamo como quiser, otário. Olhe... É seu — e Inuyasha entregou ao irmão o envelope, as mãos meio trêmulas, parecendo bem ansioso. — É todo seu.

— Bom... Então, obrigado... Você parece nervoso, idiota, o que voc- — e o queixo de Sesshoumaru caiu.

Era a inscrição do vestibular paga. O youkai branco encarou Inuyasha, mudo e absurdamente surpreso.

— É o seu sonho, Sesshoumaru. Aproveite que você é saudável e vá fazer o que gosta.

— M-mas... Inuyasha, nós não tínhamos dinheiro... Essas inscrições são caras e...

— Keh! Eu tenho meus métodos — riu o caçula, enquanto Sesshoumaru lhe dava um abraço comedido, porém não menos sincero. Inuyasha disfarçou o nó na garganta ao afirmar: — Ai de você se não for aprovado.

Sesshoumaru tinha grandes dificuldades para demonstrar afeto, mas não teve pressa em soltar Inuyasha de seu abraço.

— F-feliz Natal, Inuyasha... Farei com que se orgulhe de mim.

— Detesto dizer isso, mas já me orgulho de você, idiota. Feliz Natal.

Sesshoumaru deu um largo sorriso antes de socar displicente o ombro de Inuyasha e sair para seu quarto.

Deitou-se e logo adormeceu. Contudo, no meio da noite, ouviu um acesso de tosse forte vindo do quarto do irmão. Totalmente desperto, o youkai branco se levantou e foi ver o que estava acontecendo com o caçula.

Ao acender a luz, mal pôde sufocar o grito de espanto ao ver o hanyou caído no chão, segurando o tórax com certo desespero.

— Tá d-doendo... — gemeu ele, fechando os olhos fortemente.

— Onde?! — exclamou o outro, já se ajoelhando ao lado dele e tentando fazê-lo se sentar no chão.

— Meu peito, m-meus ombros... D-dói tudo...

Sesshoumaru sentiu um frio na barriga — seu irmão estava tendo um infarto.

 

*

 

¹ — Chega de Sesshoumaru Taisho, né? Hehe. Taisho não é um sobrenome, apesar de que eu o uso em outras fanfics. Vambora homenagear o autor de Naruto! XD


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Notas finais do capítulo

Chorando aqui



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