Chris amava Miyuki por acreditar nele. Não somente na recuperação de seu ombro,mas no grande catcher que ele havia sido,e que, esperançosamente, acreditava que voltaria a ser um dia. Amava Miyuki pois quando ele tinha tudo para se achar superior, tratava Chris como um valoroso herói mutilado de guerra, um sobrevivente no qual as marcas ilustravam seus grandes feitos.

 Amava Miyuki também pelas trivialidades diárias. Por quando o outro chegava antes em casa e mesmo com os treinos exaustivos, fazia o jantar, já que era o único entre os dois que sabia cozinhar. Pelos fins de semana fazendo maratonas de séries japonesas dentro do apartamento, estar com ele era o seu lugar no mundo. Amava-o por ter sido capaz de transformá-lo em um homem apaixonado por Mika, a gata cinzenta que os dois criavam juntos.  Mesmo com o espírito livre da felina, que apesar de sumir com frequência, sempre voltava para os dois.

Também o amava por conta das noites de sexo, do prazer que o outro era capaz de lhe proporcionar, muito mais do que carnal, era também sentimental. Da ligação incrível que haviam estabelecido ao longo dos anos de namoro. Ele amava também a personalidade de Miyuki, e como cada traço dela parecia completar algum seu. Como seu sarcasmo completava a temperança de Chris, como sua eficiência completava a racionalidade do outro, como seu sarcasmo parecia deixar tudo mais colorido seus olhos.

Amava o outro também pelos momentos, tristes e alegres. Pelo primeiro aniversário de Chris que passaram juntos,uma longa tarde no parque ensinando Miyuki a andar de bicicleta, e por conta das noites passeando no centro da cidade e vendo as luzes amareladas dos postes perderem o brilho. Pela primeira briga séria que tiveram, ocasionando com Miyuki deixando a casa por uma noite e Chris sentindo sua alma novamente só. Pelo dia que seu pai morreu e todos os grandes atletas, empresas e fotógrafos apareceram para o funeral, mais apenas Chris e Miyuki entendiam a gravidade da situação. Por tudo que já foi e ainda viria. Oh sim, Chris o amava.

E é por isso que quando Miyuki chegou a casa pela manhã, com uma caixinha preta com belas e aristocráticas alianças dentro, Chris disse sim.

Ele sabia que iria ser Miyuki á pedir, sempre era ele que dava o primeiro passo. O primeiro beijo as escuras do vestiário, quando todo o time já havia ido embora. A idéia de assumir um relacionamento também havia sido dele, e Chris seguiu a sina rigorosamente, dedicando-se ao outro á cada dia. Tudo bem que a atitude de comprar um apartamento em conjunto havia sido de Chris, mas só por conta das indiretas de Miyuki, entendidas meses depois.

Chris disse sim, e por alguns segundos, todas as outras decisões de sua vida evaporaram no ar, deixando apenas aquela. E a sensação do começo de algo novo, e bom. Como era bom. Tão bom quanto o gosto do chocolate que Miyuki fazia pros dois no final de semana. Tão bom quanto as manhãs em que acordavam um aninhado nos braços do outro, em um abraço gutural. Tão bom quanto o conforto que acalentava os dois nas tardes chuvosas naquele apartamento que era o seu lar.

Miyuki era seu lar, seu único porto seguro no mundo.

O número 1.

E era por isso que Chris o amava.