Perturba-me escrita por Laila Gouveia


Capítulo 27
quero meu futuro com vocês


Notas iniciais do capítulo

Não era pra ser desse tamanho, mas fui escrevendo e escrevendo... acabou ficando grande o cap, e eu não quis dividi-lo.
Espero que gostem.



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—Bellamy...

Foi tudo que consegui dizer ao acordar, o nome deixando minha boca em um sopro, este carregado de emoções. Emoções que eu nem mesmo conseguia compreender, embaralhando-se em minha mente, praticamente cegando-me e impedindo que eu pensasse ou enxergasse com clareza.

Automaticamente olhei para o relógio analógico ao lado da minha cama no criado mudo, e forcei a vista para visualizar a luz vermelha que indicava 11:30 am. Mesmo sendo um evento realmente estranho para mim, visto que nunca me permitira acordar tão tarde, não me dei ao trabalho de estranhar.

Sentia meus olhos ainda levemente inchados, além da minha cabeça pesada. Para ser sincera, eu estava me sentindo um lixo. Mental e fisicamente. Digo, não que me sentisse... Não sei, arrependida ou algo do gênero. Apenas... Foram muitas coisas para absorver. Muitas memórias, muitas descobertas, muitos gritos e... Ah, fora simplesmente muito para minha cabeça.

Saltei da cama, andando em círculos enquanto mexia em meu cabelo bagunçado. Haviam se passado uma semana desde minha turbulenta discussão com o Blake. Remoí-me, tentando inutilmente juntar caquinho por caquinho que sobrou do que eu era. Mas fazer isso era muito mais fácil na teoria. Tentar concertar um coração ferido não é fácil, ainda mais quando ele se recusa a cooperar. Às vezes acho que tenho um coração viciado. Ele de fato é drogado, por gostar tanto do que faz mal.

Durante esse tempo eu tinha permanecido isolada em meu quarto, observando a rua solitária em que vivia. Refleti sobre todos os caminhos que eu já perseguira durante aqueles meses, uma sequencia de angustias que acabaram tirando minha fé nas coisas boas. Meus pensamentos sempre acabavam presos em meu pai; se ele sabia de nossa descendência, ou se eu era o único membro que algum dia chegou perto da verdade.

No entanto, assim que decidi abrir a cortina e deixar a luz do sol invadir meu quarto, comecei a sentir a razão tomar conta de mim, acompanhada de propensão de ceder... Cederia todo meu orgulho e fugiria como sempre... Fugir da sucessão de erros e problema, e percorrer um novo caminho... Caminho este que eu planejava desde o inicio, muito antes de me deixar abater.

Desci a escada sentindo o estômago revirar de fome. Corri até a cozinha e tratei logo de preparar algo simples e rápido: um sanduiche, pensei.

—Você sabe que já está na hora do almoço. —Minha mãe apareceu com um semblante surpreso.

—Estou almoçando. —Abri a geladeira e tirei uma jarra de suco, despejando o liquido no copo e guardando novamente.

—Isso é hora de acordar? —Ela se aproximou, e mordeu um pedaço do sanduiche.

—Estou de férias.

—Você está estranha, isso sim. —Seu olhar analisador percorreu cada detalhe do meu rosto. —Não vou nem falar sobre sua testa.

—De novo não, mãe... —Peguei o prato e o copo e caminhei até a sala.

—De novo não? —Ela exclamou fingindo minha voz. —Sabe que eu não esqueci. Bater o carro não é algo que deixamos pra lá.

De alguma forma, eu não me lembrava do acidente direito. Sabia que tinha batido em uma árvore no momento em que fugia de sua perseguição com a moto, e sabia que tinha acordado no quarto dele com um único ferimento na testa. -Ferimento este que tinha cicatrizado rapidamente graças ao rápido socorro do Blake.

—Não foi nada. —Dei um gole no suco, tentando ignorar aquele assunto.

—Sabe Deus como seu carro foi chegar aqui com o guincho. Quase tive um enfarto no momento que vi o capô todo amassado. E a senhorita aparece logo depois, totalmente avulsa ao ocorrido.

—Você repetiu isso à semana inteira... será que da pra esquecer só hoje? —Respirei fundo.

—Hoje! —Ela suspirou, e em sequencia abriu um sorriso animado. –O dia da formanda.

—Acho que esse dia não podia chegar em melhor ocasião.

—Finalmente minha filha vai se formar. —Mamãe apertou minha bochecha, fazendo-me resmungar.

—Não me diga que foi trabalhar de manhã? —Dei espaço para ela sentar.

—Quase... Foi trabalho em casa mesmo. Fiquei limpando tudo, colocando algumas roupas para lavar, e... Desamarrotando sua linda beca.

—Não acredito que ficou fazendo tudo isso! Por que não me acordou?

—Achei melhor te deixar descansando. Mas... parece que não adiantou. Olha só pra sua cara de quem sequer pregou os olhos.

—Obrigada por isto. —Tentei soar irônica.

—Por acaso você viu a hora? Será que vou ter que repetir o quão tarde acordou?

—Não precisa! —Engoli o ultimo pedaço do sanduiche, e levantei.

—Tenho que pegar uma coisa que esqueci no hospital. Então, vou te deixar na escola e depois volto pra cerimonia, ok?

—Pensei que fosse trabalhar depois. Por que não pega quando for?

—Não vai dar.  —Ela olhou para o lado com um sorriso torto.

Minha mãe estava marota demais, até parecia que a formatura seria dela.

—Você que sabe... —Subi a escada correndo.

•••

Não tardou até que nós duas estivéssemos arrumadas. Fechamos a casa, e entramos no carro. Minha mãe foi tagarelando durante o caminho sobre meus declínios no fim do ano. Acabei jurando para ela que nenhuma nova amizade seria responsável por minhas mudanças novamente, e a resposta lhe deixou satisfeita. Por hora.

Pedi que ela me deixasse na casa do Monty. Seria mais fácil seguir dali até o hospital, ao invés de me deixar na escola e ter de retornar o caminho. Além disso, eu queria vê-lo antes da cerimonia, não tínhamos nos encontrado desde então.

A casa dos Green’s era enorme, talvez uma das maiores na cidade. Padronizada e decorada por dentro e por fora tradicionalmente como qualquer casa americana. Nunca havia entrado pelo simples motivo de Jasper e eu não sermos bem-vindos. Digo... ‘nunca’ seria um equívoco. Eu tinha entrado ali sim, apenas uma ou duas vezes quando era criança ainda. No entanto, lá estava eu, tocando a campainha, segurando minha beca embalada num plástico/cabide, e acenando com a outra mão para o carro que tinha me deixado e agora se afastava.

A sr(a) Green abriu a porta e me analisou de cima a baixo. Ela não precisava dizer em palavras que considerava nossa amizade uma distração negativa para seu filho. Seus olhos, por sua vez, expressavam perfeitamente esse desconforto, e se intensificará principalmente depois do atentado a ele. Eu podia sentir facilmente o quão o desprezo por mim tinha aumentado.

 Não hesitei em ficar ali parada, entrei antes que ela cedesse as suas vontades e fechasse a porta em minha cara.

Subi até o quarto dele. O quarto do Monty era totalmente organizado, assim como a casa inteira. Caminhei até sua estante de discos e pôsteres. Pink Floyd – The Dark Side of the Moon, eram os nomes que estavam em um pequeno círculo no canto da capa que eu puxei primeiro. Fiquei manuseando nos preciosos discos que o pequeno colecionava, até ele sair do banheiro e me ver.

—Clarke. —Falou surpreso.

—Sou eu! —Tirei uma capa do Iron Maiden, intitulado The Number of the Beast, e coloquei o vinil no toca discos.

—O que está fazendo aqui?

—Por que sempre me pergunta isso? —Sorri animada observando seu visual formal. E continuei cantarolando, seguindo a música que invadia o cômodo.

I am Iron Man

Has he lost his mind?

Can he see or is he blind?

Can he walk at all,

Or if he moves will he fall?

—O que aconteceu com você? —Ele perguntou, baixando o volume do som.

—Estou feliz! —Exaltei. —Hoje iremos nos formar, e finalmente podermos sumir dessa cidade.

—Talvez seu desespero por sumir da cidade agora tenha outros motivos...

—O que está insinuando?... Sempre desejamos isso.

—Achei que não fosse vir. —Ele se aproximou e segurou minha mão, me fazendo sentar ao lado dele na beirada da cama. —Conte tudo de uma vez! —Completou encarando meus olhos.

—Não tem nada pra saber. —Afirmei convicta.

—Como nada? —A seriedade em seu rosto me impedia de sorrir. —Você veio até mim no hospital semana passada e chorou ao meu lado. Você disse que estava com medo do que tinha descoberto.

—Não disse nada disso. —Menti.

—Clarke, eu sei que está mentindo. Você perdeu o ar na loja do Bart, e depois afirmou que o mesmo homem que me machucou, também tinha te atacado no carro do Jasper naquela noite. Isso não é estranho o suficiente?

—Talvez você tenha alucinado. A enfermeira contou que ficou grogue por causa do remédio.

—Não estava alucinando. —Ele insistiu. —Lembro muito bem quando disse que iriam te matar. Fiquei preocupado a semana inteira.

Prendi o ar tentando não demonstrar minha inquietação. Eu tinha dito tudo aquilo porque é verdade. Porém, estava cansada de chorar, tinha prometido a mim mesma que surtos não se repetiriam. Se tinha algo que Bellamy presenteou-me, foi a escolha de continuar viva. Ele negara fazer mal fisicamente a mim, e isto trouxe um misto de esperança. Por mais que fosse difícil, assim que meu capelo fosse jogado, deixaria todo meu passado exatamente no seu devido lugar.

—Você disse que seu médico é um umpa-lumpa. Também ficou fazendo piadas... —Automaticamente lembrei quando Monty dissera o nome Victoria. Meu coração acelerou com tal coincidência. —Bom... —Retomei a fala após alguns segundos. —Com toda certeza você estava alucinando.

—Umpa-lumpa? —Ele questionou indignado. —Tipo aqueles homenzinhos da Fábrica de chocolate?

Balancei a cabeça concordando.

—Uau. —Ele sorriu. —Acho que o doutor Robert não vai gostar de saber que eu o chamei assim.

—Eu te disse... Não há nada. Está tudo bem!

Monty encarou-me com certa desconfiança. Mas acabou cedendo a toda minha insistência e soltou um sorriso frouxo. Voltou a aumentar o volume da música, e se trancou novamente no banheiro, indicando que precisava terminar de ajeitar o cabelo.

“É melhor parar de fingir que está contente.” A voz chata do meu consciente manifestou-se depois de uma semana em silêncio.

—Eu estou verdadeiramente contente! —Retruquei, sem ao menos entender o porquê.

“Como pode estar feliz depois que ela olhou em nossos olhos, e mentiu dizendo que nos ama?”

—Ele não olhou nos meus olhos da maneira que eu queria. Ele não se importa comigo.

“Estou falando dela.”

—Mas eu estou falando dele! —Respondi alto demais.

—Está falando de quem? —Monty apareceu se enrolando com a gravata.

—O quê?

—Você disse que está falando dele...

—Não! Eu não estou falando de ninguém. Ninguém!

Pisquei algumas vezes seguidas tentando entender minha loucura.

—Não consegui dormir direito quando soube que seria eu o orador da turma... —O pequeno revelou, sem se importar com o quão preocupada fiquei comigo mesma.

—Nada mais do que merecido. —Comecei ajudá-lo a dar um nó na gravata. —No meu caso... fiquei satisfeita por simplesmente passar de ano.

—Jasper avisou sobre o convite da Maya? —Ele mexia no cabelo ansiosamente.

—O Jordan ligou. —Olhei para o chão, tentando inibir meus receios. —Mas acho que é melhor vocês três irem sem mim.

—Como assim? A gente vai aproveitar e descansar.

—Tenho certeza que se a Maya e o pai nos convidaram para sua casa na praia, foi porque eles certamente são adoráveis. Só que eu prometi pra minha mãe que ficaríamos juntas nessas férias. Depois que formos pra faculdade não terei mais tanto tempo pra ela.

—Falando em faculdade... Você já recebeu sua carta?

—Recebi de algumas.

—Não recebeu de Stanford ainda?

—Não.

—Eles já deviam ter enviado.

—Talvez as cartas de rejeição sejam enviadas depois das cartas de aprovação. —Tentei soar brincalhona, mas acabou não surtindo como esperado.

—Não tem sentido se um de nós não for. —Ele suspirou.

—MONTY!!!! —O grito ecoante da sr(a) Green nos fez olhar para a porta. —ESTAMOS INDO PARA O CARRO, DESÇA LOGO OU IREMOS NOS ATRASAR!!!

—Estamos descendo!! —Ele respondeu irritado.

Rapidamente peguei minha beca coberta pelo plástico que eu deixara em cima da cama quando entrei. O pequeno abriu seu guarda-roupa e também tirou a sua. Vestimo-nos com o pano azul idêntico e analisamos um ao outro para ter certeza se estava tudo certo.

Por fim, rimos de nosso desespero e descemos correndo até a garagem.

{...}

Quando o carro parou, coloquei meu capelo e sai apressada em procura do meu lugar no meio de todas aquelas cadeiras. O campo de futebol americano de nossa escola era sempre usado nessas cerimonias. Mais para frente estavam localizadas as cadeiras dos alunos, por conta disso, deixamos que os pais dele sentassem atrás, e caminhamos até perto do palco improvisado, sentando ao lado do casal que guardara nossos lugares.

—Aleluia! —Jasper levantou as mãos. —Pensei que perderiam a formatura também.

—Vocês foram ao baile? —Perguntei enquanto abraçava Maya e ele.

—Claro que fomos. —O magrelo tirou a tampa de uma caneta e começou a desenhar no gesso do amigo. —Dançamos a noite inteira, foi demais.

—Dançar? —O pequeno segurou o braço e impediu que Jasper continuasse rabiscando figuras obscenas. —Com toda certeza não perdi nada de bom.

—Nem acredito que vamos nos formar, isso é tão extasiante. —Maya disse empolgada.

—Cadê a Lexa? —Monty olhou em volta, notando só agora a ausência.

—Já tinha esquecido que ela estudava conosco. —Jasper revirou os olhos.

—Qual o seu problema, hein? —Monty questionou irritado, pronto para entrar numa discussão com o melhor amigo sobre a falta de empatia com as pessoas.

—Jasper tem razão. —Falei segurando a angustia que começara percorrer pelo meu corpo. —Tenho certeza que ela não vai vim. E mesmo que viesse, não tem lugar pra ela do nosso lado.

Estava nítido que Monty iria perguntar o porquê depois de dois meses eu defendi Lexa com unhas e dentes, e agora estava lhe descartando sem pensar duas vezes. Entretanto, fomos interrompidos pela aproximação do professor Marcus.

—Ei, Green. Pediram que ficasse perto da escada na lateral do palco. Quando o diretor terminar o discurso, ele irá chamar você.

Monty enrijeceu sua postura e respondeu quase gaguejando:

—T-tudo bem.

—Boa sorte. —O professor sorriu, e saiu em direção dos outros docentes.

Não tivemos tempo de dizer nada. O pequeno simplesmente levantou e caminhou até a parte de baixo do palco, desaparecendo de nossas vistas.

Jasper e eu nos entreolhamos, e não foi preciso palavras para concluirmos que algo estava acontecendo.

—A gente já volta, tá? —Ele beijou a testa de Maya, que concordou fazendo um sinal de que guardaria nossos lugares.

Seguimos até longe da multidão e também entramos por entre as madeiras, na parte debaixo do palco. Monty estava cabisbaixo sentado num caixote.

—O que deu em você? —Jasper deu um soco de leve em seu ombro. E eu me encostei ao esqueleto de ferro que sustentava o palco.

—Não vou conseguir. —Ele soltou em meio a um suspiro.

—Como assim não vai conseguir?

—Não dá. —O Green começou a deslizar suas mãos no joelho freneticamente. —Não vou conseguir subir lá e falar na frente de todos. Eu sou uma decepção. Por mais que eu tente, nunca vou ser um orgulho pros meus pais.

—Como assim? —Nós dois dissemos juntos.

—Esse, com certeza, foi o melhor ano. Éramos sempre nós três, e de repente tanta gente apareceu. Começamos a nos divertir com outras pessoas, fazer novos amigos, e isso foi legal. Mas... ainda não sei lidar com o que não estou acostumado. Não consigo fazer um discurso que possivelmente meus pais acharão ruim, e que possivelmente todos irão cochilar de tédio. Tudo na minha vida é com vocês dois, não consigo fazer nada sozinho.

—Tem ideia do que está falando? —Segurei seu rosto fazendo-o me encarar. —Monty, você sabia que seria nosso orador! A turma toda sabia disso. E você sabe o motivo, não é?

—Porque tenho notas boas.

—Porque você é o mais inteligente que teve nessa escola. Porque você é o cara mais esforçado que alguém possa conhecer. Porque seu cérebro é invejado por qualquer popular, jogador, ou líder de torcida que estão sentados ali.

—Você não consegue? —Jasper desafiou. —A verdade é que quem não consegue somos todos nós.

—Exatamente. —Fiz um esforço o fazendo levantar.

—E se eu gaguejar? —Monty falava desesperado enquanto eu e Jasper o empurrávamos até perto da escada. O diretor já havia começado seu discurso.

—É só fingir que existe somente nós três no mundo. Ninguém mais estará te olhando ou ouvindo, apenas nós.

O pequeno tirou um papel do bolso e segurou firmemente. Porém, pude sentir seu fraquejo assim que olhou na direção seus pais. O som das batidas de seu coração parecia sobressair-se ao barulho.

Foi possível ouvir o diretor agradecer por todos que estavam presentes, e em seguida chamar pelo aluno que discursaria. Nesse exato momento, Jasper abraçou o amigo. Em meio ao abraço, o pequeno me encarou assustado. Eu sabia que ele não gostava de falar em publico, nenhum de nós três gostava, mas Monty superava esse bloqueio.

—Clarke, por favor. —Ele implorou num sussurro, enquanto suas mãos tremiam. —Não posso.

Completamente irracional, -por assim dizer-, puxei o papel que ele segurava e subi os quatro degraus sem olhar para trás. Andei confiante até o meio do palco, ficando de frente para o microfone. Quando deparei-me com aquela multidão, e percebi que todos me encaravam sem compreensão do motivo de uma garota ter ido no lugar do rapaz solicitado, a ficha caiu.

Merda!

Voltei a olhar para Monty e Jasper escondidos no canto, os dois faziam sinal para eu dizer algo.

—Boa tarde a todos. —Engoli em seco.

Visualizei minha mãe no meio. Ela tinha conseguido chegar no inicio como prometeu, e isso foi maravilhoso. Entretanto, seu semblante copiava o de todos, estava surpresa por eu ter subido no palco.

—Estamos aqui nesta tarde. —Um barulho irritante soou da caixa do microfone fazendo aqueles que estavam próximos taparem o ouvido.

Eu não sabia o que dizer; não sabia por que tinha subido até ali,  além de querer ajudar Monty. Todos aqueles olhos direcionados a mim fez com que uma onda de nervosismo se instalasse... Meu cérebro pausou, e tudo que conseguia pensar era em meu pai.

◘◘◘◘

▬▬▬▬▬▬▬ 

—Papai! —A pequena Clarke rodeava a sala, atrapalhando o jogo de basebol que transmitia pela TV, no qual o homem sentado no sofá tentava assistir. —Papai!!

—Meu anjo, por favor, me deixa ver o lance. —Ele jogava a cabeça para a esquerda e direita, enquanto ainda tirava o sapato que usara o dia todo no trabalho.

—Papai!! —Ela ria segurando suas tranças. —Papai!!!

—O que foi? —Ele apertou o botão de MUDO do controle remoto, e a encarou cansado.

—Fiz este desenho pra você. —A pequena correu e jogou-se em seu colo, assim que ele sinalizou que podia.

—Vamos ver... —O homem abriu o papel dobrado, e sorriu com o rabisco imaginativo que ela criou. —Está muito lindo. Quem são esses, aqui? —Ele apontou para os dois personagens contidos no papel.

—Você é esse aqui com a maleta. —Ela apontou sorridente. —E a do lado sou eu.

—O que é isso que você está usando?

—Sou eu adulta, papai. Estou usando uma luva de boxe. —Ela constatou como se fosse a coisa mais simples de entender. —Estamos no museu.

—Por que você está usando uma luva de boxe no museu?

—Porque quando eu crescer vou lutar boxe, e as pessoas tem que saber que posso bater nelas. Estamos no museu porque meus quadros estarão lá.

—Me deixa ver se entendi... —O homem colocou a mão no queixo parecendo pensativo. —Você vai ser uma lutadora de boxe quando adulta. E estamos num museu porque você será pintora também. Isso?

—Isso! —Ela riu com as cócegas que ele fez em sua barriga. —Gostou?

—Claro que gostei, meu anjo. Vou guardar na minha maleta, o que acha?

—Perfeito. —Ela sorriu.

—Perfeito. —Ele repetiu, também sorrindo.

—Só você que gostou do meu desenho. Mamãe disse que eu não posso ser lutadora de boxe porque é perigoso. E disse que não posso ser pintora porque isso não dá dinheiro.

—Sua mãe está sendo realista. —Ele se ajeitou, acomodando ela sentada em sua perna. —Mas... você sabe que conosco isso não vale. Somos sonhadores, lembra?

—Lembro.

—Então, preste bastante atenção.

—Tá. —Clarke encarava com seus pequenos olhos a expressão segura de seu pai.

—Você pode ser o que quiser. O mais importante nessa vida, não é a importância que a sociedade concede para algo, e sim a importância que você concede. Ser feliz é muito melhor, faz bem pro coração. E é isso que você tem procurar; o que te faz feliz, as lembranças. Independente se envolve trabalho, ou não, entendeu?

—Até se eu for bombeiro?

—Até se você for uma bombeira. —O homem mexeu nas tranças dela. —Só me prometa que não vai se queimar.

—Prometo. —Ela riu.

—Ótimo, então agora vai pra cima brincar em seu quarto ou eu vou apertar o botão MUDO pra você. —Ele mexeu a perna, fazendo-a sair de seu colo e subir correndo.

Não antes de gritar:

—Mamãe vai assistir à novela daqui a pouco, é melhor esquecer!

—Maldito dia que eu comprei aquela geladeira ao invés de outra TV. —O homem resmungou, arrancando uma gargalhada da filha.

◘◘◘◘

▬▬▬▬▬▬▬ 

Um sorriso bobo formou em meus lábios após meu devaneio reconfortante. Jasper e Monty esboçavam uma vergonha alheia desesperadora, enquanto o silêncio constrangedor já havia se estabelecido.

Voltei a olhar para minha mãe, e continuei sorrindo, tendo a sensatez de um otimismo que formava em meu amago. Um leve vento balançou meu cabelo, e adentrou minhas narinas, fazendo com que eu fechasse os olhos determinada.

—É engraçado como nossa vida consegue mudar, mesmo quando se pensa que ela já está estabilizada e que não há mais nada que possa conseguir este feito. —Minha voz, dessa vez, saiu firme e todos que já tinham se dispersado, voltaram a prestar atenção. —Sou um ótimo exemplo pra isso... —Retornei a abrir meus olhos. —Eu e meus dois melhores amigos estudamos aqui desde que saímos do fundamental. Passamos todos os anos do colegial aqui, sem ninguém nos notar. Porém, esse ano tudo mudou. Conhecemos novos amigos, rimos de melhores piadas, fomos a festas que nunca frequentamos, sofremos por trabalho e provas. —Nesse momento alguns caras soltaram barulhos de concordância. —Brincamos nos corredores, caímos em escadas, nos apaixonamos... —Encarei Maya, que ruborizou instantaneamente trocando sorrisos com Jasper à distancia. —Contudo, é aí que percebemos que estamos errados e que sempre podemos nos surpreender. Como aquele ditado: Quando você pensa que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.

—Foi exatamente o que aconteceu comigo nessas ultimas provas. —Um rapaz gritou, fazendo todos rirem.

—E mesmo assim você está aqui agora. Todos nós estamos!!!... Sabe por quê? —Parei alguns segundos, respirando fundo. —Porque nós vencemos. Passamos por todos os obstáculos. Tiramos notas o bastante pra sentarmos nessas cadeiras, usamos as paixões como gás pra seguirmos em frente, aprendemos com nossas brincadeiras e piadas, e o melhor de tudo. —Olhei para os meninos que ainda permaneciam na lateral do palco fitando com cautela minhas palavras. —Podemos dizer com orgulho que os melhores amigos... aqueles que estiveram ao seu lado todos os dias nos corredores... estes nós levaremos sempre em nossas vidas.

Segurei-me para não sair correndo e abraça-los ali. Eu sabia que nenhuma voz se faz necessária, dentro de um abraço tudo estaria dito.

—E é essa vida que seguirá. Quando sairmos por estes portões o mundo está lá fora. Então as escolhas difíceis se iniciarão, responsabilidades, deveres... Se pararmos pra pensar isso nos desmotiva. Mas não! Alguém um dia me disse que eu poderia ser o que quisesse. Vocês podem ser o que quiserem. Nada, entenderam? Absolutamente nada é capaz de nos tirar o que temos de mais importante. Que são as lembranças. É elas que nos faz quem somos. E somos nós mesmos que decidiremos o rumo do nosso futuro, independente de qualquer escolha, o que importa é se somos felizes... —Elevei o tom da minha voz, demonstrando total confiança e certeza. —Quando sairmos por aqueles portões não se intimidem, o que aprendemos aqui dentro durante todos esses anos é suficiente para tornarmos protagonistas de nossa própria história!!

Voltei a tomar fôlego olhando para o chão. Assim que levantei minha cabeça, -esquecendo completamente de minha timidez-, aplausos se iniciaram, e eu só conseguia enxergar minha mãe com lágrimas nos olhos.

—Obrigada. —Falei triunfante.

 Sem pensar duas vezes acelerei o passo, praticamente pulando os quatro degraus do palco e me jogando nos braços deles.

—Você é nossa heroína, sabia disso? —Jasper e Monty sussurraram em meu ouvido, obrigando lágrimas desabarem por meu rosto.

{...}

No meio dos discursos seguintes, -feito pelos professores e coordenadores-, minha mãe caminhou até as cadeiras onde os quatros sorridentes estavam sentados. Alguns alunos ainda me cumprimentavam pelas palavras improvisadas.

—Não deveria ter deixado pra agora. —Ela falou alto, tentando vencer o barulho.

—Mãe! —Levantei rapidamente e a abracei.

—Tia Abby. —Jasper brincou, nos abraçando por trás, seguido por Monty.

—Parece que minhas crianças cresceram. —Ela enxugou algumas lágrimas. —Vou ter que visitá-los em Stanford todo mês.

—Só falta a azarada da Clarke. —Jasper resmungou.

—Tudo aquilo que planejaram está acontecendo... Acho que estou mais feliz que vocês!

—É melhor esperarmos para ver. —Entoei, sem esperança.

—Não, meu amor. —Minha mãe estendeu o braço e apresentou um papel dobrado. —Era isso que eu fui buscar no hospital. Tinha esquecido lá.

Peguei o papel o mais rápido que pude, antes que os dois escorados em minha costa resolvessem ter certeza antes de mim.

—Eu quis falar, mas... Acho melhor ler por si mesma.

No segundo que abri a carta e olhei, um grito ecoante surgiu no espaço. “Vocês são os formandos de 2010”, fora o bastante para que todos levantassem e jogassem seu capelo. Uma euforia contagiante obrigou-me a jogar o meu também, em meio a um abraço e pulos conjuntos que os meninos, Maya, eu e mamãe iniciamos.

Porém, enquanto pulávamos em sincronia com pais e alunos... enquanto Jasper gritava loucamente que iriamos para a universidade juntos... enquanto os chapéus de formatura desafiavam as leis da gravidade e voltavam em câmera lenta... enquanto a felicidade escancarada na expressão de cada um, trazia um estranho vazio em minha alma... Ao final do campo uma mulher imóvel lembrou-me da pequena saudade existente em meu ser.

Sem ter sido notada -ou se fui, naquele momento não me importava-, caminhei e desviei do agito, me afastando de todos o mais rápido possível.

—Pensei que nunca mais fosse te ver. —Falei ofegante.

—Estou tão feliz por você. —Ela sorriu de forma triste, contraditoriamente ao que dissera.

—É só minha formatura. —Ri pelo nariz, tentando soar indiferença.

—Posso te abraçar? —Seu pedido foi tão sincero que eu não demorei em envolvê-la nos braços.

Assim que nos afastamos e voltamos a nos encarar, bem no canto de suas esmeraldas verdes estava o anuncio de futuras lágrimas.

—Clarke... —Ela apertou os lábios sem saber ao certo o que dizer.

—O que está acontecendo, Octavia? —Lhe interrompi preocupada.

—Nada. —Ela balançou a cabeça. —Vim só te ver. Queria saber como estaria depois desse dia tão esperado.

—Fale a verdade. —Repreendi calma.

—E-eu... —Ela forçou outro sorriso. —Na verdade... vim dizer adeus.

—O QUÊ?? —Gritei surpresa.

Minha reação fez com que uma lágrima brotasse e deslizasse pela bochecha rosada da Blake.

—Raven disse que eu podia vim me despedir. —Ela prendeu o ar para solta-lo alguns segundos depois.

—Como assim, despedir?

—Meu tempo acabou... Minha vinda pra cá estava com tempo determinado. Não cumpri minha missão, está na hora de voltar.

—Mas...

—Isso é normal, Clarke. Eu avisei que não ficaria para sempre. Aqui não é meu lugar, não é certo que aqueles como eu fiquem muito entre vocês. —Ela segurou minha mão. —Desculpe... não vim aqui para atrapalhar seu grande dia.

—Você não está atrapalhando coisa alguma, é só que... Não estou pronta para dizer adeus.

—Tenho que te agradecer. Foi maravilhoso o tempo que passamos juntas. —De repente seus olhos ganharam o mesmo brilho de hiperativa inocência. —Nunca vou esquecer.

Não sabia exatamente quantos dias tinha se passado desde que vi a Blake mais nova. Mantive-me ocupada com todas as variadas situações complicadas de minha vida e esqueci-me de procurá-la ou chamá-la. Talvez conversar com ela teria feito todo meu sofrimento amenizar, já que o desabafo seria propicio devido ao conhecimento sobrenatural da morena.

—Foi tão divertido chegar, e tão triste voltar. —Sua voz fraca lhe tornava um pouco infantil.

—Então não vai. —Pedi.

—É errado ficar.

—Por favor.

—Tudo bem. —Ela abriu um sorriso. —Você disse que somos amigas. Não importa a distância, certo?

—Desde que não seja um adeus definitivo. —Sorri também.

—Eu... suponho que sim. —Disse de cenho franzido.

Não quis responder.

—Você está sendo a única que me despeço. Raven disse que eu não deveria ter descido e a feito ser babá, e agora abandoná-la. Por isso ela mandou eu me ferrar. —Octavia riu sozinha disso, mas logo abaixou o olhar. —Bell não aparece já faz uma semana. Mas de qualquer forma, mesmo que estivesse aqui, acho que ele não queria se despedir... meu irmão não queria que eu tivesse descido, ele não me quer aqui atrapalhando.

Por mais doloroso que foi ouvir menção ao nome dele, pude ver nitidamente toda gratidão que Octavia expressava para seu irmão, mesmo que sempre fosse ignorada. Por um momento eu quis isso. Quis saber como era ter um laço sanguíneo tão forte com alguém, uma conexão tão singular e tão pura.

Novamente não disse nada, forçando ela continuar.

—Sei o que descobriu. —Falou receosa.

Lembrei de quando sai pelo corredor do apartamento dele. Será que Octavia estava presente e ouviu nossa discussão?... Parecia tão que na hora estivéssemos sozinhos.

—Quando eu e Raven chegamos meu irmão estava saindo de moto todo transtornado. Tinha alguns panos com sangue no quarto, então ficamos preocupadas. Depois acabei forçando ela me contar o que estavam escondendo. —Octavia me encarou com os olhos outra vez umedecidos. —Não tinha ideia de que ele pretendia este tipo de coisa. Raven me disse que ele viu Greta na escola. Eu não sabia que ela estava aqui, não sabia que tudo isso estava acontecendo, Clarke.

—Não quero falar sobre isso. —Minha cabeça deu indícios de uma martelação nos neurônios.

—Não sei mais se conheço meu irmão e Greta. —Ela respirou fundo. —Eu só sei que... o Bell nunca vai te fazer mal. Por mais que seja tentado a isso, eu sei que ele não vai.

—Espero que tenha razão. —Soltei agressiva, e me arrependi automaticamente.

—Eu sinto muito. —A Blake abraçou-me. —Não queria que terminasse dessa forma.

—Você não tem que se desculpar. Não cabe a você.

—CLARKE!!!! —Jasper gritava do outro lado, acenando. A multidão centrada no campo, agora estava dispersando-se e diminuindo.

—Não vou mais te atrapalhar. —Ela se afastou. —Desejo que possamos nos encontrar novamente. —Por mais otimista que aquela frase possuía como sentido, as palavras acabaram soando em adeus.

—O. —Falei assim que ela começou a dar passos em distância.

—Sim? —Ela virou secando as lágrimas.

—Raven me disse que você fugiu todos os dias. Mas, lembro que nós nos encontramos duas ou três vezes. —Sorri suavemente e ela imitou. —Onde esteve todo esse tempo?

—Fiz uma amiga. Só que é segredo!

—Então por que não se despede dela?

—Deveria? —Ela inclinou a cabeça, demonstrando toda sua inocência.

—Se for para sempre... Acho que deveria sim.

Octavia ficou alguns segundos mais refletindo sobre o que eu acabara de falar. Depois, esperei que ela saísse voando, ou que desaparece dispersa. No entanto, a Blake apenas ajeitou o cabelo e seguiu andando.

Desejei correr atrás dela.

Voltei para onde meu grupo permanecia. Os garotos haviam se despedido de seus pais, e Maya conversava com minha mãe, -estando colada em um homem grisalho-, porém sua aparência indicava alguns prováveis 40 anos de idade. Não precisei pensar duas vezes que este seria o pai da garota.

—Você vem com nós? —Perguntei para ela, referindo-me a saída que os meninos e eu havíamos combinado.

—Não. Vamos arrumar as malas para amanhã. —Maya sorriu ao seu pai, e os dois saíram em direção do estacionamento.

—E eu tenho que trabalhar. —Minha mãe intrometeu-se agarrando meu ombro, e depositando um beijo em minha testa. —Amanhã de manhã quando eu chegar, enfim férias. E você será só minha.

—Depois que você dormir por dias seguidos tentando se recuperar. —Falei brincalhona.

—Depois que eu dormir profundamente por dias seguidos, aí sim você será toda minha. Vamos aproveitar essas férias até o ultimo segundo.

—Até parece que nunca teve tempo comigo. —Beijei sua bochecha e sai marchando até o carro de Jasper, no qual os dois ansiosos buzinavam achando que iriam me apressar.

{...}

Monty, Jasper e eu entramos no Veneno agitados. Fizemos os mesmos pedidos para a garçonete, e conversamos sobre como seria quando começássemos a faculdade daqui dois meses. Jasper tagarelava sobre o quão ruim iria ser ter de ficar longe de Maya todos os dias, já que ela tinha ganhado uma bolsa para Yale. Mesmo assim, o casal resolvera a distancia e decidiram encontrar-se nos fins de semana possíveis, além de se contatarem por mensagens, ligações e webcam.

 Quando a comida chegou até nossa mesa, os dois se calaram enquanto enchiam o estomago. Não demorou muito para terminarem satisfeitos e iniciarem uma discussão de como sofreriam por não podermos vir aqui com a mesma frequência. No meio de toda aquela falação, fiz um esforço tremendo para não deixar a tristeza e mágoa me atingir outra vez. Fiquei mergulhando a batata frita no potinho com molho, e visualizando pela grande janela a rua que começava a escurecer.

Duas horas depois, Jasper estacionou o carro na frente de minha casa. Saímos todos do carro, e o magrelo fez questão de prender minha cabeça debaixo do braço dele e me descabelar de propósito.

—Seu desgraçado. —Xinguei entre risos e empurrões.

—Te desafio, oh, tirana do submundo. Implore por piedade!

—Nunca! —Eu me contorcia, parecendo uma cobra-mal-matada que sabia gargalhar.

—Não hei de ser misericordioso.

—Sai. —Consegui, enfim, soltar-me.

—Você vai ligar arrependida pra gente nessas férias. —Ele brincou, voltando para o carro. —Tchau marrenta.

—Tchau estúpido. —Mostrei a língua.

Caminhei até a varanda, tendo a companhia de Monty.

—Valeu por ter obrigado o Jasper me trazer até aqui. —Sorri agradecida. —Ele não gosta de vir esse horário.

—Pois ele ia ter que trazer querendo ou não... Senão eu ficaria preocupado demais.

—Fica tranquilo. Pense na areia e no mar que vocês vão aproveitar a partir de amanhã.

—Tem certeza que não quer ir? Maya falou que a casa é perto de muitas lojas, além da praia, é claro.

—Minha mãe me mataria se eu fosse. E... eu também não quero ir. Acho que ela esta planejando alguma viajem pra nós duas.

—Já que é assim. —Ele me abraçou. —Espero que decida me contar sobre o que vem te assombrando.

—Talvez depois que esfriarmos nossas cabeças. —Falei derrotada. Monty não aceitaria minhas desculpas e enrolações tão fácil.

—Não vou contar pro Jasper, ok?

—Agradeço por isso.

—Obrigada de novo por ter me ajudado hoje. Vou sentir saudades esse mês.

—Também irei sentir saudade. Mas é rapidinho, logo vocês estão aqui pra atormentarem minha vida.

—Então, tchau.

—Tchau, Jackie Chan.

—Jet Li, de preferencia. —Ele entrou no carro do amigo. Que ligou o motor e saiu após outra buzina.

•••

Subi as escadas no silêncio da casa escura, para trocar minhas roupas por outras mais confortáveis, -eu ainda usava minha beca azul. Empurrei a porta e cheguei a dar três passos para dentro antes de parar bruscamente. As gavetas tinham sido arrancadas da cômoda. As roupas estavam jogadas pelo chão. O lençol da cama tinha sido revirado. As portas do armário estavam abertas, pendendo desajeitadamente das dobradiças. Livros e porta-retratos se amontoavam no piso.

Vi o reflexo de um movimento na janela. Meu cérebro ficou nublado tentando dizer às pernas que corressem, mas a porta rangendo fechou-se e meu coração parou por instantes.

 


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Notas finais do capítulo

Quem será no quarto em? :OOO

Preciso pedir que comentem e mandem review?
bjs e abraços



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