Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 45
Tesouro


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos e queridas! Como estão? Sinto muito pela demora, me atrapalhei com os prazos mas cá estou com mais um capítulo fresquinho!
Espero que gostem, boa leitura ♥



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Aquele momento com as meninas fizeram o dia de Silena tomar outra cor, o que tinha tudo para ser um borrão cinzento coloriu-se como uma primavera florida. Podia dizer que estava mais leve. A alegria de uma amizade forte a estava sustentando.
Após as meninas irem embora, por ordem da própria Silena que já estava preocupada com elas, ela pode enfim respirar fundo e tentar assimilar tudo que havia acontecido. Sabia que devia pensar em si mesma, em sua recuperação, mas naquele momento sua mente vagava fixa em um par de olhos castanhos amorosos. Respirou fundo. Como Charles estaria? Ele havia presenciado ela em seu momento de maior fragilidade. Silena sabia que, de algum jeito, ele a achava uma garota forte, tinha medo que a situação houvesse mudado, a ultima coisa que ela queria era que Charles passasse a ter pena dela ou mudasse o jeito gentil que sempre a tratou.... Ah, sua mente fervilhava em paranoias.
—Si? –A voz grossa dele a despertou. Precisou beliscar delicadamente seu punho para ter certeza de que não estava perdida em pensamentos e alucinando.
—Charlie? –Silena disse quase embargada. Ali, parado com as mãos para trás e com um sorriso compadecido, Baeckendorf a olhava.
—Eu posso entrar...? –A voz dele era excitante, parecia escolher a dedo suas palavras. –Se estiver muito cansada eu você voltar amanhã...
—Oh, não, por favor, pode entrar. –Forçou um sorriso. Por dentro o corpo retesado de medo. O clima com o garoto não estava dos melhores e isso estava matando a menina.
Charles entrou, pé ante pé, no quarto e puxou a cadeira de acompanhante até estar bem próxima a cama de Silena, e sentou-se, com postura rígida. Eles ficaram alguns segundos apenas encarando-se, admirando um ao outro, em silêncio, perdido nos próprios pensamentos e medos.
—Eu... –Ambos começaram ao mesmo tempo e isso foi suficiente para quebrar o clima estranho, riram de maneira genuína e enfim Silena sentiu-se mais calma, o garoto não parecia mais que estava a ponto de dar um sermão nela.
—Pode dizer, Charlie. –Ela sorriu. –Acho que te devo algumas respostas, não é?
—Você não me deve nada, Si. –Charles respondeu-a num suspiro. –Não precisa dizer nada além do que não queria, eu só queria... ter certeza que você estava bem. Você me deu um baita susto, garota. –Ele parecia aliviado em dizer aquelas palavras, pela primeira vez no dia o coração dele estava calmo, vendo-a bem enfim pode respirar tranquilo.
—Sinto muito, não quis preocupar ninguém. –Silena abaixou a cabeça.
—Não foi uma repreensão, Si. –Charles excitou por um momento, mas,o num segundo de coragem súbita, esticou sua mão e tocou o queixo da menina, delicadamente o puxando para cima para que seus olhos pudessem encontrar-se. –Você é alguém com quem me importo, é inevitável. Não é sua responsabilidade, o coração é meu e eu escolhi me preocupar com você, eu estou apenas dizendo que me sinto aliviado em te ver bem. Nunca na vida me senti tão desesperado quanto no momento em que te tive desacordada em meus braços... –A dor na voz dele era tão palpável que Silena teve que controlar o ímpeto de desculpar-se novamente.
—Acho que você já sabe qual a minha situação, não é? –O coração de Silena batia desgovernado, ela não queria verbalizar aquilo para Charles mas sentia que devia. O calor da mão dele ainda repousada em seu rosto a confortava.
—Sim... –A voz de Charles era como um sussurro. –A doutora Calipso me informou mas... eu gostaria de ouvir de você. Se puder, é claro, não quero te pressionar.
—Eu... –Silena sentiu os olhos marejarem. –Eu não quero que você sinta dó de mim, Charlie. Não quero que mude o jeito que me olha.
—Nunca sentiria pena de você, Silena. –Ele sorriu e deixou sua mão subir ao cabelo dela, afagando-o cuidadosamente. –Você é a menina mais incrivelmente corajosa que eu conheço. –Ele sorriu junto a ela.
—É difícil dizer... Algo que eu se quer entendo, para ser sincera. –Silena suspirou. –Simplesmente aconteceu, eu acho. Um sentimento que foi crescendo dentro de mim aos poucos, me consumindo. Um monstro que alimentou-se da minha própria sanidade. Quando dei por mim... Já estava afogada nesse mar de maus sentimentos. Sentindo culpa por morder uma maça e usando uma fita métrica para medir cada pedaço do meu corpo. –A fala de Silena era baixa, como se contasse um segredo. Charles mantinha o olhar fixo no dela. –Eu achava que estava no controle, que poderia parar a qualquer momento. Me consolava dizendo que só ia perder mais 5 quilos e então pararia, voltaria a comer. Mas, então, sem que eu percebesse, esses 5 viraram 10 e então 20, quando notei, não era mais suficiente poder contar minhas próprias costelas, eu precisava de mais, queria chegar na perfeição. Ser como uma boneca. Bonecas não comem, Charles. Aquilo me dominava, dia e noite, me matando lentamente. O abismo me engoliu e eu teria caído lá no fundo se... Se eu não tivesse sido resgatada.
Silena suspirou e com delicadeza puxou a mão de Charles que estava em seu cabelo e a envolveu entre seus dedos, viu ele retesar o corpo ao sentia-la acariciar cada uma das suas pequenas cicatrizes e calos mas nada disse, apenas permitiu-se sentir o carinho genuíno da menina.
—Eu fui resgatada pelas meninas, em primeiro lugar. Quando estava com elas não sentia o peso de ter que ser perfeita, me sentia normal, de um jeito extraordinário, sabe? Sempre quis ser perfeita mas quando estava com elas ser normal era simplesmente... certo. E era bom. Quando estávamos juntas os sentimentos ruins diminuíam e a dor dava lugar ao amor. Algo que não sei explicar. –Ela sorriu, com os olhos marejados. –Mas ainda faltava algo. Elas eram meu arco-íris pós-tempestade mas eu sentia que ainda faltava o tesouro no fim dele. –Ela riu e tomou coragem antes de completar. –Era você que faltava, Charlie. Você é meu tesouro do fim do arco-iris. Quando você entrou na minha vida tudo fez sentido, você juntou cada pedaço de mim e concertou uma bagunça que eu nem sabia que tinha. Você me salvou de mim mesma. Só queria te agradecer.
Charles sorriu e nada disse por alguns segundos, ficaram apenas olhando-se e trocando caricias entre os dedos. Silena sentia-se leve por ter dito o que pensava. Não era exatamente o que queria dizer, lá dentro um ímpeto pulsava em gritar: amo você. Algo tão sincero que quase doía. Não era fruto de pensamento, alguma conclusão que teve ao pensar sobre o lugar de Charlie em sua vida, era algo que vinha sincero, brotava de dentro de si, tão natural quando bombear sangue, para seu coração, era amar Charles Baeckendorf.
—Mesmo eu sendo um cara desse tamanho... –Charles tomou coragem de falar e riu de si mesmo. –Sempre fui medroso. Cresci dentro da oficina do meu pai, não tinha contato com pessoas de verdade. Era mais fácil lidar com minhas peças, o metal era mais fácil de entender do que os sentimentos. Quando tive que mudar de turno, sentia meu corpo inteiro revirando-se em agonia, aquelas paranoias de “será que vão gostar de mim?”. Então, você apareceu e... uau... as coisas fizeram sentido. Você não tem ideia do quanto me ajudou, Silena. Pela primeira vez na vida eu quis viver o mundo lá fora, com você.
Silena sentiu seus olhos marejarem e sorriu.
—Eu não sei bem onde quero chegar com esse discurso todo. –Charles riu de si mesmo. –Não sou tão bom com as palavras como gostarias mas queria que soubesse o quanto é importante para mim. Estar aqui com você, te vendo bem, não poderia haver nada melhor.
—Eu amo você. –Antes que percebesse essa pequena frase saltou dos lábios de Silena. Ela quase se arrependeu mas não podia, nada soaria tão verdadeiro como aquela confissão, aquilo era a realidade emplacada, seu coração aberto. Silena não disse isso esperando uma resposta de Charlie mas disse porque sentia que devia.
—O que disse? –Charles travou, sentia como se sua mente estivesse lhe pregando uma peça. –Oh, por favor, não se sinta obrigada a dizer nada do tipo, eu sei que minha confissão te pegou de surpresa mas...
—Sua confissão? –Silena arqueou as sobrancelhas. –Isso foi uma confissão? De amor?
—É, bem, sim. –Com a mão livre Charles coçou a própria nuca, embaraçado. –Achei que tivesse sido claro, sabe, quero viver com você.
—Charlie... –Silena riu com os olhos marejados. –Você podia ter sido um pouco mais claro, sabia?
—Eu disse que não era bom com as palavras. –Fez um bico e sentiu as bochechas esquentarem.
—Tenho quase certeza de que estou sonhando outra vez... –Silena sussurrou e acariciou as bochechas dele.
—Você... também... Sabe, gosta de mim?
—Hum... Não. –Silena disse e riu da cara dele. –Eu acabei de dizer que te amo, bobinho.
—Romanticamente falando? –Ele sorriu como uma criança.
—Do jeito mais literal possível. –Silena retribuiu o sorriso. Ele envolveu o rosto dela com ambas as mãos e encostou as testas.
—É muito melhor na vida real.... –Ele sussurrou.
—Sem dúvidas. –Ela retribuiu o sorriso.
Ficaram assim, alguns segundos, digerindo aquilo. Silena estava extasiada, Charlie gostava dela também! Ela sentia tanto medo de ter perdido o sentimento, dele mudar o jeito com ela ou, no pior caso, deles se afastarem mas ali estava ele, abraçando-a com tanto zelo ternura, com certeza o céu parecia com aquele abraço!
E Charles? Ele tinha certeza que nem o Elísio seria maravilhoso como ter Silena em seus braços. Por tanto tempo torturou-se com paranoias, que a menina teria vergonha de si, mesmo que ela nunca tivesse dado motivo para ele sentir-se inseguro. Mas, quando viu ela desmaiada, algo em si gritou em urgência, ele poderia perde-la sem nunca tê-la tido de verdade, aquilo o torturou. Ele queria ser o porto seguro dela, apoia-la com todo o coração e para isso precisou vencer suas barreiras. Não podia estar mais orgulhoso da decisão.
—Eu estou prestes a entrar numa batalha, Charlie. –Silena sussurrou. –O tratamento.... Não será tempos fáceis.
—Eu sei disso. Mas você definitivamente não estará sozinha. Me deixei ser seu escudeiro. –Ele sorriu.
—Não deveria ser “me deixe ser o seu herói?” –Silena riu.
—A heroína aqui é você, meu amor. –E então, fez o que sonhará a tempos, beijou Silena Beauregard.
Um hospital definitivamente não era o lugar mais romântico, o cheiro de álcool elitico poderia incomoda-los se eles não estivessem inebriados em seu amor. Nada poderia ser melhor, tudo estava em seu lugar. O quebra-cabeça de sentimentos ruins foi jogado fora e sobrará lugar apenas para o amor.
Enfim, juntos poderia lutar e vencer.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam? Quase todos nossos casais juntos, yey! Sei que muitos aguardavam esse momento, espero que tenham gostado!
Queria prepara-los para o fato de que a fic acabará no capitulo 50!
Obrigada pela leitura, paciencia e até a proxima!