Desajustadas escrita por KitKatie


Capítulo 44
Confissões


Notas iniciais do capítulo

CUIDADO COM GATILHOS!!!!!!

Olá, esse capítulo demorou mais que o planejado mas cá estou!
Particularmente amei-o. Espero que gostem!

Boa leitura ♥



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Um frenesi de imagens borradas passou pelos olhos de Silena assim que foram abertos. Confusão, estranheza. Levou alguns segundos para lembrar o que havia acontecido. Desmaiara? Tentou sentar mas o corpo protestou, a visão embaçou novamente e com pesar constatou que não tinha forças para mexer-se. Dos lábios, um suspiro sôfrego.

—Silena? –A voz doce de Katie fez com que a garota na cama fizesse esforço para não cair no sono novamente.

—Oh, ela acordou! –Sabia que essa exclamação viera de Annabeth.

—Deem um pouco de espaço, meninas. –Um resmungo característico de Thalia fez Silena despertar de vez.

—Boa... Tarde? –Foi o que Silena conseguiu sussurrar, ainda confusa.

Viu três pares de olhos a encarar-lhe. Olhos cinzas e analíticos que naquele momento eram tomados por preocupação; olhos azuis tempestuosos que deixavam claro o medo que sentia pela amiga; olhos verdes calorosos e afetuosos. Três personalidades distintas unidas em prol de uma quarta ainda mais diferente, quão misterioso é o laço da amizade.

—É melhor chamar a médica. –Annabeth disse e saiu a procura de Doutora Calipso.

—Hospital? –Silena sentia uma fraqueza turvar sua mente.

—Calma, querida. –Katie segurou-lhe a mão, com cuidado. –Logo te explicaremos tudo.

—Charles? –Silena não conseguia lembrar de muita coisa, um borrão lhe doía as têmporas, mas tinha certeza que sentirá o calor de Charles lhe envolver não a muito.

—Você realmente preocupou aquele homem, garota. –Thalia soltou uma gargalhada. –Ele desceu para esfriar um pouco a cabeça, ele parecia prestes a ter um colapso te vendo nessa cama.

A menina então passou a observar melhor sua situação. Deitada numa cama confortável, num quarto cheirando a álcool elítico e com um grande soro pendurado indo direto a sua veia.

—Nossa... O que aconteceu? –A sincera confusão de Silena a obrigou a questionar as amigas.

Mas antes que elas pudessem tentar explicar a situação, doutora Calipso entrou ao quarto, com sua prancheta e estetoscópio. Cumprimentou Silena e fez alguns exames básicos, testou seus reflexos, fez-lhe algumas perguntas e deu-lhe uma medição. Trocou o soro e passou a explicar a situação, polidamente. Em resumo, a medica disse para a adolescente que ela desmaiara durante uma sessão de fotos, pelo que havia sido informado pelo namorado da paciente. Ao chegar no hospital, foi constatado grave desnutrição e por isso ela passaria dois dias em observação supervisionada e recebendo soro continuo. Após esse período novos exames seriam feitos para direcionamento das medidas a serem tomadas.

—Não preocupe-se com nada além da própria saúde no momento. –Calipso era seria mas amorosa no falar. –Você tem uma jornada até recuperar-se completamente, precisa ter forças para lutar.

—Eu não sei se consigo lutar. –As palavras saltaram de sua boca, uma confissão desmedida.

—Você não está lutando sozinha. –Apontou com a cabeça para as três meninas, que, quietas e apreensivas, aguardavam para conversar com a menina na cama.

Silena sentiu os olhos marejarem. Sorriu agradecida para a doutora. Aquilo era o ânimo que precisava. Uma batalha que não travaria só, suas fieis escudeiras estariam ali, a apoiando e sendo o suporte que precisava. Não precisava ouvir da boca delas a confirmação, era algo que seu coração sabia.

—Pensei que eu houvesse as avisado que do número máximo de acompanhantes por vez. –A medica voltou o olhar paras as meninas que riram sem graça tentando disfarçar a vergonha de terem sido pegas no flagra. –Vou deixar passar dessa vez, não acostumem-se. –Riu para e elas e saiu do quarto, suspirando. Compadeceu-se da situação. Não havia problema quebrar uma regrinha do hospital em nome de uma recuperação genuína de sua paciente...

O quarto foi tomado por um silêncio pesado. As três meninas aguardavam por alguma palavra vinda de Silena. Naquela altura, ela já havia recuperado totalmente a memória do ocorrido mais cedo. Desmaiara durante sessão de fotos. Sabia que não havia sido cuidadosa o suficiente. Não comeu e fez muito esforço. Droga de corpo fraco, pensava.

Silena sabia que teria que explicar algo as amigas. O estomago revirava-se e, pela primeira vez em tempos, não era de fome. Medo instalou-se em si. Sabia que as amigas a entenderiam. Cada uma daquelas três tinha dentro si batalhas pesadas e eram sensíveis para ajudar umas às outras. Mas não sabia o que dizer. Como colocar em palavras sentimentos e sensações que se quer sabia explicar? Silena não sabia o porquê de sentir aquilo que sentia. Não sabia como começara. Foi consumida de uma hora para a outra. Num grande incêndio não se sabe qual fagulha causou a explosão. No coração da menina ela não saberia dizer qual momento a fez transbordar. Qual fagulha a fez explodir?

—Silena... –Katie a chamou. Notou nos olhos dela a apreensão, perdida em pensamentos.

—Não nos deve explicações. –Thalia completou, cruzando os braços.

—Mas eu sinto que devo isso a vocês... –Silena sussurrou.

—Não nos deve nada. –Annabeth sorriu. As três aproximaram-se da cama e sentaram-se. –Não poderíamos te cobrar falar de algo que te machuca.

—Eu só... Não sei o que dizer. Como explicar. –Silena olhou para suas mãos.

—Está tudo bem, sentimentos são confusos. –Katie sorriu.

—Eu estou com vergonha. Não queria ter preocupado vocês.

—Não pode envergonhar-se do nosso amor, qual é. –Thalia revirou os olhos e conseguiu arrancar um risinho de Silena. –Viu? Assim está bem melhor.

—Estamos aqui por você. Amamos você. –Annabeth falou pelas três. –Amizade é igual casamento, bobinha, na saúde e na doença. –Fez graça da situação.

—Eu não sei o que seria de mim sem vocês... –Silena sentiu os olhos marejarem.

—Não precisa imaginar, não é como se você fosse conseguir se livrar de nós... –Thalia cantarolou.

—É só que vocês estão a tão pouco tempo em minha vida e ainda assim, é como se sempre estivessem estado lá. Não consigo lembrar de como era antes de vocês. –Silena sorriu e limpou as próprias lagrimas que já caiam. –Vocês tornaram tudo colorido, melhor. Obrigada por estarem aqui. Vocês são tudo que eu precisava e não sabia.

—Isso é a revolução do amor. –Katie piscou. –Eu não estaria viva se você e a Thalia não tivessem ido até minha casa aquele dia. A amizade de vocês salvou minha vida. O que eu poderia fazer além de dedicar minha vida a vocês?

—Eu quero ser sincera, meninas. Quero poder dizer o que está me machucando, mas não sei como... –Silena sentia que precisava falar, que aquilo a aliviaria mas algo a travava, um medo primitivo e inconsciente, totalmente sem fundamentos, de ser julgada.

—Eu sei que você quer se abrir e não consegue e eu sei que tipo de empurrão você precisa. –Annabeth sorriu. –Minha mãe abandonou a mim e a meu pai quando eu era criança. Isso me quebrou emocionalmente de um jeito que não achava ter cura. Simplesmente me fechei a qualquer relação e sentimento. Meu mantra era “o amor machuca” e decidi que nunca amaria ninguém. E, então, vocês aparecem e meu mantra se desfez e tudo que eu conseguia pensar era: eu preciso ter uma relação com vocês. –Annabeth sorriu entre lagrimas que já caiam. –Eu estava à deriva num mar de sentimentos ruins. Sozinha num mar que eu mesma quis me afogar. Vocês me resgataram, foram a minha âncora e eu jamais serei grata o suficiente por tudo que fizeram. Graças a vocês entendi que o amor não destrói e sim constrói. Silena, saiba que eu estou aqui por você assim como você esteve por mim.

—Eu pensava em suicídio quase todos os dias. –Thalia entendeu o que Annie estava fazendo, confessando para que Silena sentisse confortável para confessar também, então entrou no plano. –Minha vida era vazia. Aguentar Zeus, Hera... Aquela casa era um inferno. O cigarro, as bebidas, nada mais conseguia me tirar da realidade sufocante que eu vivia. Achei que não tinha mais saída. A tempestade tinha me pegado. E, nossa isso é muito brega, mas o sol brilhou. Vocês me iluminaram. Cada uma a sua maneira. Fala sério, eu sou insuportável e ainda assim estão ai, me apoiando e aturando. Silena, você aguenta minhas mudanças de humor e resmungos, acha mesmo que eu não faria tudo por você?

—Antes de vocês minha vida era como um outono seco. –Katie seguiu o mesmo rumo que suas amigas. –Tudo morrendo aos poucos. Eu sentia como se estivesse presa numa estação de dor, sem perspectiva de melhora. Eu via tudo no mesmo tom, nada novo e então eu... Machucava a mim mesma. –Um suspiro sôfrego saiu de si mesma ao tirar pulseiras que cobriam seus pulsos, revelando um braço marcado por cicatrizes. –Eu queria sentir algo além da mornidão no meu coração. Eu me odiava. Mas ai a primeira raiou outra vez. Vocês chegaram, brilhantes e coloridas como as mais belas flores da estação. Floriram meu coração e minha vida. Eu só posso agradecer a vocês por ter me tirado do poço de folhas secas de onde eu estava. Desde que entraram em minha vida eu tenho vivido a mais bela primavera de todas, não há flor mais bela do que a amizade. Silena, saiba que eu te amo e, assim com as outras meninas, estou aqui por você.

Silena respirou fundo. O coração aquecido pelas palavras de suas amigas. Agora era hora de contar tudo, tirar do coração os espinhos que a machucavam.

—Eu sou anoréxica. –Proferir aquela sentença doeu. –Não sei em que momento tive certeza, talvez eu sempre soubesse. Eu queria ser linda. A mais linda de todas. Uma modelo que brilhasse. Queria orgulhar minha mãe. Eu me perdi no meu próprio desejo. Eu não me reconhecia no espelho, queria cada vez mais beleza, mais perfeição. Eu não sei o que aconteceu... A comida virou minha inimiga. –Buscou pela mão das meninas e juntou todas no centro da cama. –Mas agora eu tenho amigas mais fortes do que minha inimiga e eu sei que podemos lutar juntas.

—Seremos guerreiras juntas. –Katie disse sorrindo entre lagrimas.

As quatro meninas choravam e logo partiram para um abraço coletivo. Aquele abraço necessário, forte, capaz de juntar os cacos de um coração partido. Aquele era o início de uma longa guerra. Lutar contra seus sentimentos não é fácil, ser seu pior inimigo é terrível. Mas elas sabiam, não estavam sozinha e esse era o incentivo que precisavam.

—Doutora Calipso disse que um psiquiatra irá te acompanhar. –Annie disse, após alguns segundo de abraço apertado. –Acredite, sua artilharia nessa batalha será pesado.

—Nem um titã te venceria, garota. –Thalia riu.

—Vocês... Deveria ir também. –Silena disse, com a voz excitante.

—Ir onde? –Katie arqueou a sobrancelha.

—Ao psiquiatra... Psicólogo. Ajuda profissional. –Silena suspirou. –Eu sei que nesse momento vocês se sentem bem mas... O que tem aqui dentro. – Apontou para o próprio coração. –É traiçoeiro.

—É uma ótima ideia. –Katie sorriu. –Eu adoraria conversar com alguém que realmente entende de sentimentos.

—É, desabafar é bom e amizades ajudam mas... sei lá, tenho que dar créditos para quem estuda uns 5 anos no mínimo para atender a gente, né. –Thalia deu de ombros e sorriu cumplice.

—Parece que esse será mais um programa de amigas. –Annabeth riu. –Idas a psicólogo, parece algo que amaria fazer com vocês.

—Juntas? –Silena sorriu e estendeu a mão.

—Juntas. –As três completaram ao mesmo tempo, cobrindo a mão de Silena. Nem Gaia seria párea contra aquelas quatro juntas.


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Notas finais do capítulo

Ajuda profissional é sempre a melhor arma!

E ai? O que acharam?
Desajustadas encaminha-se para seu final. Maaaas calma que ainda existem coisas a acontecerem.

Obrigada por lerem! Me contem o que acharam!