Na saída da escola, Annabeth sentia o coração pesado ainda. A briga com Percy havia a destruído emocionalmente. Estava frustrada, mesmo com raiva dele ainda sentia que cada batida do coração pertencia ao garoto de olhos verdes.

—Você viu a Thalia? –Katie, que caminhava junto a loira, questionou, olhando ao redor.

—Não a vi desde o almoço. –Annie respondeu, pensativa. –Você vai para sua casa, não é?

—Sim. –Katie suspirou mas sorriu tranquilizadora. –Meu pai não estará em casa, não se preocupe, ele está trabalhando, tenho certeza.

—Eu queria acompanhar você mas tenho que trabalhar hoje. –Annie lamentou.

—Não se preocupe, Annie. Eu me viro, você já fez mais do que o suficiente. –Katie sorriu para a amiga e despediram-se na hora que os caminhos separavam-se. Katie rumou até sua casa e Annie até a cafeteria.

Lá, guardou suas coisas, colocou o avental e foi até o balcão lá na frente. Cumprimentou o gerente e atendeu os poucos clientes que estavam ali. A tarde passou e pouco antes de ir embora, Ethan chegou – o turno dele mudou e agora começava quando o de Annabeth terminava, o que particularmente a agradava, o clima entre eles estava estranho desde o dia do cinema. Cumprimentou o colega e tomou um susto ao ver o rosto dele todo machucado: um olho roxo, nariz vermelho e supercilio cortado.

—Pelos deuses, Ethan, o que aconteceu com você? Foi atropelado pelo que? –Annie estava boquiaberta, observou melhor e viu que o corpo dele estava com hematomas.

—Fui atropelado pelo tanque de guerra chamado Perseu Jackson. –Resmungou.

—O que? –Annie achou que não havia entendido direito.

—Seu namoradinho fez isso comigo. –Apontou para o próprio rosto, bravo. –Se eu soubesse que ele tão forte assim nunca teria flertado com você.

—O Percy te bateu...? –A mente da loira entrou em combustão. –Perai, flertado comigo?

—Você é meio lerda, sabia? –Ethan deu uma gargalhada mas parou ao sentir dores lhe fisgarem a barriga. –Por que acha que eu te convidei para o cinema? Você é gata, Annabeth. Mas não teria feito se soubesse que o Perseu era afim de você, ele quase me destruiu.

Definitivamente Annie não estava entendendo mais nada. Gata? Ethan flertando com ela? Percy afim dela? A loira podia calcular a raiz exata da qualquer número numa agilidade incomum mas não conseguia acompanhar nenhuma linha de pensamento que envolvesse amor – e especificamente Percy Jackson. Ethan pareceu notar seu espanto e continuou.

—Ele apareceu aqui ontem, parecia bem bravo. Disse algo sobre você só se importar com ele quando precisava de algo, ele ‘tava afogando as magoas em café, garoto esquisito. –Deu de ombros e soltou uma risada, já não parecia mais bravo. –Ai eu pedi se o caminho ‘tava livre pra eu investir em você e ele não ficou muito feliz, não. Falou que nos viu no cinema e não gostou nem um pouco e eu disse que ainda ia te pegar e então, ele ficou com raiva e partiu para cima de mim. –Ethan contava a história e parecia pensativo.

—O Percy não é de brigar... –Annie ainda digeria a história contada pelo garoto mas essa certeza martelava em seu coração.

—Talvez eu tenha falado umas coisas um pouco baixas sobre você... –Ethan sussurrou. –Sobre seus peitos e tals...

—Você o que? –Annie o olhou brava.

—Qualé, me dá um desconto, o nadadorzinho já me bateu o suficiente para eu me arrepender do que falei, ok? –Ethan levantou os braços, defensivo. –Eu acho você legal e tudo mais, mas nenhuma garota vale uma surra. Não devia ter aceitado sair comigo tendo namorado.

—Foi uma simples ida ao cinema, não foi um encontro. –Annie rebateu, cruzando os braços. –E o Percy não é meu namorado!

—Então conta isso pra ele, porque ele quase me quebrou todo só porque te chamei de gostosa. –Ethan resmungou a última parte baixo. –Olha, Annie, você é gente boa e tudo mais, então, me desculpe pela confusão toda. Fala pro teu namorado que eu não vou mais nem olhar para você, até mudei de turno, ‘ta legal?

Annie ainda estava digerindo a história.

—Francamente, homens apaixonados assim deveriam ficar numa coleira. –Ethan resmungou e saiu para iniciar seu turno.

Annabeth saiu correndo da cafeteria, ainda com seu avental. Precisava falar com Percy.

Katie respirou fundo ao girar a maçaneta da porta da frente. Entrou na casa, pé ante pé, e sentiu o corpo relaxar ao comprovar que o pai não estava em casa. Na verdade, a casa parecia totalmente vazia. Esquisito.

Katie foi até a cozinha, todas as facas do faqueiro sumido. Abriu a geladeira, vazia. Os armários também. Foi até o quarto do pai e não achou nada dele. Nenhuma das roupas, calçados, se quer o perfume barato dele sobre a cômoda.

Levou alguns minutos para Katie entender o que havia acontecido. Seu pai havia fugido. Levou a mão até a testa, ele provavelmente achou que poderiam suspeitar de violência doméstica e se a polícia entrasse na história a coisa não ficaria bonita para o lado dele.  

Jogou-se na cama que um dia foi dele e respirou fundo. Lagrimas já desciam pelo rosto. Era um misto de sensações. Alivio, estranheza, medo. O que faria agora? Ele voltaria? Como ela manteria a casa? Trocaria as trancas? Por hora, não quis afundar-se em questionamentos, manteria em mente que seu pai a abandonou, em definitivo e não voltaria.

Sua cabeça rodava com questionamentos e o peito doía. Arrumaria um emprego, no dia seguinte iria atrás disso. Katie tinha em mãos uma chance de recomeçar, ela faria uso dela.

Foi até a sala e tirou todas as decorações que ele já havia colocado. Substitui-as por vasos de flores. Aquela casa finalmente teria vida. Passou a tarde empenhando-se nisso.

Tinha feito um serviço lindo, a casa estava perfumada e vivida, como há anos não ficava. Sorriu satisfeita e decidiu ir até o mercadinho de seu bairro, tinha alguns trocados na bolsa e precisava jantar, afinal.

Mal podia esperar o dia seguinte para contar a novidade para as meninas, tinha certeza de que elas ficariam felizes. Katia daria uma festa assim que tivesse dinheiro.

Finalmente as coisas estavam ajustando-se em sua vida. Estava sozinha mas nunca se sentiu tão segura. Tinha amigas, pela primeira vez, e podia dormir tranquila, com a certeza de que não acordaria com os gritos de um bêbado violento.

Sorriu para os céus enquanto andava pelo bairro, desfrutando de um sentimento único: liberdade. Finalmente Katie sentia-se livre.

Uma flor que finalmente tinha a permissão de florescer, assim pulsava em seu coração.

Jantou na sala, com uma vela acessa. Nunca esteve mais livre. Todos os caminhos da vida a levaram até ali e Katie não poderia estar mais grata por sua situação. Sua testa ainda doía e sabia que teria uma cicatriz ali mas em seu coração já não haviam mais feridas.