O Sucessor escrita por Jessy F


Capítulo 3
Lembranças Distorcidas




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 [RAINHA HANNA KRINGER - MÃE DE DAVI E ESPOSA DO REI ALEKSEI]

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Passei a mão pelo meu vestido e coloquei o chapéu em minha cabeça. O tempo tinha sido bondoso comigo, talvez eu estivesse mais cuidadosa comigo mesma, algo que eu não faria a vinte anos atrás. Senti algo se mover perto da barra do meu vestido e sorri. Ao virar vi Anne. Minha doce Anne.

— Oi querida. — A peguei no colo, suas mãozinhas deslizaram pelo meu rosto.

— Oi vovó. — Ela sorriu. — A senhora está tão bonita.

— Obrigada. — Dei um beijo nela. — Onde está seu pai?

— Está terminando de se vestir. — Suas mãos subiram para as flores do meu chapéu. — Com certeza vai ficar muito lindo. Um príncipe.

— Com certeza.

Davi era um presente que apesar de não ter sido planejado só me trouxe alegrias. Cada passo, cada nova descoberta e palavra me faziam repensar em tudo e ter certeza de que minha mãe estava certa. Eu estava na hora e no lugar certo.

— Vamos? — Davi apareceu na porta do meu vagão com roupas pretas.

— Claro, vamos sim. — Falei colocando Anne no chão.

Entramos no carro e quando dei por mim eu já estava na praça principal onde tudo havia começado. Subi no palanque com meu filho e de longe vi que a casa da minha mãe foi substituída por uma loja de roupas e a antiga boutique dos Kringer agora era um grande restaurante. Emergi de tantas memórias quando vi os guardas reais colocaram o pedestal do microfone no centro do palanque.

****

Eu nunca acordei tão cedo como naquele dia, mas fui praticamente obrigada. Meus pais haviam colocado o meu nome no pedestal da eleição e agora queriam que eu fizesse aquilo, segundo eles, pela P2 e por nossa família.

— Allis venha aqui, preciso arrumar seu cabelo! — Minha mãe gritou pelo corredor dos quartos. Era uma raridade ela não gritar, mas especificamente hoje, ela estava pior que os outros dias.

— Estou indo!

Tropecei em meus sapatos escolares e cai no chão. Revirei os olhos e levantei correndo antes que a senhora Melanie Menzel gritaria novamente.

— Rápido! Estamos atrasadas!

****

Dei um passo a frete e as bandeiras alemãs se ergueram. Os aplausos estavam fortes ao ponto de eu ter que espera-los cessarem para começar a falar.

“Hanna! Hanna! Hanna nossa rainha!”

Eles gritavam eufóricos. Sorri e comecei a acenar. Uma das coisas que Monique havia me ensinado era a manter a compostura mesmo em situações complicadas como agora. Anne correu até mim e me abraçou. Sorri e mesmo abraçada a ela continuei sorrindo. O publico foi se acalmando e só assim consegui começar o meu pequeno discurso.

— Olá Província dois. É um prazer retornar o meu lugar, a minha casa, a terra onde nasci. Espero que assim como eu, uma garota escolhida consiga ser forte e destemida. — Todos aplaudiram. Eles não imaginavam como ocorria uma eleição de verdade, mas meu discurso era sincero. — Que as eleições comecem.

Davi me abraçou antes de se aproximar do microfone. Diferente da ultima eleição, hoje seria o dia do sorteio. Eu conseguia imaginar as várias meninas que existiam no meio da multidão. Havia várias Hannas, que não queriam ser escolhidas, mas a família queria realizar ou sonho ou dar uma vida melhor à filha. Existia várias Melanies que gostariam de ser eleitas para alcançar o máximo status e também tinham muitas Kairas, sim, Kairas, aquelas que são valentes e que pouco se importam se são escolhidas ou não, afinal, só querem dar orgulho aos pais.

— Olá Província 2, sou Davi Kroening Kringer, herdeiro do trono de Kor. Estou aqui para escolher uma de vocês para se instalarem em Kor durante os próximos meses e quem sabe anos. Antes de tirar à eleita, gostaria de dizer que é uma honra está aqui, um lugar de muitas histórias e de muitas lembranças da minha mãe. — Ele olhou para mim e sorri. Realmente havia muita história e lembranças ali, ruins e boas. Olhei para a rua em que as crianças foram mortas diante de mim. Mais adiante existia a minha casa e a loja da minha mãe. Ao leste ficava a minha escola que apesar de estar no mesmo lugar, estava praticamente irreconhecível para mim. — Cada eleita terá direito de levar um acompanhante, não necessariamente da sua família e caso a eleita seja devolvida, a família será recompensada com títulos nobres no meio de sua província. — Eu me lembrava daquele discurso. Lembro-me das luzes sobre mim, a garota de avental subindo a escadaria do palanque principal. Até Marcus ficou desacreditado quando me viu. — Agora gostaria que minha mãe retirasse o nome da eleita.

Dei um beijo na mão de Anne e com ela segui até o pedestal cor noite. Mexi minhas mãos dentro daquela coluna cheia de papeis desejando que a garota que saísse fosse forte. Estiquei meu braço até tocar o fundo do recipiente e agarrei uma cédula e quando levantei a mão observei o nome da garota levei um susto. Davi me olhou e sussurrou um: você está bem? Segurei a mão dele e entreguei a cédula cor de ouro.

— E a eleita da P2 é. — Ele olhou para a cédula enquanto Anne apertava a minha outra mão. — Allis Menzel. — Ele disse sorrindo.

De longe vi uma garota de vestido verde oliva e pele pálida sendo escoltada por guardas reais até o palanque. Allis Menzel. Tentei sorri após lembrar Melanie Menzel. A província alemã era pequena demais para ter tantos Menzel. Com certeza ela era filha de Melanie e eu não sabia quais eram os sentimentos dela e se a jovem aparentemente doce caminhando até o palanque sabia da história inteira.

Ela subiu até o palanque e sorriu enquanto se curvava diante de mim.

****

Senti um pouco de medo quando me aproximei da rainha Hanna. Não por ela ser mal, na verdade todo o povo sabia que ela era a bondosa judia que salvou Scindet de uma rebelião ordenado por moldavos. Porém a história que minha mãe me contou não me deixava mais ver a rainha bondosa como uma mulher doce e humilde, pelo contrário, ela era falsa, invejosa e havia permitido o meu avô ser morto.

Minha mãe deveria ser a rainha agora, mas eu pouco me importava por que eu só queria ser mais uma professora de história em Scindet, mas minha mãe queria lavar a honra da nossa família e queria me dar a oportunidade  melhor de vida. Eu deveria tomar cuidado com a família real, mas eu tinha noção que minha mãe era capaz de tudo para conseguir o que quiser principalmente distorcer fatos, mas era a palavra da minha mãe contra a de uma mulher desconhecida.

Guardas reais me acompanharam até o Prédio Real, a famosa embaixada intocável de Kor na província.  Dentro daquele cubículo branco com a foto da família real e com as bandeiras de Kor e P2 fiquei esperando minha mãe. Ela entrou saltitante me abraçando feliz.

— Parabéns filha!

— Parabéns para você também. — Falei com um sorriso amarelo no rosto. — Conseguiu finalmente o que queria não é?

— Claro que sim. — ela sorriu. — Iremos a Kor, nós duas!

— Vamos sim. — coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Você vai ganhar lavar a honra da sua família e vingar a morte dos seus avós. — Seu olhar ficou longe. — Você vai se livrar da rainha e assim poderá reinar ao lado do rei.

Meu coração acelerou. Minha mãe nunca tinha falado daquele jeito, parecia que nasci com um proposito maligno a cumprir. Eu não era a arma vingadora de ninguém.

— Não vou fazer isso mãe.

— Ela matou o seu avô Allis.

— Mas são águas passadas mãe, sem contar que podemos ser acusadas de traição.

— Não seremos. — Ela começou a falar arrumando o meu cabelo. — Você primeiro conquista o bobo do príncipe e depois tudo feito.

****

— Vovó? — Senti Anne puxando a barra do meu vestido.

— Oi querida. — A peguei no colo enquanto olhava em volta a procura do meu filho. — Onde está seu pai meu anjo?

— Está ali. — Ela apontou na direção do Prédio Real.

Andei o mais rápido possível na direção da embaixada de Kor. Eu precisava falar com Davi, um moinho parecia se formar no meu coração, um mau pressentimento era tudo que eu menos precisava agora, mas era um aviso que eu não poderia ignorar.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam da Hanna mais velha?
Previsão para o próximo capítulo: 05/02/16



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