A Meu Ver... escrita por Absolutas


Capítulo 1
Capítulo Único: A Meu Ver


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Tive a ideia de escrever este conto após uma conversa sobre problemas de autoestima - mas admito que uma imagem acerca de pessoas com distúrbios alimentares também ajudou e muito na decisão de escrevê-la.
Espero realmente que apreciem a leitura e que consigam entender e sensibilizar-se com os dramas vividos por Larissa.
Boa Leitura para vocês!

P.S. Comentários são muito bem vindos ;)



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A beleza é um mero acaso, um acidente genético. Muitos a almejam, embora ninguém realmente saiba sua real definição; afinal, todos veem o mundo de forma diferente – paisagens que me deleitam, podem parecer desprezíveis aos olhos de outro.

Todavia, quem nunca ouviu falar em “padrão de beleza”? Aquela beleza tão incontestavelmente real que enche os olhos de cobiça, de inveja, de admiração. Esta que é tão almejada – não somente na atualidade, pelo contrário! Os antigos a buscavam com igual afinco, expondo a futilidade característica do ser humano.

E, ah, eu também sou uma tola fútil – afinal, sou humana. Mas, tal como sabemos, os extremos nunca são bem vistos, tampouco nos fazem saudáveis. E talvez esses extremos tenham sido a principal causa da minha decadente experiência de quase morte. Talvez a minha obsessão infundada pela beleza padronizada que me era exposta, tenha resultado em todos os fatos horrivelmente marcantes que me sucederam. Talvez a vaidade em demasia seja o pior e mais prejudicial pecado existente.

Quem nunca teve problemas com a autoestima, afinal? Quem nunca se olhou no espelho e quis mudar algo em si, melhorar, a fim de sentir-se mais belo segundo o padrão de beleza da época? Isso é comum, todos nos sentimos assim vez ou outra. Porém, para alguns, tal sentimento é constante e intenso. Destrutivo e incontrolável. Ao menos era assim para mim. A meu ver, nada do que eu era poderia ser considerado belo.

Todos os dias, me punha na frente do espelho e desejava ser diferente – meu olhar insatisfeito fazia uma análise crítica e concluía que era impossível que qualquer característica minha fosse considerada adorável. E quantas vezes desejei possuir os olhos azuis de Melissa? Ou as feições angulosas e marcantes de Rebeca? Os dedos longos das pianistas sempre me pareceram inegavelmente belos, tal como a cintura fina das bailarinas do meu bairro. Desejos frívolos, eu sei; mas como poderia reprimi-los quando pareciam mais fortes do que eu? Meu próprio subconsciente me julgava por não ser como as estonteantes atrizes de Hollywood. Devo dizer que isso quase me enlouqueceu: a constante frustração para com minha aparência e a luta frenética contra meu biótipo. Contudo, sozinha era difícil me convencer de que isso era doentio.

Desde os doze anos de idade, tenho lutado contra a insatisfação que sinto com o meu corpo – ao atingir a adolescência notei que me sentia tímida e insignificante perante as outras pessoas e no início não entendia esses sintomas... Afinal, eu era tão extrovertida quando criança! Contudo, nunca fora uma garota “magra”, sempre estive ligeiramente acima do peso e isso resultava em alguns apelidos maldosos da parte dos meus primos, o que fazia com que meus pais me controlassem sempre no quesito “comida”. É, talvez tenha sido essa desaprovação deles para com o meu corpo na infância, que resultou na paranoia atual. Então, nesse caso, a culpa de todo o sofrimento que eu passara é deles? Não, não acredito nisso. Costumo culpar minha mente fraca por isso – pois quantos exemplos existem de garotas obesas na infância, que passaram por todas as piadinhas sem uma doença sequer? Incontáveis. Nesse caso, gosto de pensar que me inspirei nas pessoas erradas.

Não é segredo para ninguém os diversos sites, blogs e grupos existentes nas redes sociais sobre anorexia e bulimia, alguns até incentivando a prática e, sem saber o que fazer para perder peso – que era meu principal incomodo em meu corpo – recorri à esses grupos com 14 anos.

A partir daí, a garota que já sofria de depressão e automutilação, passou a apresentar sintomas de anorexia. Admito: tenho vergonha de contar esta parte obscura da minha vida, uma vez que as pessoas costumam julgar esses tipos de problemas – ora, diversas vezes pude ouvir, sorrateira, cochicharem sobre mim e essas várias doenças que eu desenvolvera, caracterizando-as como “frescura”. E como eu queria que estivessem certos! Pois se assim fosse, eu facilmente me livraria de tais pesos tremendos, porque sim, doenças – especialmente as psicológicas – são como fantasmas dos quais parece impossível se livrar. Elas ficam pairando sobre seus pensamentos, alfinetando sua mente, provocando sua força de vontade.

Reconhecer tais fardos não foi fácil, eu me recusava a admitir que o que via no espelho todos os dias – aquela versão obesa de mim, a qual eu tanto odiava – não era real, que não passava de um fruto da minha mente perturbada. É...  às vezes é difícil pensar que você vê coisas que não existem. É ofensivo confessar que seus olhos perderam a capacidade de distinguir o “real” do “imaginário”.

O pior é que as pessoas costumam ignorar adolescentes com problemas de autoestima ou complexos de beleza, eles dizem “Ah, é só mais uma garota vaidosa!”; mas o que eles não levam em conta – talvez por não imaginarem – é o que uma garota com baixa autoestima pode fazer para se sentir melhor, mais bonita, mais aceita pela sociedade. E eu, mais do que ninguém, sei do que elas são capazes.

Quantas vezes, sendo obrigada a fazer as refeições, eu corri para o banheiro logo em seguida? Tantas quanto menti para amigos e até mesmo para meus pais, dizendo que já havia me alimentado. Sim, ao contrário do que pensaram, eu era mais do que uma garota vaidosa. Eu precisava de ajuda. Admitir isso foi difícil, mesmo quando meus pais olharam em meus olhos, a preocupação e o medo estampado neles, e disseram “Larissa, você está doente. Isso não é normal”. Ainda assim eu continuava a ir contra o que me diziam, pois o meu pensamento era “São só alguns quilinhos a menos, não vão me fazer mal. Até porque, sou obesa, certo?”. Somente quando - após desmaiar pela milésima vez e ser levada ao hospital - uma enfermeira olhou para mim e, com os seus olhos enchendo de lágrimas sussurrou “O que você está fazendo consigo mesma, meu anjo?”,  eu parei para pensar o que realmente estava fazendo comigo. E após muito divagar, peguei meu prontuário e li-o até encontrar o meu peso. E sim, me assustei ao vê-lo, afinal, como poderia estar pesando trinta quilos, quando aparentava pelo menos oitenta? Não era possível.

Foi então que resolvi pedir ajuda.

Atualmente, continuo em tratamento – afinal, havia chegado em um grau avançado de desnutrição. Ainda não posso dizer que estou livre da anorexia, da bulimia, da depressão e da automutilação – ainda há vezes que sinto raiva de mim mesma e sinto vontade de cortar meus pulsos, ou sinto vontade de vomitar meu jantar; mas me contenho. Não quero voltar ao inferno de novo. E após ponderar acerca de meus objetivos reais, eu respiro fundo e continuo. Pois a cura nada mais é, do que uma árdua caminhada rumo à liberdade.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam desta breve One-Shot? Aguardo ansiosamente os comentários!
Beijos e obrigada por lerem!



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